- Município do Vale do Mucuri vive guerra eleitoral como no tempo dos velhos "coronéis"
O pequeno município de Fronteira dos Vales perde o ar pacato em períodos eleitorais.
Só neste ano, já foram sete ocorrências policiais envolvendo a disputa pela prefeitura.
Os candidatos a prefeito do município mineiro de Fronteira dos Vales, na região do Vale do Mucuri, a 780 quilômetros de Belo Horizonte, estão proibidos de realizar qualquer ato de campanha na cidade. Estão proibidos comícios, passeatas, reuniões de comitês e até carros com equipamentos de som tocando músicas que façam menção à disputa eleitoral.
A quarentena foi imposta pela Justiça Eleitoral após a sétima e mais grave ocorrência policial envolvendo os partidários dos dois principais candidatos a prefeito no município, que tem 5.000 habitantes. Na madrugada do último dia 18, os corregilionários do atual prefeito e candidato, Rozinê Sena (PSDB), envolveram-se em uma briga contra os apoiadores do Doutor Branco (PR).
O confronto, que aconteceu em frente à casa do prefeito, envolveu cerca de 30 pessoas, de acordo com a Polícia Militar, que portavam paus, facas e até revólveres. Um dos militantes de Sena chegou a sacar a arma e realizar dois ou três disparos, fugindo em seguida.
Uma das balas atingiu Anderson Silva Medeiros Alves na região abdominal. Ele foi submetido a uma cirurgia e passa bem. A ira e a paixão dos combatentes era tamanha que todo o efetivo da Polícia Militar de Minas Gerais lotado na cidade (seis homens) não foi suficiente para encerrar o conflito. Foi preciso chamar reforço da cidade vizinha de Águas Formosas.
"Não conseguimos identificar qual lado começou a briga, mas o caso aconteceu porque a população de Fronteira dos Vales é muito apaixonada por política. Quem vota em um candidato, não pode nem olhar para quem vota no outro", conta o tenente Fabiano, comandante da PM-MG na região de Fronteiras do Vale. "Nessa última briga, os partidários dos dois candidatos começaram a discutir e xingar uns aos outros até que o confronto passou a ser físico, a cada um se armou como conseguiu", relata o tenente.
De acordo com o policial, foram efetuadas dez prisões em flagrante pelo crime de rixa (todos já foram soltos). Também foram apreendidos seis veículos e 31 munições de calibre 38 e 32. "Assim que a juíza eleitoral viu a ocorrência, no dia seguinte, proibiu qualquer ato de campanha", disse o policial militar.
Para garantir a segurança na cidade, o efetivo da PM em Fronteira dos Vales foi dobrado até o fim das eleições. Agora, 14 homens zelam pela paz na cidade.
Para o prefeito Rozinê Sena, que concorre ao terceiro mandato e teve que tomar posse escoltado por policiais na última vez que foi eleito, a decisão judicial veio em boa hora. "Não poderei fazer campanha, mas tudo bem. A decisão trouxe tranquilidade para a cidade. Sou da paz, não sou de briga, não sou violento, pelo amor de Deus".
Perguntado sobre de quem seria a culpa pelo último incidente, o prefeito não te dúvida para responder: "Foi o pessoal do outro candidato, do Doutor Branco. Eles já me ameaçaram de sequestro, eles praticam atos de violência e vandalismo, o nosso pessoal é da paz".
A versão do prefeito não é a mesma colhida pela Polícia Militar junto aos participantes da briga, que relataram uma série de ofensas e agressões partindo dos dois lados. O UOL tentou entrar em contato com a campanha do candidato Doutor Branco, mas não obteve sucesso até a publicação desta reportagem.
O município está situado no Vale do Mucuri na divisa com o Vale do Jequitinhonha. Por isso, o nome Fronteira dos Vales. Está na microrregião de Nanuque. Faz divisa com os municípios de Águas Formosa, Machacalis, Santa Helena de Minas, do Vale do Mucuri, e Felisburgo e Joaíma, do Baixo Jequitinhonha.
Tem uma população de 4.687 habitantes (IBGE, 2010), PIB de R$ 19,4 milhões (IBGE, 2008), IDH 0,599.
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