“Globo versus Receita, escândalo dentro de outro”
TV Globo sonegou R$ 1 bilhão, mas processo sumiu na Receita Federal
“É abjeto o silêncio da mídia, dos políticos e do governo num caso tão extraordinário. A tarefa de lutar por um Brasil melhor, neste caso, está limitada, até aqui, a esforços épicos de blogues independentes. Os fatos são espetaculares. Vejamos.
Por Paulo Nogueira, no “Diário do Centro do Mundo”
A Receita, como primeiro noticiou o blog “O Cafezinho”, flagrou a “Globo” numa trapaça fiscal. Documentos vazados por uma fonte da Receita mostram que a “Globo” tratou a compra dos direitos da Copa de 2002 como se fosse um investimento no exterior para fugir aos impostos brasileiros.
Isso se chama sonegação. E sonegação é corrupção.
A empresa se utilizou, na manobra, de um paraíso fiscal, recurso predileto de sonegadores no mundo todo. Não à toa, os governos dos países adiantados decidiram impor um cerco terminal aos paraísos fiscais, porque o dinheiro sonegado destrói a saúde dos cofres públicos e impõe uma injustiça monstruosa à sociedade.
Emdinheiro de 2006, a “Globo” devia 615 milhões de reais à Receita. Isso são seis vezes o que a “Globo” definiu como “o maior caso de corrupção da história do Brasil, o Mensalão”.
Pressionada, a “Globo”, depois de tergiversar, admitiu que tivera sim problemas com a Receita. Mas jamais mostrou o DARF, o recibo, para comprovar que acertara as contas.
Se o enredo já não fosse sensacional, entrou depois em cena a notícia – confirmada – de que uma funcionária da Receita tentara fazer desaparecer a documentação do caso.
Uma história fiscal passou a ser policial também.
A funcionária escapou da prisão graças a um habeas corpus de Gilmar Mendes. Para quem ela trabalhara? Teoricamente, basta buscar na lista dos beneficiários de um eventual sumiço.
Não são tantos assim.
Estranhamente, ou não estranhamente, pensando bem, a mídia corporativa – que tem exércitos de repórteres – não fez o menor esforço para encontrar a funcionária e tentar esclarecer um caso de dimensões extraordinárias.
Isso atesta a miséria do jornalismo investigativo nacional.
Cenas bizarras vão aparecendo: um advogado da “Globo” disse não se recordar do caso, como se estivesse falando da conta de um restaurante.
Um repórter do UOL [do grupo tucano “Folha”] entrou no caso, provavelmente sem conhecimento dos donos, extraiu da “Globo” a admissão da multa e sumiu exatamente no momento em que conseguira mostrar que tinha uma grande história.
O UOL – da “Folha”, sócia da “Globo” no jornal “Valor” – não deu mais nada. O mesmo comportamento teve seu irmão, a “Folha”, que estampa na primeira página a informação de que é “um jornal a serviço do Brasil”[sic].
Sim, “a serviço do Brasil” – mas desde que isso não signifique investigar a “Globo”.
Fora todos os fatos comprovados, há especulações eletrizantes.
Exemplo: a justiça suíça, ao denunciar no ano passado a rede de propinas comandada por João Havelange e Ricardo Teixeira, denunciou a propina milionária paga num paraíso fiscal para Havelange, para que garantisse a uma emissora de televisão [?] que a FIFA venderia a ela, e não à concorrência, os direitos da Copa de 2002.
Quanto a “Globo” ganha com futebol é uma enormidade: em 2012, foram vendidas seis cotas a patrocinadores por 174 milhões cada. Isso dá mais de 1 bilhão de reais.
O tamanho do negócio do futebol justificaria qualquer coisa?
Essa é uma das questões que deveriam estar sendo discutidas publicamente, num regime de transparência urgente, dado o torrencial interesse público do caso.
Mas não.
Há um silêncio abjeto que paira sobre esse escândalo – exceto pela luta heroica e solitária dos bravos Davis da internet contra o Golias e seus amigos, ou cúmplices, se você quiser.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, no “Diário do Centro do Mundo” (título original "Globo versus Receita: um escândalo dentro do escândalo"; alterado pelo portal “Vermelho”na sua transcrição) (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=218444&id_secao=1).
Isso se chama sonegação. E sonegação é corrupção.
A empresa se utilizou, na manobra, de um paraíso fiscal, recurso predileto de sonegadores no mundo todo. Não à toa, os governos dos países adiantados decidiram impor um cerco terminal aos paraísos fiscais, porque o dinheiro sonegado destrói a saúde dos cofres públicos e impõe uma injustiça monstruosa à sociedade.
Em
Pressionada, a “Globo”, depois de tergiversar, admitiu que tivera sim problemas com a Receita. Mas jamais mostrou o DARF, o recibo, para comprovar que acertara as contas.
Se o enredo já não fosse sensacional, entrou depois em cena a notícia – confirmada – de que uma funcionária da Receita tentara fazer desaparecer a documentação do caso.
Uma história fiscal passou a ser policial também.
A funcionária escapou da prisão graças a um habeas corpus de Gilmar Mendes. Para quem ela trabalhara? Teoricamente, basta buscar na lista dos beneficiários de um eventual sumiço.
Não são tantos assim.
Estranhamente, ou não estranhamente, pensando bem, a mídia corporativa – que tem exércitos de repórteres – não fez o menor esforço para encontrar a funcionária e tentar esclarecer um caso de dimensões extraordinárias.
Isso atesta a miséria do jornalismo investigativo nacional.
Cenas bizarras vão aparecendo: um advogado da “Globo” disse não se recordar do caso, como se estivesse falando da conta de um restaurante.
Um repórter do UOL [do grupo tucano “Folha”] entrou no caso, provavelmente sem conhecimento dos donos, extraiu da “Globo” a admissão da multa e sumiu exatamente no momento em que conseguira mostrar que tinha uma grande história.
O UOL – da “Folha”, sócia da “Globo” no jornal “Valor” – não deu mais nada. O mesmo comportamento teve seu irmão, a “Folha”, que estampa na primeira página a informação de que é “um jornal a serviço do Brasil”[sic].
Sim, “a serviço do Brasil” – mas desde que isso não signifique investigar a “Globo”.
Fora todos os fatos comprovados, há especulações eletrizantes.
Exemplo: a justiça suíça, ao denunciar no ano passado a rede de propinas comandada por João Havelange e Ricardo Teixeira, denunciou a propina milionária paga num paraíso fiscal para Havelange, para que garantisse a uma emissora de televisão [?] que a FIFA venderia a ela, e não à concorrência, os direitos da Copa de 2002.
Quanto a “Globo” ganha com futebol é uma enormidade: em 2012, foram vendidas seis cotas a patrocinadores por 174 milhões cada. Isso dá mais de 1 bilhão de reais.
O tamanho do negócio do futebol justificaria qualquer coisa?
Essa é uma das questões que deveriam estar sendo discutidas publicamente, num regime de transparência urgente, dado o torrencial interesse público do caso.
Mas não.
Há um silêncio abjeto que paira sobre esse escândalo – exceto pela luta heroica e solitária dos bravos Davis da internet contra o Golias e seus amigos, ou cúmplices, se você quiser.”
FONTE: escrito por Paulo Nogueira, no “Diário do Centro do Mundo” (título original "Globo versus Receita: um escândalo dentro do escândalo"; alterado pelo portal “Vermelho”na sua transcrição) (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=218444&id_secao=1).
Nenhum comentário:
Postar um comentário