sexta-feira, 26 de julho de 2013

Diamantina: Trabalho de adolescentes atrapalha sua formação profissional e cidadã

Adolescentes trabalham em situações perigosas na região de Diamantina

trabalho-infantil2O trabalho adolescente pressupõe 
a existência de condições adequadas 
para sua execução,como supervisão
e atividades que não sejam perigosas
ou insalubres, conforme definido em 
lei. No entanto,tese de doutorado 
defendida na Faculdade de Medicina 
da UFMG aponta uma realidade bem 
diferente desse ideal. O estudo, 
realizado em Diamantina, na Região 
do Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais, com 136 adolescentes entre 14 e 
19 anos, encontrou 44% dos jovens envolvidos em alguma ocupação 
perigosa.  “Todos se encontram em alguma situação de risco. 

O risco é inerente ao trabalho e pode ser minimizado, não anulado”, explica 
Christiane Motta, autora do estudo.

A pesquisadora, também professora de Enfermagem na Universidade Federal 
dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFJVM), identificou uma separação bem 
clara dos riscos entre os gêneros.“Os meninos foram mais suscetíveis aos riscos 
ergonômicos, como o uso constante de forma física e o trabalho repetitivo, 
enquanto as meninas sofreram mais com as características do ambiente, como 
poeira e pó, ventilação, mudanças de temperatura, umidade, barulho e contato 
com substâncias em alta temperatura”, aponta.

Essa separação é resultado do perfil de atividades desenvolvidas por cada gênero. 
Enquanto 37% dos meninos estavam empregados na construção civil, ramo mais 
representativo na amostra para este gênero, as meninas estiveram mais associadas 
ao trabalho doméstico 56%. Em ambos os sexos o comércio foi a segunda atividade 
com mais adolescentes empregados: 27% dos meninos e 25% das meninas.

Além dos riscos, a falta de supervisão e até mesmo a inadequação dos jovens para 
o tipo de serviço são problemas comuns. “As atividades desenvolvidas na construção 
civil apresentam risco ergonômico elevado, além de serem perigosas, sendo proibidas 
por lei de serem realizadas por adolescentes”, explica Christiane. “Já o trabalho 
doméstico inclui várias situações que contribuem para o desenvolvimento de diversas 
doenças ocupacionais e podem trazer risco de acidentes, como o contato com poeira 
e pó e o manuseio de substâncias em altas temperaturas”.

Incentivo
Apesar dos riscos identificados, Christiane destaca que o trabalho adolescente é 

incentivado pela sociedade. “Além da necessidade, a cobrança da família e o desejo 
de terem mais independência financeira são fatores importantes para o jovem decidir 
entrar no mercado de trabalho”, afirma. O fato de serem mão de obra mais
barata também contribui para o desejo dos empregadores de contarem 
com estes trabalhadores.

Segundo a pesquisadora, isso é reflexo de uma cultura que entende o trabalho 
precoce como importante elemento na formação da identidade, relacionando-se 
diretamente com um futuro promissor. “A sociedade ainda está presa à ideia 
de que se o adolescente começar a trabalhar cedo estará mais apto ao mercado 
de trabalho”, comenta. “Por outro lado, existem poucas iniciativas do governo 
que ofereçam alternativas,contribuindo para uma formação educacional de 
qualidade e a construção de uma visão política e social, cooperando com a formação 
profissional dos jovens e a inserção destes de forma produtiva e consciente no 
mercado de trabalho”.

Metodologia
A pesquisadora utilizou dados do cadastro familiar no Programa Saúde da 

Família para identificar os adolescentes trabalhadores, tanto na zona urbana quanto 
na zona rural. Visitas domiciliares foram realizadas para a aceitação e autorização 
de pais e adolescentes para a aplicação do questionário, o mesmo recomendado 
pelo programa de Atenção Integral à Saúde de Crianças e Adolescentes Economicamente 
Ativos do Ministério da Saúde.

Para este estudo, a autora dividiu as zonas urbana e rural de Diamantina em diferentes 
setores, de acordo com as equipes do programa Saúde da Família dedicadas a 
eles, para delimitar a região a ser trabalhada. Apenas dois setores, escolhidos 
por sorteio, foram visitados – um na zona urbana, outro na zona rural.

De acordo com Christiane, apesar deste estudo ter se concentrado na questão dos 
riscos a que estes adolescentes estão submetidos, o banco de dados montado 
inclui também informações que podem servirde base para vários outros estudos 
na área. “O questionário aplicado é bem abrangente, compreendendodados 
sociodemográficos, histórico ocupacional, características do ambiente de trabalho 
e o histórico desaúde ocupacional”, destaca.

Serviço
Título: Caracterização dos riscos laborais em populações de adolescentes 
trabalhadores
Nível: Doutorado
Programa: Saúde da Criança e do Adolescente
Autora: Christiane Motta Araújo dos Santos
Orientador: Alysson Massote Carvalho (Instituto Presbiteriano Gamon – 

Lavras/MG)
Coorientador: Tarcísio Márcio Magalhães Pinheiro
Defesa: 17/05/2013
Foto: http://caritas.org.br

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