Para o colunista
político do Cafezinho, Bajonas Teixeira, a resposta é "porque esse não é
apenas um governo do golpe. Um governo nascido de um golpe poderia, em
certas condições, ser um governo de conciliação. Não é o caso do governo
Temer. Ao contrário. Ele é um governo de vingança que procura
esquartejar os arranjos das políticas estruturadas ao longo da
trajetória do PT. É um governo de terra arrasada, ou de guerra de
extermínio"
11 de Outubro de 2016 às 08:25
Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
Nada é mais chocante que a ânsia do governo Temer por realizar
intervenções brutais que deixarão terríveis cicatrizes na face da
sociedade brasileira. Seu governo não tem legitimidade, sua duração será
breve e qualquer política que aprove, logo passará às mãos de um novo
presidente.
Por que então esse governo insiste tanto em realizar reformas
profundas e dolorosas para a sociedade brasileira, em especial para os
mais pobres?
Porque esse não é apenas um governo do golpe. Um governo nascido de
um golpe poderia, em certas condições, ser um governo de conciliação.
Não é o caso do governo Temer. Ao contrário. Ele é um governo de
vingança que procura esquartejar os arranjos das políticas estruturadas
ao longo da trajetória do PT. É um governo de terra arrasada, ou de
guerra de extermínio.
E que motivos o levam a tratorar quinze anos de políticas públicas
mais ou menos democráticas? O fato de que é um governo que, para abrir o
saque dos recursos públicos (leia-se PPI, Pré-Sal, etc.) necessita do
beneplácito das elites. Como conquistá-lo? Prestando o serviço de, da
forma mais violenta e imediata, limpar o país da herança do PT. Afastar
das cercanias do poder a tiros os grupos sociais beneficiados nesses
anos, expulsá-los para as periferias e os guetos da política brasileira.
Isso, em primeiro lugar. De outro, se trata depositar sobre as
costas, e os ombros, desses grupos todo o peso da 'solução' da crise
econômica, livrando as classes ricas de qualquer ônus pela crise
(impostos, CPMF progressiva, impostos sobre heranças, etc). Nesse
sentido, é um governo de massacre e de violação, que devolverá o Brasil a
situação de trinta anos atrás, isto é, a situação de país mais desigual
do mundo.
Será responsabilizado? Não. Porque daqui há vinte e poucos meses não
estará mais aqui. É um governo de dias contados. O novo governo, vai
manter e até reforçar todas as políticas impostas por Temer, mas dirá da
forma mais descarada que não pode fazer diferente, que tem que seguir
essa política que, se tivesse podido escolher, nunca adotaria. Mas que
agora é tarde.
Temer se lança sobre os arranjos políticos democráticos do governo no
qual ele era o vice, como um jagunço ou um salteador feroz. Ele atua
sobre a arquitetura legal e institucional como um veterinário de guerra
que, habituado a costurar cavalos, de repente, é levado para uma sala de
cirurgia plástica. Temer está muito consciente que deixará cicatrizes
profundas e desfiguradoras sobre o tecido da sociedade brasileira.
Mas isso não importa. O que importa é que receberá os aplausos da
mídia, da classe média e, sobretudo, do grande capital, dos grandes
empresários, dos latifundiários. Então, todas as chaves estarão
graciosamente em suas mãos, todas as portas serão abertas, e todas as
PPIs serão aprovadas.
Espanta a passividade da esquerda diante dessa estratégia óbvia. Quem
olha para a esquerda nesse momento, lânguida, prostrada em cava
depressão, se pergunta se essa a atitude não é a maior cumplicidade que o
golpe poderia almejar. Não é verdade, como um jornalista disse essa
semana, que as manifestações nas ruas ajudariam o golpe a instaurar um
regime de exceção.
Ao contrário. Em todos esses meses, foram sempre as mobilizações que
fizeram o golpe recuar, mesmo que momentaneamente, e reduzir o seu
ritmo. Quando vão recomeçar as mobilizações e manifestações de ruas?
Logo, logo, será tarde demais porque haverá gente de menos disposta a
pisar no asfalto.
Caro leitor, temos que multiplicar e fortalecer os fronts de batalha
pela democracia. O golpe gostaria de ter uma única mídia, totalitária,
uma única Globo, trabalhando para fabricar zumbis obedientes. Nós, ao
contrário, só vamos ganhar força através da diversificação dos meios e
das chances de informação e opinião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário