terça-feira, 26 de novembro de 2019

UFMG homenageia líder histórico de trabalhadores rurais do norte de Minas

A UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais, do ICA - Instituto de Ciências Agrárias, campus Montes Claros, presta uma homenagem ao líder histórico dos trabalhadores rurais do norte de Minas, Antônio Inácio Correa, de Januária, que completa 80 anos.

Antônio Inácio Correa nasceu em Januária, na região de Bonito de Minas, em 1939, em um pequeno sítio. Ele cursou até a terceira série, em turmas multisseriadas - 1ª, 2ª e 3ª séries numa sala só, com um quadro negro e uma professora -, na sua comunidade rural. Depois, fez a quarta série na Escola Caio Martins, na cidade. Ele conta que, desde criança foi curioso e lia tudo o que conseguia acessar de papel escrito. Escutando notícias no rádio e participando da vida comunitária foi atinando que as coisas estavam "fora de lugar". Como agricultor familiar frequentava reuniões no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Como católico foi um fervoroso participante de Comunidades Eclesiais de Base. 

Por ser um dos poucos lavradores com leitura e escrita, destacou-se a lavrar atas de reuniões diversas. Foi eleito Secretário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Januária. Em pouco tempo, virou um ativista da Comissão Pastoral da Terra, na década de 80. E botou a boca no trombone, com força e coragem, ao denunciar as grilagens de terras e expulsão de trabalhadores rurais de suas glebas, em encontros e movimentos estaduais e nacionais.

Em 1984, foi um dos pioneiros ao participar da fundação do MST Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tornando-se o representante do movimento no norte de Minas. Rodou a região em reuniões e Encontros de luta pela terra. Em ocupações e resistências históricas como em Cachoeirinha, em Varzelândia, e Vereda Grande, em Januária e São Francisco. Quase todos os dias, ele marcava ponto no Fórum de Januária, na Promotoria Pública, ao denunciar a perseguição dos grileiros aos lavradores. Junto com Elói Ferreira da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Francisco, formou uma dupla de potentes lideranças daqueles que não tinham voz nem vez.
Eloy foi assassinado em 16 de dezembro de 1984 por grileiros e pistoleiros ligados ao maior latifundiário de Minas, Antônio Luciano. Latifundiários da região anunciavam que esse era um aviso para outras lideranças como Antônio Inácio de Januária e Valdeci de Varzelândia. Valdeci sofreu um atentado, mas sobreviveu.

Antônio Inácio sempre foi de bom diálogo, firme e de muita coragem. Um homem de paz. Conversava inclusive com os algozes, tocando em sua humanidade. Procurava e cobrava de autoridades - policiais, delegados, promotor de justiça, juiz de direito, prefeitos, vereadores - a garantia de direitos de posseiros e lavradores da região. 

Nas décadas de 70 e 80, grandes empresas chegavam na região e queriam tomar conta de tudo. Comprava alguns pedaços de terra e cercavam centenas, milhares de hectares. Ameaçavam os posseiros, queimavam casas, destruíam roças, expulsavam as famílias. Antônio Inácio enfrentava estas situações, denunciando, organizando os trabalhadores na resistência de ficar em suas terras. Sua liderança dava coragem aos companheiros que enfrentavam os invasores.

Em 1984, Antônio Inácio começou a escrever uma coluna no semanário Folha de Januária, jornal independente de uma pequena cooperativa de bancários que abriu espaços para as lutas populares. Em 1988, a Editora Vozes selecionou algumas das suas crônicas e publicou o livro "Um Lavrador no Reino do Latifúndio - a luta secular de Davi contra Golias".
Suas escritas incomodavam a elite local que pressionava a direção do jornal, cortando propaganda devido aos escritos de Antônio Inácio que virou leituras de formação e organização política nos grupos de trabalhadores da região. Alguns anos depois, escreveu  capítulos dos livros “Pioneiros do MST” e “História dos Gerais”.

Eleito presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Januária intensificou ainda mais o seu trabalho. Rodou a região, orientando na fundação de associações e sindicatos de trabalhadores. Participou da fundação da CUT - Central Única dos Trabalhadores como também do Partido dos Trabalhadores, em Januária.

