Muitos candidatos compram seu voto, através de negociações com líderes locais. Você pode não querer saber, mas seu voto foi vendido sem sua autorização.
Nas campanhas ricas, cada voto no Vale do Jequitinhonha fica entre R$ 50 e R$ 80.
As
eleições de 2014 estão tomando conta das
casas, ruas e comunidades do Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas
Gerais. Nunca se viu tanto movimento nos aeroportos de Diamantina, Capelinha,
Araçuaí, Salinas e Almenara. Os
candidatos de outras regiões descem dos seus aviões, encontram-se com líderes
políticos. Às vezes, em hotéis próximos ao Aeroporto como em Araçuaí, no Médio
Jequitinhonha, e fazem negociações políticas e econômicas para obter apoios
eleitorais e uma quantidade de votos suficientes para preencherem o que falta
para suas eleições.
Que
negociações são essas? O que, como e por quanto os votos são comprados no
mercado eleitoral? Quem vende e quem compra? Quais as garantias de entrega do
produto que sairá das urnas no dia 5 de outubro?
Você,
eleitor do Vale, deu procuração em branco, para negociar o seu voto?
Pois,
entenda um pouco, o que vem acontecendo.
O custo médio de uma campanha dos
candidatos às 77 vagas na Assembléia Legislativa e aos 53 cargos na Câmara
Federal é de R$ 2 milhões para estadual e R$ 3 milhões para federal, em cada
campanha.
Pelas prestações de contas oficiais,
o custo por voto é de R$ 22. Ou seja, um candidato a deputado estadual gastaria
cerca de R$ 1 milhão para obter 50 mil votos e ser eleito. Porém, o custo é
muito maior. Chega ao dobro, R$ 44 por voto.
“Não tem eleição sem dinheiro, nem
eleição só com dinheiro. Tem candidato que é eleito sem gastar muito, tem quem
é eleito gastando muito. Estamos avisando para os candidatos que a média de
gasto será de R$ 28 por voto para federal. Mas vai ter candidato que vai gastar
R$ 10 e outros que vão gastar muito mais que R$ 28”, diz o deputado federal e
presidente do PDT em Minas, Mario Heringer.
E quem financia toda campanha? Os
empresários que têm interesse em negócios com os governos ou querem eleger seus
representantes para aprovar leis que possam aumentar seus lucros. Por isso, e
por tantos outros motivos, a política virou um negócio.
O financiamento de toda campanha é
bancado por cerca de 85% de recursos vindos de empresas. Poucos fogem a esta
regra.
Quando um líder político local senta
com um candidato a deputado, sempre é pedido para a campanha um valor, outro
valor para algumas lideranças e outro para si mesmo. E assim é feito uma negociata, um comprando o
que ele não tem, pois o voto é do cidadão-eleitor. E o outro vendendo o que não
é dele. Assim acontece, ainda mais em
regiões pobres economicamente como os Vales do Jequitinhonha, Mucuri, Rio Doce e norte de
Minas.
Alguns candidatos oferecem de 50 a 80
mil para obter 1.000 votos, em uma determinada localidade. Os líderes gastam
menos da metade e embolsam o restante. No caso citado, o voto sairia por um
valor exorbitante: 50 a 80 reais cada. Se este valor é correto, um deputado
federal que obtivesse 100 mil votos estaria gastando entre R$ 5 a R$ 8 milhões
em sua campanha. Somente com as despesas locais de busca dos votos para caírem
na urna. Fora as despesas com serviços como assessoria, pesquisas, confecção de
materiais de propaganda, frete de aviões, automóveis, caminhões, trios elétricos.....
Ou seja, deputados que contratam muita gente, que colocam grande visibilidade
em suas campanhas, gastam mais de R$ 10 milhões nas suas campanhas.
Nas cidades do Vale corre à boca
pequena que um candidato-empresário de Governador Valadares estaria comprando
votos, oferecendo mais de R$ 60 mil para a realização da sua campanha para
obter 800 votos, em alguns lugares.
Outro candidato a deputado federal do
Vale do Mucuri apresenta uma campanha com grande visibilidade e contrata um
batalhão de garotas para convencer o eleitor, além de gastar milhões com o financiamento de seus líderes políticos e ações de compra de votos.
Quanto mais um candidato tem apoio de
prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e ex-vereadores, os chamados “políticos”,
mais ele gasta. São justamente os chefes políticos locais que se acham donos
dos votos dos cidadãos e “vendem” esta mercadoria que não é dele. Mas, acham
que é.
O ex-vereador de Berilo, Jovino de Lelivéldia, disse para quem quiser
ouvir que o eleitor não vota em deputado, vota no candidato da liderança local.
Então, quem tem o voto é o líder local. Com este raciocínio, em toda eleição ele
aparecia com um candidato a deputado e faturava com isso. Jovino apresentava ao
candidato a deputado o currículo de vereador bom de voto, sendo eleito por 5 vezes
consecutivas, sempre praticando corrupção, fazendo compra de votos.
Os candidatos que compram o seu voto,
intermediado pelo líder local, não o conhece e nem quer conhecer. Fazem acordos
suspeitos e nunca será um verdadeiro representante político seu, da sua cidade,
da sua comunidade e de todos os seus sonhos e desejos.
Mas, há campanhas com pouco dinheiro
e trabalho corpo-a-corpo no contato direto com o cidadão-eleitor. Estes
candidatos são aqueles que fazem campanha no contato direto, que só oferecem
uma logística para levar a sua mensagem, apresentar as suas propostas. Estas
campanhas têm um custo muito baixo, com os votos ficando de R$ 5 a R$ 10. As
campanhas destes candidatos a deputado estadual ou federal ficam entre R$ 200
mil a R$ 500 mil. A arrecadação se dá entre amigos e apoiadores que acreditam
nas propostas de seu representante. Destes, são poucos os que conseguem se
eleger, devido à compra direta e indireta do voto.
Então, caro eleitor, pense bem antes
de decidir em quem votar. Os candidatos que aparecem pela primeira vez na sua
cidade ou comunidade sem ter prestado serviços anteriores na região estão, com
certeza, a serviço de outros interesses e não os seus ou de seu povo.
Por tudo isso, é fundamental uma
reforma política em que todos os candidatos tenham as mesmas condições na
disputa eleitoral. O financiamento público das campanhas é uma grande solução.
Alguns dirão que não se pode gastar dinheiro público com eleições. Acontece que
quando as empresas financiam as campanhas elas cobram a fatura lá na frente e bem mais do que gastaram. Os
custos ficam muito mais altos. E assim, desencadeia um processo de corrupção. O
representante político não representa a população, mas os interesses de seus
financiadores. Assim surge o político corrupto e as empresas corruptoras.
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