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sexta-feira, 11 de junho de 2021

Não tem conversa com bolsonarista

 

Os bolsonaristas não sabem dialogar, conviver com quem pensa e sente diferente deles. 

Quem não concorda com eles vira inimigo. 

É o protótipo do fascista. 


"Não tem conversa com bolsonarista"

João Paulo Cunha*
"Bolsonaro está cercado do que há de pior, na caserna, nos templos e na economia" - Arquivo/Agência Brasil
O fascismo é o território em que adversários são transformados em inimigos

Não quero papo com bolsonarista. Pode ser até parente próximo, pai, filho ou mesmo o espírito santo. Sem chance. A expressão “troca de ideias” padece de uma crença na capacidade do outro em trazer algo novo para o horizonte, que mereça até mesmo ponderação ou mudança de ponto de vista. Não é o caso dos minions: não tem como ser um deles sem deixar de ser gente. Pelo menos o que entendo por gente. Tem conversa que não vale a pena.

Por isso é preciso mudar de tática. Nada de tentar convencer os imutáveis 25% de almas sebosas. Que subsistam, e é só. Mas precisam ser derrotados. O fascismo é o território em que adversários são transformados em inimigos. O desafio, por isso, não está em conquistar consenso, hegemonia ou mesmo maioria, mas recuperar a civilização isolando quem não tem estatuto ontológico para participar do clube da democracia. O Brasil, sob Bolsonaro, vive no pântano da pré-política.

Por isso, alguns desafios estão postos. Fazer oposição cerrada às políticas do presidente que vêm capando direitos, manietando as instituições e destruindo o país é o primeiro deles. Para esse trabalho estão convocados desde os partidos de oposição aos movimentos sociais, passando por todos os grupos afetados por decisões no campo das políticas públicas e decisões na arena econômica e dos valores culturais. Enquanto o governo existe, é preciso que seja vigiado em seus equívocos, criticado em seus erros, inviabilizado dentro das regras e constrangido em suas boçalidades.

O segundo desafio está em ocupar todas as frentes possíveis para viabilizar o “Fora, Bolsonaro”, do afastamento judicial ou popular ao impeachment. Vale muita coisa nesse caminho, das CPIs aos movimentos de rua, passando por denúncias em foros internacionais de direitos humanos e cortes de defesa da civilização como a concebemos nos últimos 200 anos. Afastar o presidente é um imperativo democrático, não um ato de exceção. A paralisação do processo no Congresso e a blindagem nos órgãos de controle exige uma atitude de coragem que começa nas ruas.

O terceiro caminho é a construção da vitória nas urnas no ano que vem. Pode parecer a via mais condescendente e fácil, mas nem por isso está garantida. A ser mantida a atmosfera de polarização, atravessada pela incapacidade de união das forças democráticas e do cenário de exploração industrial da desinformação criminosa, não está afastada a possibilidade de reedição da última disputa eleitoral, inclusive em seus resultados. Parte minoritária, mas unida e vitaminada pela rede de ódio, pode de novo se alimentar dos mitos da antipolítica e do antipetismo.

 

O “Fora, Bolsonaro” precisa vir pelo afastamento judicial ou popular ou impeachment

 

A mudança de postura política exige apenas humildade em aprender com o passado recente. O que significa estabelecer com competência uma frente feita ao mesmo tempo de valores compartilhados e nomes viáveis. Os dois precisam vir juntos. Quem fala que o principal é o programa ou quem defende apenas os favoritos em pesquisa, faz o jogo da divisão que só reforça o ego e enfraquece os resultados. Que já deu no que deu.

Três são as bandeiras capazes de unir o que a divergência política das forças progressistas, de centro-esquerda ou, simplesmente, racionais, separa. Defesa da democracia como valor inegociável, retomada do combate à desigualdade e proteção do meio ambiente. Quem assina embaixo deve vir junto. As outras demandas serão somadas no processo de alianças posterior. Os nomes para levar esse programa adiante devem ser debatidos a partir daí, com pragmatismo e objetivo definido: ganhar a eleição, não uma vaga no tribunal da vitória moral. De boas intenções, o inferno bolsonarista dos nossos dias está cheio.

Baixo clero militar

Além de fazer oposição ao governo, trabalhar pelo impedimento do presidente por crimes cometidos e construir a vitória eleitoral, recentemente mais um fator passou a dominar o cenário e exigir mais um esforço aos defensores da democracia no Brasil: o combate à ditadura militar. Mas a ditadura não acabou em 1985? O que Bolsonaro está conseguindo fazer é algo que parecia impossível: transformar o que era ruim em algo ainda pior, ao naturalizar o que é inaceitável: uma ditadura militar singular, mas expressiva nos marcos da democracia de fachada.

O atual governo tem mais militares em cargos de ministério e presidência de estatais do que qualquer outro do período militar. Nos escalões inferiores, o recrutamento (a palavra nunca foi tão exata) nas forças armadas para cargos de direção e chefia do serviço público extrapola a casa dos milhares. O presidente é um ex-militar afastado por insubordinação, seu vice é general e o aparelhamento da justiça e das polícias tem a marca compósita da caserna e dos templos evangélicos. Bolsonaro recupera a mitologia da competência militar para cumprir missões em todas as áreas onde o problema parece ser excesso de democracia.

 

É preciso unirmos em torno da defesa da democracia, do combate à desigualdade e da proteção do meio ambiente

 

Militarizou tudo, do meio ambiente à saúde, não por acaso dois dos mais incompetentes setores da administração pública, que vêm enxovalhando o país em dimensão internacional. Pôs o Exército para produzir cloroquina, dirigir agências de controle de medicamentos, comandar a repressão contra defensores do meio ambiente.  Convocou militares da ativa contra as normas disciplinares, insuflou a divisão entre o oficialato, incorporou as polícias em sua visão abrangente de militarização como corpo armado e obediente.

