Crédito chega ao Vale do Jequitinhonha IIMonte Formoso, no Baixo JequitinhonhaOs funcionários da Prefeitura de Monte Formoso serão os próximos a integrar o contingente dos bancarizados da cidade, depois que o banco assumir a folha de pagamento do município. O prefeito Afonso Messias dos Santos não terá mais de assinar 250 cheques todo mês.
A chegada de um banco não significa necessariamente uma enxurrada de empréstimos.
EmpréstimosEm média, uma cidade com apenas uma agência tem estoque de crédito de R$ 9,5 milhões, segundo o Banco Central. O volume é pouco superior aos R$ 6,6 milhões das localidades sem instituição financeira e que recorrem a empréstimos nas cidades vizinhas. Em municípios com duas agências, o volume de crédito sobe para R$ 28 milhões. Com três, dobra para R$ 56 milhões.
Entre as dificuldades para concessão de crédito está a ausência de histórico da população e a falta de renda fixa dos moradores. O salário médio mensal em Monte Formoso é de 1,9 salário mínimo e poucos trabalhadores dos 26 estabelecimentos comerciais da cidade têm comprovação de renda. Crédito imobiliário quase não existe. A maioria das casas não tem registro, só o contrato de compra e venda dos lotes, que chegam a custar R$ 2 mil.
Parceria com comércio local
Uma das saídas foi fechar acordos com os lojistas. Uma parceria do banco foi feita com Eltonir Alves Soares, dono da loja de material de construção Construbel. O estabelecimento permite o parcelamento das compras para reformas das casas em até 48 vezes, com juros que variam entre 24% e 43% ao ano, desde que o cliente abra uma conta no banco. "Nunca vendi tanto assim na vida", diz Eltonir. Somente no primeiro mês, mais de R$ 20 mil entraram em seu caixa e ele agora pretende comprar uma caminhonete para fazer as entregas. A professora Davina Soares Pereira é uma das clientes.
Cortesia
Davina segue a tradição mineira e sempre convida os visitantes para um café. "Não vai aceitar? Vai fazer essa desfeita?" Convite aceito, ela faz questão de mostrar a casa, também de adobro, onde vivem 15 pessoas. Pede desculpas pela parte nova, ainda inacabada, mas de alvenaria. Diz, com orgulho, que usou o dinheiro do banco para comprar os 2.400 tijolos aparentes que o filho, pedreiro, usou para construir três quartos para a família da filha. "A casa dela caiu, ali do lado, está vendo?", fala, apontando para um amontoado de barro e palha que se acumula no chão a poucos metros da cozinha.
A casa é simples, afastada da área urbana e com pouca mobília. Na sala, uma TV de 14 polegadas divide o espaço da única estante com os troféus do filho, meia-direita do time local. O chão é irregular e a telha, de segunda mão, ela comprou da escola em que dava aula, quando houve uma reforma. No fogão de barro, ferve um café, que ela mesma plantou, colheu, torrou e moeu. Não há banheiro.
Ela não vai à Escola Municipal Ouro Preto desde 1997, afastada por uma série de doenças que consomem parte da renda. Mas ainda mantém o salário de R$ 630 - que permitiu a tomada de crédito - enquanto aguarda pela aposentadoria. Só reclama do tempo. "Antes chovia muito aqui, agora quase não chove."
Movimento
Não foi só o clima que mudou. "De uns anos pra cá mudou muito a cidade", diz Adiran Moreira Santos, proprietária da pousada Shalon, uma das duas de Monte Formoso. Ela comemora a movimentação nos últimos meses, com seus 12 quartos sempre ocupados. Os funcionários das empresas que prestam serviços na cidade chegam em número cada vez maior. Gente da Cemig, da Copasa (a companhia de saneamento mineira), de mineradoras e também da empresa de asfalto que concluiu o calçamento de boa parte da cidade há pouco menos de um ano.
Asfalto e esperançaA esperança da população também se renovou com os 38,5 quilômetros recém-terminados da estrada que liga a cidade à BR-116. A rodovia, ainda sem nome, deve facilitar a chegada de produtos das cidades vizinhas. Café, leite, carne e farinha de mandioca são produzidos localmente. Todo o restante vem de fora.
Em 2010, ano de eleição, devem ser concluídos também os R$ 3,3 milhões em investimentos para instalação de uma rede de esgoto na área urbana - até então os dejetos eram jogados do córrego Anta Podre - e os R$ 440 mil em encanamento para algumas comunidades rurais, com a perfuração de dois poços de 180 metros cada.