No contexto do reatamento diplomático entre Estados Unidos e Cuba, porto nas proximidades de Havana ganha potencial para se tornar via rápida de exportações brasileiras para a maior economia do mundo. BNDES financiou US$ 800 milhões para a sua construção, feita pela Odebrecht Infraestrutura com apoio de mais de 400 empresas nacionais.
"Algo que foi criticado durante toda a campanha, esse porto agora mostra toda a sua importância estratégica para a região e o Brasil, em razão da proximidade com os Estados Unidos", saudou a presidente Dilma Rousseff, em Buenos Aires, durante reunião do Mercosul.
Presidentes Barack Obama e Raúl Castro contaram com a intermediação do Papa Francisco para chegar ao acordo.
Brasil247 - 17 DE DEZEMBRO DE 2014 ÀS 20:13
Tema da campanha presidencial, o porto de Mariel, em Cuba, volta agora às manchetes com o sinal trocado. O que foi apresentado pela oposição como um fato negativo, em razão de ter demandado cerca de US$ 800 milhões em investimentos do BNDES, já vai sendo resgatado como um verdadeiro gol de placa da estratégia de investimentos do governo federal. A primeira a retomar a discussão foi a presidente Dilma Rousseff.
- Algo que foi tão criticado durante a campanha, foi o porto de Mariel, lembrou Dilma, nesta quarta-feira 17, em Buenos Aires, durante reunião do Mercosul.
- Mas hoje, esse porto mostra sua importância para toda a região e para o Brasil, na medida em que ele é estratégico pela sua proximidade com o Estados Unidos, prosseguiu Dilma.
O Brasil é o segundo maior parceiro comercial de Cuba. À medida em que a ilha socialista iniciar e ampliar negócios com os Estados Unidos, melhores condições econômicas as empresas brasileiras terão para instalar subsidiárias em Cuba e, dali, vender produtos para o mercado americano.
A presidente contextualizou o porto de Mariel no cenário da espetacular reaproximação entre os Estados Unidos e Cuba. Nesta quarta, em pronunciamentos paralelos, em Washington e Havana, respectivamente, os presidentes Barack Obama e Raúl Castro anunciaram a reaproximação política entre os dois países. Pelo plano, que surpreendeu positivamente os mercados mundiais, embaixadas serão abertas nas duas capitais nacionais. Haverá, na prática, um relaxamento no embargo comercial.
- O presidente Obama viu agora o que o governo brasileiro e a Odebrecht viram antes, afirmou ao 247 o diretor de comunicação da Odebrecht Infraestrutura para América Latina e Caribe, Márcio Polidoro.
- Identificamos o mercado cubano como promissor e saímos na frente usando os mecanismos existentes no BNDES para incentivo a exportações, completou Polidoro.
Inaugurado em janeiro deste ano, o porto de Mariel, a cerca de 40 quilômetros de Havana, foi construído a partir de US$ 800 milhões financiados pelo BNDES. Houve a obrigatoriedade de contrapartida de valor integral em produção nacional.
- Lideramos 400 empresas brasileiras que levaram para a obra, em Cuba, de botinas e capacetes, de aço a guindastes, lembrou Polidoro. O processo de construção do porto resultou, no Brasil, na abertura de cerca de 150 mil vagas de trabalho.
- O BNDES pagou a indústria brasileira em reais e recebeu do governo cubano em dólar. Foi um negócio bom para todas as partes, acentuou ele.
Os discursos de Obama e Castro representaram o maior gesto já realizado em mais de 50 anos de rompimento de relações entre os dois países. O porto de Mariel crescerá em importância, em razão de sua proximidade com a costa dos EUA. Para o Brasil, o porto poderá fazer o papel de via rápida de exportações nacionais para a maior economia do planeta.
Na Argentina, Dilma saudou a histórica evolução nas relações entre os americanos e os cubanos.
- O reestabelecimento de relações diplomáticas marca uma mudança na civilização, cravou a presidente brasileira.
- Acho que é um momento que mostra que é possível restabelecer relações interrompidas há muitos anos, completou.
- Eu queria cumprimentar o presidente Raúl Castro, queria cumprimentar o presidente Barack Obama. E, sobretudo, queria cumprimentar o papa Francisco por ter sido, muito possivelmente, um dos fatores mais importantes para essa aproximação", acrescentou Dilma. O acordo fechado entre Washington e Havana teve a intermediação do papa Francisco. A última reunião entre executivos dos governos americano e cubano, antes dos discursos presidenciais, foi realizada no Vaticano.
- Eu acredito que a possibilidade de relacionamento, o fim do bloqueio, o fato de que Cuba tem hoje condições plenas de conviver na comunidade internacional é algo extremamente relevante para o povo cubano e, acredito, para toda América Latina, completou a presidente.
