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domingo, 17 de novembro de 2019

Papa Francisco compara ódio da extrema-direita ao nazismo

Capitalismo predatório está na origem dos crimes contra a humanidade!
Papa Francisco compara a Hitler políticos que atacam homossexuais, judeus e ciganos.

Em uma conferência com juristas no Vaticano, na sexta-feira, 15 de novembro, o papa Francisco comparou o discurso de ódio de políticos contra as minorias - como judeus, ciganos e a população LGBT - às ações no nazismo.

"Confesso que quando ouço alguns discursos de responsáveis pela ordem ou pelo governo, vêm à minha mente as declarações de Hitler em 1934 e 1936", disse o pontífice.

Ele continua: "são ações típicas do nazismo que, com sua perseguição contra os judeus, os ciganos e as pessoas de orientação homossexual, representa o modelo negativo da cultura do descarte e do ódio. Foi o que foi feito naqueles dias e hoje está acontecendo novamente.".

Francisco também falou sobre o aumento de incidentes de violência da extrema-direita no continente, como ataques a cemitérios judaicos: "não é coincidência que nestes tempos há um ressurgimento dos símbolos típicos do nazismo", afirmou o papa.

O papa Francisco não citou nominalmente nenhum político ou país.

Durante a conferência, o pontífice também continuou seu discurso contra o capitalismo predatório - que ele chamou de "idolatria do mercado": "a pessoa frágil e vulnerável encontra-se indefesa diante dos interesses do mercado divinizado, que se tornaram regra absoluta. Hoje, alguns setores econômicos têm mais poder que os próprios Estados. Esta realidade torna-se mais evidente em tempos de globalização do capital especulativo", disse.

"O capital financeiro global está na origem dos crimes graves contra as pessoas e o meio ambiente. Trata-se de uma criminalidade organizada pelo excesso de endividamento dos Estados e pela pilhagem dos recursos naturais do nosso planeta, que pode ser comparada a crimes contra a humanidade, quando levam à fome, pobreza, migração forçada e morte por doenças evitáveis,   desastres ambientais e extermínio dos povos indígenas", acrescentou.s", acrescentou.

domingo, 13 de outubro de 2019

Parem de matar nossas crianças!



Nota do Movimento de Mulheres Olga Benario expressa repúdio à política genocida do Estado brasileiro.

"Apenas em 2019, 16 crianças foram baleadas  no Brasil pelas mãos do Estado. Agatha, Marcos, Victor, Leticia, Lauane, Kauã.  Segundo um levantamento feito pelo Joining Forces, o Brasil é o país com maior risco de violência contra crianças e adolescentes no mundo. 
Mas não é só assim que o Estado brasileiro tem matado nossos filhos e filhas.
No Brasil são 17,3 milhões de pessoas com até 14 anos em situação de pobreza. 34 % vivem em lares com uma renda inferior à 350 por pessoa. 49, 7% das crianças e adolescentes brasileiros são tem acesso a pelo menos um dos direitos fundamentais, previstos em lei pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente, como educação, proteção contra o trabalho infantil, moradia, água e saneamento básico.
Por isso, afirmamos que o  Estado mata!
Mata ao negar atendimento básico de saúde. O Estado mata ao negar o acesso à alimentação adequada nas escolas. Mata ao fechar escolas ou não abri-las em alguns locais: são 8,8 milhões de crianças e adolescentes fora das escolas. Mata ao permitir o desmatamento da Amazônia. Mata ao não garantir moradia digna e saneamento básico. São 13,3 milhões de crianças e adolescentes sem acesso à saneamento e 7,6 milhões sem acesso à água e 5,9 milhões de crianças e adolescentes sem teto.
Nossas crianças também são vítimas da violência sexual: segundo o anuário da violência, 4 meninas de até 13 anos são estupradas por hora no Brasil.
Nossas crianças estão morrendo! E não qualquer criança. Estão morrendo as crianças negras, as crianças indígenas, as crianças moradoras das periferias, aquelas que moram nos interiores de nosso país, as crianças sem teto.
Não podemos permitir isso!
Nós, do movimento de mulheres Olga Benário nos solidarizamos com as mães de cada criança que estado matou, seja por bala, seja por omissão e nos comprometemos a lutar até que a todas as crianças seja garantido o direito a uma vida digna, à saúde de qualidade, educação, lazer, cultura, moradia, etc. Um Estado que precariza tanto a vida de crianças a ponto de matá-las precisa ser combatido, e é papel das mulheres serem vanguarda nesse processo.
Seguimos em luta pela vida de nossas crianças!"

