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domingo, 5 de abril de 2020

Na pandemia, não estamos no mesmo barco

Não estamos no mesmo barco - Brasil 247

O cientista político Emir Sader escreve sobre as quarentenas na sociedade: "Em circunstâncias extremas como esta da pandemia, as desigualdades sociais vem à tona com mais força ainda. Há quarentenas e quarentenas. Há quarentena em locais cômodos, com renda garantida.                                            E há quarentenas de gente amontoada, sem nem condições de cumprir com os requerimentos de higiene"

*Emir Sader
A irrupção da pandemia é possibilidade da eclosão de uma porção de clichês, que parece que dizem muito, mas  na verdade escondem o essencial. “Nada será como antes”, “Estamos todos no mesmo barco”, “Ninguém se salva sozinho”, “E’ mais fácil ver o fim do mundo do que o fim do capitalismo”, etc., etc.
Claro que muitas coisas mudarão, tanto no estilo de vida das pessoas, como na importância das políticas de saúde pública, assim como no olhar para os mais desvalidos, especialmente as populações de rua. Mas já veremos se os elementos de continuidade prevalecerão ou de mudança.
A crise trouxe para o centro da atenção de todos o Estado. Ninguém consegue pensar qualquer tipo de ação contra a pandemia sem um protagonismo central do Estado.
Os serviços públicos de saúde antes de tudo e o SUS como protagonista fundamental. O mais democrático sistema de saúde pública do mundo ganha as atenções de todos, que pedem que ele aja de forma determinante para defender-nos dos efeitos do vírus. Doações são feitas para o SUS, reconhecimentos nunca antes feitos são expressados publicamente.
A verdade é que a saúde foi sempre a maior preocupação dos brasileiros. Qualquer pesquisa, que costuma ser feitas nos períodos pré-eleitorais, indica que a maior preocupação dos brasileiros não é com segurança pública ou corrupção, como a mídia tenta induzir, mas com a saúde. Mas ela nunca ocupou o centro das campanhas eleitorais, nem a prioridade nos governos – salvo os do PT. Mas só  quando as pessoas passaram a ter medo de pegar um vírus desconhecido e até morrer, que fizeram da saúde sua preocupação maior, quase absoluta. 
Mas se a pandemia atinge a todos, nem todos a vivem da mesma maneira. A ideia de que “estamos no mesmo barco”, esconde o fundamental. No mar revolto, alguns vivem a circunstância dentro de um transatlântico, nem se  dão conta dos riscos reais da pandemia. Outros a vivem desde precários botes, que a qualquer momento podem virar e deixar todos completamente indefesos.
Em circunstâncias extremas como esta da pandemia, as desigualdades sociais vem à tona com mais força ainda.  Há quarentenas e quarentenas. Há quarentena em locais cômodos, com renda garantida. E há quarentenas de gente amontoada, sem nem condições de cumprir com os requerimentos de higiene.
Existe a piada do lorde inglês perguntando pro seu mordomo:
- Como está o tempo hoje?
- Teremos chuva, Sir.
- Não.  Eu terei a minha chuva e você terá a tua.
 Acontece o mesmo agora. Cada um tem sua quarentena. Não estamos no mesmo barco. Nem sequer diante de uma pandemia, que em princípio atinge a todos, as desigualdades desaparecem. Ao contrário, elas evidenciam destinos distintos, conforme o lugar em que a pessoa esteja na sociedade.
A sociedade que viveremos depois do auge da pandemia, tampouco vai alterar as desigualdades. É certo que emergiu um grande sentimento comunitário de apoio aos mais desvalidos. É certo que os meios de comunicação descobriram a população e rua, com fisionomias, nomes e sobrenomes. Os idosos também podem contar com a atenção que nunca lhes é dispensada. Mas já veremos quanto disso sobreviverá à circunstância atual.
Os países sairão em frangalhos econômica e socialmente. Se poderá contar com o prestígio do setor público, o único que pode comandar a reconstrução das sociedades, assim como esse sentimento de compaixão.
Mas tudo depende de que governo assumirá a grande e difícil tarefa de reconstrução dos países. E, a partir daí, quem custeará essa reconstrução. A direita voltará  com sua mantra do déficit público e do ajuste fiscal, pelo qual tratará de novo de avançar na privatização do patrimônio público, da redução dos salários dos servidores públicos e dos trabalhadores do setor privado.
Ou se tributará fortemente o capital financeiro e seus processos especulativos, assim como as grandes fortunas, as heranças, bem como atacar duramente as sonegações tributárias e coibir a fuga de capitais.
A disputa pelo excedente voltará com intensidade. Uns sairão descansados e com seu patrimônio intacto. Outros, sem emprego, com salários comprimidos, entre outras duras consequências da quarentena. Mostrando que atravessamos a tempestade em embarcações diferentes e chegaremos a uma situação pós-pandemia em situações distintas.
O futuro será distinto do que vivemos no passado e do que estamos vivendo. O futuro não será a projeção linear do passado ou da situação atual. Será um momento distinto, aberto para que possamos construir uma sociedade distinta, mais solidária, menos desigual, com mais segurança na saúde, na educação, no emprego, no salário, na própria vida. 
*Emir Sader é filósofo, cientista político e professor da UERJ. É graduado em filosofia, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP. Foi professor da USP, UNICAMP e Universidade do Chile. É professor aposentado da USP e dirige o Laboratório de Políticas Públicas (LPP) da UERJ, onde é professor de sociologia. Publicou diversos livros como O socialismo humanista de Che; Democracia e ditadura no Chile; Gramsci: poder, política e partido; Contraversões, com Frei Betto; A Nova Toupeira: Os Caminhos da Esquerda Latino-Americana, entre outros.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Esquerda, o resgate dos sonhos


