O discurso de Aécio
Tenho sugerido que a candidatura Aécio Neves sofre de três males até o momento:
a) Sua maior oposição: o PSDB paulista;
b) A dificuldade de ingressar no nordeste e, consequentemente, conquistar o voto popular de massa;
c) Seu discurso anacrônico.
Ontem, durante sua quase aclamação à Presidência Nacional do PSDB, voltou a escorregar no discurso. Este parece o problema mais intransponível. Aécio insiste numa cantilena passadista quando reforça as privatizações como marca dos tucanos. Há um erro grosseiro nesta insistência. Em primeiro lugar, porque entra no campo do adversário. Lembro de um dito popular chinês que Pablo Neruda reproduz em "Confesso que Vivi": " se você quer passar despercebido, não apareça".
Uma obviedade, não? Mas que Aécio ainda não compreendeu. Ao escolher este tema, vai testar a casca de banana que nas últimas duas eleições presidenciais os candidatos petistas depositaram sorrateiramente por onde os tucanos passavam. E o resultado não foi outro: caíram.
A privatização não é nem mesmo um programa governamental, mas apenas um instrumento passageiro de rebatimento da dívida pública. Ponto. Não é verdade que se trata de modernização segura ou teríamos alçado os empresários à condição de deuses.
A questão é que o eleitor popular desconfia desta homenagem exacerbado ao mercado. Ainda mais em anos de programas de transferência de renda e ascensão social. Aí é que o bicho pega. De maneira indireta e instintiva, várias pesquisas qualitativas demonstram o temor popular do discurso privatista envolver o fim de todas políticas que garantem o consumo familiar ascendente.
Mas Aécio não compreende.
Precisa ler mais Pablo Neruda. Ou os clássicos chineses.
Análise do cientista político Rudá Ricci, ex-professor da PUC-MG, do Instituto Cultiva. de Belo Horizonte, no seu Blog.
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