Movimento de Mulheres Olga Benário


terça-feira, 24 de setembro de 2019

Mais Agatha, menos Greta: "Criança branca mata aula e vira mito. Criança negra no pátio da escola leva tiro".

Brasil deveria falar mais de Agatha do que de Greta

O professor Anderson França, ativista de direitos humanos na favela da Maré, no Rio, escreve sobre e liderança global da menina sueca Greta Thumberg, branca, de classe média, financiada por lobbies corporativos "verdes" e incensada em toda mídia global, enquanto, no Brasil, matam meninas negras: "Porra, meus amigos. Uma criança branca mata aula e vira mito.Criança negra não pode nem brincar no pátio no recreio que leva tiro".


(Foto: UN Photo/Cia Pak ! Reprodução)

Anderson França, no Facebook - Cês conhecem uma menina chamada Greta? Cês viram como uma menina conseguiu, em menos de um ano, fazer greve na porta da sua escola, e isso virou um movimento de greves globais pelo mundo em favor do meio ambiente?
Tá pronto pra me linchar?
Porque é o que sinto que preciso escrever aqui.
Enquanto eu tiver vida, eu prometo que vou vir estragar seu TEDx.
Observe:
Como é fácil para uma criança branca mobilizar o mundo em torno de ideais tão vagos, pouco práticos, máximas nada pragmáticas como "vamos salvar o planeta", tanto quanto é vago dizer "vamos acabar com a corrupção que está aí".
As pessoas adotam, apaixonadamente, pautas genéricas e vazias, expressões que materializam seu desejo desesperado e pouco refletido por mudanças, as colocam num lugar de protagonismo saindo de uma vida tediosa e drenada por fracassos pessoais de classe média, e elege mitos e messias nacionais e globais, de tempos em tempos.
Greta é fruto do salvacionismo branco.
Ela mesma, materializa e representa a próxima geração de White Saviors.
E não que ela esteja com uma pauta errada.
Ocorre que ela não vai mudar práticas que sustentam o capitalismo global, ela pode amenizar práticas durante um tempo, e: parem com a ilusão que passeata com flor vai mudar a fúria do Leviatã do Capital.
Qual o problema cognitivo de vocês?
Vocês acham mesmo que na hora do pega, China, Rússia e Estados Unidos vai querer saber de menina com cabelo de trança? Onde foi, Senhor Deus dos Arraiais de Israel, que vocês se tornaram tão massacrantemente ingênuos?
Mas meu problema não é a existência de Greta.
Ou Felipe Neto.
O meu problema é que eu tenho um cavalo solto dentro de mim, furioso, todo encachaçado, cheio de demônio, que não me deixa ficar quieto numa hora dessas onde eu poderia mentir e capitalizar apoios e likes pra minha página, dizendo que acho lindo as passeatas.
Ai, merda. Vou pagar com a vida.
Eu não acho nada lindo.
Acho tudo mentiroso, patife, caozada.
Eu acho que vocês precisam ter uma coisa chamada PRIORIDADES. E se a sua prioridade está sendo meio ambiente e corrupção, eu vim aqui pra te dizer algo,
mas antes,
veja no Jornal Nacional de ontem, um "indio parisiense" (oui, um francês branco VESTIDO DE ÍNDIO, dizendo coisas que um índio não diria, além de dar uma mãozada na cara dele, por estar vestido daquele jeito), e uma criança de fucking 3 anos, loira, com a mãe, orgulhosa e com a boca aberta cheia de dentes esperando a morte chegar, dizendo,
a criança:
"quero salvar o planeta".
Porra, meus amigos.
Uma criança branca mata aula e vira mito.
Criança negra não pode nem brincar no pátio no recreio que leva tiro.
Posso falar agora?
Tá pronta?
No mesmo dia dessa putaria de vocês, uma criança de OITO ANOS FOI BALEADA E MORTA NO COMPLEXO DO ALEMÃO.
Não foi a primeira essa semana.
Ágatha, no colo da mãe, na Zona Norte do Rio, foi atingida por um tiro de FUZIL, e morreu.
Me diga,
o que uma criança de oito anos fez para a sociedade brasileira? Porque ela teve que pagar o preço?
O Instituto de Segurança Pública disse que a polícia militar nunca matou tanto como está matando esse ano. Em agosto, a polícia matou 5 pessoas por dia, relatório da Humans Right Watch.
O governador, psicopata, disse aos policiais: "Não merece viver aquele que não tirar o fuzil do tiracolo".
Muitos de vocês, MUITOS, nunca moraram num morro, vocês não passaram nem uma única vez na vida, pela experiência de tiroteio.
Ocorre que a polícia não avisa nada a ninguém. Nem a morador, nem Whatsapp, nada, caralho nenhum. Você está comprando uma porra de um suco de morango ao leite e DO NADA uma porrada de pipôco começa, você não sabe onde, nem pra onde, você abaixa, deixa suco, dinheiro, todo mundo se olha, como se fôssemos RATOS assustados, e isso acontece HÁ DÉCADAS. A gente sabe que alguém vai morrer.