Em palestras e debates públicos sobre questões do campo, em Januária, ele ia pra platéia, cheia de fazendeiros e trabalhadores rurais. Quando abriam a fala, lá estava ele colocando o contraponto, a vivência e parecer dos oprimidos. Criava um desconforto na elite dirigente local. Começou a ser chamado pra compor Mesa, mas não lhe davam a palavra. Ele levantava e falava sem microfone. Temido e respeitado, começaram a ouvi-lo. Puxava  a orelha de bispos e padres que não tinham preferência pelos pobres. 

Sua luta ia muito além da garantia e acesso à terra. Debatia a necessidade da criação de políticas públicas para os agricultores familiares; a formação política da juventude; a democratização dos usos da água; questionava o modelo de desenvolvimento na produção da miséria de muitos, na destruição dos cerrados e veredas. Participou ativamente da organização da Comissão de Direitos Humanos de Januária, nas décadas de 80 e 90.

Aposentou-se. Mas, não da luta e da vida. Tem muito o que ensinar às novas gerações.

Por esses e vários motivos, é justa a homenagem que a UFMG presta a essa liderança histórica dos trabalhadores rurais do norte de Minas e de todo o semiárido mineiro.

Com meu amigo Antônio Inácio, na sua casa, em Januária, saboreando um pouco a sua sabedoria e as lembranças de muitas lutas travadas no Vale do São Chico. 

Leia o convite da Homenagem. 
E vá lá!

Homenagem a Antônio Inácio Correia
O mestrado associado entre a UFMG e a Unimontes em Sociedade, Ambiente e Território 
convida para o Seminário em homenagem a Antônio Inácio Correia.
Nascido em 1939, Antônio Inácio Correia é agricultor, foi presidente do Sindicato de 
Trabalhadores Rurais de Januária. Autor do livro “Um lavrador no reino do latifúndio” e 
de capítulos dos livros: “Pioneiros do MST” e “História dos Gerais”.
Nos anos de 1970 e 1980, carvoeiros e grileiros chegaram aos gerais do Norte de Minas 
devastando os cerrados e expulsando agricultores da terra. Naquela época, Antônio dirigia 
o Sindicato de Trabalhadores Rurais de de Januária. Ele liderou a luta em defesa na 
natureza e da agricultura familiar da região, organizando a resistência à tomadas de 
terras e à destruição dos cerrados e veredas.

Data: 26 de novembro, às 14h
Local: Auditório do Bloco C – Instituto de Ciências Agrárias da UFMG
Avenida Universitária, 1.000 - Bairro Universitário - Montes Claros - MG 
Fone: (38) 2101-7710
O evento é gratuito e aberto ao público.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Protestos contra APERAM e empresas de reflorestamento tomam conta da Audiência Pública na Assembléia Legislativa

Comunidades rurais do Jequitinhonha querem revisão fundiária.

Povos tradicionais denunciam privatização de recursos naturais por empresas de monocultura de eucalipto.acebook Email Versão para impressão

Audiência reuniu grande número de moradores do Vale do Jequitinhonha. - Foto: Willian Dias





















Nunca uma empresa de reflorestamento teve tantos protestos quanto a APERAM Bioenergia S.A. sofreu na tarde e noite, dessa terça-feira, 19.11, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Em Audiência Pública, promovida pela Comissão de Participação Popular, trabalhadores rurais, lideranças comunitárias,  representantes de povos tradicionais, vereadores, sindicalistas, prefeitos, técnicos, pesquisadores de Universidades e a AGE - Advocacia-Geral do Estado mostraram dados das ações de terra arrasada promovida pela empresa APERAM em seis municípios do Alto Jequitinhonha, no nordeste de Minas: Capelinha, Carbonita, Itamarandiba, Minas Novas, Turmalina e Veredinha.
Presença maciça de lideranças comunitárias, vereadores e prefeitos do Alto Jequitinhonha.
Foto: Wiliam Dias.
A Audiência Pública que durou das 14:30 às 20:30 h, denunciou a privatização das terras devolutas e apropriação de recursos naturais, principalmente dos recursos hídricos. 
Os participantes reivindicam a revisão do processo de regularização fundiária envolvendo os seis municípios da região e condenam a destruição do meio ambiente na região por grandes corporações, como a Aperam e a Arcelor Mital. Essa empresas  têm forte intervenção no modo de vida das comunidades, com ações predatórias no plantio e colheita do eucalipto em larga escala para a produção de carvão com a finalidade de abastecer os polos siderúrgicos do aço, na região Central de Minas Gerais.