As Forças Armadas nunca foram unidas. A dissenção faz parte de seu DNA, inclusive com revoltas e protestos vindos da caserna. Durante a ditadura militar de 1964-1985, foram pelo menos duas ondas fortes de conspiração, o que mostrava a vida política pulsando nos quartéis. Os protestos, na verdade, não eram contra o endurecimento do regime, pelo contrário, pela cobrança de mais ditadura. Nos dois casos, quem clamava por endurecimento eram representantes das baixas e médias patentes. Como Bolsonaro e sua turma.

 

Militares se nutrem do tripé oferecido pelo chefe: prestígio, poder e dinheiro

 

Mesmo assim, os militares, ainda que capazes de segurar a bagunça no seu pátio, gostavam do que faziam e se sentiram tirados do jogo antes da hora. Negociaram uma anistia que passou por cima de crimes contra a humanidade, o que permitiu que anos depois nomes de torturadores sejam alvo de homenagens e a defesa da tortura feita aos quatro ventos. Agora, inspirados pelo presidente, parece que os revoltosos do fechamento estão de volta. E se nutrem do tripé oferecido pelo chefe: prestígio, poder e dinheiro.

São três alimentos para a alma de qualquer pessoa menos convicta de seus princípios. Os militares ganharam promessas de investimento em seus brinquedos, estão no comando da máquina administrativa (inclusive no ordenamento de despesas civis) e tiveram aumentos e decisões favoráveis em meio a reformas trabalhistas e previdenciárias que afetaram negativamente todas as outras categorias profissionais. São admirados, poderosos e bem pagos.

Por essa e outras, o ex-capitão insiste em chamar as Forças Armadas de “meu” Exército. No sentido da propriedade individual pode ser um erro, mas no que diz respeito à identificação do grupo mais próximo, parece acertar o alvo. Com isso, a oposição de parte dos oficiais e mesmo o pedido de demissão dos comandantes das três armas não parecem incomodar o presidente. Na verdade, reforça a mudança da origem do domínio estabelecido nos quartéis, a partir do rebaixamento da linha de comando rumo aos setores menos graduados e, até então, menos valorizados pela corporação. Uma espécie de baixo clero da farda.

O recente caso de Eduardo Pazuello, general logístico e ex-ministro da Saúde, foi o coroamento da desmoralização dos militares. Tanto dentro de casa como para a opinião pública. Por um lado, rifou um oficial da ativa que carregou nas costas de forma humilhante os erros propositais da política sanitária defendida pelo presidente. Se um general da ativa em cargo de ministro já era uma forma de desobediência dos códigos militares que afirmam independência de governos para reforçar o papel de Estado de seus membros, sua entrega aos leões foi uma demonstração de desprezo.

 

Militarizou tudo, do meio ambiente à saúde, não por acaso dois dos mais incompetentes setores da administração pública

 

Em seguida, sua convocação para um ato político e exposição gratuita em episódio sem maior relevância, como um passeio de motociclistas fantasiados de homem, afrontou novamente as regras profissionais dos militares. Ao entrar em cena encaminhando o arquivamento da denúncia ao general, Bolsonaro remarcou sua posição de comando e plantou mais uma divisão entre os militares. O Exército saiu mais fraco e perdeu no terreno que moralmente sempre se destacou.

O presidente sempre manteve fechados os canais com a democracia. É inimigo da imprensa livre. Foi sempre reticente com partidos. Não confia em empresários, já que não se decidiu se é nacionalista ou liberal. Utilizou-se de todos que davam a ele palanque para sua cruzada antissistema, a começar por Moro, que depois foi descartado sumariamente e vive hoje seu inferno sem horizonte político ou profissional. Merecidamente.

Agora reduz sua interlocução até com a base da qual mais se orgulhava, os militares. Está ficando cercado do que há de pior, na caserna, nos templos, na economia e nas forças de segurança. É com eles que pretende se manter. Na falta de categoria sociológica confiável, esses espécimes atendem pelo nome de bolsonaristas. Eles não merecem papo.

Artigo publicado no https://www.brasildefatomg.com.br/2021/06/10/nao-tem-conversa-com-bolsonarista, no dia 10.06.2021

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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Bolsonaro quer dar golpe com fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal

O presidente Jair Bolsonaro após uma cerimônia no Palácio do Planalto em fevereiro de 2020.O presidente Jair Bolsonaro após uma cerimônia no Palácio do Planalto em fevereiro de 2020.ADRIANO MACHADO / REUTERS (REUTERS)

O golpe de Bolsonaro está em curso

Já está acontecendo: 

