O Vale do Jequitinhonha ansiava por representatividade.
O senhor obteve exatos 52.315 votos, mais que o dobro da votação obtida em 2010, quando tentou a eleição pela primeira vez, ficando na suplência. A que o senhor atribui essa expressiva votação, que lhe assegurou o mandato e deputado estadual?
Em 2010 nossa campanha começou muito tarde. Entre a nossa decisão de lançar a candidatura e o registro da mesma foram apenas 3 meses. Meu nome era conhecido no Vale do Jequitinhonha mas apenas em algumas cidades do Médio e em parte do Baixo. Procuramos apoio de prefeitos e vereadores e nada obtivemos, mas mesmo assim tivemos uma votação expressiva, o que nos animou a seguir adiante. A partir de então iniciamos as nossas andanças pelos Vales do Jequitinhonha, Mucuri. Rio Doce e outras regiões de Minas. Criamos a “Caravana Pé na Estrada” com a intenção de nos fazermos conhecidos e fomos em busca de apoios em todas as regiões possíves de Minas Gerais, mas com foco principal no Vale do Jequitinhonha. Reunimos com lideranças populares, diretórios partidários, sindicatos, associações, ong’s, grupos de jovens, estudantes, donas de casa e com o povo nas ruas; e conseguimos ser ouvidos e também ouvir muito. Observamos que o anseio popular era por uma representatividade regional. Mais uma vez procuramos políticos regionais com mandato para nos ajudar, e infelizmente a grande maioria nos fechou as portas. Percebemos que na verdade nossa campanha deveria ir para as ruas sem o apoio de prefeitos; o que era ruim, mas tornou o nosso desafio maior. Só para se ter uma idéia nenhum prefeito do meu partido me deu apoio, alguns inclusive torceram para que nossa candidatura não saísse vitoriosa. Tivemos apoio de poucos diretórios e uma quantidade mínima de vereadores do nosso partido, mas também de partidos das mais diversas colorações partidárias. E isso mostrou a força que emana do povo. Fomos majoritários em 10 cidades com expressiva votação, em nenhuma delas tivemos apoio de prefeitos, alguns dos quais do meu próprio partido. Isso mostra que o poder de transformação na verdade está com o povo. Portanto, fomos vitoriosos em grande parte pela população do Vale do Jequitinhonha que almejava mudanças na forma de escolha de seus representantes na Assembléia Legislativa; e não no modo tradicional do voto de cabresto tão usual por alguns prefeitos de nossa região. Também obtivemos votos em regiões fora do Vale, como Belo Horizonte e região Metropolitana, Triângulo Mineiro e Aimorés. Nossa campanha extrapolou as fronteiras do Vale.
O senhor fez uma campanha ancorada na representação legítima do Vale do Jequitinhonha, apresentando-se como um candidato que nasceu no Vale, sempre trabalhou aqui e cujo mandato pertenceria à região. Foi também uma campanha muito vinculada à expansão da UFVJM, com os novos campi para Capelinha, Araçuaí e Almenara, além de destacar temas como a cultura, a participação popular, a cidadania e evidentemente a saúde e a educação. De que forma seu mandato irá trabalhar esses assuntos?
Sim, a nossa campanha foi voltada para essa falta de representatividade do Vale do Jequitinhonha. Temos uma população de cerca de um milhão de habitantes, mas nenhuma representatividade política, portanto poderíamos ter pelo menos 5 ou 6 deputados estaduais. De todos os candidatos nascidos ou residentes no Vale que se lançaram nessa eleição a deputado estadual apenas a nossa candidatura vingou.É uma pena, porque precisamos de mais representatividade para alavancar o crescimento, e só quem nasceu, vive, respira e trabalha na região sabe com certeza as agruras e necessidades do nosso povo.