Durante a campanha eleitoral no Brasil, o PSDB divulgou que os brasileiros estariam "indignados" com o financiamento do BNDES à construção do porto de Mariel.
O fato é um só, goste-se dele ou não: presidente do Brasil foi a primeira líder mundial a criticar dura e publicamente espionagem dos EUA.
Recuo de Barack Obama, nesta sexta 17.01, com promessa de não mais espionar aliados, é mérito, antes de outros, de Dilma Rousseff.
Foi ela quem mandou chamar embaixador ianque às falas, cancelou visita de Estado a Washington e abriu Assembleia Geral da ONU com denúncia humilhante contra invasão cibernética.
Depois do Brasil vieram Ângela Merkel, da Alemanha, também espionada, e outras reações de oposiçã.
Mídia familiar deve reduzir papel da presidente neste embate global, mas registre-se que Dilma acaba de entrar para a história como a mulher que topou e dobrou a arrogância do Tio Sam.
Como diz a 'doutrina' Chico Buarque, Brasil de hoje "nem fala grosso com a Bolívia nem fala fino com os Estados Unidos".
Brasil 247 - 17 DE JANEIRO DE 2014 ÀS 21:20
Qual foi mesmo o presidente brasileiro que topou de frente uma parada indigesta com os EUA e fez a nação mais poderosa do planeta recuar?
Não havia exemplo nenhum para responder essa questão, mas desde esta sexta-feira 17, quando o presidente americano Barack Obama disse diante do mundo que "os EUA não vão mais espionar aliados", agora o Brasil tem uma resposta: Dilma Rousseff.
Goste-se ou não, interprete-se à esquerda ou à direita, o fato é que Dilma foi a primeira chefe de Nação a reagir dura e publicamente à descoberta de que, primeiro, milhões de cidadãos nacionais haviam tido e-mails rastreados pela Agência Nacional de Segurança (NSA) americana e, segundo, parte do governo e ela própria haviam sido bisbilhotados.
As revelações, a partir das informações transmitidas pelo analista americano exilado na Rússia Edward Snowden, começaram a se dar na metade do ano. E de pronto Dilma levou o governo a retrucar à altura.
Com a escalada de revelações, ela cancelou a visita oficial que faria aos EUA, em outubro, onde, em Washington, na Casa Branca, seria recebida com honras de convidada de Estado.
Não adiantou os Estados Unidos tentarem, por todos os canais diplomáticos, demover Dilma da decisão de não viajar – o que iria caracterizar um gesto de profunda decepção do Brasil com o comportamento do Tio Sam e, ao mesmo tempo, uma forte reprimenda. Ela ficou no Brasil e ainda determinou ao chanceler Luiz Alberto Figueiredo, antes de anunciar o cancelamento, que chamasse o embaixador americano em Brasílias às falas.
Em Nova York, durante seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, em 24 de outubro, feito imediatamente antes de Obama ocupar o mesmo púlpito, Dilma enumerou as trampolinagens dos arapongas ianques:
- Dados pessoais de cidadãos foram indiscriminadamente objeto de interceptação. Informações empresariais – muitas vezes com alto valor econômico e mesmo estratégico – estiveram na mira da espionagem. Também representações diplomáticas brasileiras, entre elas a Missão Permanente junto às Nações Unidas e a própria Presidência da República do Brasil tiveram suas comunicações interceptadas", relatou a presidente brasileira diante do concerto das Nações.
Ela concluiu, sem conciliar com o poderio americano como, talvez, outros fizessem e, na prática, como já se fez muito ao longo da história do Brasil:
- Imiscuir-se dessa forma na vida dos outros países fere o direito internacional e afronta os princípios que devem reger as relações entre eles, sobretudo, entre nações amigas", ensinou Dilma.
A verdadeira lição de moral da presidente sobre o governo Obama -- repita-se, goste-se ou não, avalie-se à direita ou à esquerda --, deu todo o resultado esperado. Sucedida pela revelação sobre a espionagem ao telefone celular da chanceler alemã Ângela Merkel, a pregação de Dilma pelo recuo efetivo, na prática, da arapongagem americana, ganhou corpo na comunidade internacional.
Relembre-se: a presidente começou sozinha a reação à invasão cibernética americana e, durante a jornada, ganhou o apoio de novos fatos e de praticamente todos os países que contam, à exceção da Inglaterra.
Para completar, num gestão que foi interpretado até mesmo como retaliação econômica, Dilma levou o governo ao ponto de, em meio a esse debate estratégico, comprar aviões militares suecos, os Gripen NG, na maior concorrência militar do ano, na qual os americanos concorriam com seus F-18 A. Sem confiança, sem negócio, ela quis dizer.
O recuo de Obama e do Tio Sam nesta sexta-feira 17 foi resultado de muitas pressões. E a primeira pressão foi feita pela presidente do Brasil.