Foto: Wiliam Dias.
Histórico
Conforme as denúncias, os problemas socioambientais surgiram com a instalação na região, nos anos 1970, de empresas de exploração de florestas, e se agravaram posteriormente, a partir de acordo de demarcação de terras firmado entre elas e o Governo do Estado, sem consulta à população.
No início do processo, a situação envolvia a estatal Acesita, em 1976, depois transformada em empresa de economia mista e mais tarde vendida ao capital estrangeiro.  Primeiro, para a Arcelor MIttal. Depois, para a APERAM.                                                                                                                                                                                                                                  As comunidades questionam o processo, alegando que a situação fere a soberania nacional, por se tratar de uma empresa de capital estrangeiro. E pedem a revisão da situação fundiária. 
Faustina Lopes da Silva, de Turmalina. Foto: Willian Dias
“Queremos nossa chapada protetora das águas de volta, queremos nossas veredas protegidas, elas são nossa herança. Não temos para onde ir. É lá que é nosso chão”, clamou, em um discurso emocionado, a líder comunitária Faustina Lopes da Silva, trabalhadora rural de Turmalina.
Pesquisadores denunciam monopólio das águas
Pesquisadores como a antropóloga Flávia Maria Galizoni, professora associada da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), campus Montes Claros, atribuem o agravamento da escassez de água na região à ação das madeireiras, que estariam privatizando as terras e os recursos hídricos.
Professora Flávia Galizoni, da UFMG, observada pelos deputados Jean Freire (PT) e Gustavo Valadares (PSDB). Foto: Willian Dias.
“A partir dos anos 70, todo o Cerrado foi alvo de um processo de privatização seletiva da chapada de veredas, afetando diretamente as comunidades tradicionais”, afirma Flávia, que denuncia “a privatização e o monopólio das águas e o alto nível de concentração de terras na região”.
Foto: Álbano Silveira.
Foto:Álbano Silveira
Foto: Álbano Silveira.
Segundo ela, 25% do município de Veredinha, hoje, estão sob o domínio da Aperam; em Itamarandiba, 21%; e em Turmalina, 7%. Em Carbonita, disse, o índice é de apenas 1%, porque lá predomina a empresa Arcelor Mital. Esses números, explicou, não contabilizam outras empresas de menor porte, que também destroem as matas nativas para plantação de eucalipto.

Plantio de eucalipto gera poucos empregos
As companhias se defendem alegando que levam progresso e desenvolvimento à região, garantindo emprego e renda para a população. 

De acordo com os pesquisadores, porém, esses dados são irrelevantes. Dados da própria Aperam, segundo a professora, atestam que, em 2016, a empresa empregou 1.036 trabalhadores, o que representa não mais que 0,78% da população, correspondendo a um emprego para 125 hectares de eucalipto plantados. “A agricultura familiar gera um emprego a cada quatro hectares; o café, um a cada cinco; e a criação bovina precisa de 40 hectares para a geração de um emprego”, argumenta.


Foto: Álbano Silveira

“A região tinha um ambiente biodiversificado, complexo, agora transformado em um ambiente homogêneo de monocultura, que seca rios, nascentes e lagoas e destrói o modo de vida das comunidades”, lamentou, denunciando que 52% das famílias da região recebem menos de 75 litros de água por dia e que mais de 22% dependem inteiramente de caminhões-pipa. 


Enquanto a biodiversidade do cerrado absorve 50% da água que cai da chuva, o plantio da monocultura de eucalipto segura apenas 29% de infiltração hídrica.
Em Turmalina, relatou, o poder público gasta em média, por ano, cerca de R$ 350 mil reais para abastecer as comunidades de água, “recursos que poderiam ser investidos em áreas como saúde e educação”.
Os pesquisadores Clebson Sousa, da UFVJM; Flávia Galizoni, da UFMG; e Vico Mendes, do IFNMG; e a lavradora Faustina Lopes, de Turmalina. Foto: Álbano Silveira.
Com ela, fazem coro, também, os pesquisadores Aderval Costa Filho, antropólogo da UFMG e coordenador do Projeto de Mapeamento de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais; o engenheiro agrícola Vico Mendes Pereira Lima, do IFNMG; e Clebson Souza de Almeida, professor do Curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Vereador Cleuber Luiz (PSC), de Capelinha, cobrou doações de terras da APERAM para projetos sociais e econômicos do município. Foto: Álbano Silveira.

