segunda-feira, 14 de julho de 2014

Os miseráveis do Vale do Jequitinhonha

Os miseráveis do Jequitinhonha

"Os retirantes". Pintura de Cândido Portinari, em 1944.

Gino Freire


A licença de vocês, que a verdade quer falar. Depois de muito matutar e observar o andamento das coisas nesta nossa região, eis que deu vontade de provocar uma demanda por uma reflexão bem mais aprofundada sobre o que nos tem levado ao atraso. Lembro-me de uns escritos feitos por Victor Hugo há bastante tempo e que até hoje me mexem o juízo, de tão reais e atuais que são. Falo do livro “Os Miseráveis”, quem sabe a maior obra humanitária e social que já tenha sido escrita, cujo valor fez cair o véu dos olhos daquela grande turba de miseráveis espremidos pela falta de políticas públicas na Europa do século XIX, desnudando a pobreza material, social e moral a que estavam submetidos.



Aqui no VALE nós, os miseráveis do Jequitinhonha, estamos também desnudando a nossa pobreza material, social e moral que os politiqueiros nos impuseram durante anos e anos de descaso. Não é mais possível que um povo que diz ser detentor de uma vasta cultura e de um forte apego a sua terra se deixe levar tão facilmente por “chefes políticos” comprometidos com o atraso. 

Onde anda o nosso sonho de liberdade, igualdade e fraternidade? Por que ainda teimamos em viver como escravos? 



Nós, os “miseráveis do Jequitinhonha”, temos de pegar carona no “levantamento” da nação brasileira e erguer a cabeça, fazer com que a luz nos ilumine de frente e não pelas costas. Não podemos permitir que a nossa mente se afogue nas galerias da mentira, Temos de estar atentos sobre quem são e o que querem nossos representantes no campo político. Atentos também para que não sejamos mais uma vez enganados pelas vozes dos canalhas e daqueles que sempre se alimentaram nas maminhas da facilidade que o poder público proporciona. 



A verdade deve vir à tona. Algumas perguntas merecem respostas e não podem ficar à mercê da manipulação dos “coroneizinhos da esquerda e da direita”, que às vezes, juntando todos não valem o salário que recebem dos seus deputados. Bajuladores, lideranças paradoxais, isto já atingiu a raia do ridículo. Depois de perder eleições ou abandonar o cargo sempre viram “assessores” dos políticos que nos sugaram; pequenos capitães do mato, feitores, senhores de engenho, senhores feudais.


Devemos estar à espreita para que no final da caminhada o sol nascente nos ilumine o rosto e nos indique a direção e não nos empurre mais uma vez para o atraso. Pois, depois de passada a tormenta, eles sempre voltam para os seus gabinetes luxuosos, batendo a poeira do cansado Vale do Jequitinhonha, de miséria e de sonho.


Devemos agora gritar bem alto: Onde está o nosso direito ao asfaltamento da BR 367? Pagamos impostos. Não temos representação política, claro, mas pagamos impostos. Onde andará o projeto da implantação da UFVJM em Capelinha, Araçuaí e Almenara? Pagamos impostos. Não temos representação política, claro, mas pagamos impostos. Onde está um projeto de preservação do nosso Rio Jequitinhonha? Pagamos impostos. Não temos representação política, mas pagamos impostos. Onde está a regulamentação da exploração das nossas riquezas minerais? Pagamos impostos, não temos representação política, mas pagamos impostos. Não aguentamos mais, é a verdade!



Mas, pela grandeza da nossa causa e do nosso povo, acreditamos que virá uma resposta às nossas indagações. Existe aqui no VALE pessoas que aprenderam a não fazer da política uma atividade profana, mas um instrumento para a realização duradoura e constante das nossas ambições sociais, políticas e intelectuais. Estamos cansados das nossas lideranças regionais que se acham Reis e Rainhas e costumam nos ter como plebeus. 



Na verdade, miseráveis são também aqueles que “vendem” o sonho do povo do Jequitinhonha, miseráveis são aqueles cujas almas são repletas de hipocrisia, porque no alto do seu absolutismo a paciência é fingida, a prudência é a malícia e a temperança é a pior das corrupções: a da alma. E aqui não falo de “esquerda ou de direita”, não falo de “filosofias” nem de cores partidárias, falo de políticos miseráveis e só. Não custa lembrar o imperador Giordano quando, presenciando às escuras como andavam seus chefes de governo, costumava dizer: “Miserável é o rei a quem se calam as verdades”.



Devemos, pois, continuar gritando: Não aguentamos mais que a desgraça continue pesando sobre os nossos ombros, atormentando nossas almas e despedaçando os nossos corações. Temos motivo de sobra para continuar lutando, para, ao final, conseguir com que nosso povo, acordado, consiga alcançar a glória de andar com suas próprias pernas, e ter seu sangue correndo nas veias da representação política de Minas e do Brasil.

Gino Freire, batizado como Higino Pedro Freire Júnior, natural de Ouro Fino, em Coronel Murta, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, é trabalhador elitricitário da CEMIG, em Araçuaí-MG. 

Um comentário:

wlsantos disse...

toda miséria será condenada, todo miserável recebera seu próprio salário.

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