Obras de arquitetura se deteriorando na terra de JK
Dalva Lages Ferreira, de 66 anos,
cresceu andando pelas ruas de capistranas (calçamento com grandes lajes de
quartzito) de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, declarada Patrimônio
Cultural da Humanidade. Ela adorava participar dos
bailes ao ar livre no Clube Social, inaugurado em 1950. Este foi o primeiro
projeto modernista assinado por Oscar Niemeyer em meio à arquitetura colonial
da terra de Juscelino Kubitschek.
Há mais de cinco décadas, Dalva frequenta outro imóvel projetado
em Diamantina por Niemeyer, que morreu no último dia 5, aos 104 anos. Ela foi
aluna, deu aulas e atualmente é supervisora na Escola Estadual Professora Júlia
Kubitschek.
Assim como o Clube Social, o prédio da instituição de ensino é
tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Mas a realidade dos dois espaços públicos é muito diferente.
Inaugurada em 1954,
a escola passou por pelo menos três reformas, a maior em
1987. Já o Clube Social é o retrato do abandono.
Incorporada a uma praça de esportes, a edificação teve os vidros originais
substituídos por paredes. Há fiação elétrica e ferragens expostas,
infiltrações, pichações e muito mato. As grades de proteção, no segundo piso,
estão retorcidas.
De Gala
“Morava próximo ao clube e acompanhava as festas da sociedade diamantinense. Eram bailes de gala e eu gostava de desfilar entre as pessoas. Agora, está um horror. Temos que aproveitar esse momento para cobrar a revitalização desse patrimônio”, diz a supervisora escolar.
“Morava próximo ao clube e acompanhava as festas da sociedade diamantinense. Eram bailes de gala e eu gostava de desfilar entre as pessoas. Agora, está um horror. Temos que aproveitar esse momento para cobrar a revitalização desse patrimônio”, diz a supervisora escolar.
A principal marca de Niemeyer no imóvel são os arcos revestidos de
pastilhas, que dão sustentação à cobertura.
Após muito tempo abandonado, alvo de vândalos e servindo inclusive
como ponto de uso de drogas, o prédio do antigo clube passou a ser alugado pela
Prefeitura de Diamantina para o funcionamento de uma academia de ginástica.
“Quando chove forte, a laje encharca e dá muita goteira. Precisei mexer em toda
a rede elétrica e de esgoto”, afirma Adílson José Oliveira Horta, atual dono da
academia.
Ele coordena, no local, projetos sociais na área de esportes. “Se
não fosse a manutenção para o funcionamento da academia, as condições da
edificação estariam muito piores”, reconhece o engenheiro civil Carlos Emanuel
Lopes Ferreira, da Coordenadoria Municipal de Projetos.
Inveja
Na Escola Júlia Kubitschek, parte da fachada é de vidros. Há paredes vazadas, para a entrada de ar e iluminação, e a marquise cobre apenas a entrada do imóvel, tornando a fachada mais plástica. “Quando vim estudar aqui, aos 10 anos, fazia inveja em minhas irmãs, dizendo que eu era do Júlia e elas de outra escola. Era o sonho de toda criança na década de50” , lembra Dalva.
Na Escola Júlia Kubitschek, parte da fachada é de vidros. Há paredes vazadas, para a entrada de ar e iluminação, e a marquise cobre apenas a entrada do imóvel, tornando a fachada mais plástica. “Quando vim estudar aqui, aos 10 anos, fazia inveja em minhas irmãs, dizendo que eu era do Júlia e elas de outra escola. Era o sonho de toda criança na década de
Mudanças
Como funcionária, ela acompanhou algumas mudanças no prédio. Por causa de trincas e outros problemas estruturais, colunas tiveram de ser construídas dentro do imóvel.
Como funcionária, ela acompanhou algumas mudanças no prédio. Por causa de trincas e outros problemas estruturais, colunas tiveram de ser construídas dentro do imóvel.
Elas têm o formato oval, copiando as desenhadas pelo arquiteto no
projeto original, que também são revestidas de pastilhas. Banheiros viraram
sala de aula e outros foram construídos.
Para evitar acidentes, a rampa de acesso ao segundo andar ganhou
piso antiderrapante e grade de proteção. “As mudanças foram autorizadas pelo
Niemeyer”, afirma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário