segunda-feira, 26 de março de 2018

Copa União dos Vales: Capivari goleia a Seleção de Angelândia e garante vaga na próxima fase

Em noite inspiradíssima do atacante Maike, que marcou três gols e participou de várias jogadas importantes, o Capivari de Capelinha, goleou a Seleção de Angelândia por 4 a 0 , garantindo a classificação antecipada para a próxima fase da Copa União dos Vales. 

A partida foi disputada no Estádio Municipal Newton Ribeiro, em Capelinha, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas, que contou com a participação de um bom número de torcedores, além da animada charanga da torcida organizada Tricoloucos.
O Capivari mandou na partida do início ao fim e até marcar o primeiro gol, aos 26 minutos de bola rolando, a equipe já tinha perdido algumas chances claras, na cara do goleiro adversário. Quem deixou o Bri em vantagem foi Maike, que após receber cruzamento do meia Mussum, bateu firme para os fundos das redes do goleiro Juninho.
O jogo continuou e o Bri manteve a pressão. Aos 38 minutos, Tomé cruzou para a área e, ao tentar tirar bola, o zagueiro Wesley cabeceou contra o próprio patrimônio, marcando gol contra e deixando a equipe capelinhense ainda mais tranquila. E assim terminou o primeiro tempo, 2 para o Capivari, 0 para a Seleção de Angelândia.
Capivari goleou Angelândia no Newton Ribeiro (Foto: Vicente Alves/Aconteceu no Vale)
Na volta dos vestiários, o Capivari manteve a mesma postura ofensiva do primeiro tempo e, aos 7 minutos, Maike recebeu livre no ataque, se livrou do goleiro e empurrou para o canto esquerdo do goleiro de Angelândia. Aos 13, da segunda etapa Maike marcou o terceiro dele e o quarto do Bri no jogo.
Logo em seguida, aos 15, o Capivari marcou o quinto gol, mas o árbitro Marco Polo Pereira assinalou impedimento. A equipe capelinhense ainda teve várias oportunidades de ampliar o placar no Newton Ribeiro, mas as finalizações, ou esbarraram no goleiro Juninho ou foram para fora.
Com a goleada por 4 a 0 sobre a Seleção de Angelândia, o Capivari manteve a liderança isolada do Grupo E com 11 pontos ganhos e está classificado por antecedência para a segunda fase da Copa União dos Vales. No próximo fim de semana, a equipe vai a Franciscópolis enfrentar a seleção local. O objetivo é voltar para casa com um resultado positivo e garantir a invencibilidade na competição.
Capivari goleou Angelândia no Newton Ribeiro (Foto: Vicente Alves/Aconteceu no Vale)

CAPIVARI 4 X 0 ANGELÂNDIA
Capivari: Jackson, Tomé, Léo (Silvinho), Felipe, Lontra, Mussum, Leandrinho, Vitor, Maike, Serguei (Di) e Peleleu (Sinvalinho). Técnico: Gé
Angelândia: Juninho, Rafinha (Claudionor), Wesley, Nena, Oseias, Thulio (Fabrício), Miller, Willian, Fernando (Liomar), Alex e Popó (Luiz Felipe). Técnico: Olívio
Gols: Maike (Capivari), aos 26 minutos do primeiro tempo; Wesley (Contra), aos 38 minutos do primeiro tempo; Maike (Capivari), aos 7 minutos do segundo tempo; Maike (Capivari), aos 13 minutos do segundo tempo;
Cartões amarelos: Léo, Peleleu e Serguei (Capivari); Miller e Willian (Angelândia)
Motivo: 5ª rodada do Grupo E da Copa União dos Vales
Estádio: Newton Ribeiro, em Capelinha (MG)
Data e horário: 24 de março (sábado), às 19h00
Árbitro: Marco Pollo Pereira
Assistentes: Willian Geraldo e Carllye Macedo