a hora de lutar pela democracia é agora

Só não vê quem não quer. E o problema, ou pelo menos um deles, é que muita gente não quer ver. O amotinamento de uma parcela da Polícia Militar do Ceará e os dois tiros disparados contra o senador licenciado Cid Gomes (PDT), em 19 de fevereiro, é a cena explícita de um golpe que já está sendo gestado dentro da anormalidade. Há dois movimentos articulados. Num deles, Jair Bolsonaro se cerca de generais e outros oficiais das Forças Armadas nos ministérios, substituindo progressivamente os políticos e técnicos civis no Governo por fardados – ou subordinando os civis aos homens de farda nas estruturas governamentais. Entre eles, o influente general Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, segue na ativa, e não dá sinais de desejar antecipar seu desembarque na reserva. O brutal general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, chamou o Congresso de “chantagista” dias atrás. Nas redes, vídeos com a imagem de Bolsonaro conclamam os brasileiros a protestar contra o Congresso em 15 de março. “Por que esperar pelo futuro se não tomamos de volta o nosso Brasil?”, diz um deles. Bolsonaro, o antipresidente em pessoa, está divulgando pelas suas redes de WhatsApp os chamados para protestar contra o Congresso. Este é o primeiro movimento. 
No outro, uma parcela significativa das PMs dos estados proclama sua autonomia, transformando governadores e população em reféns de uma força armada que passa a aterrorizar as comunidades usando a estrutura do Estado. Como os fatos já deixaram claro, essas parcelas das PMs não respondem aos Governos estaduais nem obedecem a Constituição. Tudo indica que veem Bolsonaro como seu único líder. Os generais são a vitrine lustrada por holofotes, as PMs são as forças populares que, ao mesmo tempo, sustentam o bolsonarismo e são parte essencial dele. Para as baixas patentes do Exército e dos quartéis da PM, Bolsonaro é o homem.
É verdade que as instituições estão tentando reagir. Também é verdade que há dúvidas robustas se as instituições, que já mostraram várias e abissais fragilidades, ainda são capazes de reagir às forças que já perdem os últimos resquícios de pudor de se mostrarem. E perdem o pudor justamente porque todos os abusos cometidos por Bolsonaro, sua família e sua corte ficaram impunes. De nada adianta autoridades encherem a boca para “lamentar os excessos”. Neste momento, apenas lamentar é sinal de fraqueza, é conversinha de sala de jantar ilustrada enquanto o barulho da preparação das armas já atravessa a porta. 
Bolsonaro nunca foi barrado: nem pela Justiça Militar nem pela Justiça Civil. É também por isso que estamos neste ponto da história.
Essas forças perdem os últimos resquícios de pudor também porque parte do empresariado nacional não se importa com a democracia e a proteção dos direitos básicos desde que seus negócios, que chamam de “economia”, sigam dando lucro. Esta mesma parcela do empresariado nacional é diretamente responsável pela eleição de um homem como Bolsonaro, cujas declarações brutais no Congresso já expunham os sinais de perversão patológica. Estes empresários são os herdeiros morais daqueles empresários que apoiaram e se beneficiaram da ditadura militar (1964-1985), quando não os mesmos.
Uma das tragédias do Brasil é a falta de um mínimo de espírito público por parte de suas elites financeiras. Elas não estão nem aí com os cartazes de papelão onde está escrita a palavra “Fome”, que se multiplicam pelas ruas de cidades como São Paulo. Como jamais se importaram com o genocídio dos jovens negros nas periferias urbanas do Brasil, parte deles mortos pelas PMs e suas “tropas de elite”. Adriano da Nóbrega – aquele que, caso não tivesse sido morto, poderia dizer qual era a profundidade da relação da família Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro e também quem mandou assassinar Marielle Franco – pertencia ao BOPE, um destes grupos de elite.
Não há nada comparável à situação vivida hoje pelo Brasil sob o Governo de Bolsonaro. Mas ela só é possível porque, desde o início, se tolerou o envolvimento de parte das PMs com esquadrões da morte, na ditadura e além dela. Desde a redemocratização do país, na segunda metade dos anos 1980, nenhum dos governos combateu diretamente a banda podre das forças de segurança. Parte das PMs se converteu em milícias, aterrorizando as comunidades pobres, especialmente no Rio de Janeiro, e isso foi tolerado em nome da “governabilidade” e de projetos eleitorais com interesses comuns. Nos últimos anos as milícias deixaram de ser um Estado paralelo para se confundir com o próprio Estado.
A política perversa da “guerra às drogas”, um massacre em que só morrem pobres enquanto os negócios dos ricos aumentam e se diversificam, foi mantida mesmo por governos de esquerda e contra todas as conclusões dos pesquisadores e pesquisas sérias que não faltam no Brasil. E seguiu sustentando a violência de uma polícia que chega nos morros atirando para matar, inclusive em crianças, com a habitual desculpa de “confronto” com traficantes. Se atingem um estudante na escola ou uma criança brincando, é “efeito colateral”.
Desde os massivos protestos de 2013, governadores de diferentes estados acharam bastante conveniente que as PMs batessem em manifestantes. E como ela bateu. Era totalmente inconstitucional, mas em todas as esferas, poucos se importaram com esse comportamento: uma força pública agindo contra o cidadão. Os números de mortes cometidas por policiais, a maior parte delas vitimando pretos e pobres, segue aumentando e isso também segue sendo tolerado por uns e estimulado por outros. É quase patológica, para não dizer estúpida, a forma como parte das elites acredita que vai controlar descontrolados. Parecem nem desconfiar de que, em algum momento, eles vão trabalhar apenas para si mesmos e fazer os ex-chefes também de reféns.
Bolsonaro compreende essa lógica muito bem. Ele é um deles. Foi eleito defendendo explicitamente a violência policial durante os 30 anos como político profissional. Ele nunca escondeu o que defendia e sempre soube a quem agradecer pelos votos. 