Abaixo, o discurso de Dilma na abertura da Assembleia Geral da ONU, em 24 de outubro:
COMENTÁRIOS
Bill Clinton, ex-presidente dos EUA
Clinton elogia Dilma e Lula e critica Obama 17.01.2014 às 22:54
Bill Clinton diz que não se deve espionar "um aliado" e rasga elogios aos programas de acesso ao ensino universitário "dos governos Lula e Dilma Rousseff" .
O presidente Barack Obama ganhou mais um adversário de peso em relação à posição dos EUA de realizarem espionagem sobre cidadãos, governos e empresas em diferentes partes do mundo, entre as quais o Brasil. É ninguém menos que o ex-presidente Bill Clinton, que está no Brasil para o primeiro encontro de sua ONG – a Fundação Clinton Global Initiative – na América Latina.
“Não deveríamos levantar informação econômica sobre o pretexto da segurança”, disse Clinton em entrevista ao jornal o Globo. No caso do Brasil, o incômodo maior foi com o acompanhamento das conversas telefônicas da presidente Rousseff. E também da Petrobras”, reconheceu.
“Não deveríamos levantar informação econômica sob o pretexto de segurança. Não com um aliado”. Clinton elogiou a economia brasileira – “achei importante vir ao Brasil pelo progresso que houve aqui” – e, também, a postura da presidente Dilma Rousseff diante das manifestações de massa em junho deste ano. “Tanto as manifestações quanto a maneira como o governo respondeu a elas são, a longo prazo, indícios positivos”, afirmou o ex-presidente.
Ele comparou as reações do presidente da Síria e da presidente brasileira sobre as reivindicações populares. “O presidente Bashar al-Assad enviou o exército e, de repente, tinha uma guerra civil com a qual lidar. A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, disse ‘vocês têm razão, vamos tentar descobrir como resolver os problemas’”, sublinhou Clinton.
Em um forte elogio às administrações do PT, Clinton foi enfático na defesa dos programas de bolsas de estudo e financiamentos a alunos carentes para cursarem o ensino superior. “Os governos Lula e Rousseff tentam fazer algo que nós jamais tentamos: dar às universidades particulares incentivos fiscais proporcionais ao número de alunos de baixa-renda. Isso funciona porque, por um lado, aumenta o número de matrículas e, por outro, não incentiva o aumento das mensalidades.”, avaliou o democrata.
Imprudência diplomática Mauro Santayana É preciso romper o silêncio da amabilidade para estranhar o pronunciamento público que o presidente Obama fará, da sacada do Teatro Municipal, diante da histórica Cinelândia. Afinal, é de se indagar por que a um chefe de Estado estrangeiro se permite realizar um comício – porque de comício se trata – em nosso país. Apesar das especulações, não se sabe o que ele pretende dizer exatamente aos brasileiros que, a convite da Embaixada dos Estados Unidos – é bom que se frise – irão se reunir em um local tão estreitamente vinculado ao sentimento nacionalista do nosso povo.
É da boa praxe das relações internacionais que os chefes de estado estrangeiros sejam recebidos no Parlamento e, por intermédio dos representantes da nação, se dirijam ao povo que eles visitam. Seria aceitável que Mr. Obama, a exemplo do que fez no Cairo, pronunciasse conferência em alguma universidade brasileira, como a USP ou a UNB, por exemplo. Ele poderia dizer o que pensa das relações entre os Estados Unidos e a América Latina, e seria de sua conveniência atualizar a Doutrina Monroe, dando-lhe significado diferente daquele que lhe deu o presidente Ted Roosevelt, em 1904.
Na mensagem que então enviou ao Congresso dos Estados Unidos, o presidente declarou o direito de os Estados Unidos policiarem o mundo, ao mesmo tempo em que instruiu seus emissários à América Latina a se valerem do provérbio africano que recomenda falar macio, mas carregar um porrete grande.
Se a idéia desse ato público foi de Washington, deveríamos ter ponderado, com toda a elegância diplomática, a sua inconveniência. Se a sugestão partiu do Itamaraty ou do Planalto, devemos lamentar a imprudência. Com todos os seus méritos, a presidência Obama ainda não conseguiu amenizar o sentimento de animosidade de grande parte do povo brasileiro com relação aos Estados Unidos. Afinal, nossa memória guarda fatos como os golpes de 64, no Brasil, de 1973, no Chile, e ação ianque em El Salvador, em 1981, e as cenas de Guantánamo e Abu Ghraid. O Rio de Janeiro é uma cidade singular, que, desde a noite das garrafadas, em 13 de março de 1831, costuma desatar seu inconformismo em protestos fortes. A Cinelândia, como outros já apontaram, é o local em que as tropas revolucionárias de 1930, chefiadas por Getúlio Vargas, amarraram seus cavalos no obelisco então ali existente. Depois do fim do Estado Novo, foi o lugar preferido das forças políticas nacionalistas e de esquerda, para os grandes comícios.