Resultados da rodada
Em Itaobim:
Pedra Verde 1
Poteense 0

Em Setubinha:
Setubinha 0
Ladainha 0

Em Capelinha:
Capivari 4
Angelandia 0

Em Teótilo Otoni:
Teofilo Otoni 1
Frei Gaspar 1

Em Pavão:
Juventude 1
Santa Luzia de Crisólita 2

Em Franciscópolis:
Franciscópolis 2
Atalanta de Malacacheta 5

Em Frei Gaspar:
Ouro Verde 1
Nacional de Campanário 2

Em Novo Oriente de Minas:
Rapido 3
Águas Formosas 0

Em Caraí:
Caraí 0
Juventus de Novo Cruzeiro 6

Por Vicente Alves , de Capelinha, no  Aconteceu no Vale.

Araçuaí: Jackson Martins completa 30 anos como produtor cultural de celebridades da MPB.

Ao longo desses anos, o Coiote, como é conhecido entre os amigos, vem produzindo shows de grandes nomes da Musica Popular Brasileira,por todo o país.

Foto: arquivo pessoalFilho de Araçuai completa 30 anos como produtor cultural de celebridades da MPB.
Jackson Martins,Renato Teixeira, Sérgio Reis e Almir Sater
  
Ele percorreu muitas estradas empoeiradas, silenciosas e longas. Saiu de Aracuai, no Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas, aos 16 anos. Foi para Belo Horizonte. Enfrentou fortes batalhas: bancário por muitos anos, morou em várias capitais: São Paulo, Fortaleza, São Luis- Belo Horizonte e Campinas. 
Hoje, aos 60 anos,  casado, pai de uma filha - a advogada Mariah Martins-  Jackson Martins lembra que  iniciou sua trajetória produzindo o  primeiro show dele com o artista mineiro Celso Adolfo, parceiro de Milton Nascimento. Foi empresário de Belchior durante 14 anos, produzindo o último disco e show do cantor e compositor. Belchior faleceu em 2017. 

Jackson Martins e Elba Ramalho
Jackson Martins e Elba Ramalho

Ao longo desses anos, o Velho Coiote, como é conhecido entre os amigos, vem produzindo shows de grandes nomes da Musica Popular Brasileira por todo o pais.  

Realizou encontros memoráveis: Belchior e Renato Teixeira; Belchior, Saulo Laranjeira e Saldanha Rolim; montou a terceira edição do Projeto Cantoria com Elomar, Xangai, Geraldo Azevedo e Vital Farias; realizou  a turnê com o premiado grupo mineiro de Teatro Galpão de Belo Horizonte com apoio da Petrobrás.  Produz desde sempre artistas como Zé Ramalho, Alceu Valença, Almir Sater, Martinho da Vila, Tom Zé, Chico César, Elba Ramalho, 14 Bis, Fagner, Eduardo Araújo. “ Acrescenta mais uns aí!! São 30 anos envolvido com a Educação, Cultura, Teatro e o Esporte!”, destaca Jackson Martins.


Jackson Martins e Geraldo Azevedo
Jackson Martins e Geraldo Azevedo

Paulinho Pedrazul, Fagner;Gegê Lara, produtor cultural e Jackson Martins.
Paulinho Pedrazul, Fagner;Gegê Lara, produtor cultural, e Jackson Martins.

Nos bastidores, momento de descontração com Zé Ramalho.
Nos bastidores, momento de descontração com Zé Ramalho.

No Vale do Jequitinhonha, e em especial Araçuai, o público foi presenteado com alguns destes espetáculos. “ Ele trouxe música e shows de qualidade e somos gratos por isso”, lembra a promoteur Silvana Melo, hoje residente em Uberaba.


Jackson Martins e Belchior em Araçuai
Jackson Martins e Belchior em Araçuai

Em 2013, Jackson Martins deu uma entrevista à Revista Época e ao programa Fantástico, da Rede Globo, afirmando que pagaria todas as dívidas do cantor e compositor Belchior,  desde  que ele  voltasse a fazer show.  O cantor, que estava desaparecido desde 2009, foi  localizado três anos depois no Uruguai.

