Tereza Cruvinel, no Brasil 247, em 29.1017.
Esta primeira pesquisa Ibope sobre a sucessão presidencial
representa uma espécie de marco zero da corrida, e Lula larga com vários corpos
de vantagem sobre todos os concorrentes. Certamente por isso mereceu tão pouco
destaque por seu patrocinador, jornal O Globo.
É preciso olhar com mais atenção para a consulta espontânea do
que para a estimulada para se constatar claramente que a força de Lula provoca
o desespero de seus adversários.
Na pesquisa espontânea, quando o eleitor declara sua preferência
sem consultar uma cartela com nomes, o ex-presidente obtém 26%, praticamente
três vezes mais que o segundo colocado nesta modalidade, Jair Bolsonaro
(9%), 13 vezes mais que Marina Silva (2%), enquanto todos os outros
candidatos ficam com apenas 1%. A pesquisa espontânea, quando falta muito tempo
para o pleito, é o indicador mais consistente da solidez de uma candidatura.
Ou seja, Lula é a única força eleitoral realmente viva no quadro
eleitoral e Bolsonaro a encarnação anêmica, porém melhor sucedida, do anti-lulismo.
A segunda
caravana de Lula, que se encerra nesta segunda-feira em Belo Horizonte, depois
de um périplo pelo interior recolhendo apoio e carinho dos mineiros,
aponta para outra realidade indiscutível. Neste Brasil entorpecido
pelos efeitos do golpe e do governo imoral de Michel Temer, só Lula
consegue mobilizar o povo, enquanto Temer e Aécio engordam índices de
rejeição.
Apesar da Lava Jato e da fuzilaria que ele tem enfrentado, nem
partidos, nem sindicatos e movimentos sociais, e muito menos outros candidatos
conseguem, como Lula, tirar as pessoas de seu recolhimento depressivo
para externar a esperança na redenção do país.
Faltando um ano para o pleito, na pesquisa estimulada Lula ganha de todos os
possíveis concorrentes em todos os cenários, e surge cristalina a possibilidade
de vitória em primeiro turno. Ele obtém de 35% a 36%, dependendo do
elenco na cartela, ao passo que Bolsonaro varia de 15% a 18%, também
segundo a variação dos candidatos. Bem depois vem Marina Silva, variando de 8%
a 11%, e na lanterna, embolados (variando de 5% a 7%), Ciro Gomes, Geraldo
Alckmin, João Doria e Luciano Huck.
A inclusão do nome de Huck na pesquisa mostra o desespero da
elite conservadora para encontrar um anti-Lula mais palatável que
Bolsonaro e mais competitivo que os dois tucanos. Mas como não há
tempo para a fabricação deste nome, apesar do experimento com o global
Huck, resta a aposta na inabilitação de Lula, embora isso também não
resolva o problema do outro lado.
PSDB, DEM e outros parceiros foram triturados pela aventura
golpista em que se meteram e Lula, mesmo impedido de concorrer, tem força para
alavancar outra candidatura petista levando-a ao segundo turno.
Se Lula puder ser candidato, em algum momento, assim como ocorreu em 2002, a
elite nacional terá que enfrentar um dilema: ou assimila sua volta,
dentro de um pacto para desatar os nós políticos e econômicos que
asfixiam o Brasil, ou dá um salto no escuro, abraçando um dos
candidatos que carecem das condições básicas para liderar um
projeto restaurador. A todos eles falta algo essencial. Ou projeto, ou
legitimidade ou credibilidade.
Lula, até agora, tem mobilizado multidões apenas pregando a revisão dos
retrocessos impostos por Temer e alguns temas laterais, como a regulação da
mídia, que não chegam a motivar o eleitorado.
O momento começa a cobrar também dele a apresentação de um
programa mais claro e objetivo, que contenha as linhas gerais do que faria para
realmente unificar o Brasil e recolocá-lo no leito do projeto interrompido, de
crescimento com inclusão e redução das desigualdades que limitam a construção
de uma nação efetivamente democrática e desenvolvida.
A Fundação Perseu Abramo, do PT, é que tem se ocupado mais desta tarefa mas,
para alargar a candidatura de Lula e sua viabilidade, a construção deste
programa também precisa ser ampliada, incluindo nomes e forças que ultrapassem
a fronteira do petismo.
Em 2018, dificilmente Lula firmará uma aliança com forças de
centro, como em 2002. Desta vez, a prioridade será unificar as forças
progressistas, e não apenas a esquerda partidária, na formulação de um programa
que possa funcionar como pilar de uma pactuação contra o atraso
representado pelo golpe e pelo governo que ele produziu.
O que o IBOPE revela, com esta pesquisa, é a força inconteste de Lula e as
razões de seus adversários para se desesperar, apelando até para um Luciano
Huck, que como candidato seria o tipo mais nefasto de out sider:
desprovido de todos os requisitos para o cargo mas apoiado por um colossal
poder midiático, o da Globo.
Esta primeira pesquisa Ibope sobre a sucessão presidencial
representa uma espécie de marco zero da corrida, e Lula larga com vários corpos
de vantagem sobre todos os concorrentes. Certamente por isso mereceu tão pouco
destaque por seu patrocinador, jornal O Globo.