Com relação à UFVJM a nossa luta começou quando foi concedido dois Campi para Janaúba e Unaí, ambas as cidades localizadas fora da nossa região. Como o próprio nome da UFVJM ( Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) já diz, ela foi criada para amenizar a carência de ensino superior na região. Hoje a UFVJM possui dois Campi; um em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri e outro em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha. Não fomos em momento algum contra a concessão dos dois Campi para Janaúba e Unaí, mesmo porque a educação é um direito de todos; mas na verdade somos contra a expansão para fora do Jequitinhonha e Mucuri antes de suprir as nossas necessidades. Sendo assim com o movimento criado pelas redes sociais intitulado “ A UFVJM é nossa” deu-se início a uma luta para aumentarmos a abrangência da universidade vale adentro. Participamos de várias reuniões em Diamantina quando foi oferecido mais um Campi, proposta essa que foi rejeitada pelo movimento “ A UFVJM é nossa”. Então sugeri que nos fosse concedido 3 campi para o Vale do Jequitinhonha e que cada um ficasse no Alto, Baixo e Médio. A proposta foi aceita e a partir daí as cidades envolvidas e interessadas deveriam apresentar os projetos junto à reitoria e o corpo técnico da UFVJM. Cada cidade interessada apresentou o seu projeto e foi escolhida Capelinha, no alto; Araçuaí, no médio e Almenara, no baixo Jequitinhonha. Os critérios para escolha foram apenas técnicos e não políticos, como maldosamente alguns prefeitos, vereadores e lideranças do vale espalharam o boato de que o Dr. Jean Freire teria feito as escolhas das cidades sede. Esses boatos maldosos tinham o intuito apenas de confundir a cabeça da população e criar dissabores entre as cidades escolhidas. Esses critérios podem ser pesquisados junto à UFVJM..Na educação desenvolvo um projeto chamado “Casa do Estudante”. Atualmente sou vereador em Itaobim pelo terceiro mandato consecutivo. Ao me tornar vereador, e portanto entrar na vida política resolvi abrir mão do meu salário de vereador. E não fiz isso como forma de me vangloriar. Sou médico e por isso pensei: “Se fui ajudado a cursar medicina com ajuda de amigos porque não retribuir o que fizeram comigo?” Foi aí que surgiu a idéia do projeto “Casa do Estudante” e há 10 anos mantenho duas casas em Teófilo Otoni para jovens do Vale do Jequitinhonha e Mucuri que pretendem cursar faculdade e não tem como se manter. Nesse período cerca de mais de 100 jovens já passaram pelo projeto; e ao serem selecionados pelo critério de boletim escolar e renda familiar, peço a cada um deles apenas uma coisa: “Se esforcem para voltarem para a cidade de origem e ajudar no desenvolvimento da mesma”. Pretendo lutar para, além da UFVJM o vale também tenha campi da UEMG ( Universidade do Estado de Minas Gerais), diminuindo assim a distância de deslocamento dos nossos jovens. Também pretendo lutar para que esses jovens tenham moradia estudantil digna nessas universidades e custeadas pelas mesmas; e que não necessitem ficar à espera que alguém faça isso por eles.
Na cultura, temos uma região rica em manifestações folclóricas e o nosso rico artesanato. Porque não trabalharmos de forma a valorizar isso junto aos nossos artistas e artesãos? Podemos fortalecer esses talentos natos da região criando associações e centros de distribuição geridos por eles mesmos, evitando assim o papel do atravessador que lucra com esses produtos. Vamos incentivar a participação em feiras, mas para isso as associações devem ser criadas para fortalecer a discussão e valorização da arte. Devemos incentivar a criação e a manutenção dos já existentes festivais de música e dança. O Vale tem grandes grupos de dança, teatro, corais, além dos nossos músicos já conceituados.
Na saúde vamos lutar para criações de centro de saúde em regiões onde ainda não tem médico e melhorar os que já existem. Incentivar a criação de PSFs nas zonas rurais evitando o deslocamento de pacientes até as cidades. A busca de um hospital regional em nossa região será uma das nossas bandeiras. Precisamos evitar que pacientes se desloquem para grandes centros em busca de saúde., e que muitas vezes não são atendidos por superlotação.