O sumiço de Belchior lembrava o caso do escritor russo Liev Tolstói. Aos 82 anos, ele abandonou tudo para viver como camponês. Tolstói teve um fim trágico – morreu de pneumonia, depois de viajar na terceira classe de um trem durante o inverno soviético. Belchior, quanto mais se afastava da vida em sociedade, mais se afundava em dificuldades mundanas. Belchior morreu em Santa Cruz do Sul, (RS)em  abril de 2017, aos 70 anos, de aneurisma da aorta. Ele se apresentou por quatro vezes em Araçuaí.

Ao falar dos seus 30 anos de carreira, Jackson Martins afirma que foram 3 décadas trabalhando e convivendo com a verdadeira arte brasileira. "Muitas emoções e a certeza de conviver com aqueles que pensam a vida", finalizou.

Para comemorar a data, Jakson reuniu amigos, familiares e gente da arte, em um conhecido bar e restaurante da capital mineira, na noite da última quinta-feira (22.03) para celebrar principalmente, cultura, alegria e amizade.

Fonte: Sérgio Vasconcelos, no Gazeta de Araçuai

Precisamos falar sobre a vaidade na vida acadêmica

por Rosana Pinheiro-Machado — publicado na Carta Capital, em 24/02/2016 , às 03h37

Combater o mito da genialidade, a perversidade dos pequenos poderes e os "donos de Foucault" é fundamental para termos uma universidade melhor.
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Unicamp
Estudante aguarda vestibular da Unicamp: a nova geração de universitários pode ajudar a melhorar a vida acadêmica
A vaidade intelectual marca a vida acadêmica. Por trás do ego inflado, há uma máquina nefasta, marcada por brigas de núcleos, seitas, grosserias, humilhações, assédios, concursos e seleções fraudulentas. Mas em que medida nós mesmos não estamos perpetuando esse modus operandi para sobreviver no sistema? Poderíamos começar esse exercício auto reflexivo nos perguntando: estamos dividindo nossos colegas entre os “fracos” (ou os medíocres) e os “fodas” (“o cara é bom”).
As fronteiras entre fracos e 'fodas' começam nas bolsas de iniciação científica da graduação. No novo status de bolsista, o aluno começa a mudar a sua linguagem. Sem discernimento, brigas de orientadores são reproduzidas. Há brigas de todos os tipos: pessoais (aquele casal que se pegava nos anos 1970 e até hoje briga nos corredores), teóricas (marxistas para cá; weberianos para lá) e disciplinares (antropólogos que acham sociólogos rasos generalistas, na mesma proporção em que sociólogos acham antropólogos bichos estranhos que falam de si mesmos).
A entrada no mestrado, no doutorado e a volta do doutorado sanduíches vão demarcando novos status, o que se alia a uma fase da vida em que mudar o mundo já não é tão importante quanto publicar um artigo em revista qualis A1 (que quase ninguém vai ler).
Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, dizíamos que quando alguém entrava no mestrado, trocava a mochila por pasta de couro. A linguagem, a vestimenta e o ethos mudam gradualmente. E essa mudança pode ser positiva, desde que acompanhada por maior crítica ao sistema e maior autocrítica – e não o contrário.
A formação de um acadêmico passa por uma verdadeira batalha interna em que ele precisa ser um gênio. As consequências dessa postura podem ser trágicas, desdobrando-se em dois possíveis cenários igualmente predadores: a destruição do colega e a destruição de si próprio.
