O trabalho irá recuperar cerca de 50 mil livros.
Alguns raros, de 1615.
Publicado no Estado de Minas de 17/09/2012
Páginas
escritas em grego, latim, francês, alemão e bom português saem da
escuridão do abandono e ganham a luz da conservação. E, aos poucos,
transformam a terra de Juscelino Kubitschek e Chica da Silva num
gigantesco “livro aberto” para o conhecimento, pesquisa e preservação da
memória. Na cidade do Vale do Jequitinhonha, a 292 quilômetros de Belo
Horizonte, um projeto desenvolvido no Seminário Episcopal do Sagrado
Coração de Jesus, fundado em 1867 e vinculado à Mitra Arquidiocesana de
Diamantina, começa a recuperar cerca de 50 mil volumes, muitos deles
raros, da biblioteca da instituição, os quais ficaram confinados, sem
cuidado e atenção, durante 12 anos. Na primeira fase, prevista para
terminar em 30 de novembro, o trabalho contempla 10 mil obras, com
desinfestação de insetos xilófagos (cupins e traças) e higienização.
“Este é um universo que está sendo desbravado e será de grande utilidade
para os estudiosos”, diz, com entusiasmo, o diretor de estudos do
seminário, padre Júlio César Morais.
Na
realidade, três mundos literários se sucedem no subsolo do prédio
pintado de amarelo-claro onde estudou, quando adolescente, o
ex-presidente JK (1902-1976). No primeiro, na sala da antiga biblioteca,
estão 40 mil volumes – hoje enfileirados nas estantes, de forma
organizada – à espera de recuperação. No segundo, no ateliê montado
desde julho para essa tarefa, especialistas e sua equipe verificam a
situação dos livros, separando-os em bons (50%), regulares (30%) e ruins
(20%), e fazem a conservação. E finalmente, no terceiro, estão os já
higienizados e prontos para consulta. Os ambientes são próximos, mas o
caminho para salvá-los é longo e cheio de surpresas.
O
acervo ficou longe dos olhos, de 2000 até o ano passado, quando a
direção do seminário detectou o estado de degradação, chamou
profissionais da área de conservação e buscou recursos. “Monsenhor Celso
de Carvalho, falecido há 12 anos, tinha esse acervo para uso pessoal.
Com ele, morreu o domínio da biblioteca”, conta padre Júlio César. Até
agora, o livro mais antigo encontrado data de 1615, embora o diretor de
estudos tenha localizado, no meio das pilhas, uma lista constando um de
meados do século 16. “Ainda o estamos procurando”, afirma com
determinação.
Com capa de
pergaminho (pele de animal) e escrito em latim, o Prontuário moral sobre
o evangelho dominical, de 1615, se encontra na condição de regular e
recebe olhares de admiração da equipe envolvida na tarefa de recontar a
história do seminário por meio de um dos seus maiores tesouros: os
livros. “Esta biblioteca é irmã da existente no Santuário do Caraça, em
Catas Altas. Começou em 1886, com o segundo reitor, padre Miguel Maria
Sípolis, vindo da França junto com os sacerdotes lazaristas”, diz o
diretor de estudos, que não para de fazer descobertas. A mais recente,
registrada com caneta-tinteiro, é um caderno com a cronologia do
seminário.
Com a dica preciosa do Passadiço Virtual
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