É meu, é nosso, é deles
Guilherme Scalzilli*
Além da coerência administrativa, Dilma Rousseff demonstra habilidade política nas pressões para reduzir os custos da energia elétrica em certos estados.
Não obstante a necessidade de baixar os valores do insumo, entre os mais caros do mundo, a iniciativa representa um constrangimento inédito para a oposição. Esta não pode abrir mão de estruturas gigantescas e milionárias que sustentam exércitos de correligionários, mas tampouco possui argumentos técnicos para simplesmente abortar uma novidade que beneficiaria a população, a indústria, o comércio e o próprio crescimento econômico daquelas regiões.
Cada vez que a imprensa corporativa mexe nesse vespeiro, tentando desqualificar a medida, alimenta a imagem sabotadora das lideranças estaduais demotucanas e força reflexões indigestas sobre a privataria dos governos FHC. Discutir a renovação das concessões elétricas envolve pesar suas vantagens para o consumidor final, o que leva aos desrespeitos e abusos cotidianos praticados pelas outras empresas que receberam as mesmas prerrogativas.
O mínimo questionamento do processo de dilapidação do imenso patrimônio estatal brasileiro geraria armadilhas perigosas, especialmente para certos planos (re)eleitorais do ano que vem. Além disso, a mistura explosiva de oportunidade e interesse público pode abafar a costumeira pauta do temido apagão energético, que o noticiário só aborda quando carrega dimensões federais.
Se o assunto desaparecer de repente, já sabemos o motivo.
* Historiador e escritor. Colabora com a revista Caros Amigos, o Le Monde Diplomatique, o Observatório da Imprensa, o suplemento literário Rascunho e outros veículos.
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