Pretendemos incentivar o nosso povo a cobrar dos seus vereadores, prefeitos, deputados, senadores, governador e presidente. Não adianta falar que o vale do Jequitinhonha é o “vale dos esquecidos”, quando não escolhemos os representantes de nossa própria região. É preciso exercermos a nossa cidadania votando, e também cobrando dos eleitos. E para isso conto com todos para fazermos um mandato participativo. Queremos ouvir de cada região as suas necessidades, para na medida do possível atender naquilo que precisam. Por exemplo: não adianta conseguir uma ambulância para uma cidade se naquela cidade eles já tem ambulância e na verdade precisam de uma máquina para conservar as estradas vicinais. Isso é participação popular, o nosso mandato será um mandato participativo.
No caso específico do campus da UFVJM em Capelinha, o deputado federal Reginaldo Lopes, que foi majoritário aqui no município, afirma que a unidade está assegurada no Plano Nacional de Educação, na Meta 12, que trata da expansão universitária. Ainda assim, o que o senhor acredita que deve ser feito para acelerar a implantação e como o senhor ajudará nisso?
O Reginaldo Lopes é um companheiro que lutou pela implantação da UFVJM no Vale e sempre estivemos juntos nessa luta desde o primeiro momento. Fomos em algumas reuniões em Brasília para reforçar essa luta. Com a reeleição da nossa Presidenta Dilma essa implantação, creio, se dará tão logo iniciarmos os nossos mandatos. Mas para isso os trâmites burocráticos devem ser respeitados. Mas assim como em Capelinha, as outras cidades sede devem continuar a luta pela implantação, porque somente com participação popular as conquistas são implementadas.
O fato de o senhor e o governador eleito Fernando Pimentel serem ambos do PT facilita as gestões junto ao governo do Estado? Como o senhor pretende trabalhar essa proximidade a favor do Vale?
Sim, facilita. Com o nosso Governador do mesmo partido aumenta essa interlocução pela luta para o reconhecimento do Vale do Jequitinhonha como uma importante região do estado. Passou da hora de apagarmos essa mancha de “vale da miséria” que nos deram. Somos uma região carente, sabemos disso, não queremos que tenham pena de nós, e sim respeito. Somos carentes sim, mas de políticas públicas voltadas para nossa região. Iremos apresentar as demandas de uma região, e não as demandas particulares de prefeitos, esses que nos deram as costas, e que utilizam dessas conquistas para o voto de cabresto. Independente se o prefeito nos apoiou, queremos o bem do povo, e não fecharemos as portas do nosso gabinete para nenhum prefeito, vereador e nem liderança política. Essa é a nossa forma de se fazer política, e sei que teremos problemas e descaso de alguns em entender isso.
O senhor também se posicionou favorável à descentralização do governo, conforme anunciou o governador eleito ainda na campanha. Em que essa medida poderia contribuir para a redução das desigualdades regionais em Minas, especialmente para o caso do Vale do Jequitinhonha? Como acredita que deve se dar essa descentralização? Por exemplo: a SEDVAN o e o IDENE, na opinião do senhor, devem ser instaladas onde e de que forma?
Sim. A SEDVAN é a Secretaria do Desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e do Norte de Minas e o IDENE é uma autarquia vinculada a essa secretaria, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e social das regiões Norte e Nordeste do Estado, formular e propor diretrizes, planos e ações, compatibilizando-os com as políticas dos Governos Federais e Estaduais. Porém o que nós vimos nos últimos anos foi o Vale do Jequitinhonha ficar à margem desse desenvolvimento. Não sei como o governador eleito Fernando Pimentel fará essa descentralização, mas acredito que ela será de extrema importância para o Jequitinhonha que é o foco principal do nosso futuro mandato. Mas creio que o governador Pimentel cumprirá sua promessa. No caso do Jequitinhonha seria interessante abrir diálogo com as lideranças do alto, médio e baixo. È preciso ouvir as demandas de cada região para apresentar as propostas ao futuro governador. E creio que nos próximos dois meses essas conversas serão colocadas e discutidas, inclusive se eu for convidado a contribuir terei o imenso prazer de levar ao governador as propostas dos nossos prefeitos, vereadores e lideranças. Somos um vale só, mas as demandas de cada região são diferentes das outras. Apesar das proximidades, o Jequitinhonha difere do Mucuri e do Norte de Minas.
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