Sergio Moro, o ministro que interditou a possibilidade de justiça, fez um projeto que permitia que os policiais fossem absolvidos em caso de assassinarem “sob violenta emoção”. Na prática é o que acontece, mas seria oficializado, e oficializar faz diferença. Essa parte do projeto foi vetada pelo Congresso, mas os policiais seguem pressionando com cada vez mais força. Neste momento, Bolsonaro acena com uma antiga reivindicação dos policiais: a unificação nacional da PM. Isso também interessa – e muito – a Bolsonaro.
Se uma parcela das polícias já não obedece aos governadores, a quem ela obedecerá? Se já não obedece a Constituição, a qual lei seguirá obedecendo? Bolsonaro é o seu líder moral. O que as polícias militares têm feito nos últimos anos, ao se amotinarem e tocarem o terror na população é o que Bolsonaro tentou fazer quando capitão do Exército e foi descoberto antes: tocar o terror, colocando bombas nos quartéis, para pressionar por melhores salários. É ele o precursor, o homem da vanguarda.
O que aconteceu com Bolsonaro então? Virou um pária? Uma pessoa em que ninguém poderia confiar porque totalmente fora de controle? Um homem visto como perigoso porque é capaz de qualquer loucura em nome de interesses corporativos? Não. Ao contrário. Foi eleito e reeleito deputado por quase três décadas. E, em 2018, virou presidente da República. Este é o exemplo. E aqui estamos nós. Vale a pergunta: se os policiais amotinados são apoiados pelo presidente da República e por seus filhos no Congresso, continua sendo motim?
Não se vira refém de uma hora para outra. É um processo. Não dá para enfrentar o horror do presente sem enfrentar o horror do passado porque o que o Brasil vive hoje não aconteceu de repente e não aconteceu sem silenciamentos de diferentes parcelas da sociedade e dos partidos políticos que ocuparam o poder. Para seguir em frente é preciso carregar os pecados junto e ser capaz de fazer melhor. Quando a classe média se calou diante do cotidiano de horror nas favelas e periferias é porque pensou que estaria a salvo. Quando políticos de esquerda tergiversaram, recuaram e não enfrentaram as milícias é porque pensaram que seria possível contornar. E aqui estamos nós. Ninguém está a salvo quando se aposta na violência e no caos. Ninguém controla os violentos.
Há ainda o capítulo especial da degradação moral das cúpulas fardadas. Os estrelados das Forças Armadas absolveram Bolsonaro lá atrás e hoje fazem ainda pior: compõem sua entourage no Governo. Até o general Ernesto Geisel, um dos presidentes militares da ditadura, dizia que não dava para confiar em Bolsonaro. Mas aí está ele, cercado por peitos medalhados. Os generais descobriram uma forma de voltar ao Planalto e parecem não se importar com o custo. Exatamente porque quem vai pagar são os outros.
As polícias são a base eleitoral mais fiel de Bolsonaro. Quando essas polícias se tornam autônomas, o que acontece? Convém jamais esquecer que Eduardo Bolsonaro disse antes da eleição que “basta um cabo e um soldado para fechar o Supremo Tribunal Federal”. Um senador é atingido por balas disparadas a partir de um grupo de policiais amotinados e o mesmo filho zerotrês, um deputado federal, um homem público, vai às redes sociais defender os policiais. Não adianta gritar que é um absurdo, é totalmente lógico. Os Bolsonaros têm projeto de poder e sabem o que estão fazendo. Para quem vive da insegurança e do medo promovidos pelo caos, o que pode gerar mais caos e medo do que policiais amotinados?
É possível fazer muitas críticas justas a Cid Gomes. É possível enxergar a dose de cálculo em qualquer ação num ano eleitoral. Mas é preciso reconhecer que ele compreendeu o que está em curso e foi para a rua enfrentar com o peito aberto um grupo de funcionários públicos que usavam a estrutura do Estado para aterrorizar a população, multiplicando o número de mortes diárias no Ceará.
A ação que envergonha, ao contrário, é a do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que, num estado em dificuldades, se submete à chantagem dos policiais e dá um aumento de quase 42% à categoria, enquanto outras estão em situação pior. É inaceitável que um homem público, responsável por tantos milhões de vidas de cidadãos, acredite que a chantagem vai parar depois que se aceita a primeira. Quem já foi ameaçado por policiais sabe que não há maior terror do que este, porque além de terem o Estado na mão, não há para quem pedir socorro.
Quando Bolsonaro tenta responsabilizar o governador Rui Costa (PT), da Bahia, pela morte do miliciano Adriano da Nóbrega, ele sabe muito bem a quem a polícia baiana obedece. Possivelmente não ao governador. A pergunta a se fazer é sempre quem são os maiores beneficiados pelo silenciamento do chefe do Escritório do Crime, um grupo de matadores profissionais a quem o filho do presidente, senador Flavio Bolsonaro, homenageou duas vezes e teria ido visitar na cadeia outras duas. Além, claro, de ter empregado parte da sua família no gabinete parlamentar.
Não sei se pegar uma retroescavadeira como fez o senador Cid Gomes é o melhor método, mas era necessário que alguém acordasse as pessoas lúcidas deste país para enfrentar o que está acontecendo antes que seja demasiado tarde. Longe de mim ser uma fã de Ciro Gomes, mas ele falou bem ao dizer: “Se você não tem a coragem de lutar, ao menos tenha a decência de respeitar quem luta”.
A hora de lutar está passando. O homem que planejava colocar bombas em quartéis para pressionar por melhores salários é hoje o presidente do Brasil, está cercado de generais, alguns deles da ativa, e é o ídolo dos policiais que se amotinam para impor seus interesses pela força. Estes policiais estão acostumados a matar em nome do Estado, mesmo na democracia, e a raramente responder pelos seus crimes. Eles estão por toda a parte, são armados e há muito já não obedecem ninguém.
Bolsonaro têm sua imagem estampada nos vídeos que conclamam a população a protestar contra o Congresso em 15 de março e que ele mesmo passou a divulgar por WhatsApp. Se você não acha que pegar uma retroescavadeira é a solução, melhor pensar logo em outra estratégia, porque já está acontecendo. E, não se iluda, nem você estará a salvo.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Brasil, Construtor de RuínasColuna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, meus desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum/ Instagram: brumelianebrum