O primeiro cenário engloba vários tipos de pessoas (1) aqueles que migraram para uma área completamente diferente na pós-graduação; (2) os que retornaram à academia depois de um longo tempo; (3) os alunos de origem menos privilegiada; (4) ou que têm a autoestima baixa ou são tímidos. Há uma grande chance destas pessoas serem trituradas por não dominarem o ethos local e tachadas de “fracos”.
Os seminários e as exposições orais são marcados pela performance: coloca-se a mão no queixo, descabela-se um pouco, olha-se para cima, faz-se um silêncio charmoso acompanhado por um impactante “ãaaahhh”, que geralmente termina com um “enfim” (que não era, de fato, um “enfim”). Muitos alunos se sentem oprimidos nesse contexto de pouca objetividade da sala de aula. Eles acreditam na genialidade daqueles alunos que dominaram a técnica da exposição de conceitos.
Hoje, como professora, tenho preocupações mais sérias como estes alunos que acreditam que os colegas são brilhantes. Muitos deles desenvolvem depressão, acreditam em sua inferioridade, abandonam o curso e não é raro a tentativa de suicídio como resultado de um ego anulado e destruído em um ambiente de pressão, que deveria ser construtivo e não destrutivo.
Mas o opressor, o “foda”, também sofre. Todo aquele que se acha “bom” sabe que, bem lá no fundo, não é bem assim. Isso pode ser igualmente destrutivo. É comum que uma pessoa que sustentou seu personagem por muitos anos, chegue na hora de escrever e bloqueie.
Imagine a pressão de alguém que acreditou a vida toda que era foda e agora se encontra frente a frente com seu maior inimigo: a folha em branco do Word. É “a hora do vâmo vê”. O aluno não consegue escrever, entra em depressão, o que pode resultar no abandono da tese. Esse aluno também é vítima de um sistema que reproduziu sem saber; é vítima de seu próprio personagem que lhe impõe uma pressão interna brutal.
No fim das contas, não é raro que o “fraco” seja o cavalinho que saiu atrasado e faça seu trabalho com modéstia e sucesso, ao passo que o “foda” não termine o trabalho. Ademais, se lermos o TCC, dissertação ou tese do “fraco” e do “foda”, chegaremos à conclusão de que eles são muito parecidos.
A gradação entre alunos é muito menor do que se imagina. Gênios são raros. Enroladores se multiplicam. Soar inteligente é fácil (é apenas uma técnica e não uma capacidade inata), difícil é ter algo objetivo e relevante socialmente a dizer.
Ser simples e objetivo nem sempre é fácil em uma tradição “inspirada” (para não dizer colonizada) na erudição francesa que, na conjuntura da França, faz todo o sentido, mas não necessariamente no Brasil, onde somos um país composto majoritariamente por pessoas despossuídas de capitais diversos.
É preciso barrar imediatamente este sistema. A função da universidade não é anular egos, mas construí-los. Se não dermos um basta a esse modelo a continuidade desta carreira só piora. Criam-se anti-professores que humilham alunos em sala de aula, reunião de pesquisa e bancas. Anti-professores coagem para serem citados e abusam moral (e até sexualmente) de seus subalternos.
Anti-professores não estimulam o pensamento criativo: por que não Marx e Weber? Anti-professores acreditam em lattes e têm prazer com a possibilidade de dar um parecer anônimo, onde a covardia pode rolar às soltas.
O dono do Foucault
Uma vez, na graduação, aos 19 anos, eu passei dias lendo um texto de Foucault e me arrisquei a fazer comparações. Um professor, que era o dono do Foucault, me disse: “não é assim para citar Foucault”.
Sua atitude antipedagógica, anti-autônoma e anti-criativa, me fez deixar esse autor de lado por muitos anos até o dia em que eu tive que assumir a lecture “Foucault” em meu atual emprego. Corrigindo um ensaio, eu quase disse a um aluno, que fazia um uso superficial do conceito de discurso, “não é bem assim...”.
