Construção de barraginhas renova a esperança de famílias em Chapada do Norte
Alan Oliveira e Fabiana Eugênio CAV – Turmalina
As famílias da comunidade rural de Morro Branco, no município de Chapada do Norte, no Médio Jequitinhonha, nordeste de Minas, têm um motivo a mais para esperar as chuvas nesse ano. O Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) finalizou, em setembro passado, a construção de 13 barraginhas e 10 bacias de contenção de coleta de água da chuva. Através destes reservatórios, 14 famílias terão acesso à água para produção, o que é o sonho de muitos agricultores (as) da comunidade.
Em Morro Branco, moram atualmente 32 famílias que ano a ano lutam contra a escassez de água. Além das cisternas construídas pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) através da Articulação no Semiárido (ASA), os moradores contam com a água de algumas nascentes que sempre secam entre os meses de junho e julho e de abastecimentos por meio de carros-pipa. A maioria das famílias é abastecida por um poço artesiano construído em 2012, o que não tem garantido água para produção de alimentos. Em alguns casos mais extremos, na época da seca, a água tem de ser buscada no lombo de animais em longas distâncias para se garantir ao menos as necessidades diárias da família.
A dificuldade no acesso à água tem comprometido também a segurança alimentar destes moradores e, sobretudo, a geração de renda. O índice de migração sazonal dos homens é bastante alto, pois se vêm obrigados a buscar empregos em outras regiões, como no corte de cana e na colheita de café.
A chegada do Programa de Gestão dos Recursos Hídricos em 2012 na localidade renovou muitas esperanças. O sonho de muitas famílias é fazer uma horta perto de sua casa, mas afirmam que sem água nunca foi possível. “Graças ao CAV, se Deus quiser, vou conseguir fazer uma horta no próximo ano”, conta Maria José Soares.
Vontade e participação
Embora as construções das barraginhas e bacias de contenção tenham sido iniciadas no mês de agosto, os processos de mobilização em Morro Branco começaram muito antes. As primeiras reuniões foram realizadas pelo CAV ainda no mês de fevereiro e contou com grande presença dos moradores (as). Também foram realizados cursos de gestão da água, que contribuíram para conscientizar os beneficiários quanto à conservação e o manejo sustentável do solo e dos recursos hídricos.
O processo de escolha dos locais onde foram construídas as tecnologias também aconteceu de modo participativo. Com a contribuição dos estudantes da Escola Família Agrícola de Veredinha que moram em Morro Branco foi construído um mapa da comunidade, que contribuiu para que as famílias pudessem definir os locais mais adequados a receberem as intervenções. Após a seleção das famílias foi criado um comitê para locação e acompanhamento de todo o processo de construção, com a participação de 02 técnicos do CAV e dois agricultores. Entretanto, a participação dos moradores durante as construções foi para além dos membros do comitê, principalmente pelas mulheres da comunidade.
Agora com as barragens construídas as famílias se mostram bastante animadas e ansiosas pela chegada da chuva. Tendo disponibilidade de água, elas afirmam ter a intenção de produzir para melhorar a qualidade da alimentação e comercializar o excedente na feira livre de Chapada do Norte.
Além das barraginhas as famílias também estão sendo beneficiadas, através do CAV, com assessoria técnica para a produção agroecológica, melhoria na feira livre municipal e apoio na organização dos feirantes, além da promoção de momentos de formação com mulheres e casais sobre relações sociais de gênero. Os agricultores (as) afirmam que a chegada do trabalho do CAV em Morro Branco representou muito mais que a esperança em relação à água, mas devolveu a animação à comunidade.
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