O vereador Cleuber Luiz (PSC), de Capelinha, rebateu a afirmativa que a APERAM havia doado 32 mil hectares para o Estado para regularização fundiária. A empresa não doou sequer 50 hectares para o futuro campus da UFVJM. A Prefeitura Municipal se propôs a desapropriar a área. A avaliação da APERAM sempre subia o preço, contestando valores na justiça. Nem mesmo doou uma área para o aterro sanitário, como também não se dispôs a doar para a instalação de um Distrito Industrial.
Warlen Francisco (PT), vereador de Turmalina, denunciou o secamento de veredas. Foto: Álbano Silveira. 

O vereador Warlen Francisco (PT), de Turmalina, referendou os resultados da pesquisa sobre os efeitos do plantio da monocultura de eucalipto, dizendo que diversas veredas secaram e até mesmo barragens construídas pela empresa se esgotaram.
O vereador Heli, e também presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itamarandiba, acusou a ex-Acesita, atual APERAM, na apropriação fraudulenta de terras dos povos do cerrado. Foto: Álbano Silveira.

Heli do Sindicato, vereador de Itamarandiba, denunciou que a ex-Acesita forjou documentos na era da ditadura militar, na década de 70, para legalizar terras  devolutas como seu patrimônio, que pertencia ao patrimônio dos territórios de agricultores familiares e quilombolas. E expulsou muitas famílias, expropriando suas vidas, de forma violenta e desumana, finalizou.

Procurador do Estado garante que terras são dos povos do cerrado
O procurador do Estado, Romeu Rossi, da AGE - Advocacia Geral do Estado, afirmou que 57 mil hectares de terras apropriadas pela empresa estrangeira, de capital indiano, APERAM, pertencem aos povos originários. O Estado não poderia, de forma alguma, doar tais terras a uma empresa estrangeira, pois é proibido por lei, fere a soberania nacional, afirmou o advogado. Ele se disse feliz com as comunidades se movimentando exigindo os seus direitos. Informa que esteve na região, realizando audiência pública em Minas Novas, constatando que antes da chegada da monocultura do eucalipto, havia milhares de famílias que foram expulsas de seus terrenos.


Advogado Romeu Rossi, da AGE, garante que as terras devolutas são das populações originárias, contestando a doação à APERAM, uma empresa estrangeira. Foto: Álbano Silveira.

As prefeituras municipais dos seis municípios do Alto Jequitinhonha se juntam em propostas de uniformizar a legislação ambiental e tributária em referência ao plantio da monocultura de eucalipto, afirmou o prefeito de Itamarandiba e presidente da AMAJE - Associação dos Municípios do Alto Jequitinhonha, Luiz Fernando. Ele fez questão de registrar as presenças dos prefeitos de Turmalina, Carlinhos Ferreira; Tadeu Filipe, de Capelinha; Aécio Guedes, de Minas Novas; Lázaro Neves, de Berilo; e Edilson Nunes, de Veredinha.