domingo, 7 de abril de 2019

Lula: um ano de prisão, mas o povo não esquece ele

Mesmo preso, o ex-presidente continua a despertar sentimentos e opiniões opostas / (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Há quase um ano sem contato direto com o que acontece do lado de fora das paredes da Polícia Federal de Curitiba, em um silêncio forçado, Luiz Inácio Lula da Silva causa impacto na vida de muitos brasileiros. Aos 73 anos, o ex-presidente continua a despertar sentimentos e opiniões opostas.
De um lado, aqueles que reconhecem que grande parte da população foi beneficiada por suas políticas públicas. São os que sentiram na própria pele como as condições de vida melhoraram durante seus governos. Do outro, os que reproduzem um discurso de que Lula é um atraso para o país e, a todo custo, tentam manchar sua imagem. Tal dualidade é constante na vida política do ex-presidente, mas, sua importância na história do país é inegável. São diversos os motivos que fazem com que Lula não caia no esquecimento da população e não saia dos holofotes da mídia.  
Campanhas, atos políticos, processos, investigações e falas públicas contundentes. Esse são os cenários geralmente associados a ele. Ao longo de sua trajetória, a imagem do homem que respira política na maioria das vezes sobressai a do Lula pai e avô. Mas, subjetividades, crenças e opiniões - pilares fundamentais na formação de todo o homem político -  o fazem um ser humano como todos os outros.
Perdas inestimáveis 
A primeira vez que apareceu em público após ser preso, foi para participar da cremação de seu neto, Arthur Lula da Silva, que morreu aos sete anos idade. Com base no artigo 120 da Lei de Execução Penal, o ex-presidente foi autorizado pela Justiça Federal a participar da cerimônia. 
Por alguns segundos, entre o carro da Polícia Federal e a sala onde seu neto estava sendo cremado, apoiadores e jornalistas puderam vê-lo. Abatido, acenou rapidamente, sem esconder a dor de avô, que acabara de perder um de seus netos de forma tão trágica. 
“Nunca vi meu pai tão triste desde que eu me entendo por gente. Nunca. Ele falou que não achava justo, que não era a ordem natural, que tinham pessoas mais velhas que poderiam ter ido, que ele não entendia… Disse para o Arthur que o esperasse no céu, que ele iria levar o diploma da inocência dele”, conta Lurian Lula da Silva, filha mais velha do ex-presidente, que pode ficar apenas 1h30 com sua família, em um momento de luto tão grande. “Não foi suficiente. Ele estava há quase um ano preso, longe da convivência familiar. Longe do dia a dia do neto”. 
Além de ser privado de liberdade sem que o julgamento chegasse aos tribunais superiores do país, essa a terceira perda familiar em um curto período de tempo que Lula sofre. Em fevereiro de 2017, quase um ano após ser alvo de condução coercitiva determinada por Sérgio Moro, Marisa Letícia Lula da Silva, esposa do petista, morreu vítima de um AVC. Companheira de vida e de luta do ex-presidente por mais de 30 anos, militou ao lado de Lula desde meados dos anos 70 e encorajou outras mulheres a se juntarem ao movimento sindical.
Foi duramente atacada ao longo de sua trajetória por estar do mesmo lado da trincheira que Lula, o aconselhando e apoiando ao longo de seus dois governos. Costureira da primeira bandeira do PT, sua perda foi sentida por todos os militantes e apoiadores do partido, que carinhosamente a chamavam de "Dona Marisa", assim como Lula.
Em janeiro deste ano, Lula foi impedido de participar do velório de seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, de 79 anos, conhecido como Vavá, que morreu em decorrência de um câncer no pulmão. 
“Ele resiste pelos que já foram e pelos que ficaram”, diz Lurian, que assume não saber de onde Lula continua tirando forças para lutar em defesa de sua liberdade e pelo resgaste de outro projeto de sociedade. O projeto que tirou o Brasil do mapa da fome, que inseriu pobres e negros na universidade e melhorou as condições de vida e trabalho no campo. 
“Todo mundo fala: ‘Lurian, tenha força, porque ele é gigante’. De fato, ele é gigante. A cada cem anos surge um como ele, tanto quanto homem, quanto pai, quanto político. Ele é um cara que sobreviveu a tudo. Sobreviveu à miséria, à fome, ao preconceito, à perseguição, à ditadura. Ele tem uma coisa que acho que é muito da Família Silva, de tentar ter bom humor em algum momento de dor para poder resistir”, relata a primogênita. 

"Ele é gigante", diz Lurian Lula da Silva, filha mais velha de Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