Resultado de imagem para Esquerda , o resgate dos sonhos*Frei Betto                                              

Pertenço à geração que teve o privilégio de fazer 20 anos nos anos 60: Revolução Cubana, Che, Beatles, Rei da Vela, manifestações estudantis, Alegria, Alegria, Gláuber Rocha, McLuhan, revista Realidade, Marcuse, Maio de 68, João XXIII, naves espaciais etc.

Era a geração dos sonhos. "Sonhar é acordar-se para dentro", lembra Mário Quintana. Estávamos permanentemente despertos. Nossas quimeras não eram acalentadas por drogas, mas por utopias.

Segundo a teoria psicanalítica, todo sonho é projeção de um desejo. Nossa geração desejava ardentemente mudar o mundo, instaurar a justiça social, derrubar a velha ordem.
       
O sonho quebrou-se ao tocar a realidade. A ditadura militar (1964-1985) encarou como subversivos nossos protestos e conteve, com cassetetes e tiros, nossas passeatas. Nossos congressos estudantis terminaram em prisões e, escorraçados para a clandestinidade, não nos restou alternativa senão o exílio ou a resistência. Em nossas utopias os carrascos abriram feridas, e dependuraram nossos ideais no pau-de-arara. O que era canto virou dor; o que era encanto, cadáver. A roda-viva se encheu de medo e o nosso cálice de “vinho tinto de sangue”. 

Nossos paradigmas ruíram sob os escombros do Muro de Berlim. Não era o socialismo das massas nem os proletários no poder. Era o socialismo do Estado, pai e patrão, atolado no paradoxo de agigantar-se em nome do fim iminente da luta de classes. O economicismo, a falta de uma teoria do Estado e de uma sociedade civil forte e mobilizada, levaram o rio das fantasias coletivas a transbordar sobre as pontes férreas dos engenheiros do sistema. O socialismo real saciava a fome de pão, não o apetite de beleza. Partilhava bens materiais e privatizava o sonho. Todo sonho estranho à ortodoxia era visto como diversionista, ameaçador.
       
Astuto, o capitalismo socializa a beleza para camuflar a cruel privatização do pão. Aqui, todos são livres para falar; não para comer. Livres para transitar; não para comprar passagens. Livres para votar; não para interferir no poder. O Muro de Berlim ruiu e, ainda hoje, a poeira levantada embaça os nossos olhos.
      