Acaba o tiro. Minutos depois, você ouve.
A voz de uma mulher, negra, gritando numa viela.
Mais uma mãe, mergulhada num inferno do qual nunca mais vai sair.
Esta, de ontem, que perdeu definitivamente a filha há 5 horas, está neste momento numa escuridão de alma absoluta.
A polícia que mais mata NO MUNDO, com o maior número de suicídios de policiais, porque perdem o sentido da vida, da profissão, o sentido. Se matam.
Sentado sobre essa montanha de corpos, Wilson Witzel. Mas já foi Pezão, Cabral, Garotinho, Rosinha, por essas e outras que tudo que lhes acontecer na vida eu não sinto um pingo de dó. No corpo deles, tem sangue de MILHARES de pessoas.
Não é que eu "deseje mal" a essas pessoas, pelo contrário, é a justiça, essas pessoas vão ter destinos terríveis. Mesmo que eu e você não vejamos, a morte dessas pessoas será dolorosa.
É assim que a vida é.
Bateu, levou.
Nenhum governador está acima da lei.
Não desta lei a que me refiro.
E você deve estar pensando porque eu precisei falar de Greta nesses termos pra jogar luz no que está acontecendo no Rio.
Escuta,
na vida, nós precisamos sonhar, mas precisamos colocar comida na geladeira.
Lembra do Emicida?
"Só água na geladeira eu eu querendo salvar o mundo."
Amigo, resolver o problema de agora, não te faz menor. E o problema de agora é o mesmo desde a fundação do Brasil: o extermínio do povo negro e pobre.
Enquanto isso não for resolvido, NADA que você faça, nenhuma luta que você lute, será eficaz.
Porque inclusive, tudo é culpa da escravidão.
O capitalismo existe e se desenvolveu por causa da escravidão. O capitalismo fudeu o meio ambiente e criou a produção industrial de alimentos de origem animal. Não adianta enxugar gelo.
É preciso resolver um problema crucial e único: enquanto não restaurarmos a justiça com o povo negro nas Américas, nunca seremos uma civilização.
Vai ter meio ambiente clima de montanha. Vai ter animal vivo. Mas os preto tudo morto.
Não existe prioridade maior que essa.
Vocês, pessoas brancas, UMA DE VOCÊS, criança, consegue PARAR O MUNDO.
Quando vai chegar o dia em que, sem ninguém mandar, vocês, pelo menos uma criança branca, vai falar pra vocês pararem de matar pessoas negras, e isso virar um movimento global? Porque a morte de pessoas negras é um problema que elas tem que resolver, se são vocês que elegem quem mata?
Vocês, brancos do mundo todo, são capazes de parar na imprensa, mesmo que você seja uma criança matando aula lá na casa do caralho. Se fosse uma criança preta, mesmo dentro da sala de aula, amontoada com outras 80 crianças, com medo de tomar tiro, seria chamada de vagabunda e filha de vagabunda, porque criança negra nunca vira pauta. Nunca. Vocês gostam do fetiche. Vocês apoiam causas porque sabem que vão ficar lindos no Jornal Nacional, não porque vão mudar algo.
Eu não admito mesmo. Acho uma surra de racismo esse pessoal branco da Greta e esse pessoal branco do veganismo dizendo que a morte dessa criança não é nada na frente da morte de frangos que alimentam a classe trabalhadora.
O Rio soltava pomba da paz na zona sul, e na Zona Norte, mais uma inocente morria. O mundo louvava uma criança branca na zona sul, e uma criança negra era devorada na Zona Norte. Vítima, não do clima, não do consumo de carne. Vítima da máquina de vocês, de matar negros.
Pode me linchar até a mão cair.
Essa hipocrisia e esse desespero de vocês por algum sentido na vida é um lixo. Vocês não percebem o poder que vocês tem? Como a imprensa prioriza vocês, brancos? O que estão fazendo com isso? Priorizando planta e bicho. Não aqueles cujos antepassados vocês escravizaram para hoje serem uma classe média "consciente". Brancos conscientes que lutam contra outros brancos, enquanto pretos continuam morrendo por vocês, exatamente como aconteceu em Farroupilhas e os Lanceiros.
Ah, mas dá pra lutar pelas duas coisas, pelas três coisas, pelas quatro coisas. Tá dando certo não, parceiro. Carrefour continua vendendo alcatra, e a polícia matando preto. Se decide. Para de ser juvenil na vida, escolhe uma porra e vai. E de preferência, a porra que é prioridade. E eu te disse qual é.
Mais uma vida humana inocente e negra morta hoje.
Nada mais importa.