Empresas se defendem e apontam avanços
Já o professor de Política Florestal e Legislação da Universidade Federal de Viçosa (UFV) Sebastião Renato Valverde defende que as empresas, hoje, produzem “de forma sustentável, ambientalmente correta, com respeito às comunidades locais e com preocupação social”.
“Temos que entender as circunstâncias em que se iniciaram os empreendimentos. Hoje, a dinâmica é outra. Se temos problemas, vamos corrigir. Há 40 anos não tínhamos apoio de antropólogos e sociólogos. Hoje temos”, sustentou.
Daniel Alexander Fernandes Coelho e Renato Pirfo Diniz, gerentes-executivos da Aperam BioEnergia, também contestam as denúncias. Segundo Renato, “é um equívoco associar a Aperam a terras devolutas, porque a empresa adquiriu legalmente todas as terras que ocupa”. Além disso, recorda que pelo acordo firmado com o governo em 2011, a empresa abriu mão de 32 mil hectares de terras para acomodar quilombolas e posseiros.
No desenrolar do processo, a empresa recorreu à Justiça Federal e recebeu sentença favorável, cabendo ao Estado o compromisso de devolver terras à Aperam, explicou.
Seu colega Daniel Alexander rejeita a acusação de que a empresa é responsável pela escassez de água na região, atribuindo o fenômeno “à crise hídrica”. “Nunca, nos últimos 45 anos, tivemos uma crise de desabastecimento tão grande como agora”, afirmou.
Parlamentares se dividem 
Natural e morador do Vale do Jequitinhonha, o presidente da Comissão de Participação Popular, deputado Doutor Jean Freire (PT) e autor do requerimento para a realização da Audiência Pública, defendeu o ponto de vista das lideranças comunitárias e da maioria dos pesquisadores. “Sou filho e morador do Vale, conheço a difícil convivência com a seca e os problemas enfrentados pela população local”, disse. Afirmou que não reconhece floresta de um pau só, o eucalipto. Floresta significa diversidade, como o cerrado, onde Deus escreveu com árvores tortas a vida certa de chapadeiros, geraizeiros, quilombolas e agricultores familiares.
Já o deputado Gustavo Valadares (PSDB) e a deputada Rosângela Reis (Pode) conclamaram todos a buscarem o diálogo e o consenso, ressaltando que a situação, hoje, é muito diferente dos anos 1970. “Sugiro que a empresa se aproxime dos municípios e crie um fórum permanente com prefeitos e vereadores”, disse Valadares, para quem “não existe correlação única e exclusiva da escassez de chuva com a monocultura do eucalipto”.
José Ricardo Ramos Roseno, da Subsecretaria de Assuntos Fundiários da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, disse que o governo está empenhado na regularização fundiária, já tendo entregue mais de 300 títulos ao município de Minas Novas e mais de 50 em Turmalina. Até o final de novembro disse que deverá estar concluída a regularização na região.

Presentes na Mesa de Expositores da Audiência Pública
  • Daniel Alexander Fernandes Coelho (representando Angélica Fabiana Batista Pimenta de Fiqueiredo)
    Gerente Executivo - Aperam BioEnergia
  • Murilo Barbosa Horta
    Presidente do Sindicato Rural de Capelinha
  • Vico Mendes Pereira Lima
    Engenheiro Agrícola, Diretor de Pesquisa do IFNMG, do NPPJ
  • Renato Pirfo Diniz (representando Angélica Fabiana Batista Pimenta de Fiqueiredo)
    Gerente Executivo Jurídico da Aperam BioEnergia
  • Luiz Fernando Alves
    Prefeito - Prefeitura Municipal de Itamarandiba
  • José Ricardo Ramos Roseno
    Subsecretário - Subsecretaria de Assuntos Fundiários da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento
  • Alan Oliveira dos Santos
    Integrante da Equipe Técnica do Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica
  • Flávia Maria Galizoni
    Antropóloga, Professora Associada UFMG, do NPPJ
  • Clebson Souza de Almeida
    Prof. do Curso de Licenciatura em Educação do Campo - UFVJM
  • Faustina Lopes da Silva
    Representante das Comunidades Rurais de Turmalina
  • Aderval Costa Filho
    Prof. Dr. em Antropologia da UFMG - Coordenador do Projeto de Mapeamento de Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais
  • Romeu Rossi
    Procurador - Advocacia-Geral do Estado
  • Sebastião Renato Valverde
    Diretor-Geral da Sociedade de Investigações Florestais - SIF - Universidade Federal de Viçosa
Mais gráficos apresentados na Audiência Pública






Fotos: Álbano Silveira

Esse post/texto contém informações da Assessoria de Comunicação da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Atriz do Vale do Jequitinhonha denuncia racismo estrutural no jornal El País

13 anos como doméstica, 4 sem receber salário. 

A escravidão no quarto de empregada doméstica.

Filha de Araçuai é notícia no El Pais, principal jornal da Espanha

A atriz e ex-empregada doméstica Cyda Baú,natural de Araçuaí. 

