BrazilFoundation apoia projetos sociais ligados à educação, saúde, direitos humanos
Desde 2000, mais de US$ 25 milhões já foram investidos em 350 ONGs em todo o país
o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica, de Turmalina, realiza ações de agricultura orgânica e organizações comunitárias de agricultores familiares, em 7 municípios do Vale do Jequitinhonha.
Celina Aquino Publicação: 31/12/2013 , no jornal Estado de Minas.
Leona Forman nasceu na China, em uma família russa, e aos 13 anos se mudou para o Brasil fugindo da Revolução Chinesa. Aqui ela ganhou cidadania, teve a oportunidade de estudar e se casou com o norte-americano com quem vive nos Estados Unidos. Em seu aniversário de 60 anos, a jornalista, que trabalhou por 20 anos na Organização das Nações Unidas (ONU), decidiu fazer algo pelo país que a acolheu. Leona reuniu 17 pessoas em sua casa, em Nova York, e propôs uma parceria. Assim surgiu a BrazilFoundation, com sede no Rio de Janeiro, que há 13 anos começou a arrecadar fundos para apoiar ações sociais em todos os cantos do país. Desde então, somam-se mais de U$ 25 milhões investidos em 350 organizações brasileiras sem fins lucrativos.
Por ano, a BrazilFoundation aposta em cerca de 30 projetos ligados a cinco áreas: educação, saúde, direitos humanos, cidadania e cultura. A intenção é contribuir para o desenvolvimento social do país e melhorar a qualidade de vida das comunidades. Mais de 70% do dinheiro é doado por brasileiros que moram nos Estados Unidos. Em contrapartida, eles recebem incentivo fiscal.
“Descobri um lado do Brasil que eu não conhecia. Há ideias extremamente inovadoras e pessoas brilhantes em lugares remotos fazendo trabalhos espetaculares”, comenta a presidente e diretora-executiva da BrazilFoundation, Patricia Lobaccaro. A arquiteta, de 43 anos, que vive em Nova York, juntou-se ao grupo inicial de voluntários em 2002. Para ela, o balanço do trabalho de mais de uma década, presente no livro recém-lançado Brasil – 10 anos, uma ideia, muitas histórias, é muito positivo. Mais de oito mil projetos participaram dos editais lançados anualmente pela fundação, sendo que cerca de 300 deles receberam ajuda técnica e financeira. “Tem sido uma experiência extremamente rica. Só de mudar a vida de uma pessoa já teria valido a pena. Ainda temos muito para caminhar, mas conseguimos plantar a semente de solidariedade em brasileiros que moram fora do Brasil.”
TIJOLOS ECOLÓGICOS
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, uma iniciativa que facilita o acesso da população em vulnerabilidade social à casa própria chamou a atenção da equipe da BrazilFoundation. Fundada há 20 anos, a organização não governamental (ONG) Ação Moradia mantém uma fábrica de tijolos ecológicos, empreendimento solidário comandado basicamente por mulheres. As operárias vendem o material e dividem o dinheiro. Além disso, elas têm a possibilidade de erguer a própria casa a partir da tecnologia que permite a construção de moradias de baixo custo.
“Um dia, vou lhe dar uma casa”, dizia para a filha a auxiliar de serviços gerais Maria Santana de Lima, de 41 anos. A menina chorava sempre que ouvia os colegas rindo do pequeno lugar onde a família morava: a mãe e os três filhos viviam em dois cômodos. A baiana trabalhou por cinco anos na fábrica de tijolos ecológicos, juntando terra, cimento e água, e conseguiu produzir seis mil unidades para construir a nova casa, que ficou pronta em três meses. A Ação Moradia custeou a mão de obra para levantar o imóvel, com dois quartos, e a filha casada se mudou para a antiga casa. “Tenho muito orgulho de ter tido coragem de enfrentar o trabalho da fábrica, que não é fácil. A casa ficou do jeito que sonhei. Agora falam que é a mais bonita da rua”, conta Maria Santana, que atualmente trabalha na limpeza da ONG.