Solteira de paradigmas, a esquerda é uma donzela perplexa que, terminada a festa, não consegue encontrar o caminho de casa. Há muitos pretendentes dispostos a acompanhá-la, mas ela teme ser conduzida ao leito de quem quer estuprá-la. Ansiosa, envereda-se pelo labirinto do eleitorarismo e se perde no jogo de espelhos que exarcebam o narcisismo de quem se maquia no reflexo das urnas. Deixa-se arrastar pela rotatividade eleitoral, onde ideais e programas são atropelados pela caça a votos e cargos. E, quanto mais se aproxima das estruturas de poder, mais se distancia dos movimentos populares.

É bem verdade que, ao assumir a administração pública, investe em programas sociais, aprimora o acesso à saúde, à educação, moradia e cesta básica. Contudo, desprovida de andaimes, não faz dessa massa um novo edifício teórico, alternativo à globocolonização neoliberal que execra a cidadania e exalta o consumismo, repudia os direitos sociais e idolatra o mercado.

A maré sobe – Equador, Chile, Argentina - mas, na praia, pescadores acostumados a selecionar os peixes têm os olhos cegos pelo reflexo do Sol. A história cessou?

Fora da esquerda, não há saída para a miséria que assola o planeta (1,3 bilhão de pessoas). A lógica do capitalismo é incompatível com a justiça social. O sistema requer acumulação; a justiça, partilha. E não há futuro para a esquerda sem ética, utopia, vínculos com os pobres e coragem de dar a vida pelo sonho.

Hoje, o socialismo já não é apenas questão ideológica ou política. É também aritmética: sem partilhar os bens da Terra e os frutos do trabalho humano, os quase 8 bilhões de passageiros dessa nave espacial chamada Terra estarão condenados, em sua maioria, à morte precoce, sem o direito de desfrutar o que a vida requer de mais essencial para ser feliz: pão, paz e prazer.

Resta, agora, a esquerda acordar para o sonho.

Frei Betto, dominicano, escritor e assessor de movimentos populares. Autor de mais de 60 livros como “Paraíso perdido – viagens ao mundo socialista”, "Fidel e a Religião", "Caleidoscópio do poder", "A mosca azul",  "Cartas da prisão", "Batismo de sangue", entre outros.
Esquerda, o resgate do sonho - Gente de Opinião

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Mapa do Vale do Jequitinhonha está desatualizado. O Território vai "...dos Vales ao Mar".

Em 1992, foram emancipados quatro municípios, e em 1995, vinte e quatro, totalizando 80 municípios. Com estas mudanças, o mapa anterior ficou desatualizado.
Para os movimentos sociais, o Vale do Jequitinhonha é um território só, é toda a sua bacia hidrográfica, em Minas e Bahia, juntos. 
Este post foi publicado aqui nesse Blog, originalmente, em 13 de fevereiro de 2013. 
Alterado e atualizado em 28.07.2019.



Mapa da Bacia do Rio Jequitinhonha, em Minas e na Bahia (IBGE, 1997).

Qual o verdadeiro mapa do Vale do Jequitinhonha? Antes da emancipação de 28 novos municípios, a região possuía 52 municípios espalhados por uma área de 71.552 km2, ocupando 14,5% do estado de Minas Gerais. Mas, o território de toda a bacia hidrográfica tem a parte baiana também, com  9 municípios.

Em 1992, foram emancipados  quatro municípios. Em 1995, vinte e quatro, totalizando 80 municípios. Com estas mudanças, o mapa anterior ficou desatualizado.

“Queremos a definição do nosso mapa, pois hoje o Vale tem 80 municípios. Só o governo de Minas tem três mapas diferentes em uso, fazendo a região variar de 53 a 74 municípios. Pode parecer uma questão menor,  mas não é. Um povo que não conhece sua terra, não pode contribuir com o seu desenvolvimento”, observa Tadeu Martins, escritor, folclorista e produtor cultural, natural de Itaobim (MG).