Foto: Lela Beltrão

Cyda Baú, atriz de comunidade quilombola de Araçuaí, conta sua história de luta e superação da opressão como mulher, negra e pobre.   

A atriz Cyda Baú, bisneta de escravos, saiu de um quilombo e virou doméstica ainda criança, em troca de comida e roupa, sem saber ler e escrever, até fugir para encontrar seu destino. Hoje conta sua história nos palcos. 

Essa história é destaque na edição dessa segunda-feira, 18.11, do jornal espanhol El Pais.

Por incentivo da avó dona Heroína, Maria Aparecida Baú, na época com 12 anos, deixou a comunidade quilombola onde morava na região de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha (MG)

A matriarca havia arrumado um emprego para a neta como empregada doméstica na casa de uma família branca de classe média alta em Montes Claros (MG). “Meninas novas eles colocam pra varrer, cuidar de criança...”, conta Aparecida, mais conhecida como Cyda, hoje com 44 anos. O salário? “Trabalhei um ano lá, sem ganhar. Ganhava a comida e uma roupinha de vez em quando”, diz. A situação se repetiu na casa de outras patroas, e até os 16 anos Cyda trabalhou como doméstica sem receber por isso, reproduzindo parte da triste história do bisavô: “seu” Antônio Baú foi um negro escravizado nas lavouras de cana da Bahia. O sobrenome da família foi um apelido dado pelo senhor da fazenda, uma vez que Antônio era hábil não só na lida do campo, mas também na confecção de malas e baús.
“O que vivi foi escravidão”, afirma Cyda de maneira taxativa. Além dela, sua avó e a mãe também trabalharam de graça “em casa de patroa” sem salário por muitos anos. “Era um costume que herdamos dos tempos da escravidão. Ainda é comum no país. Todos os dias nos quatro cantos do Brasil tem uma menina negra sendo mandada embora para trabalhar em casa de família. Meninas que largam a escola e os estudos e vão trabalhar como domésticas. Vamos ter uma geração de mulheres daqui a 30 anos que não lê, não escreve... Não terão tempo pra isso”, lamenta. Para ela, a própria existência da profissão está relacionada com nossa herança escravagista: “Empregada doméstica é uma coisa muito brasileira e tem total relação com o fato de o país ter acabado com a escravidão sem dar condição nenhuma pra quem estava sendo liberto. A mulher negra no Brasil foi pensada para limpar chão e passar pano. Foi pensada para... [se emociona] Para ser escrava, servir”.

Nas "casas de família", longe da comunidade quilombola onde cresceu e sem nenhuma perspectiva, a jovem Cyda se sentia “suspensa” na realidade. Dormindo no “quartinho fetal”, apelido dado para o quarto de empregada da casa das patroas onde mal cabia um colchão inteiro e ela precisava dormir encurvada, decidiu que algo precisava mudar. “Me deu um estalo. Eu não estudava, não tinha nada, nenhuma condição decente de vida, não sabia ler... Queria poder falar coisas sobre mim, me expressar, entender tudo. Eu era órfã de tudo lá. Longe da família, dos valores, sem opinião própria”, diz.


Cyda em sua casa na zona oeste de São Paulo.
Cyda em sua casa na zona oeste de São Paulo.


Após o curso na escola de teatro, a carreira de Cyda na TV não embalava, e se resumia a figurações em novelas da Globo. Foi aí que em 2014 ela foi incentivada por um amigo a se inscrever no programa A Casa dos Artistas 4, do SBT. O vencedor do programa seria escolhido para protagonizar a próxima novela da emissora, Esmeralda. Única mulher negra dentre os 14 participantes, Cyda se destacou, mas acabou eliminada na sétima semana. Ciente da popularidade da atriz, Silvio Santos decidiu convocá-la para a novela mesmo assim. O papel? A empregada doméstica Jacinta. “Dava raiva ser atriz no Brasil, país de maioria negra, e não ter um papel que não o de doméstica. O racismo estrutural do país preparou tudo isso. E não só pra mim, mas pra todo homem, mulher e criança negra. Seu lugar está definido quando você nasce. Se você não tiver força no coração pra atravessar esse muro, você vive preso a isso.”


