Não precisava ser gênio para perceber que a ação da PM paulista, mais uma vez, politizaria os rolezinhos. Bastava um olhar atento.
Aqui em BH, os "meninos de junho" acabam de fazer um convite público para o encontro dos protagonistas da periferia com eles, no próximo sábado. A convocatória ilustra esta nota (postada no Facebook).
A equação é simples. Todo agrupamento social possui um amálgama interno, uma identidade afetiva que gera alta coesão. Algo como a formação de um corpo único, onde a noção de individualidade se confunde com as próprias regras de convivência interna, valores, formas de se comportar e vestir. A coesão ainda é maior quando o grupo se forma a partir do sentimento de distinção social e discriminação. A dinâmica interna forja a identidade coletiva e qualquer ataque externo fortalece ainda mais a unidade do corpo grupal. Atacar qualquer um de seus membros sem qualquer justificativa razoável é atacar o grupo todo. Se o ataque for à base dos valores e crenças do grupo, aí a reação se torna mais poderosa.
A PM alimentou esta reação em cadeia em junho do ano passado. Agora, repete o erro grosseiro. Só que, agora, soma dois polos de reação juvenil: os instruídos universitários de classe média e os adolescentes discriminados das periferias dos grandes centros urbanos.
Nem o movimento estudantil dos anos 1960 teve tal potencial de articulação.
A PM, assim, vai se tornando o maior alimento para uma grande articulação jovem, cuja identidade é o protesto contra a discriminação e a coação (que, agora, já se transforma em coerção).
São elementos básicos de compreensão da dinâmica grupal que inexistem na cultura policial e, parece, na formação da maioria dos nossos governantes.
Enfim, a ação da PM brasileira vai consolidando um consenso importante no Brasil sobre seu modus operandi. Age no diapasão da violência que deveria evitar.
Sejamos francos: a barbárie não é marca dos rolezinhos.
Publicado por Rudá Ricci, cientista político, diretor do Instituto Cultiva, no seu Blog.
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