A Polícia Federal cumpriu nesta quarta-feira, 06.12, oito mandados de condução coercitiva e 11 mandados de busca e apreensão numa operação contra suposto desvio de recursos da construção do Memorial da Anistia Política do Brasil, financiado pelo Ministério da Justiça e executado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Entre os alvos de condução coercitiva estão o reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramírez (foto), a vice-reitora, Sandra Regina Almeida, além do ex-reitor Clélio Campolina e da ex-vice-reitora Heloisa Starling, coordenadora do projeto ligado ao Memorial.
Caso ocorre pouco tempo depois da operação da PF que levou ao suicídio do reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier.
Segundo informações divulgadas pela PF, teriam sido gastos mais de R$ 19 milhões na construção e pesquisas de conteúdo para a exposição, mas o único produto aparente é um dos prédios anexos – ainda inacabado.
"Do total repassado à UFMG, quase R$ 4 milhões teriam sido desviados por meio de fraudes em pagamentos realizados pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) – contratada para pesquisas de conteúdo e produção de material para a exposição de longa duração", informou a PF por meio de nota.
Caso ocorre pouco tempo depois da operação da PF que levou ao suicídio do reitor da UFSC Luiz Carlos Cancellier.
Idealizada em 2008, a fim de preservar e difundir a memória política dos períodos de repressão, a obra foi financiada pelo Ministério da Justiça e executada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
A obra seria feita a partir da reforma do Coleginho, na antiga FAFICH, na UFMG, localizado na Rua Carangola, no bairro de Santo Antônio, em Belo Horizonte. Nele seria instalada uma exposição de longa duração, com obras e materiais históricos. Estava prevista também a construção de dois prédios anexos e uma praça de convivência.
De acordo com a PF, mais de R$ 19 milhões já teriam sido gastos na construção e em pesquisas de conteúdo para a exposição. No entanto, acrescenta a PF, até o momento apenas a obra referente a um dos prédios estaria sendo feita e, mesmo assim, estaria inacabada. Ainda segundo os investigadores, quase R$ 4 milhões teriam sido desviados por meio de fraudes em pagamentos feitos pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), que foi contratada para fazer os estudos de conteúdo e a produção de material para a exposição.
Segundo a PF, os desvios já identificados ocorreram por meio do pagamento a fornecedores sem relação com o escopo do projeto e de bolsas de estágio e de extensão. Na nota, a PF informa haver a expectativa de que o montante desviado seja ainda maior, a partir das análises que serão feitas nos materiais apreendidos e dos interrogatórios a serem feitos com os suspeitos de envolvimento no caso.
O nome da operação foi inspirado no trecho da música "O Bêbado e o Equilibrista", de João Bosco e Aldir Blanc, que é considerada o hino dos anistiados.
Em nota, a PF informou que 84 policiais, 15 auditores da Controladoria-Geral da União e dois do Tribunal de Contas da União estão cumprindo oito mandados judiciais de condução coercitiva e 11 mandados de busca e apreensão.
Protestos contra arbitrariedade
De todo o país, várias manifestações de protesto conta ação da Polícia Federal são divulgadas pelas redes sociais.
Em Belo Horizonte, toda a comunidade universitária e a população de BH está sendo convocada para manifestação de protesto, em frente à sede da Polícia Federal, na Rua Nascimento Gurgel, 30, no bairro Gutierrez, na região sul da Capital.
Uma manifestação de solidariedade está sendo formanda no campus da UFMG, na Pampulha, na porta do prédio da Reitoria.
Às 14 horas, haverá uma entrevista coletiva, na Assembléia Legislativa de Minas, com representantes da UFMG. Talvez, com presença do próprio Reitor e vice-reitora, além de outros diretores da universidade.
A ditadura ataca agora a UFMG, por Luis Nassif
QUA, 06/12/2017 - 10:06, jornalggn.com.br
ATUALIZADO EM 06/12/2017 - 10:20
A notícia, agora de manhã, de que a Polícia Federal invadiu a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) levando em condução coercitiva o reitor e a vice-reitora, em uma operação sintomaticamente denominado de “Esperança Equilibrista”, comprova o avanço político do estado de exceção.
A operação visa apurar desvios no Memorial da Anistia, construído pela UFMG.
Assim como no caso da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) repete-se a combinação de PF, Controladoria Geral da União (CGU) e Tribunal de Contas da União (TCU).
Há anos o Memorial padece de problemas burocráticos.
Problemas administrativos, que demandam análises administrativas, são transformados em casos policiais, para que se infunda o terror nas universidades, último reduto da liberdade de pensamento no país, depois que a Lava Jato se incumbiu de desmontar o PT e a reforma trabalhista investiu contra as centrais sindicais.
A história do Memorial é bonita.
Todo o país que passou por ditaduras tem movimentos emblemáticos representando a luta contra a repressão. O Brasil teve mais de 50 mil pessoas anistiadas, reconhecidas como perseguidas pela ditadura e não tinha nenhum monumento.
A Comissão de Anistia, quase dez anos atrás, lançou o projeto de Memorial da Anistia, com verbas do Ministério da Justiça e parceria com UFMG. A ideia seria reformar o Coleginho e ali fazer uma exposição permanente. E, ao lado, um prédio para ser o acervo da Comissão de Anistia.
Os problemas ocorreram quando se analisaram as condições do Coleginho, cuja estrutura, antiga, não suportaria as reformas. Foi planejado, então, a construção de um prédio ao lado, que abrigaria o acervo e a própria Comissão de Anistia.
Os valores, de R$ 19 milhões, eram perfeitamente compatíveis com a nova estrutura proposta. Foram abertas três sindicâncias, no Ministério da Justiça, do Ministério Público Federal e na própria UFMG apenas para apurar se houve imperícia no projeto para o Coleginho, que não levou em conta suas condições.
Com o impeachment, não houve sequer nomeação do novo presidente da Comissão de Anistia, e as obras foram paralisadas.
Este ano, foi realizada uma audiência pública em Belo Horizonte, na qual se solicitou à UFMG que terminasse o projeto. E foi recusado pela óbvia falta de verbas que assola as universidades federais.
A invasão da UFMG e a condução coercitiva de oito pessoas mostram três coisas.
A primeira, é que não há um fato apurado e um suspeito preso. Monta-se o velho circo de prender várias pessoas, infundir terror na comunidade, e obter confissões sabe-se lá por quais métodos. A segunda é que a morte do reitor da UFSC não mudou em nada os procedimento.
Têm-se uma PF incapaz de solucionar o caso do helicóptero transportando 500 quilos de cocaína, soltando o piloto e liberando o veículo em prazo recorde e, agora, a investida política contra a segunda universidade. A terceira, é que o nome dado à operação – “Esperança Equilibrista” – é claramente uma provocação aos setores de direitos humanos.
Esse monstro está sendo diretamente alimentado pelo Ministro Luís Roberto Barroso, do STF, que se transformou no principal inspirador da segunda onda repressiva dos filhotes da Lava Jato.
Vamos ver quem são as vozes que se levantarão para denunciar mais esse ataque.
A força policial invadiu a sala da vice-reitora. Quando outros professores chegaram lá, aboletada na cadeira da vice-reitora estava uma corregedora da CGU, como se fosse a nova dona do pedaço.
Faltou uma foto para documentar a extensão do arbítrio.
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