Matéria sobre Cida Baú estampou a primeira página da edição do El País desta segunda-feira.(18)
Matéria sobre Cida Baú estampou a primeira página da edição do El País dessa segunda-feira,18.11.

A redenção veio pelas letras. Cyda se deparou com o livro Quarto de Despejo – Diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus, ela também uma empregada doméstica. “Não li essa e outras autoras negras na escola. Não lia minha gente. A historia dela é a minha vida. Ela sai de Minas Gerais novinha, trabalha em casa de família, mora em favela...”, diz. Em seguida devorou Diário de BititaPedaços da Fome e Casa de alvenaria, todos da mesma autora. “Aí fui ler Conceição Evaristo, e me deparei com a mesma história: ela foi doméstica, fugiu de patrão, sofreu abuso, não recebia salário. Quando terminei de ler estes livros eu sabia que ia fazer uma peça sobre isso”, conta. 

Dito e feito, Cyda escreveu, com o auxílio da dramaturga Gabriela Rabelo, Os Rastros das Marias, peça em parte biográfica mas que também dialoga com a batalha de todas as mulheres negras, de Marielle Franco e Carolina de Jesus à sua avó dona Heroína. Enfim, um papel para Cyda Baú, do quilombo para os palcos.

Fonte: El País

domingo, 17 de novembro de 2019

Plantio de eucalipto é denunciado como destruidor do meio ambiente e sumiço da água

Vale do Jequitinhonha denuncia abusos da monocultura do eucalipto

Moradores e pequenos agricultores apontam destruição ambiental e escassez de água para a população.

Foto: Clarissa BarçanteVale do Jequitinhonha denuncia abusos da monocultura do eucalipto
egundo participantes, a ocupação da área pelas madeireiras, carvoarias e outras empresas ligadas à monocultura do eucalipto, afetou a vida e a cultura da populaç&
Destruição de rios e nascentes, contaminação das águas por agrotóxicos, restrição da população no acesso à água, construção de barragens clandestinas e poluição do ar pela ação das carvoarias foram algumas das denúncias apresentadas nesta quinta-feira (14/11/19), por pequenos agricultores e moradores do Vale do Jequitinhonha, em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).


Convocada a requerimento da deputada Beatriz Cerqueira (PT), a reunião teve por objetivo debater as violações de direitos humanos da população atingida pela monocultura do eucalipto na região, bem como os conflitos socioambientais e impactos negativos do plantio do eucalipto no semiárido mineiro.

Area de plantio de eucalipto atinge principalmene municípios como Turmalina, Capelinha, Minas Novas e Itamarandiba.
Área de plantio de eucalipto atinge principalmente municípios como Carbonita, Capelinha,  Itamarandiba, Minas Novas e Turmalina.

Segundo a maioria dos participantes, a ocupação da área pelas madeireiras, carvoarias e outras empresas ligadas à monocultura do eucalipto, a partir dos anos 1970, impactou negativamente o meio ambiente e afetou a vida e a cultura da população de diversos municípios da região, com consequências desastrosas  inclusive para a saúde dos moradores, que sofrem com doenças respiratórias, intestinais, de pele, entre outros males.

Os relatos apontam ainda para uma “fiscalização ambiental ineficiente, quando não conivente”, como denunciou Felipe Soares Ribeiro, do MAB, o Movimento dos Atingidos por Barragens.

Segundo ele, com a seca de mananciais, como o rio Setubal, afluente do Jequitinhonha, 144 municípios da região já decretaram estado de calamidade hídrica nos últimos anos. Diante dos impactos socioambientais, ele pediu uma “ação mais assertiva e fiscalização mais eficaz do Ministério Público e órgãos ambientais”.

João Darques Rodrigues, morador de Vargem do Setúbal, fez coro às denúncias, apontando “o descaso da Aperan (antiga Acesita) na captação de água de forma desordenada, com a construção de barragens clandestinas e desmatamento”. “Acredito que as licenças concedidas são de caráter duvidoso”, disse.

Com um emocionado depoimento em que relatou a vida de dificuldades do homem do campo, demonstrando seu amor à terra, o pequeno agricultor Geraldo Moreira, de Itamarandiba, reforçou as denúncias e pediu fiscalização mais rigorosa.

Geraldo Moreira, pequeno agricultor de Itamarandiba fez apelo emocionante.
Geraldo Moreira, pequeno agricultor de Itamarandiba, fez apelo emocionante.