Seria automático reproduzir os mecanismos que me podaram. É a vingança do oprimido. A única forma de cortamos isso é por meio da autocrítica constante. É preciso apontar superficialidade, mas isso deve ser um convite ao aprofundamento. Esquece-se facilmente que, em uma universidade, o compromisso primordial do professor é pedagógico com seus alunos, e não narcisista consigo mesmo.
Quais os valores que imperam na academia? Precisamos menos de enrolação, frases de efeitos, jogo de palavras, textos longos e desconexos, frases imensas, “donos de Foucault”. Se quisermos que o conhecimento seja um caminho à autonomia, precisamos de mais liberdade, criatividade, objetividade, simplicidade, solidariedade e humildade.
O dia em que eu entendi que a vida acadêmica é composta por trabalho duro e não genialidade, eu tirei um peso imenso de mim. Aprendi a me levar menos a sério. Meus artigos rejeitados e concursos que fiquei entre as últimas colocações não me doem nem um pouquinho. Quando o valor que impera é a genialidade, cria-se uma “ilusão autobiográfica” linear e coerente, em que o fracasso é colocado embaixo do tapete. É preciso desconstruir o tabu que existe em torno da rejeição.
Como professora, posso afirmar que o número de alunos que choraram em meu escritório é maior do que os que se dizem felizes. A vida acadêmica não precisa ser essa máquina trituradora de pressões múltiplas. Ela pode ser simples, mas isso só acontece quando abandonamos o mito da genialidade, cortamos as seitas acadêmicas e construímos alianças colaborativas.
Nós mesmos criamos a nossa trajetória. Em um mundo em que invejas andam às soltas em um sistema de aparências, é preciso acreditar na honestidade e na seriedade que reside em nossas pesquisas.
Transformação
Tudo depende em quem queremos nos espelhar. A perversidade dos pequenos poderes é apenas uma parte da história. Minha própria trajetória como aluna foi marcada por orientadoras e orientadores generosos que me deram liberdade única e nunca me pediram nada em troca.
Assim como conheci muitos colegas que se tornaram pessoas amargas (e eternamente em busca da fama entre meia dúzia), também tive muitos colegas que hoje possuem uma atitude generosa, engajada e encorajadora em relação aos seus alunos.
Vaidade pessoal, casos de fraude em concursos e seleções de mestrado e doutorado são apenas uma parte da história da academia brasileira. Tem outra parte que versa sobre criatividade e liberdade que nenhum outro lugar do mundo tem igual. E essa criatividade, somada à colaboração, que precisa ser explorada, e não podada.
Hoje, o Brasil tem um dos cenários mais animadores do mundo. Há uma nova geração de cotistas ou bolsistas Prouni e Fies, que veem a universidade com olhos críticos, que desafiam a supremacia das camadas médias brancas que se perpetuavam nas universidades e desconstroem os paradigmas da meritocracia.
Soma-se a isso o frescor político dos corredores das universidades no pós-junho e o movimento feminista que só cresce. Uma geração questionadora da autoridade, cansada dos velhos paradigmas. É para esta geração que eu deixo um apelo: não troquem o sonho de mudar o mundo pela pasta de couro em cima do muro.
Rosana Pinheiro-MachadoRosana Pinheiro-Machado é cientista social e antropóloga. Professora do departamento de Desenvolvimento Internacional da Universidade de Oxford.