Já Dilma Rousseff acredita que são justamente as violações e perseguições como as que ela e Lula enfrentam cotidianamente, que dão força para resistir. Torturada durante a ditadura militar brasileira, a ex-presidente argumenta que Lula também sofre uma forma de tortura, preso em uma solitária, longe do povo. 
“O sofrimento, a injustiça e a tortura fazem, na verdade, crescer dentro de alguns de nós a vontade de lutar, sobreviver para dar a volta por cima e vencer os nossos algozes. Vencer não pela força, mas pela superioridade que mostramos ao ficar vivos, ao manter a espinha ereta, a mente lúcida e os nossos princípios fortalecidos pela certeza de que estamos do lado certo da história. É exatamente o caso de Lula”, pondera.
A ex-presidente acrescenta “Ele sabe que naquele cubículo em que foi jogado está acompanhado de milhões de brasileiras e brasileiros que o amam, gente que o admira e, também, gente que sabe que, neste momento histórico, sem ele, o país continuará se desfigurando”.
Origem nunca esquecida 
De uma família de nove irmãos, Luiz Inácio passou pelas mesmas dificuldades que outras tantas crianças camponesas do semiárido nordestino. Nascido em outubro de 1945, no município de Caetés, no agreste pernambucano, a fome foi uma companhia constante em sua infância. 
Na opinião de Gleisi Hoffmann, deputada federal pelo Paraná (PT), as origens de Lula o tornaram o que é e lhe deram condições de resistir contra perseguições em toda sua trajetória política.  
“Lula é o retrato mais bem acabado do povo brasileiro. Do homem simples, lutador, do trabalhador, daquele que luta para sobreviver. Justamente por ser assim, ter vindo da onde veio e chegado à presidência da República, soube o que fazer como presidente.  Como ninguém, Lula sentiu a falta de oportunidade na vida. E seu governo foi um grande governo de oportunidades, por isso o povo melhorou, teve condições de prosperar.”
Quando falam sobre ele, muitas pessoas citam Dona Lindu, mãe do petista, que criou nove filhos pequenos sozinha e é sempre relembrada nas falas do ex-presidente. “A força [de Lula] vem de Dona Lindu. Ele sempre disse que ela dizia para ele: ‘Teima meu filho. Teima que dá certo’. E ele é um teimoso convicto. A força vem do povo, da confiança que ele tem de poder melhorar as coisas”, complementa Hoffmann. 
Líder popular
As imagens históricas de Lula são sempre acompanhadas de muitas mãos, de muita gente, de muitos abraços. A comunicação com o povo é incontestável marca do ex-presidente. Preso, privado de contato com seus próprios familiares e da população, foi por meio de cartas e bilhetes que encontrou uma forma de se expressar sobre o que acontece no Brasil e continuar a defender seus posicionamentos. 
“Sempre caminhou ao lado do povo”, afirma Paulo Okamotto, presidente do Instituto que leva o nome do ex-presidente. “Ele sabe que é uma pessoa muito querida pela população, que tem muito carinho dos trabalhadores, muito reconhecimento. E isso, para ele, é uma tranquilidade para enfrentar as adversidades que a vida apresenta. É o que tem mantido sua força”. 

(Foto: Juca Martins)

Okamotto também avalia que “os últimos anos foram de muita provação para Lula” e o define como um “profundo conhecedor do povo brasileiro”. “Quem conhece o Lula, quem de alguma forma já conversou com ele, viu como ele trata as pessoas, como ele se preocupa, realmente se apaixona porque ele é um político diferenciado. Faz política com P grande. O legado que Lula construiu e constrói é pela prática dele”, sustenta. 
Destaque internacional
O legado do petista não reverbera apenas nas falas daqueles que trilharam ao seu lado. Os números mostram os feitos de seu governo:  Em 2002, o Brasil ocupava a 13ª posição no ranking global de economias medido pelo PIB (Produto Interno Bruto) em dólar, segundo dados do Banco Mundial e FMI. Em 2011, um ano após Lula sair da presidência, chegou a ocupar a 6ª posição. 
Após seus governos, a nota do Brasil no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, que era de 0,649 no início dos anos 2000, chegou a 0,755.  Entre 2003 e 2010, houve um aumento real de 80% no salário mínimo, além de programas de transferência de renda essenciais como o Bolsa Família. Hoje, consolidado como referência internacional, atende mais de 13,9 milhões de famílias, que recebem, em média, R$ 178. O coeficiente Gini, cálculo do Banco Mundial para medir o índice de desigualdade de renda, também apresentou melhora: passou de 58,6, em 2002, para 52,9, em 2013. 
Dilma Rousseff ressalta que alcançar essa e outras marcas fez com que o Brasil chamasse atenção de potências mundiais. “Nos fortaleceu ao mostrar que nossos sonhos eram realizáveis. Deixou claro aos milhões de brasileiros, sempre excluídos do poder e vítimas da injustiça social, que era e é possível, e necessário, uma vida melhor para os mais pobres. E isto, sem violência e sem guerras. Demonstrou que a redução da desigualdade é um pré-requisito para a paz, a democracia e um efetivo desenvolvimento”, afirma a ex-presidente. 
Para ela, Lula foi subestimado pela elite, que não aceitou como um retirante nordestino poderia ter uma capacidade de articulação política tão grande e ser aclamado pelo povo. “Eu tive a oportunidade e o orgulho de, por várias vezes, assistir ao reconhecimento da liderança de Lula, nos aplausos e nas entusiasmadas manifestações feitas nos encontros internacionais. Ao perceberem o tamanho de Lula, o desprezo das elites brasileiras se transmutou numa perigosa mistura de ódio e medo”. 
São muitas as opiniões sobre ele. Mas até mesmo quem o critica não têm argumentos suficientes para negar que a história do Brasil se mistura, em muitos momentos, com a história de Lula. “Ele é filho de Dona Lindu. Ele teima, ele resiste, ele tem consciência que ele vai lutar até o fim e que ele só sai dali com a inocência dele”, garante Lurian Lula da Silva.

 Fonte: BrasildeFato

domingo, 31 de março de 2019

Ditadura Nunca Mais! Brasileiros protestam contra a opressão










Manifestações "descomemoram" golpe e homenageiam vítimas da ditadura


Caminhadas, manifestações, aulas-públicas e atividades culturais foram realizadas em várias cidades do país para marcar os 55 anos do golpe de 1964 e para homenagear as vítimas da ditadura militar que dele resultou.




Foto: Rebeca Belchior/ Cuca da UNE
  
No Rio de Janeiro, a manifestação reuniu 4 mil pessoas para "descomemorar" golpe de 64. Os manifestantes se encontram na Cinelândia, no Centro do Rio, para repudiar torturas e mortes ocorridas durante a ditadura militar / Flora Castro / Brasil de Fato

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), presente ao ato, afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) viola a Constituição de 1988 ao provocar as Forças Militares a celebrarem o golpe de 1964. “Estamos de preto, não por acaso, porque esse dia rompeu com o que havia de democrático no Brasil. Fez democratas, socialistas e comunistas desaparecerem, pessoas que simplesmente queriam liberdade para lutar, pensar e noticiar. Isso tudo foi cerceado. Até hoje famílias procuram seus filhos, maridos, irmãos e companheiras”, destacou. Ela lembrou que o Partido Comunista do Brasil foi o que mais perdeu, proporcionalmente, militantes, sobretudo durante a Guerrilha do Araguaia.

