segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fernando Brant conta as delícias de Diamantina


Fim de semana em Diamantina

Autor: Fernando Brant, publicado no Estado de Minas, em 14/11/2012



Chovia, na estrada e na cidade. Voltar à terra em que passei parte importante 
da infância é sempre bom para mim. Ainda mais que a maioria das casas, das 
ruas e o cenário pouco mudaram, passados tantos anos. Essa é a vantagem de 
se viver em cidades tombadas pelo Patrimônio Histórico. 
O certo é que sempre que posso, e posso menos do que mereço, pego o carro e 
me dirijo às pedras capistranas de Diamantina.

O motivo desta vez era o Diamantina Gourmet, festival gastronômico que se realiza
 ali por duas semanas. 
Os diamantinos são muito criativos, não gostam de copiar o que existe. Assim 
é que, ao contrário de muitas festividades desse tipo, em que se costuma chamar 
os grandes mestres da culinária para exibir seu saber na arte de cozinhar, ali se 
partiu de um outro princípio.

Os mestres foram convidados, com antecedência, para ministrar cursos para os 
profissionais de lá. 
O intercâmbio trouxe o conhecimento de fora, que foi incorporado às habilidades 
próprias da gente do lugar. 
Os vários restaurantes do velho Tijuco podem agora nos presentear com o sabor 
e a riqueza da insuperável cozinha mineira, acrescida da ciência que se adquiriu 
nos cursos. O Clube da Esquina foi o homenageado da festa deste ano.

Um dia, estava eu quieto em minha casa em Beagá, e fui acionado pela Mariana, 
da Pousada do Garimpo. Ela tinha escolhido uma música, San Vicente, minha e do 
Milton, para ser o tema do prato que ela queria oferecer aos convidados. Conversamos 
sobre a letra e, findo o telefonema, fiquei imaginando como ela resolveria em comida 
o que dissera em palavras a respeito de um tempo conturbado do nosso continente 
sul-americano. 
Ela me surpreender agradavelmente, juntamente com o chef Vandeca, com a 
compreensão do sentido mais profundo da canção: a integração entre os povos aqui 
do nosso lado da América, mensagem implícita, em meioà dor daquele tempo.

Com a chuva e o frio me dediquei às melhores qualidades de Diamantina: bebida, 
comida, amizade e música. 
O meu prato ficou supimpa. Entrada: ceviche peruano agregado aos nossos surubim 
e abacate 
manteiga e insumos orgânicos. Prato principal: lombo ao vinho com virado de 
quinoa (originário do Peru, Colômbia e Chile) e couve mineira e batatas ao molho 
huncaina da Venezuela. Na sobremesa, quiseram se alimentar de nós. Fernando, 
Milton e Mercedes Sosa foi o nome que deram à combinação de doce de leite, queijo, 
compotas e pastelzinho.
Até domingo você pode ir até lá, curtir Diamantina e comer outras delícias como a 
esfiha de carne moída e ora-pro-nóbis. 
Recomendo essas e outras alegrias diamantinas.

Fernando Brant é cronista e compositor musical. Já compôs mais de 300 músicas 
com Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Wagner Tiso, Toninho Horta 
e Tavinho Moura, com a turma do movimento musical mineiro conhecido 
como Clube da Esquina. As mais conhecidas são Coração de Estudante, Travessia, 
"Maria, Maria", Ponta de Areia ( sobre a estrada de ferro Bahia-Minas, de Araçuaí 
até a Bahia), Itamarandiba (sobre as cidades de Diamantina, Pedra Azul, Turmalina 
e Itamarandiba, com a "vida miúda do povo que mora no Vale")  e muitas outras.

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