ONG denuncia privatização das águas

Segundo Alan Oliveira dos Santos, técnico do Centro de Agricultura Alternativa de Turmalina, organização não governamental que há 25 anos oferece apoio aos pequenos agricultores da região, as denúncias apresentadas não representam nem 3% das violações de direitos provocadas pela instalação das grandes empresas na região.

“A monocultura do eucalipto ocupa hoje 80% da chapada, antes rica em veredas”, denunciou, afirmando que está em curso um claro processo de privatização das águas. “Turmalina já teve mais de 450 nascentes; 90% secaram”, lamentou.

Ele atribui o fato à ação de empresas como a Aperan e a Arcelor, que exploram eucalipto, cultura não nativa, que exige grande quantidade de água para irrigação. A situação se agrava com a ação das carvoarias, cujo resfriamento se faz também pela utilização de água em grande escala.

Grandes plantações de eucalipto no Vale do Jequitinhonha, começaram na década de 1970
Grandes plantações de eucalipto no Vale do Jequitinhonha, começaram na década de 1970


Empresas se defendem e apontam benefícios

Daniel Alexander Fernandes Coelho, gerente-executivo da Aperam, e Adriana Maugeri, da Associação Mineira da Indústria Florestal (Amif) defenderam as empresas, alegando que elas geram emprego e riqueza para a região.

Segundo Daniel, a Aperan é responsável por mais de 6.500 empregos diretos e indiretos, movimentando R$ 50 milhões em salários/ano e injetando na economia local mais de R$ 90 milhões de reais/ano.

Ele negou todas as irregularidades e atribuiu a escassez de água e a extinção dos mananciais à “crise hídrica mais severa dos últimos 45 anos”.

Adriana Maugeri ressaltou que a produção de madeira é considerada uma “cultura necessária, limpa e renovável”. Pediu, ainda, que as pessoas reúnam provas e apresentem dados para embasar as denúncias. Ela disse que a conservação do solo e das águas é um interesse de todos e lamentou o que chamou de “demonização da cultura do eucalipto”.

O prefeito de Carbonita, Nivaldo Moraes Santana (Nico Moraes) também defendeu as empresas e disse que a crise hídrica é mundial
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Deputados se manifestam contra e a favor

A autora do requerimento para a audiência, deputada Beatriz Cerqueira (PT), lamentou que algumas atividades econômicas promovam “destruição do meio ambiente e interferência no modo de vida das comunidades”. Na sua opinião, a agricultura familiar e outras atividades econômicas podem substituir os empreendimentos que degradam o meio ambiente e impactam socialmente.

Natural do Jequitinhonha, seu colega de partido, o deputado Doutor Jean Freire, também condenou a ação das empresas. Ex-prefeito de Carbonita, o deputado Marquinhos Lemos, da mesma legenda, lamentou que 72% da mata nativa do município tenham sido tomados pelo cultivo de eucalipto, secando rios como o Curralinho e o Soledade. Fizeram coro com eles o deputado estadual Virgílio Guimarães e o deputado federal Rogério Correia, ambos do PT.

Contraponto 
Deputados Newton Cardoso Júnior, Coronel Sandro e Gustavo Valadares defenderam as empresas de reflorestamento.
Deputados Newton Cardoso Júnior, Coronel Sandro e Gustavo Valadares defenderam as empresas de reflorestamento.
Já o líder do governo, deputado Gustavo Valadares (PSDB), disse que se sentia confortável ao defender as empresas, alegando que acompanha de perto o trabalho desenvolvido por elas e sabe “de sua seriedade”.

O deputado Coronel Sandro (PSL), que presidiu a reunião, defendeu a importância da monocultura do eucalipto no Jequitinhonha devido à geração de empregos e à movimentação da economia local. Destacou também que a escassez de água é influenciada pelas mudanças climáticas.

O mesmo argumento foi usado pelo deputado federal Newton Cardoso Júnior (MDB), para quem as plantações de eucalipto geram empregos e contribuem para o desenvolvimento.

A comissão aprovou vários requerimentos com pedidos de providências aos órgãos públicos.

Consulte resultado da reunião.
Fonte: site da ALMG