Resquícios de casa de fundição que funcionou no século 18 foram encontrados no “quintal” do hospital
A Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Minas Gerais promete concluir, em até 90 dias, uma análise arqueológica que pode desemperrar a ampliação da Casa de Caridade Santa Tereza, no Serro, região do Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais. O único hospital da cidade sofre com o impasse entre história e progresso, pois a ampliação da unidade esbarra em vestígios arqueológicos descobertos no entorno.
Para a gestão do município, o aval para a construção de quatro apartamentos de internação (particulares e conveniados) e 15 leitos (para o Sistema Único de Saúde) seria o presente de aniversário da cidade, que faz 300 anos hoje.
O projeto de reforma tem recursos assegurados (R$ 600 mil), tinha autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e estava praticamente aprovado pelo Iphan até a intervenção da Secretaria de Estado de Casa Civil e Relações Institucionais, solicitando o estudo arqueológico.
A superintendente do Iphan em Minas, Michele Arroyo, diz que vai agilizar a análise, em vista da importância da obra – o hospital atende a moradores de pelo menos dez cidades. “Os vestígios, que provavelmente são da construção original, uma casa de fundição, serão analisados no contexto do patrimônio, de forma a compatibilizar a intervenção com a preservação”, afirmou.
A boa notícia é que o processo pode ser mais rápido porque o edifício não tem tombamento isolado, apenas proteção dentro do Conjunto Arquitetônico e Urbanístico do Serro, protegido pelo Iphan em 1938.
Obras urgentes
Segundo o secretário de Saúde do Serro e ex-presidente do hospital, Adelmo Batista Lessa, a ampliação, que seria no “quintal” da unidade e, portanto, não afetaria o sítio arqueológico, poderia aumentar a capacidade de cirurgias realizadas mensalmente de 80 para 100. São procedimentos ortopédicos, ginecológicos e gerais.
Ele teme que o atraso tire a reforma da pauta de investimentos da mineradora responsável (trata-se de uma medida compensatória) e que se percam os recursos.
“Nossa população está ansiosa pela obra e prejudicada com o atraso e a burocracia”, salienta o prefeito Epaminondas Pires de Miranda.
História preservada
A secretária de Casa Civil e de Relações Institucionais, Maria Coeli Simões Pires, que encaminhou o pedido do estudo arqueológico, reconhece a necessidade de ampliação do hospital, mas ressalta a importância da cautela para preservação do patrimônio histórico tombado, o que não necessariamente impede as obras estruturais na unidade.
A pesquisadora Laís Ottoni Barbosa Ferreira foi quem encontrou os vestígios, “um monte de pedras cobertas de mato”, há 15 anos, tenta uma licença para a construção de um sítio arqueológico numa parte do terreno que não prejudique a expansão do hospital.
“Ainda podemos encontrar por lá antigas fornalhas, instrumentos enterrados ou até resquícios de ouro”, ressalta Laís, que é da família do proprietário da antiga Casa de Fundição.
Exploração do ouro
- A Casa de Caridade Santa Tereza funciona há mais de cem anos na antiga Casa de Fundição do Serro, datada do século 18.
- As casas de fundição foram as mais antigas repartições destinadas à arrecadação de tributos sobre a exploração do ouro. O trabalho delas consistia em recolher o metal dos exploradores, purificá-lo, retirar o quinto e transformar em barras com a identificação “ouro quinhado”.
- Com a decadência do ouro em fins do século 18 e início do 19, as fundições foram abolidas. Oficialmente, foram extintas em 1834.
- A Casa de Fundição do Serro pertenceu inicialmente a Manuel Vieira Ottoni, antigo oficial da casa de fundição da Vila do Príncipe (nome do então povoado em 1714), que se tornou o patriarca da influente família Ottoni.
Fonte: Jornal Hoje em Dia
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