Confira aqui: 
https://www.facebook.com/anderson.frança.maré.rio.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Manifestação democrática pela educação x manifestação fascista pela destruição


História de duas manifestações

Estudantes e professores levaram muito mais gente às ruas que o bolsonarismo. 
 Risco de autogolpe caiu. 
Mas, surpresa: a pauta das contrarreformas não refluiu.  Por que?
OUTRASPALAVRAS
Publicado 27/05/2019 às 21:08 - Atualizado 27/05/2019 às 21:25
Mar de estudantes no centro do Rio, em 15/5. Ao fundo, a Candelária.

Certas experiências só são vividas de fato quando se reflete sobre elas e seu sentido. O Brasil vive, desde 15 de maio, o primeiro grande desafio ao projeto de Jair Bolsonaro. Houve duas jornadas de mobilização nacional mas ruas, convocadas por atores que ocupam posições opostas na disputa pelos rimos do pais. Uma terceira está marcada para daqui a três dias.

Em seu conjunto, elas projetam saudáveis incertezas sobre um cenário que parecia desastroso. Além disso, ajudam a enxergar melhor a disputa política complexa que marca o Brasil desde a campanha eleitoral de 2018, vista costumeiramente a partir de simplificações redutoras. Neste cenário, começa a ficar clara a existência de três blocos de forças, nitidamente distintas: ultracapitalismo, protofascismo e a heterogênea oposição a ambos. 