A Associação de Paraplégicos de Uberlândia (Aparu) também se beneficiou de dinheiro arrecadado nos Estados Unidos. Entre as missões da ONG fundada em 1979 para defender os direitos das pessoas com deficiência está a inclusão no mercado de trabalho. Com o projeto Qualificando para Empregar, os voluntários conseguiram o incentivo da BrazilFoundation há 10 anos para oferecer na própria sede curso básico de português, matemática, línguas e informática e de qualificação profissional em gestão, informática e atendimento a clientes, com duração de seis meses. O projeto ganhou visibilidade, recebeu o apoio de empresas privadas e foi copiado por ONGs em São Paulo e Rio de Janeiro.
A partir daí, a Aparu criou um banco de emprego para atender a demanda das empresas. Os cursos agora são realizados em parceira com o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “A procura é muito grande devido às cotas que precisam ser cumpridas. De outubro a dezembro 50 pessoas foram inseridas no mercado de trabalho. Apesar da limitação, eles percebem que têm potencial para concorrer de igual para igual a uma vaga em termos de conhecimento. Basta encontrar a função adequada”, comenta a assistente social Denise Maria Resende Faria, de 59, ex-presidente da ONG, que tem um encurtamento na perna direita. Mas ela acredita que ainda falta ver mudança de atitude. Com o projeto “Vivenciando a deficiência”, gestores e funcionários das empresas têm um dia a dia como uma pessoa com limitação para entender quais são as dificuldades. Para o ano que vem, o plano é descobrir onde estão os alunos que integraram as turmas apoiadas pela BrazilFoundation.
PRODUTOS ORGÂNICOS
Feijão, arroz, mandioca, limão e laranja. O agricultor Vicente de Paulo Maciel, de 56, planta de tudo um pouco em suas terras em Veredinha, no Vale do Jequitinhonha. Com o apoio do Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV), outra entidade sem fins lucrativos apoiada pela BrazilFoundation, ele aumentou a produção e a qualidade dos produtos.
“É muito bom ter acompanhamento técnico para produzir mais e melhor com defensivos naturais. Já não gostava de nada químico, hoje prefiro perder a plantação para os insetos a salvá-la com os agrotóxicos”, diz o vice-presidente e um dos fundadores da Associação dos Agricultores Familiares Feirantes de Verdinha (Afave), criada ha três anos. A colheita cresceu 60% e Vicente conta que hoje consegue oferecer nas feiras realizadas aos sábados alimentos até com melhor aparência dos que são produzidos pela Ceasa e abastecem o mercado da cidade. Ao mesmo tempo, a comunidade recebeu incentivo para consumir produtos orgânicos. No fim, todos ganham.
As 120 famílias associadas à Afave se beneficiam de um fundo rotativo para investir na lavoura. Vicente, a mulher e dois dos seis filhos já usaram o dinheiro para instalar caixa-d’água e comprar esterco.
Além de expandir o trabalho e usar a tecnologia para aproximar doadores de beneficiados, a BrazilFoundation planeja para os próximos 10 anos fazer com que experiência seja ainda mais abrangente. “Na primeira década, fomos capazes de identificar centenas de projetos e ótimos exemplos de organização. Agora nos perguntamos como ajudá-los a ganhar mais influência nas políticas públicas e ir além”, adianta a presidente e CEO Patricia Lobaccaro.
Oportunidade para o ano que vem
A BrazilFoudation recebeu até 24 de janeiro as inscrições de entidades sem fins lucrativos interessadas em receber apoio financeiro em 2014. Ficha de inscrição e projeto devem ser enviados por e-mail à equipe no Rio de Janeiro. Em torno de 50 ONGs com as melhores propostas serão visitadas e critérios como a legitimidade da organização, comprometimento da liderança e impacto do projeto na comunidade serão considerados. Cada entidade receberá até R$ 40 mil. A BrazilFoundation não apoia pessoa física. A organização, que pode ser associação, cooperativa, coletivo, instituto ou fundação, deve ser juridicamente constituída no papel. O edital completo está disponível no site www.brazilfoundation.org.
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