Em seu artigo “ A falta de um mapa”, publicado no livro Vale do Jequitinhonha, Cultura e Desenvolvimento, editado pela Universidade Federal de MG (UFMG), ele diz que essa indefinição é mais um descaso político com a região. “ Se o governo enxergasse o Vale com outros olhos, esta situação já teria sido resolvida. A solução desse problema deve ser cobrada também dos políticos locais e dos prefeitos. Sabendo quais são de fato os municípios da região, facilitaria uma melhor organização política entre as entidades da sociedade civil, prefeitos e vereadores para cobrar ações concretas dos governos”, acrescenta Tadeu Martins.

Divisão administrativa da Bacia do Rio Jequitinhonha ( IBGE, 1997).

Municípios do Vale do Jequitinhonha


01-Almenara


02-Angelândia ( criado em 1995)


03-Araçuaí


04-Arincaduva ( criado em 1995)


05-Bandeira


06-Berilo


07-Berizal ( criado em 1995)


08-Bocaiúva


09 -Botumirim


10-Cachoeira de Pajeú


11-Capelinha


 12-Caraí


13-Carbonita


14-Chapada do Norte


15-Comercinho


16-Coronel Murta


17-Couto Magalhães de Minas


18-Cristália


19-Datas


20-Diamantina


21-Divisópolis (criado em 1992)


22-Felício dos Santos


23-Felisburgo


24-Francisco Badaró


25-Franciscópolis (criado em 1995)


26-Fruta de Leite ( criado em 1995)


27-Grão Mogol


28-Guaraciama (criado em 1995)


29-Indaiabira ( criado em 1995)


30-Itacambira


31-Itamarandiba


32-Itaobim


33-Itinga


34-Jacinto


35-Jenipapo de Minas (criado em 1995)


36-Jequitinhonha


37-Joaíma


38-Jordânia


39-José Gonçalves de Minas ( criado em 1995)


40-Josenópolis ( criado em 1995)


41-Leme do Prado


42-Malachacheta


43-Mata Verde ( criado em 1992)


44- Medina


45-Minas Novas


46-Monte Formoso ( criado em 1995)


47-Montezuma ( criado em 1992)


48-Nova Porteirinha


49-Novo Cruzeiro


50-Novorizonte ( criado em 1995)


51-Olhos D’Água ( criado em 1995)


52-Padre Carvalho ( criado em 1995)


53-Padre Paraíso


54-Pai Pedro ( criado em 1995)


55-Palmópolis ( criado em 1992)


56-Pedra Azul


57-Ponto dos Volantes ( criado em 1995)


58-Porteirinha


59-Riacho dos Machados


60-Rio do Prado


61-Rio Pardo de Minas


62-Rio Vermelho


63-Rubelita


64-Rubim


65-Salinas


66-Salto da Divisa


67-Santa Cruz de Salinas ( criado em 1992)


68-Santa Maria do Salto


69-Santo Antonio do Jacinto


70-Santo Antonio do Retiro ( criado em 1992)


71-São Gonçalo do Rio Preto


72-Senador Modestino Gonçalves


73-Serranópolis de Minas


74-Serro


75-Setubinha ( criado em 1992)


76-Taiobeiras


77-Turmalina


78-Vargem Grande do Rio Pardo ( criado em 1995)


79-Veredinha ( criado em 1992)


80-Virgem da Lapa.


Mapa da Bacia Hidrográfica do Jequitinhonha, em 1900 ( IBGE, 1997).


O Território do Vale do Jequitinhonha tem os

limites da sua Bacia Hidrográfica. 

A identidade cultural é sua principal marca.

O Estado pode dividir o Vale em regiões de planejamento, mas o sentimento de pertencimento marca o território "dos vales ao mar".


Localização da Bacia do Jequitinhonha, no Brasil (IBGE, 1997).

Os municípios citados fazem parte total ou parcialmente da Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha, em Minas e na Bahia.