Esta última é a principal protagonista dos solavancos – e de uma possível virada. Está viva, ao contrário do que apostavam muitos analistas. Porém, enfrenta dois limites. Não tem acesso a instrumentos de poder relevantes. E não tem projeto claro, o que torna frágeis todos os seus avanços. Precisa resolver esta lacuna, sob pena de desperdiçar a potência de seus grandes atos, e de não se aproveitar das brechas que começam a surgir — e tendem a se alargar rapidamente — entre os dois projetos no governo.
* * *
Saibamos reconhecer nossos êxitos. Além de terem dado início à mudança de cenário, as manifestações dos estudantes e educadores em 15/5 foram, até agora, as mais robustas deste novo ciclo. O mapa publicado por O Globo reconhece um primeiro dado: elas espalharam-se por 222 cidades, contra 156 do ato bolsonarista do último domingo. Mas esta é apenas parte do quadro. 
O protesto contra o corte de verbas reuniu dezenas de milhares de pessoas em um número expressivo de capitais – Belém, Salvador, Recife, Brasília, Belo Horizonte, Florianópolis, Porto Alegre –, onde os bolsominions juntaram, essencialmente, grupos nutridos para fotos. E os estudantes despertaram também cidades médias, a exemplo de Juazeiro do Norte-CE, Picos-PI, Mossoró-RN, Campinas, São Carlos e Sorocaba-SP e dezenas de outras. Leve-se em conta outro fator: embora dialogassem com diversos setores descontentes com as políticas do governo, as manifestações eram específicas: seu objetivo era protestar contra os cortes na Educação; seu público essencial era o dos atingidos pelo “contingenciamento” de verbas.

Ontem, um bolsonarismo acuado pretendeu dar o troco reunindo toda a sua tropa. Diante da queda brusca de popularidade do presidente e de suas dificuldades crescentes no Congresso, a ideia era mostrar potência máxima nas ruas. E não apenas contra a esquerda, que liderara os protestos do dia 15. 

O alvo imediato das manifestações era o sistema político – e nisso, ultracapitalistas e protofascistas se distanciaram como nunca. Atacava-se o establishment, como dizem Bolsonaro e Steve Bannon; aqueles que tornam o país “ingovernável” (segundo o presidente, ao lançar o mote para as manifestações), em especial, a mídia (com destaque para a Globo), o STF (“presta atenção / a sua toga vai virar pano de chão”, gritou-se ontem); o deputado Rodrigo Maia, e, por extensão, todo o Congresso.

O resultado foi frágil – exceto no Rio e em São Paulo, onde a praia de Copacabana e a avenida Paulista reuniram dezenas de milhares.
* * * 
Porém, como aponta Gilberto Maringoni, uma coisa são os fatos; outra, a narrativa que os atores políticos constroem a partir deles. Nas páginas dos jornais e nos noticiários da TV, há hoje um notável esforço de captura. Os ultracapitalistas querem apresentar as manifestações não como foram – mas como um suposto “apoio popular” às contrarreformas. 

É o que sugere Pablo Ortellado, articulista da Folha, com base em “pesquisa” feita para “demonstrar” um resultado fabricado pelo autor. Para ele, “surpreende”, mas “as pessoas foram às ruas pelas reformas, especialmente (…) as mudanças na Previdência”. Esqueça as manifestações de ódio, as faixas e cartazes em favor de “intervenção militar”, a celebração do decreto que estimula a população a usar fuzis, os ataques a Marielle, o apoio ao governador que participa de raids no “caveirão voador”. Os atos de ontem – desculpe se você não percebeu – foram ações de nobres britânicos em defesa da “mão invisível do mercado” e da Teoria das Vantagens Comparativas…

Ao tentar capturar o ato dos protofascistas, a direita “civilizada” flerta com eles. Dá-lhes legitimidade. Trata-os como tropa de choque submissa e servil. Repete a operação que levou à eleição de Bolsonaro. É sintomático: os atos de domingo foram tratados como o fato político crucial. Ocuparam, por dias, as manchetes. Mesmo quando contrárias, as notícias ajudavam a divulgá-los. Em contrapartida, a mídia só enxergou o s protestos de 15/5 quando emergiram nas ruas – e nada fala sobre os preparativos para 30/5.