MARIA DA CONCEIÇÃO TAVARES: RESTAURAR O ESTADO É PRECISO


Para a economista e professora da UFRJ, Maria da Conceição Tavares, o Brasil vive sua maior crise política, social e econômica.
De acordo com Tavares, a crise é resultado de uma "simbiose de interesses de uma classe política degradada e de uma elite egocêntrica, sem qualquer compromisso com um projeto de reconstrução nacional" e que só será superada com a restauração do papel do Estado na economia e na formulação de políticas.
Para a economista e professora da UFRJ, Maria da Conceição Tavares, o Brasil vive sua maior crise política, social e econômica. De acordo com Tavares, a crise é resultado de uma "simbiose de interesses de uma classe política degradada e de uma elite egocêntrica, sem qualquer compromisso com um projeto de reconstrução nacional".

"Hoje, citar um político de envergadura com notória capacidade de pensar o país é um exercício exaustivo. O mesmo se aplica a nossos dirigentes empresariais, terra da qual não se vê brotar uma liderança. A velha burguesia nacional foi aniquilada. Eu nunca vi uma elite tão ruim quanto esta aqui", acrescenta a economista.
No âmbito econômico, "a indústria brasileira “africanizou” e a ideia do Estado indutor do desenvolvimento foi finalmente ferida de morte pela religião de que o Estado mínimo nos levará a um estado de graça da economia.Estamos destruindo as últimas forças motrizes do crescimento econômico e de intervenção inclusiva e igualitária no social", explica a professora da UFRJ.
Segundo Tavares, "Qualquer projeto de costura dos tecidos do país passa obrigatoriamente pela restauração do Estado. É urgente um processo de rearrumação do aparelho público, de preenchimentos das graves lacunas pensantes".

Confira abaixo a íntegra do artigo:


Restaurar o Estado é preciso*
Por Maria da Conceição Tavares
Vivemos sob a penumbra da mais grave crise da história do Brasil, uma crise econômica, social e política. Enfrentamos um cenário que vai além da democracia interrompida. A meu ver, trata-se de uma democracia subtraída pela simbiose de interesses de uma classe política degradada e de uma elite egocêntrica, sem qualquer compromisso com um projeto de reconstrução nacional – o que, inclusive, praticamente aniquila qualquer possibilidade de pactuação.

Hoje, citar um político de envergadura com notória capacidade de pensar o país é um exercício exaustivo. O Congresso é tenebroso. A maioria está lá sabe-se bem com que fins. O elenco de governadores é igualmente terrível. Não há um que se sobressaia. E não vou nem citar o caso do Rio porque aí é covardia. O “novo” na política, ou o que tem a petulância de se apresentar como tal, é João Doria, na verdade um representante da velha extrema direita. A ditadura, a qual devemos repudiar por outros motivos, não era tão ordinária nesse sentido. Não sofríamos com essa escassez de quadros que vemos hoje.

O mesmo se aplica a nossos dirigentes empresariais, terra da qual não se vê brotar uma liderança. A velha burguesia nacional foi aniquilada. Eu nunca vi uma elite tão ruim quanto esta aqui. E no meio dessa barafunda ainda temos a Lava Jato, uma operação que começou com os melhores propósitos e se tornou uma ação autoritária, arbitrária, que atenta contra as justiças democráticas, para não citar o rastro de desemprego que deixou em importantes setores da economia.

É de infernizar a paciência que a Lava Jato tenha se tornado símbolo da moralização. Mas por quê? Porque nada está funcionando. Ela é uma resposta à inação política. Conseguiram transformar a democracia em uma esbórnia, em que ninguém é responsável por nada. Não há lei ou preceitos do estado de direito que estejam salvaguardados. O futuro foi criminalizado.

Não estou dizendo que o cenário internacional seja um oásis. O resto do mundo não está nenhuma maravilha, a começar pelos Estados Unidos. Convenhamos, não é qualquer país que é capaz de produzir um Trump. Eles capricharam. Na Europa como um todo, a situação também é desoladora. E a China, bem a China é sempre uma incógnita... Mas, voltando ao nosso quintal, o centro medíocre se ampliou de uma maneira bárbara no Brasil. Não há produção de pensamento contra a mediocridade, de lado algum, nem da direita, nem da esquerda. Faltam causas, bandeiras, propósitos, falta até mesmo um slogan que cole a sociedade. O mais impressionante é que não estamos falando de um processo longo, de uma ou duas décadas, mas, sim, de um quadro de rápida deterioração em um espaço razoavelmente curto de tempo. Estou no Brasil desde 1954 e jamais vi tamanho estado de letargia. Na ditadura, havia protesto. Hoje, mal se ouve um sussurro.