Deputada Jandira Feghali (Foto: Rebeca Belchior)

Uma das primeiras medidas do golpe militar, assim que foi instalado no país, foi queimar a sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), localizada na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Também presente à manifestação, Leonardo Guimarães, diretor de universidades públicas da UNE e aluno de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou “os ditadores já entendiam que das universidades viria uma forte resistência ao autoritarismo e à escalada do fascismo”. Ele enxerga com preocupação o fato do presidente eleito indicar que os quartéis deveriam comemorar esta data e explicou que para a entidade o 31 de março é sinônimo de “repressão, perseguição e tortura”. 

O historiador Paulo César Pinheiro atuou na clandestinidade contra o regime liderado pelos militares na organização VAR-Palmares. Preso e torturado durante a ditadura, Pinheiro destacou que em todos os países existem lutas por verdade, memória e justiça. “Infelizmente não conseguimos ter julgamentos e condenações daqueles que mataram, torturaram e exploraram o nosso povo de maneira atroz. Não só os que foram assassinados ou desaparecidos, mas também milhares de indígenas, camponeses e todo o povo que teve arrocho salarial e seus direitos cassados.” Na sua avaliação, é necessário que haja uma grande unidade popular dos setores progressistas, além da esquerda, no sentido de recuperar as conquistas do povo brasileiro, antes e depois de 1964.
Militantes se encontram na Cinelândia, no Centro do Rio, para repudiar torturas e mortes ocorridas durante a ditadura militar / Flora Castro / Brasil de Fato

A professa aposentada Sandra Chaves tinha dez anos quando a ditadura foi instaurada e teve atuação na resistência ao regime enquanto estava na Universidade. “Esse ano nós vivemos um governo muito ruim, com perspectiva de volta da ditadura. Ouvir dizer que não houve ditadura é cruel para quem viveu”, desabafa.

A estudante Raíssa Nascimento, de 26 anos, também participou do protesto. Ela vestia uma camiseta em homenagem à militante Helenira Rezende, vice-presidenta da UNE que foi torturada e morta pelos militares. “Os jovens da zona oeste e da Baixada Fluminense vivem à mercê da milícia, por isso a gente luta contra essas formas de organização que querem reprimir os jovens, da mesma forma que aconteceu na ditadura, no passado, quando os estudantes começaram a ser perseguidos”, comparou Raíssa que é diretora do Diretório Central dos Estudantes (DCE) do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (UEZO) e aluna de Biotecnologia.

O ato foi convocado por MST, Levante, MPJ, FBP, FPSM, ABDRJ, AJDRJ, OAB, PCdoB, PT, CTB e CUT.

Manifestações pelo país

João Vicente Goulart participou da manifestação em Brasília (Foto: Orlando Brito)

Em todo o Brasil foram registradas manifestações que repudiaram o golpes e a ditadura. 
Manifestantes protestam contra a ditadura militar em Brasília — Foto: Sergio Lima/G1

Brasilia
Pela manhã, cerca de mil manifestantes ocuparam parte do Eixão Norte, em Brasília, para protestar contra os 55 anos do golpe militar de 1964. Os manifestantes foram ao local vestidos de branco, com flores nas mãos e fotos de presos políticos mortos ou desaparecidos durante a ditadura. O protesto foi marcado por discursos de representantes de partidos políticos e organizações do movimentos popular, uma caminha e performances artísticas que representavam os métodos de tortura aplicados nos porões dos órgãos de repressão. 

Entre os presentes, destacavam-se João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, deposto pelo golpe, e Ana Maria Prestes, neta do histórico líder comunista, Luis Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança. 

Frente pela Democracia mobilizou manifestação em Porto Alegre

Porto Alegre
Em Porto Alegre (RS), 700 militantes políticos se reuniram no Parque da Redenção. O ato unitário teve como mote a denúncia da ditadura e a repulsa a governos autoritários como o instaurado em 1964. 
Na ocasião foi inaugurada uma escultura em memória aos mortos e desaparecidos gaúchos e de todo Brasil. 

Também na região sul, um ato em Curitiba (PR) percorreu as ruas da capital.

Aula sobre a ditadura reuniu centenas de pessoas em Fortaleza (Foto: Bernadete Souza)

Fortaleza
No Ceará, uma aula pública sobre ditadura reuniu cerca de 500 pessoas na praia de Iracema, em Fortaleza. Entoando palavras de ordem, manifestantes gritavam “Silêncio nunca mais”, em referência à censura da época. O evento contou com depoimentos dos professores José Machado, Paulo Emílio e Nelson Campos, perseguidos pela ditadura. 
Ato na Praia de Iracema em memória das vítimas da ditadura militar em Fortaleza — Foto: Kid Júnior/ SVM

A manifestação teve ainda a participação de professores como Anna Karina Cavalcante, André Vinícius, Fabiano Sousa, Zilfran Varela e Nilo Sérgio, que contextualizaram desde a concepção do golpe até a volta da democracia no País. Presente à atividade, a professora universitária Bernadete Sousa afirmou em suas redes sociais: 

“A ideia da aula-ato é espetacular. Sim, professores reinventam tempo e espaço.E hoje vi a reinvenção de nossas resistência. Foi bom ouvir cada relato, cada canção, cada nome ali citado e honrado. Senti vontade de ir sempre encontrar essa gente que luta com honra e gratidão, que grita, canta e silencia”. 

Por outro lado, segundo o jornal O Povo, apoiadores do golpe tentaram organizar um ato, mas apenas duas pessoas compareceram.