Há, agora, inclusive uma sofisticação. As TVs, sites e jornais visam o deputado Rodrigo Maia. Mandam-lhe um recado quase explícito: é preciso passar por cima dos ritos e aprovar logo a contrarreforma da Previdência. As “ruas” estão alertas e é fácil jogar alguém às feras…
* * *
Esta história de hipocrisias e capturas poderia sugerir que não há alternativas, para a esquerda. Tudo estaria controlado. Ou os ultracapitalistas, ou os protofascistas, ou ambos juntos, uns capturando (e legitimando) os outros.
Tal impressão é falsa. A própria possibilidade de enxergar claramente as diferenças entre os dois grandes blocos no governo significa que algo se moveu; que as primeiras brechas apareceram; que é, portanto, possível alargá-las. E entra aqui um déficit: não será possível fazê-lo sem apresentar um ponto de ruptura; uma alternativa; um esboço, que seja, de uma visão sobre como tirar o país do atoleiro.
Sem isso, a esquerda permanecerá, eternamente, entre dois fogos. Poderá apoiar-se na direita “civilizada” para fustigar os bolsominions. Eventualmente, talvez junte-se a gente como o general Mourão, quando se tratar de evitar as insanidades sobre atacar a Venezuela (compartilhadas pelos lunáticos do bolsonarismo e pela Rede Globo). Mas permanecerá, a própria esquerda, pendendo em direção a um ou a outro lado; sem apresentar saída de profundidade; sem dialogar autonomamente com a população.
* * *
Elementos de um novo projeto incluiriam pontos simples e concretos, capazes de estabelecer diálogo com as angústias quotidianas da sociedade e de colocar tanto ultracapitalistas quanto protofascistas na defensiva – e obrigá-los a responder.
Em especial, negar a ideia perversa segundo a qual só sairemos da crise com sacrifícios, contenção, restrições, resignação, cabeça baixa, espinha curvada e rabo entre as pernas.
Apontar o caminho da solidariedade – os serviços públicos, a redistribuição de riquezas, o estímulo à atividade criadora e produtiva, o Comum, a democracia, a Constituição de 1988. Desdobrar estes valores em políticas específicas. A elevação da Bolsa Família e do salário mínimo. A anulação das tarifas bancárias. O resgate do SUS. Um vasto programa de despoluição de rios e saneamento. Um plano de expansão de transportes públicos, que garanta a cada brasileiro o direito de ir e vir do trabalho para casa em 40 minutos, no máximo, no prazo de dez anos. A urbanização democrática das periferias. A descriminalização das drogas. O direito ao aborto e à maternidade plenamente assistida. O plano de Desmatamento Zero para a Amazônia e o Cerrado, com desenvolvimento de atividades econômicas que preservem sua biodiversidade. A restauração da malha ferroviária abandonada. Etc. Etc. Etc.
O elenco é vasto, o esforço é desafiador e instigante. Indagado numa esquina, o cidadão comum precisa saber que, além do projeto dos protofascistas e dos ultracapitalistas para o país, há outro: popular, igualitário, distributivo, humanizador, feminista, pós-desenvolvimentista. Está na hora de ir além do negativismo e do reativismo.


sábado, 9 de março de 2019

Machismo mineiro faz cinco vítimas de feminicídio por semana.

