Orquestra composta por jovens quilombolas do Vale do Jequitinhonha foi descoberta durante trabalho de pesquisa de professores da UEMG e UFMG
Bárbara Camargo / ACS SEE
A
Orquestra Filarmônica de Santo Isidoro, localizada em uma
comunidade remanescente de quilombolas, se apresentou pela primeira vez em Belo
Horizonte. Foi uma surpresa musical que marcou a tarde desta quinta-feira (08.11)
para o público da Cidade Administrativa.
O conjunto musical é formado por jovens do município de
Berilo, no Médio Jequitinhonha, povoado de mil habitantes, localizada no Vale
do Jequitinhonha.
Segundo
a diretora da Escola Estadual da Vila Santo Isidoro, Maria de Jesus Cassiano Rodrigues, a Liinha, esta é a
única entidade que a comunidade realmente frequenta. “Lá atendemos 239 jovens e
muitos atravessam três rios para ter acesso à escola. No passado, o povoado era
conhecido como Povoado do Córrego Lagoa do Povo, porque tropeiros paravam ali
para comer e descansar nas margens dos rios”, explica.
O percussionista e um dos diretores da orquestra, Marcelo
Martins, contou que a filarmônica começou seus trabalhos em 1993. Mas foi
somente com a chegada de um maestro de Francisco Badaró, Sr. Martinho, cidade
vizinha, apoiado pela Prefeitura Municipal, e a acolhida da escola que o trabalhou deslanchou.
“A orquestra começou na sede, mas tomou consistência na
escola, quando 60 pessoas passaram a participar dos ensaios feitos por
voluntários. O atual maestro, o Idelfonso Alves foi aluno da escola, e desde
2000 está à frente da filarmônica, que não cobra pelas apresentações. E ganhar
espaços como a Cidade Administrativa nos dá satisfação, representa muito. E
tudo isso nos dá novas perspectivas para continuar. É um apoio de que
precisamos”, contou Marcelo Martins.
Descoberta por acaso
A apresentação foi uma iniciativa promovida por professores
e pesquisadores da Universidade Estadual de Minas Gerais ( UEMG) e
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que pesquisam a educação em
comunidades quilombolas. Segundo José Eustáquio Brito, os músicos foram
descobertos durante um trabalho de pesquisa de campo, que está em sua fase
inicial e que vai percorrer nove municípios mineiros, todos apontados pelo
Ministério da Educação (MEC).
“É uma alegria dar a oportunidade para estas expressões
culturais fazerem intercâmbio, mostrarem o que sabem fazer de melhor. Mostramos
também, com estas iniciativas, a presença da escola pública na juventude
mineira e também o compromisso da universidade com estes movimentos de
resistência e luta”, contou o professor.
Na Cidade Administrativa, o público foi composto por
servidores e também por transeuntes como um grupo de doutorandos e mestrandos
de universidades da Angola, que estão em intercâmbio no Brasil. Ao passar pelo
local, Francisco Macongo, diretor da Universidade 11 de Novembro, do país
africano, mostrou-se entusiasmado com a apresentação.
“Sentimo-nos
muito próximos da cultura brasileira no aspecto dança, música e culinária.
Desmitificamos as impressões que tínhamos de que estas comunidades eram
compostas por pessoas vulneráveis e isoladas”, contou.
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