sexta-feira, 2 de junho de 2017

Política, com ‘P’ maiúsculo, é a arte do possível

Jefferson Rudy/Agência Senado










Se política é a arte do possível, a alternativa que vem sendo ventilada, do nome de Nelson Jobim - ex-ministro de Lula e FHC, ex-Presidente do STF e ex-parlamentar - para uma eventual eleição para Presidente feita pelo Congresso, pode ser uma boa opção para o momento crítico que o Brasil atravessa e o reencontro do País com uma democracia plena em um curto prazo factível.
No título deste artigo, referi à "Política com 'P' maiúsculo" para diferenciar a política genuína daquela que aqui chamarei de "politicagem" - a política sorrateira, auto interessada e não-raramente ilícita ou imoral.
O País está esgarçado. Imerso em um clima de vale tudo, onde princípios basilares do Estado de Direito são a todo momento desconsiderado, seja por julgadores que deveriam ser imparciais, seja por gestores públicos que atuam no governo em função de agendas próprias ou de seus patrocinadores, seja pela imensa desconexão entre os anseios da sociedade e o que vem sendo proposto enquanto estratégia de desenvolvimento econômico-social nacional.
Pensar-se em os Tucanos ou "Democratas" tentarem tomar a Presidência à força, sem votos, pela política do "p" minúsculo, seria pensar em ver o País entrar num caos social, com consequências críticas. Uma coisa é querer implementar a agenda conservadora sendo ela chancelada pelo voto popular. Outra coisa é querer empurrar goela abaixo da população uma pauta que não só ela não escolheu, como tem dado demonstrações de que a ela é contrária.
"Diretas já" seria a solução ideal. "Todo poder emana do povo", assim diz a Constituição, em seu princípio mais basilar. Mas, além de toda a dificuldade técnico-legislativa de aprovação de uma mudança nas regras aos 44 minutos do segundo tempo do jogo, e também da correlação de forças no Congresso amplamente desfavorável a essa solução democrática (mais democracia para salvar a democracia); ainda que se conseguisse aprovar a mudança das Diretas, valeria à pena conviver com os fantasmas de alegações que iriam sempre perdurar - vindas de parcela significativa da população - de que "Lula só foi eleito porque correram com a sua eleição para que fosse antes de sua condenação"? Essa seria mesmo a melhor forma de se recomeçar a democracia? E o País continuar esfacelado, dividido, e cada vez mais radicalizado?
Ou será que vale à pena reconstituir o tecido do Estado, que está todo arrebentado, e preparar um processo eleitoral pra valer? As eleições de 2018 já estão quase aí - se o cenário, é claro, for de haver uma paralização das reformas antipopulares que estão sendo atualmente tocadas sem chancela das urnas. É hora de uma parada técnica, um freio de arrumação, para reorganizar a democracia.
Acho extremamente positiva a aproximação recente entre Lula e Fernando Henrique para um diálogo pensando no Brasil. Não que ambos vão concordar sobre a pauta que deve ser perseguida pelo Brasil, ou sobre qual a estratégia de desenvolvimento econômico-social adequada. Acho que quanto a isso não tem possibilidades - ao menos não nos próximos anos - de um entendimento. São agendas muito diferentes, as defendidas pelos dois e pelos grupos políticos e societais em torno de cada um deles. Tenho também as minhas críticas pessoais a um e a outro. De naturezas distintas. Mas, não é isso que está em jogo aqui: mas, sim, um futuro possível para a sobrevivência da democracia brasileira. Que está no chão, e continua levando pancadas.
O nome de Jobim, diante desse contexto, parece-me não apenas uma alternativa razoável: mas, talvez, uma das poucas factíveis, para recolocar o País de novo em uma rota de desenvolvimento democrático.
Uma eleição - mesmo que indireta - de Jobim neste momento ajudaria a reconstituir as pontes implodidas entre os três poderes, por um personagem hábil, moderado, de currículo substantivo que o legítima, e que tem diálogo com todas as principais forças políticas do País e atores institucionais que são indispensáveis de sentarem para dialogar para que o País tenha uma alternativa que não desemboque em conflito aberto social, em que se repitam cenas como as de 24 de maio de 2017 em que brasileiros enfrentavam brasileiros, inclusive com armas letais.
O momento exige muita responsabilidade. De todos os lados.
É pela trajetória política de Lula, de FHC, do PT, do PSDB, do PMDB (antigo MDB), do PDT, e de tantos e tantos outros que já se propuseram genuinamente a construir um Brasil realmente democrático, que vai um apelo à reflexão.
Se pudermos ter Diretas agora, na eventualidade - segundo a mídia, provável - de queda de Temer, melhor. Mas, se o possível for ter uma solução intermediária, mas uma que propicie a realização de uma eleição realmente pujante e democrática em 2018, que assim o façamos. E que vença quem tiver que vencer em 2018, eleição esta que já está ali na esquina (se os direitos dos cidadãos mais pobres não estiverem sendo, no meio tempo, esquartejados, é claro). E a responsabilidade à qual se conclama os principais partidos políticos é: apresentem os seus melhores quadros para, então, disputar: e deixemos a população decidir. E que os partidos aceitem o resultado das urnas.
O que o Brasil precisa é reencontrar o caminho com as urnas, com a escolha popular.
Se a alternativa "A" (mais democracia imediata) não for viável, que construamos o caminho para que em 2018 isso possa se materializar, de forma efetiva. E, diante de todas as proto-opções que estão colocadas, uma condução por Jobim do país até 2018 não me parece uma má alternativa.
Política, com "P" maiúsculo, é a arte do possível.
Quem é Nelson Jobim
Nelson Azevedo Jobim (Santa Maria12 de abril de 1946) é um jurista e político brasileiro. Exerceu os cargos de deputado federalministro da Justiçaministro do Supremo Tribunal Federalcorte da qual foi presidente, e ministro da Defesa.
Professor Adjunto do Departamento de Direito da Universidade Federal de Santa Maria em Direito Processual CivilIntrodução à Ciência do Direito e Filosofia do DireitoÉ professor-adjunto da Universidade de Brasília.
Foi deputado constituinte , de 1997 a 1991, pelo PMDB. Reeleito, de 1991-1995. Exerceu o cargo de ministro da Justiça, de 1 de janeiro de 1995 a 7 de abril de 1997, no governo do presidente Fernando Henrique CardosoEm 25 de julho de 2007 assume o cargo de Ministro da Defesa do governo Lula, tendo continuidade no primeiro governo Dilma.
Foi nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por decreto de 7 de abril de 1997. Assumiu a presidência do STF, em maio de 2004. Aposentou-se voluntariamente em 29.03.2006.

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