Em janeiro e fevereiro de 2019, 17 assassinatos do tipo foram registrados no Estado, segundo a polícia

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Vítima. Diarista morta nesta sexta-feira em BH conseguiu ir até o portão para pedir socorro, segundo testemunha
PUBLICADO EM 09/03/19 - 03h00

O lugar que deveria ser de paz é o tormento para muitas mulheres: dentro de suas próprias casas, onde várias sofrem caladas. Por semana, ao menos cinco mulheres foram vítimas de feminicídio em Minas Gerais somente nos dois primeiros meses deste ano – foram 45 casos ao todo, entre tentados e consumados, tendo sido 17 mulheres mortas em janeiro e fevereiro, segundo a Polícia Civil. 

Somente entre domingo esta sexta-feira (8), ao menos cinco vítimas foram assassinadas no Estado, conforme levantamento de O TEMPO

Cinco foram vítimas de estupro, e outras duas, de agressão. Apesar de as investigações estarem em curso, há evidências de que, no feminicídio da madrugada desta sexta-feira e nos dois casos de agressão, os companheiros das vítimas são os principais suspeitos.
Na data em que se celebrou o Dia Internacional da Mulher, a diarista Lilian Maria de Oliveira, 42, foi morta no bairro Goiânia, na região Nordeste da capital. O motivo do crime, conforme testemunhas, foi o volume da televisão a que ela assistia na companhia do suspeito, Cleuber Elias Silva Santos, 38. A discussão começou por volta de meia-noite. Irritado, Santos teria pegado uma faca na cozinha e, em seguida, golpeado a mulher. Ferida no lado esquerdo do tórax, ela teria conseguido caminhar até o portão, mas, depois, caiu.
“Escutei uma voz abafada, um grito. Os filhos chegaram, e ela ainda estava viva. Consegui sentir o cheiro dele de álcool do outro lado da calçada”, contou uma vizinha de 33 anos, que pediu para não ser identificada. Foi ela quem chamou a Polícia Militar. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

O suspeito foi preso em flagrante. À corporação, Santos disse que se aproximou da mulher para fazer cócegas, mas que ela se virou e acabou sendo atingida pela faca que estava em sua mão. Os filhos da diarista, no entanto, negaram a versão e afirmaram que o suspeito já tinha histórico de violência. Segundo a Polícia Civil, uma ex-companheira de Silva tinha duas medidas protetivas contra ele.

 

Estado teve três casos de estupro por dia em janeiro

Minas teve três casos de estupro por dia contra mulheres somente em janeiro deste ano. Foram 103 registros ao todo no mês, segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp).
Para a coordenadora da Rede Estadual de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Tetê Avelar, não houve muito o que comemorar no Dia Internacional da Mulher. “Vivemos em uma sociedade em que a mulher sofre discriminação e tem menos oportunidades no trabalho, tem jornadas triplas e sofre violência só por ser mulher”, disse. Conforme a pasta, foram quase 145 mil casos de violência contra a mulher no ano passado.
Ligue 180
De acordo com o Ministério dos Direitos Humanos, só nos dois primeiros meses de 2019, houve o registro de 37 denúncias por dia de violações contra as mulheres em Minas.

 

Vítima tem rosto queimado com óleo

Por causa de ciúme devido a uma ligação telefônica, um homem de 40 anos colocou o rosto da namorada, de 30 anos, dentro de uma panela com óleo quente na noite de quinta-feira (7), em Uberaba, no Triângulo Mineiro. Nesta sexta, a fiscal de ônibus Simone Aparecida Araújo Costa, 33, foi encontrada morta e enterrada na casa do ex-marido em Betim, na região metropolitana. Simone estava desaparecida desde a última terça e foi achada com várias perfurações na cabeça.
Para a titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Belo Horizonte, Ana Paula Balbino, é imprescindível que a vítima rompa com o silêncio o mais rápido possível. Segundo ela, o feminicídio é a forma mais radical de violência, mas, antes, a mulher sofre agressões. “Temos violência moral, psicológica, sexual e patrimonial, não é só a física”, orienta. (Natália Oliveira/ Lisley Alvarenga/LF)
Denúncia
Para denunciar violência contra a mulher, ligue para o 180. O atendimento é feito 24 horas por dia, é gratuito e confidencial. Minas tem 72 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. Nas demais cidades, o registro da ocorrência pode ser feito na unidade policial da área.
Atendimento
A PM faz policiamento preventivo contra a violência doméstica. Em 2018, houve 42 prisões de autores monitorados.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Arma de fogo em casa é ameaça para a vida da mulher