Milhares de pessoas se reuniram em Belo Horizonte para protestas contra o golpe (Foto: Anderson Pereira)

Belo Horizonte
Em Minas Gerais, uma manifestação reuniu 5 mil
pessoas contra a ditadura militar e em protesto contra o presidente Bolsonaro por ter convocado uma comemoração do golpe de 64. 

Manifestantes protestam contra a ditadura militar em Belo Horizonte — Foto: Washington Alves/Reuters

Os manifestante vestiram roupas pretas para expressar o luto pelos assassinatos praticado pela repressão política. Os manifestantes se concentraram na Praça da Liberdade, centro da capital mineira, e seguiram para a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Avenida Afonso Pena, que deverá ser transformado em Casa da Liberdade. Os manifestantes também se posicionaram contra a Reforma da Previdência, contra o golpe de 2016 e ainda pediram a liberdade do ex-presidente Lula.
Em Uberlândia, centenas de pessoas vestidas de luto saíram em passeata pelas ruas da cidade. 

Caminhada em São Paulo homenageou as vítimas da ditadura

São Paulo
Em São Paulo, o ato aconteceu na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera. Com velas, flores e fotos das vítimas da violência estatal, os manifestantes fizeram uma caminhada silenciosa em direção ao Monumento pelos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Curitiba
Manifestação contra a ditadura militar em Curitiba, neste domingo (31) — Foto: Filipe Rosa/RPC


Um grupo fez um ato contra a ditadura militar na Praça 19 de Dezembro, em Curitiba. 
Segundo a organização o ato reuniu mil pessoas.

Recife
O ato deste domingo (31.03) foi realizado ao redor do Monumento 
Tortura Nunca Mais, o primeiro construído em todo o Brasil 
para homenagear e guardar a memória daqueles que lutaram 
contra o regime militar. 500 manifestantes , vestidos de 
preto, os participantes depositaram flores no monumento e nas
lápides que simbolizam os desaparecidos durante a ditadura.
Ato lembra vítimas da ditadura militar no Recife — Foto: Pedro Alves/G1
Um dos organizadores do evento, Welber Galdino, 
participante do movimento Nova Esquerda Pernambucana, 
afirma que cerca de 350 pessoas participaram do ato. Na ocasião, 
foi feita uma chamada dos nomes de vítimas pernambucanas 
registradas. 
A leitura de cada nome era sucedida por um grito de "presente" e 
uma salva de palmas.
"Nosso objetivo é prestar memória às vítimas da ditadura e
fortalecer o sentimento de democracia e livre expressão no
Brasil. Fomos motivados pela fala do presidente Jair Bolsonaro
(PSL), que quis comemorar festivamente o golpe que deu início a
tudo isso. Estamos, então, numa contracomemoração", afirma
Galdino.
Aos 79 anos de idade, o professor aposentado Roberto de Araújo
Faria lembra vividamente do período conhecido como "anos de 
chumbo". Ele, que era seminarista e estudava na Universidade 
Federal de Pernambuco (UFPE), foi espancado durante uma 
investida dos militares a uma igreja católica onde membros de 
movimentos estudantis estavam refugiados.
Santa Catarina

Florianópolis, Joinville e Balneário Camboriú registraram manifestações contra a ditadura militar. Em Joinville, a organização do protesto afirmou que havia 150 pessoas. Em Balneário Camboriú, os organizadores também informaram que o número de participantes era de 150. Em Florianópolis, o ato reuniu cerca de 30 pessoas.
Balneário Camboriú tem manifestação neste domingo (31) contra a ditadura militar — Foto: Beto Espercot/NSC TV

Novas atividades estão programadas para esta semana. Veja abaixo:

Segunda-feira 1o de abril

Salvador - BA
14h - Praça da Piedade
Marcha do Silêncio

Fortaleza - CE
16h Secretaria de Cultura
Rua Pereira Filgueras, 4
Marcha do Silêncio

Vitória - ES
18h Praça Costa Pereira
Ato Ditadura Nunca Mais

São Luis - MA
17h Auditório da Faculdade de Arquitetura da Universidade Estadual
Diálogos Insurgentes: 55 anos do Golpe de 1964

Dourados - MS
19:30 Auditório 1 Fadir-UFGD
Ditadura Militar: 55 anos do golpe no Brasil 

Belém - PA
14h - Auditório ICJ da Universidade Federal do Pará
Audiência Publica: 1964 nada a comemorar

Recife - PE
55 anos de impunidade do golpe
9h - Praça Padre Henrique
Caminhada
18:30 - Auditório Unicap
Ato político-cultural

Rio de Janeiro - RJ
16h - Rua da Relação com Rua dos Inválidos
Descomemorar os 55 anos do golpe
17:30 Capela Ecumênica da UERJ
Entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência

Porto Alegre - RS
12h - Esquina Democrática
Apresentação “Onde? Ação No 2, pelo grupo Óinóis Aqui Traveiz

Campo Grande - MS
17h, em frente ao Ministério Público Federal - Avenida Afonso Pena, 4.444.
Ato Ditadura Nunca Mais

Cuiabá - MT
12h - Restaurante da Universidade Federal do MT
(Des)comemorando a ditadura militar

19h - Saguão do IL-UFMT

Ato Ditadura Nunca Mais





Terça-feira, 2 de abril


Fortaleza - CE
14h - Auditório Luiz Gonzaga (UFC)
Disputas de Memórias
Lançamento do livro Pavilhão Sete: presos políticos da ditadura cicil-militar, de Airton Farias

Brasília - DF
9h - Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados
Audiência sobre a situação dos anistiados políticas no Brasil

Fontes: Portal Vermelho, Brasil de Fato, G1, Brasil247 e OTEMPO.