Em 1900, a Bacia do Jequitinhonha possuía apenas 8 municípios: Araçuaí, Belmonte - BA, Bocaiúva, Diamantina, Grão Mogol, Minas Novas, Rio Pardo de Minas e Teófilo  Otoni.

O estado de Minas Gerais, entre 1989 e 2017, foi dividido geograficamente em 66 microrregiões.

Mapa de Minas Gerais, dividido em 13 regiões geográficas intermediárias e regiões geográficas imediatas ( IBGE, 2017).
Em 2017, o IBGE extinguiu as microrregiões e mesorregiões, criando um novo quadro regional brasileiro, com novas divisões geográficas denominadas, respectivamente, regiões geográficas imediatas e regiões geográficas intermediárias.

Mapa da Região Intermediária de Teófilo Otoni com as Regiões Imediatas de Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina, Pedra Azul e Teófilo Otoni, na região da Bacia do Jequitinhonha (IBGE, 2017).

O Vale do Jequitinhonha mineiro ficou dividido em duas Regiões Geográficas Intermediárias: Montes Claros que abrangeu quase todos os municípios da margem esquerda; e Teófilo Otoni que abrangeu os atuais Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha.
As Regiões Geográficas Imediatas que ficaram na Bacia do Jequitinhonha são: Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina, Grão Mogol, Pedra Azul, Salinas, Teófilo Otoni e parte de Janaúba.
Mapa da Região Geográfica Intermediária de Montes Claros com as Geográficas  Imediatas de Grão Mogol, Montes Claros, Janaúba e Salinas (IBGE, 2017).

Na Bahia, os municípios do Jequitinhonha baiano ficaram na Região Geográfica Intermediária de Ilhéus-Itabuna e nas Regiões Geográficas Imediatas de Eunápolis-Porto Seguro  e Camacan.
Mapa da Região Geográfica Intermediária de Ilhéus-Itabuna com as Geográficas  Imediatas de Eunápolis-Porto Seguro e Camacam (IBGE, 2017).

Entre 1987 e 1990, o Governo do Estado na era Newton Cardoso, dividiu Minas  Gerais em regiões de acordo com os territórios das Associações de Municípios. Assim, o Vale do Jequitinhonha ficou dividido em Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha, ignorando os municípios da margem esquerda que ficaram na Mesorregião do Norte de Minas.

No  Diagnóstico Ambiental da Bacia Hidrográfica do Jequitinhonha, em 1997, o IBGE considerou como Alto Jequitinhonha uma divisória a partir de Rio Pardo de Minas, Riacho dos Machados, Grão Mogol,  Berilo, Chapada do Norte e Jenipapo de Minas pra cima. 
O Médio Jequitinhonha seria todo o restante da região mineira, a partir de Novo Cruzeiro, Araçuaí, Virgem da Lapa, Coronel Murta, Rubelita, Salinas e Taiobeiras.
O Baixo Jequitinhonha seria todos os 9 municípios baianos, além de Salto da Divisa.
Portanto, o governo Newton Cardoso não se importou com os critérios técnicos do IBGE.  

Em 2015, o governo de Minas criou 17 Territórios de Desenvolvimento, dividindo o Vale do Jequitinhonha em Território do Alto Jequitinhonha e Território do Médio/Baixo Jequitinhonha. Não fez nenhuma referência aos municípios da margem esquerda do Rio que estão localizados no norte de Minas, nas microrregiões de Grão Mogol e Salinas/Taiobeiras/Rio Pardo de Minas.

É difícil estabelecer limites. No Diagnóstico Ambiental do IBGE, a Bacia do Rio Jequitinhonha mineiro e baiano ficou com 67 municípios, não computando os 24 municípios mineiros que se emanciparam em 1996.

Os dados de 1997, segundo o IBGE, apontam que a Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha estendia-se por quatro mesorregiões mineiras (Jequitinhonha/Mucuri, Metropolitana de Belo Horizonte e Norte de Minas), abrangendo as microrregiões de Almenara, Araçuaí, Capelinha, Diamantina, Pedra Azul, Conceição de Mato Dentro, Bocaiúva, Grão Mogol, Janaúba, Salinas e Teófilo Otoni.