Por outro lado, também não se acham soluções pela economia, notadamente o setor produtivo. A indústria brasileira “africanizou”, como há muito já previra o saudoso Arthur Candal. Rendemo-nos à financeirização, sem qualquer resistência. A ideia do Estado indutor do desenvolvimento foi finalmente ferida de morte pela religião de que o Estado mínimo nos levará a um estado de graça da economia. Puro dogma. Estamos destruindo as últimas forças motrizes do crescimento econômico e de intervenção inclusiva e igualitária no social.

Essa minha indignação, por vezes misturada a um indesejável, mas inevitável estado de pessimismo, poderia ser atribuída a minha velhice. Mas não acho que seja não. Estou velha há muito tempo. Luto para não me deixar levar pelo ceticismo. Não é simples pelo que está diante de meus olhos.

Lamento, mas não me dobro; sofro, mas não me entrego. Jamais fugi ao bom combate e não seria agora que iria fazê-lo. Há saídas para esse quadro de entropia nacional e estou convicta de que elas passam pelas novas gerações. Como diria Sartre, não podemos acabar com as ilusões da juventude. Pelo contrário temos de estimulá-las, incuti-las. Por ilusão, em um sentido não literal, entenda-se a capacidade de mirar novos cenários, a profissão de fé de que é possível, sim, interferir no status quo vigente, o forte desejo de mudança, associado ao frescor, ao ímpeto e ao poder de mobilização necessário para que ela ocorra. Só consigo enxergar alguma possibilidade de cura desse estado de astenia e de reordenação das bases democráticas a partir de uma maciça convocação e ação dos jovens.

Por mais íngreme que seja a caminhada, não vislumbro saídas que não pela própria sociedade, notadamente pelos nossos jovens. Não os jovens de cabeça feita, pré-moldada, como se fossem blocos de concreto empilhados por mãos alheias. Esses mal chegaram e já estão a um passo da senectude. Estou me referindo a uma juventude sem vícios, sem amarras, de mente aberta, capaz de se indignar e construir um saudável contraponto a essa torrente de reacionarismo que se espraia pelo país. Há que se começar o trabalho de sensibilização já, mas sabendo que o tempo de mudança serão décadas, sabe-se lá quantas gerações.

Não consigo vislumbrar outra possibilidade para sairmos dessa geleia geral, dessa ausência de movimentos de qualquer lado, qualquer origem, seja de natureza política, econômica, religiosa, senão por uma convocatória aos jovens. Até porque, se não for a juventude, vai se falar para quem? Para a oligarquia que está no poder? Para a burguesia cosmopolita – que foi a que sobrou – com sua conveniente e perversa indiferença? Para uma elite intelectual rarefeita e um tanto quanto aparvalhada?

Ao mesmo tempo, qualquer projeto de costura dos tecidos do país passa obrigatoriamente pela restauração do Estado. É urgente um processo de rearrumação do aparelho público, de preenchimentos das graves lacunas pensantes. Nossa própria história nos reserva episódios didáticos, exemplos a serem revisitados. Na década de 30, durante o primeiro governo de Getulio Vargas, guardadas as devidas proporções, também vivíamos uma dura crise. Não íamos a lugar algum. Ainda assim, surgiram medidas de grande impacto para a modernização o Estado, como, por exemplo, a criação do Dasp – Departamento Administrativo do Serviço Público, comandado por Luis Simões Lopes.

Na esteira do Dasp, cabe lembrar, vieram os concursos públicos para cargos no governo federal, o primeiro estatuto dos funcionários públicos do Brasil, a fiscalização do Orçamento. Foi um soco no estômago do clientelismo e do patrimonialismo. O Dasp imprimiu um novo modus operandi de organização administrativa, com a centralização das reformas em ministérios e departamentos e a modernização do aparato administrativo. Diminuiu também a influência dos poderes e interesses locais. Isso para não falar do surgimento, nas fileiras do Departamento, de uma elite especializada que combinou altíssimo valor e conhecimento técnico ao comprometimento com uma visão reformista da gestão da coisa pública.