A Cinelândia assistiu, da mesma forma, aos protestos históricos do povo carioca, quando do assassinato do estudante Edson Luis, ocorrido também em março (1968). Da Cinelândia partiu a passeata dos cem mil, no grande ato contra a ditadura militar, em 26 de junho do mesmo ano.
Não é, convenhamos, lugar politicamente adequado para o pronunciamento público do presidente dos Estados Unidos. É ingenuidade não esperar manifestações de descontentamento contra a visita de Obama.
Além disso – e é o mais grave – será difícil impedir que agentes provocadores, destacados pela extrema-direita dos Estados Unidos, atuem, a fim de criar perigosos incidentes durante o ato. Outra questão importante: a segurança mais próxima do presidente Obama será exercida por agentes norte-americanos, como é natural nessas visitas. Se houver qualquer incidente entre um guarda-costas de Obama e um cidadão brasileiro, as conseqüências serão inimagináveis.
Argumenta-se que não só Obama, como Kennedy, discursaram em público em Berlim. A situação é diferente. A Alemanha tem a sua soberania limitada pela derrota de 1945, e ainda hoje se encontra sob ocupação militar americana. Finalmente, podemos perguntar se a presidente Dilma, ao visitar os Estados Unidos, poderá falar diretamente aos novaiorquinos, em palanque armado no Times Square.
Mauro Santayana é jornalista do Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro.
A saudade do escravo na velha diplomacia brasileira As elites brasileiras, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca aceitaram Lula porque pensam que seu lugar não é na Presidência, mas sim na fábrica produzindo para elas. A nossa imprensa comercial é obtusa face ao novo período histórico que estamos vivendo. Por isso abomina também a diplomacia de Lula. Leonardo Boff O filósofo F. Hegel em sua Fenomenologia do Espírito analisou detalhadamente a dialética do senhor e do escravo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o escravo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de escravidão. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra Pedagogia do Oprimido. "Com humor comentou Frei Betto: "em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor". Quer dizer, o oprimido hospeda em si o opressor e é exatamente isso que o faz oprimido". A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor, mas o cidadão livre.
Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.
O Globo fala em "suicídio diplomático" (24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais: "Sucursal do Império", pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, têm seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata. Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como são Hawaí e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do Presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento. O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu Presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse Presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições.
O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado. Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.
A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula. Publicado originalmente na Cartamaior
R E V E L A Ç Ã O E X P L O S I V A: Obama apoiou Lula e voltou atrás "Do nosso ponto de vista, uma decisão do Irã de enviar 1.200 quilos de urânio de baixo enriquecimento para fora do país geraria confiança e diminuiria as tensões regionais por meio da redução do estoque iraniano" (Barack Obama , em carta enviada a Lula 15 dias antes do acordo com o Irã. Feito o acordo, os EUA desencadearam ofensiva por sanções. Reuters; 21-05-2010)
Rudá Ricci O acordo em Terrã está sendo discutido no Brasil pelas lentes partidárias e eleitorais. O que demonstra o quanto mergulhamos numa discussão rebaixada, desqualificada, sobre políticas públicas e papel do país na nova ordem mundial.
O ingresso do país nesta seara deve-se à ocupação de espaço deixado pelos EUA. E, obviamente, a pressão dos EUA para desqualificar a ação da diplomacia brasileira (não governo Lula, mas Estado brasileiro) é mais que evidente. Obama, em baixa popularidade nos EUA, está sob fogo cruzado com o acordo Irã-Turquia.
E a grande imprensa, ao invés de explicitar como se faz negociação diplomática, rebaixa ainda mais o nível da "informação", como se este jogo fosse algo feito na esquina, entre ingênuos e mentirosos.
É óbvio que a China e Rússia apoiaram a negociação mediada pelo Brasil. E é óbvio que negociarão este trunfo, no Conselho de Segurança da ONU, com os EUA. É assim que se faz negociações de alto nível.
Como é possível termos jornalistas tão lineares em nosso país?
Alguém imagina que China estará alinhada como os EUA?
Basta perceber que já exigiram a retirada de alguns itens - e levaram - da resolução elaborada pelos EUA a respeito do Irã.
Mas muita água vai rolar, ainda. E é óbvio que se trata de um jogo de forças, muito sutil, e de contrapesos, onde o Brasil não pode receber tantos louros a ponto de se tornar um país mais significativo que os próprios membros permanentes do Conselho de Segurança.
Sinceramente: é tão difícil que somente quem estuda relações internacionais entende?
Para que partidarizar algo que é jogo de Estado e diz respeito ao futuro do país?
Rudá Ricci é cientista político e diretor geral do Instituto Cultiva.
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