Região de influência das Capitais Regionais fora do perímetro da Bacia do Jequitinhonha ( IBGE, 1997).
 
Na Bahia, a área pertinente à Bacia compreende setores das mesorregiões do Centro-Sul Baiano e Sul Baiano, que englobam as microrregiões de Itapetinga, Ilhéus-Itabuna e Porto Seguro. Portanto, o Vale do Jequitinhonha baiano tem, no mínimo, 9 municípios: Belmonte, Canavieiras, Eunápolis, Itagimirim, Itarantim, Itapebi, Malquinique, Mascote e Santa Cruz de Cabrália. 

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Dentre os municípios relacionados acima existem aqueles que possuem área integralmente incluída na Bacia do rio Jequitinhonha e municípios que possuem parcela de sua área externa ao perímetro considerado. Assim, por exemplo, os municípios de Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Rio Vermelho, em Minas; e Eunápolis, Macarani, Mascote e Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia,  constam como integrantes da Bacia apesar da pouca representatividade do espaço físico incluído na área da Bacia Hidrográfica.

Segundo o IBGE, há vários municípios integrados à Bacia do Jequitinhonha com partes fora da área do perímetro como: Bocaiúva, Datas, Caraí, Diamantina, Felisburgo, Malacacheta, Porteirinha, Riacho dos Machados, Rio do Prado, Rio Pardo de Minas, Rio Vermelho, Salinas, Santo Antônio do Jacinto, Serro e Taiobeiras. 

Portanto, se mencionarmos todos os municípios da Bacia Hidrográfica do Rio Jequitinhonha, considerando os territórios parciais e integrais, o número de municípios ainda é maior.


Nós, do Vale do Jequitinhonha, que temos identidade territorial, acreditamos que os limites do nosso Vale são a Bacia Hidrográfica. O Estado age de forma autoritária com visões de planejamento governamental conservadora, com técnicos elaborando diagnósticos totalmente distorcidos da realidade do povo do Vale. Não conhecem ou conhecem muito pouco da vida do nosso povo. Por isso, as políticas de desenvolvimento regional propostas, em toda a história, foram totalmente equivocadas. 

Mas, para quem quiser entender melhor o território e a luta do povo do Vale do Jequitinhonha pela sua identidade cultural, pelo (des) envolvimento regional, territorial, integrado e real, que questiona as várias divisões autoritárias de planejamento estatal, leia o livro do Mateus de Morais Sevilha, professor da UFMG, ex-professor da UFVJM - Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, mas, sobretudo, poeta, escritor e violeiro, conhecedor por vivência e estudos científicos sobre o Vale do Jequitinhonha.


O livro é uma contribuição importante para um campo relativamente negligenciado nos últimos tempos dentro da disciplina geográfica: a Geografia Regional e a consequente discussão conceitual sobre a região. 
Ele é resultado da pesquisa e tese de doutorado em Geografia Regional, na Universidade Federal Fluminense, em 2012, defendida pelo professor Mateus Sevilha. 

Muito mais do que uma discussão acadêmica, entretanto, e por fidelidade à  íntima ligação do autor com a literatura (e, mais especificamente, a poesia), trata-se de um trabalho que nos projeta para o interior de uma problemática intensamente vivida: a produção e representação da “região” do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais.

A abordagem se dá através da ação e das falas dos diversos grupos e classes – “sujeitos”, enfim – que de fato constroem o espaço em sua complexa inserção do território brasileiro e de circuitos globais que, com maior ou menor intensidade, o perpassam.
www.expressaopopular.com.br/quem-precisa-de-regiao-o-espaco-dividido-em-disputa/

Esse livro encontra-se disponível, para vendas online, no seguinte endereço: www.estantevirtual.com.br

Fonte: Instituto de Geociências Aplicadas - MG (IGA), IGAM - Instituto Mineiro de Gestão das Águas, IBGE, Fundação João Pinheiro.