por marcelo.bechler
Elitismo, segregação, europeização, etc. Não são poucos os termos para a medida do Cruzeiro em estipular 50 reais para o valor mínimo de ingresso nos jogos do novo Mineirão. Não está certo e por uma série de fatores. Por ignorar uma massa importante de torcedores e também por não perceber que o estádio ficará vazio porque muita gente vai preferir pagar uma mensalidade inteira de pay-per-view do que assistir a um único jogo – a não ser que seja um grande jogo, o que se pode contar nos dedos durante o ano.
Contar com um programa forte de sócios como faz o Internacional é uma ótima jogada. Aquele torcedor fidelizado, que paga mensalidade, leva vantagem sobre os demais. Seja em prioridade para adquirir ingressos (caso haja mais sócios do que lugares no estádio), seja em descontos e promoções do clube. Priorizar o sócio não pode ser esquecer os demais, pelo simples fato de ser jogar contra o patrimônio.
Além disso, há erro do ponto-de-vista prático. O Mineirão terá capacidade para 65 mil pessoas. A média de público máxima do Cruzeiro em um Campeonato Brasileiro foi de 31.686, em 1979. No ano que foi campeão, em 2003, 26.109 torcedores por jogo em média . Ou seja, metade do estádio fica ociosa durante uma competição de 19 jogos (como mandante). Se formos levar em consideração que o Campeonato Mineiro é bem menos atrativo, a inatividade é ainda maior. Não é todo ano que tem Libertadores e nem assim o Mineirão fica sempre cheio no torneio.
Entender que o estádio é maior do que a demanda para a maioria dos jogos é fundamental para se reduzir os espaços vazios. O São Paulo criou em 2012 um espaço “popular” no Morumbi. Dez mil lugares com ingressos a 10 reais cada – o ingresso mais barato custava então 30 reais. A ação coincidiu com a boa fase do time e o clube terminou o Brasileiro com a segunda melhor média de público, e a quarta melhor de renda, da competição.
É fácil pensar que o Mineirão estará lotado em um Cruzeiro x Atlético, ou uma final de Copa do Brasil ou Libertadores. Para que isso aconteça, o clube só precisa ter o trabalho de chegar até a decisão e o público vai naturalmente. Convencer o torcedor a assistir a um Cruzeiro x Democrata, Cruzeiro x Ponte Preta quando um for o sétimo e o outro o 13º da tabela.
A diretoria acredita que pode faturar 20 milhões por ano com o estádio. É ótimo. Mas vai ganhar isso com no máximo “meio” Mineirão. Imagina se trabalhasse por um Mineirão inteiro? E o que vai perder? De apoio, de torcedores que gostam e não vão poder ir ao estádio, de gente que vai olhar o clube de coração de baixo para cima devido à condição financeira? Não entra no balanço, mas entra na conta. E deveria ter sido levado em consideração.
Publicado no Blog do Marcelo Bechler
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