CHICO CANOEIRO

por Deyse Magalhães Silveria, de Minas Novas

Na rua de Cima da cidade de Jequitinhonha mora um canoeiro.

Debaixo da lua clara, guiado por Deus e pelas estrelas, Seu Chico fazia a travessia de pessoas, de cargas e até boiada, tudo isso sobre as águas do Rio Jequitinhonha quando não havia estradas.Toucinho, panela de barro,arroz, rapadura. 

Ao longe se ouvia o canto dos canoeiros ecoar rio abaixo, rio acima, das toadas tiradas por eles,para espantar a saudade. Remando madrugadas afora, sol pelando durante o dia, chuva quando a chuva caía. Não tinha tempo ruim.Vinha cantando as "beira-mar".

Uns gritavam os outros.Quantas vezes já ajudou a socorrer muita canoa e escaler afundando.Lembra que uma vez grudou nos cabelos de uma mulher para salva-la.
O rio era a via para chegar em outros municípios. 

Conta que em seu escaler já carregou muitos doutores, padres, políticos, doentes, estudantes de canto a canto. O rio era muito veloz, lembra com saudades. 

-O senhor já viu o bicho da carneira ? perguntei sobre a lenda mais falada na região.
"Vixi! E muitas vezes, aqui todo mundo já viu o coisa ruim".

Um dia chegamos de viagem tarde da noite eu mais um outro canoeiro e como eu gostava muito de tomar uns "gulim" antes de ir pra casa paramos numa rancharia do outro lado da cidade. Quando olhei para o rio, vi um carneirão grande andando em cima das águas.Aí falei pro meu colega, olha lá fica quieto que é o bicho. La vem, lá vem, lá vem.Num mexe não.Nisso, o bicho saiu das águas passou entre nós dois e suverteu no meio do mato. Só sentí o corpo todo "arrupiano". Muitas vezes embarcava no escaler um homem e quando ele descia só via as berradas. Então a gente sabia que era ele.A gente já sabia comportar quando o bicho de Pedra Azul aparecia.

Falando nele, dizem que num passado distante havia uma senhora na cidade que criava um monte de gatos, a velha era parente do tal bicho e tinha que alimenta-lo com os gatos nas noites de lua cheia.

Se é verdade ou não ninguém sabe.

Me conta uma coisa seu Chico! O bicho ainda aparece por aqui?
"Ele sumiu há anos, deve que já completou o prazo dele por aqui, já pagou seus pecado, já comeu muita coisa. -Ainda bem!

Ninguém pode tirar do canoeiro as lembranças do pôr-do-sol, dos momentos em que viu os meninos se divertindo com a sua canoa, dos cantos saudosos, das praias, do sequeiro. "Tudo neste mundo é água! Toda vez que a água acaba, um pedaço da gente acaba também, nada produz..." 

E, também, ninguém pode trazer de volta o rio cheio de canoeiros. Ele ali, da janela,olhando o rio a secar, a ser engolido pelas mãos dos homem."Tinha muita praia bonita.

"Rio Jequitinhonha, tenho pena de te vê, eu vi tanto riacho e córrego jogando dentro dele e hoje quase nenhum cai em suas águas".

Ah canoeiro, vá remando suas dores navegadas pelos sonhos, vá canoeiro remando sua imaginação, contando as lendas e histórias retiradas das águas fundas do Jequitinhonha. Vaí canoeiro espantar a saudade de outrora, cantar outras cantigas, guardadas apenas na memória.

#MeuCaminhoPeloVale
#DeputadoDrJeanFreire # UmPénoParlamento #UmPéNaEstrada
Vale das minhas lendas! ValeEuAmoVocê