terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Maioria dos prefeitos recém-empossados no país encontra caos nas prefeituras


Situação dramática nas cidades, realçada pela mudança de administração, vem desde o ano passado, quando a queda no repasse de recursos aos municípios afetou as contas de 97% deles


Carro do almoxarifado da Prefeitura de Carandaí totalmente sucateado (Leandro Couri/EM/D.A Press. Brasil)
Carro do almoxarifado da Prefeitura de Carandaí totalmente sucateado
O caos nas administrações encontrado pela grande maioria dos prefeitos recém-empossados no país e em Minas já estava anunciado desde o fim do ano passado, conforme levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM). Independentemente da existência de má gestão ou improbidade administrativa, a queda do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) gerou crise nos cofres de 97,37 % dos municípios em 19 estados, fazendo com que a bomba caísse no colo dos novos administradores. Ou seja, mais de 4 mil cidades tiveram que apertar os cintos para tentar equilibrar as contas, especialmente com redução das despesas de custeio, de investimento e do quadro de servidores.


O resultado foi a queda de qualidade dos serviços públicos, com a saúde sendo a área mais afetada, seguida do setor de transporte, considerados essenciais para a população. Segundo o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, a pesquisa revela a triste constatação do tamanho da crise. “Nada menos do que 4.038 municípios, ou 97,37% do total pesquisado, revelam a dificuldade dos gestores para encerrar seus mandatos sem descumprir o que determina a lei, principalmente a de Responsabilidade Fiscal”, justificou.

O levantamento da CNM, realizado no fim do ano, apontou também que o estado de Minas está inserido nessa triste realidade e, como a maioria dos municípios país afora, suas cidades não conseguiram escapar da crise, com a queda do FPM atingindo 686 municípios de um total 711 que responderam à pesquisa. Essa maioria absoluta em dificuldades financeiras pode ser demonstrada ainda pelo não pagamento do 13º por 681 cidades mineiras (veja quadro). “A deteriorização das contas municipais é uma questão estrutural que vem se aprofundando há décadas. Agora está insustentável e irrecuperável”, afirma Ziulkoski.

Norte a Sul
Mais um retrato do descaso na Prefeitura de Carandaí ( Leandro Couri/EM/D.A Press)
Mais um retrato do descaso na Prefeitura de Carandaí
Que o diga a população de várias cidades de Minas, de Norte a Sul, onde os moradores, sem esperança de dias melhores, apelam até mesmo para o presidente do Supremo Tribunal Federal (STJ), Joaquim Barbosa – relator do mensalão e conhecido nacionalmente no combate à corrupção –, como aconteceu em Santa Luzia, Região Metropolitana. A prefeitura da cidade estará fechada por 15 dias até que o prefeito Carlos Calixto tome pé da verdadeira situação das contas públicas. Também na RMBH, moradores de Matozinhos e Sabará se veem obrigados a aprender a conviver com montanhas de lixos que se formam há um mês. Em Carandaí, na Região Central, além dos rejeitos, a prefeitura acumula mais de R$ 2 milhões em dívidas, em razão de danos aos equipamentos e à sede da prefeitura.

O estudo da CNM, que foi apresentado aos novos gestores de 19 estados do país em diversos congressos, demonstrou que, ao apertar o cinto, pelo menos 3.210 cidades adotaram como medidas emergenciais a desativação de veículos e de equipamentos, sendo que o corte nas despesas de custeio foi a opção para 3.333 mil municípios. “No ano passado, estava previsto o repasse do FPM no valor global de R$ 77 bilhões, mas chegaram aos municípios apenas R$ 68 bilhões, quase dez a menos do que o previsto”, diz. 

No Norte de Minas, já castigado pela falta d’água, os moradores estão sendo sofrendo também com a falta de serviços públicos básicos, especialmente nos pequenos municípios. Em Japonvar, o prefeito Eraldino Soares de Oliveira (PP), o Dino, teve como primeiro ato a decretação de estado de emergência administrativa. Um dos mais setores mais afetados, além da limpeza pública, foi a saúde. As cinco unidades de pronto atendimento estão sem médicos, cujos contratos se encerraram ao fim da administração anterior. Diante desse quadro, Ziulkoski estima que nos próximos quatro anos poderá haver até 3 mil prefeitos fichas-sujas no país, diante da impossibilidade de cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal.

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