Metade das mulheres mortas em 2016 foram vítimas de armas de fogo

Em 2016, 2.339 mulheres foram mortas por arma de fogo no Brasil, o que significa, em média, metade dos homicídios de pessoas do sexo feminino naquele ano, segundo os últimos dados disponíveis pelo sistema Datasus, do Ministério da Saúde, em levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz. Em 11 estados, a morte de mulheres por armas de fogo chegou a ultrapassar a média nacional.
De todas as mulheres mortas por arma de fogo, 560 foram assassinadas dentro de casa. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO, isso é um indicativo de que o decreto que flexibiliza a posse de armas no Brasil pode ser um fator de risco para as mulheres.
— A mulher não vai se sentir mais segura com arma em casa. A arma é elemento de risco, não de segurança. Provavelmente, elas passarão a ser mais ameaçadas em ambientes de violência doméstica — afirma Stephanie Mori, do Instituto Sou Paz.
Stephanie afirma que, no Brasil, muitos homicídios são decorrentes de conflitos banais e a arma cria situação de perigo não apenas para envolvidos em brigas, mas para pessoas que estão próximas. Para a especialista, o machismo é um desafio histórico no Brasil e muitas mulheres ainda têm medo de denunciar quando sofrem agressão de seus parceiros.

Os números mostram o seguinte ranking, considerando a porcentagem de mortes femininas envolvendo armas entre o total de homicídios de mulheres por estado: Rio Grande do Norte (75.8%), Alagoas (71%), Sergipe (64,4%), Ceará (64,1%), Rio Grande do Sul (61,7%), Pará (60,1%), Paraíba (59,8%); Bahia (59,4%), Goiás (54,9%). Espírito Santo (53,5%) e Maranhão (52,5%).
Um estudo feito pelo Ministério Público de São Paulo entre março de 2016 e março de 2017, em 161 municípios, mostrou que 66% das mortes por agressão, seja com armas brancas (facas, canivetes, foices), armas de fogo ou com as próprias mãos ocorreram dentro da casa onde a vítima morava. As armas brancas corresponderam a 58% e as armas de fogo, 17%.
O MP mostrou ainda que 85% dos agressores foram maridos, companheiros ou ex-maridos ou ex-companheiros das vítimas. Namorados e ex-namorados corresponderam a 12% dos criminosos. Separação ou pedido de separação foram a causa de 45% das mortes. Outros 30% dos casos foram motivados por ciúme, sentimento de posse ou machismo.
Valéria Scarance, promotora do Ministério Público de São Paulo e coordenadora do Núcleo de Gênero, afirma que a arma é mais um fator de risco para as mulheres que sofrem violência doméstica.
— A presença de arma na residência é um dos elementos que levam a conceder medida protetiva para mulheres em todo o mundo. Não existir arma de fogo não faz com que o risco diminua, mas a presença de uma arma agrava os riscos de morte — explica.
Valéria lembra que arma de fogo é a mais usada na morte de mulheres jovens, com até 30 anos de idade. As armas brancas ou espancamento são as causas de morte de mulheres entre 30 e 59 anos. No caso de idosas, o asfixiamento é o meio mais usado pelos criminosos.
— É consenso no mundo inteiro que, com arma de fogo em casa, o risco é maior — diz ela.
Fonte: O Globo, 15.01.19