Indios perambulam por cidades do Vale do Jequitinhonha como Almenara, Rubim e Salto da Divisa, sem que a Funai tome providências sobre o principal problema que os aflige: o alcoolismo
Foto: Leonardo Morais
Indios perambulam por cidades do Vale do Jequitinhonha como Almenara, Rubim, e Salto da Divisa
Vítimas do alcoolismo, do desajuste social e da marginalização econômica, índios maxakali circulam pelas ruas de cidades que fazem divisa com as aldeias Água Boa e Pradinho, no Vale do Mucuri, como indigentes.
Não bastassem as condições sub-humanas, eles são explorados. Para ter crédito no comércio, precisam entregar senhas e cartões bancários e sociais, como do Bolsa Família, como garantia de pagamento.
Os produtos adquiridos são quase sempre superfaturados. Pagam R$ 30 pela sacola de arroz ou fubá e até R$ 50 por uma garrafa de cachaça.
Embora vender bebida alcoólica a índios seja crime, com pena de seis meses a dois anos de prisão, a chamada “caiboca” (cachaça) é farta entre eles. A negociação, que muitas vezes envolve a troca de alimentos, acontece em ruas escuras ou em endereços acima de qualquer suspeita, como fazendas.
Há um ano e meio em Bertópolis, o subcomandante do destacamento da Polícia Militar, sargento Eliomar Alves, nunca realizou um flagrante. De acordo com ele, os índios protegem os fornecedores. “Os comerciantes não vendem. O problema são os atravessadores”.
Embriaguez
Fonte de uma euforia momentânea, a cachaça é a principal causa de brigas e mortes violentas na aldeia. Foram registrados cinco assassinatos em menos de um ano. Entre as vítimas está um bebê de 9 meses, atingido acidentalmente com um golpe de facão durante uma briga.
Há duas semanas, um índio matou o irmão de 21 anos com chutes na cabeça. Como a PM não entra na aldeia, a ocorrência foi confeccionada de longe, e o acusado sequer foi ouvido. “O professor (indígena) trocou o aparelho de som por seis garrafas pet de cachaça e deu para tikmûûn (índio). Quero xingar quem bebe cachaça”, diz Marcos Maxakali, irmão dos envolvidos.
Ilegal
Também seguem incólumes os comerciantes e lojistas que retêm os cartões e senhas dos índios para assegurar o pagamento das contas. Segundo o coordenador técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Santa Helena de Minas, Adilson Andrade, o crime virou “costume” depois que alguns maxakalis deram calote, comprando em lugares diferentes sem pagar as contas anteriores.
“Já pegamos um cartão de volta, mas o índio retornou ao comércio no mesmo dia para devolvê-lo. Não teria onde comprar. Isso é caso de polícia”, afirmou Andrade. Outro problema são os empréstimos consignados que endividam, cada vez mais, os índios maxakali.
Frustração
Segundo o psicólogo que atende às aldeias, Ronaldo Santiago, explorados e violados em seus direitos constitucionais, os maxakalis bebem para esquecer as frustrações. Com o efeito do álcool, diz ele, os índios vestem uma “capa de onça”, que dá força e coragem, em especial para se relacionarem com o povo branco.
Embriagados, costumam cantar lamentações ou choram copiosamente, caídos nas praças e calçadas. “Insistimos em trabalhos de educação e saúde, mas sem apoio, em especial dos municípios, pouco alcançamos”.
Fonte: Hoje em Dia
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