A velha politicagem canta vitória em Capelinha...
Como não há ruptura com o passado,
a cada passo esse se reapresenta
e cobra seu preço.
(Florestan Fernandes)
a cada passo esse se reapresenta
e cobra seu preço.
(Florestan Fernandes)
Há pouco
mais de um ano e meio, a população de Capelinha assistiu, estarrecida, a
mais um capítulo de sua confusa história política. O grupo que detinha o
controle da administração municipal se dividiu de forma bizarra e
durante quase um mês pairou na cidade a dúvida sobre o gênero da pessoa
que ocuparia a cadeira de prefeito(a). O fato, por si só, gerou
incontáveis piadas, mas os capelinhenses manifestaram naquele momento um
sentimento de indignação até então inédito.
Quem
é de Capelinha sabe perfeitamente que a política partidária local muda a
todo instante e, às vezes, as coisas acontecem tão rápido que perdemos o
“fio da meada”. Por isso, nunca é demais fazer uma retrospectiva dos
fatos, já que recordar é uma virtude. Então voltemos a 2008, mais
precisamente no contexto das eleições municipais daquele ano. Tínhamos
quatro candidatos: Gerson Fernandes (candidato à reeleição), Gelson
Cordeiro, Neném Pimenta e Rita do Sindicato.
Faltando
alguns dias para o pleito, Gelson Cordeiro, que na época poderia ser
impedido de assumir a prefeitura caso fosse eleito, desistiu da cabeça
de chapa e colocou no seu lugar Pedro Vieira como candidato a prefeito e
sua irmã Hedylamar Cordeiro como vice, que caiu de paraquedas no
cenário político da cidade. Este fato deixou bem claro que aquela era
uma candidatura de “laranjas”, na qual o próprio Gelson é quem estaria à
frente do Executivo, o que ficou ainda mais claro depois da descoberta
daquele vergonhoso “tratado” dos dois anos.
Como demonstra Banu em seu blog,
essa situação não era nova em Capelinha, já que alguns anos antes o
então prefeito Tico Neves usou da mesma estratégia e colocou no seu
lugar Ivan Pimenta.
Depois
desse episódio, alguma coisa mudou em Capelinha, aliás, alguma coisa
dentro de boa parte dos capelinhenses saiu do imobilismo. As pessoas
deram-se conta dos absurdos que aconteciam na administração da cidade e
buscaram outras alternativas de participação política.
Foi
diante deste cenário, que grupos de cidadãos, por meio da internet,
usaram as redes sociais para demonstrarem indignação diante do “rateio”
do cargo de prefeito. Neste mesmo período, descobriu-se que nossos
candidatos perderam de vista a noção do público e do privado e firmaram
um acordo sujo como se a administração do Poder Executivo fosse um
prêmio ganho num jogo de cartas.
Diante de tantos protestos, por
alguns breves momentos, tivemos a impressão de que nossos
representantes políticos assimilariam as mudanças. Ledo engano! As
articulações para as eleições de 2012 jogaram um balde de água fria em
quem alimentou expectativas. Os velhos interesses mesquinhos, que
ficaram recolhidos por um tempo, novamente saltaram à vista. A velha
concepção de política como meio para defender interesses pessoais
mostrou suas garras com a mensagem de que o panorama político e
democrático de Capelinha ainda está longe do amadurecimento.
Temos
um candidato, Gelson Cordeiro, enquadrado na Lei Ficha Limpa e que,
mesmo se obtiver a maioria dos votos, não poderá assumir pois é
inelegível até 2013. Pelo visto, a estratégia pensada é a mesma usada na
eleição anterior: lançar seu nome e no último instante entregar a
cabeça de chapa para outra pessoa.
Olhando
para esse quadro, é inevitável que algumas perguntas sejam feitas: Não é
vergonhoso lançar a candidatura de um cidadão com dezenas de processos
na justiça? A coligação que dá suporte a Gelson Cordeiro considera que é
válida qualquer estratégia para chegar ao poder? Essas pessoas já
ouviram falar de “ética”? Sabem que candidatos são eleitos para defender
os interesses da coletividade? Será que, tanto a coligação quanto o
candidato, sabem o significado de alguns outros termos como
“democracia”, “transparência”, “cidadania”?
Mas
a questão não termina aí. Lançado pelo PSDB, o candidato Pedro Vieira
também tem que responder a algumas perguntas que estão há anos
engasgadas na garganta dos capelinhenses: De que forma Pedro Vieira se
desvinculará da figura de Gelson Cordeiro, já que estiveram por tantos
anos politicamente juntos? Como Pedro explicará o fato de que sua
ruptura com Gelson não foi por uma questão de ideologia política, mas,
como demonstrado, por conta de uma briga de poder?
É
engraçado ver em lados opostos esses grupos políticos. Porque se
tornaram adversários? Será que possuem concepções políticas distintas?
Ou se dividiram somente por conta das conveniências? Será que, no fundo,
os dois grupos não representam exatamente as mesmas ideias políticas e
estão separados apenas momentaneamente? Porque, ao lembrar do passado e
comparar com o presente, nada nos garante que amanhã ou depois não
estarão novamente juntos.
Para
dar ainda mais força à visão de que em Capelinha os interesses
políticos, na maior parte das situações, se curvam aos interesses
individuais, vejamos o caso do PT. O Partido dos Trabalhadores era
considerado por muitas pessoas na cidade, ao menos de um tempo pra cá,
como a única possibilidade de “terceira via”. Ou seja, esperava-se que
trouxesse para o panorama político de Capelinha novas ideias, que
construísse uma política com base em propostas sérias e não em
politicagem pura e simples, apresentando-se como alternativa em um
cenário tão lastimável. Mais uma vez a realidade dissolveu a fantasia em
poucos instantes. Janer Moreira foi lançado como pré-candidato à
prefeitura pelo PT, com o apoio do PCdoB, no mês de março. Nas palavras dele mesmo, desde aquela época sofreu com uma indecisão interna que não aceitava seu nome. Resumidamente, o partido preferiu desistir de apostar em um nome novo para compor a chapa de Pedro Vieira.
O
grupo majoritário do PT afirma que o apoio é importante por seguir a
diretiva estadual, mas especialmente por conta da viabilização da
implantação do campus da UFVJM na cidade. A questão importante a
ressaltar, entretanto, é que essa conquista só se deu porque o povo se
manifestou de diversas formas, e que quando os políticos entraram e se
apropriaram disso, só o fizeram pela inevitabilidade diante do tamanho
da mobilização popular. De outro lado, em relação a isso, a decisão
sobre o campus já foi tomada, independendo, a partir de então, de mandos
e desmandos da administração local.
Ainda
assim, os problemas internos do PT continuaram, a ponto de um militante
“lançar-se” no site do TSE como candidato, sem consentimento e, o mais
absurdo, sem o conhecimento do seu grupo partidário.
Embora
a situação não seja totalmente incomum no Brasil, juntar em uma mesma
coligação PT com PSDB ainda pode causar certos constrangimentos (não
podemos nos esquecer que em São Paulo, por exemplo, o PV, de Gelson
Cordeiro, está apoiando o PSDB, de Pedro Vieira, já que, ali, a força
das diretivas nacionais mostra, mais evidentemente, o “rosto
ideológico”de cada partido em plano federativo).
Tudo isso só reforça a ideia, lançada aqui no blog do MMC,
de que os partidos, em sua maioria, não servem aos interesses da
população. Servem aos interesses individuais daqueles que tem suas
rédeas. Com honrosas exceções, a maior parte dos candidatos e grupos que
se lançaram às eleições 2012 em Capelinha não apresentam nada novo,
apenas reproduzem um ideal político enferrujado que conhecemos muito
bem. Além disso, é forte o risco de que este seja um dos processos
eleitorais mais sujos da história do município, apesar do esforço de
alguns blogs, das redes sociais, da Justiça Eleitoral e de muitos
cidadãos que exigem uma campanha focada em propostas e projetos
convincentes.
Continua...
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