Faço esse pequeno passeio no tempo para reforçar que nunca fizemos nada sem o Estado. Não somos uma democracia espontânea. O fato é que hoje o nosso Estado está muito arrebentado. Dessa forma, é muito difícil fazer uma política social mais ativa. Não é só falta de dinheiro. O mais grave é a falta de capital humano. O que se assiste hoje é um projeto satânico de desconstrução do Estado, vide Eletrobras, Petrobras, BNDES...

Restauração

O Estado sempre foi a nobreza do capital intelectual, da qualidade técnica, da capacidade de formular políticas públicas transformadoras. O que se fez no Brasil é assustador, uma calamidade. É necessário um profundo plano de reorganização do Estado até para que se possa fazer políticas sociais mais agudas. Chegamos, a meu ver, a um ponto de bifurcação da história: ou temos um movimento reformista ou uma revolução. A primeira via me soa mais eficiente e menos traumática. Ainda assim, reconheço, precisaremos de doses cavalares do medicamento para enfrentamos tão grave enfermidade. Os sintomas são de barbárie. Parece um fim de século, embora estejamos no raiar de um. Em uma comparação ligeira, lembra o começo do século XX. Os fatos levaram às duas Guerras Mundiais. Aliás, a guerra, ainda que indesejável, é uma maneira de sair do impasse.

Por isso, repito: precisamos de uma ação restauradora. O que temos hoje no Brasil não é uma feridinha à toa que possa ser tratada com um pouco de mertiolate ou coberta com um esparadrapo. O Estado e a sociedade brasileira estão em uma mesa de cirurgia. O corte é profundo, órgãos vitais foram atingidos, o sangramento é dramático. Este rissorgimento não deverá vir das urnas. Não vejo a eleição como um evento potencialmente restaurador, capaz de virar a página, de ser um marco da reconstrução.

Com o neoliberalismo não vamos a lugar algum. Sobretudo porque, repito: historicamente o Brasil nunca deu saltos se não com impulsos do próprio Estado. Esses últimos dois anos têm sido pavorosos, do ponto de vista econômico, social e político. Todas as reformas propostas são reacionárias, da trabalhista à previdenciária. Vivemos um momento de “acerto de contas” com Getulio, com uma sanha inquisidora de direitos sem precedentes. Trata-se de um ajuste feito em cima dos desfavorecidos, da renda do trabalho, da contribuição previdenciária, da mão de obra. O Brasil virou uma economia de rentistas, o que eu mais temia. É necessário fazer uma eutanásia no rentismo, a forma mais eficaz e perversa de concentração de riquezas.

Renda mínima

Causa-me espanto que nenhum dos principais candidatos à Presidência esteja tratando de uma questão visceral como a renda mínima, proposta que sempre teve no ex-senador Eduardo Suplicy o seu mais ferrenho defensor e propagandista no Brasil. Suplicy foi ridicularizado, espezinhado por muitos, chamado de um político de uma nota só. Não era, mas ainda que fosse, seria uma nota que daria um novo tom à mais trágica de nossas sinfonias nacionais: a miséria e desigualdade.

Mais uma vez, estamos na contramão do mundo, ao menos do mundo que se deve almejar. Se, no Brasil, a renda mínima é apedrejada por muitos, mais e mais países centrais adotam a medida. No Canadá, a província de Ontario deu a partida no ano passado a um projeto piloto de renda mínima para todos os cidadãos, empregados ou não. A Finlândia foi pelo mesmo caminho e começou a testar um programa também em 2017. Ao que se sabe, cerca de dois mil finlandeses passaram a receber algo em torno de 500 euros por mês.

Na Holanda, cerca de 300 moradores da região de Utrecht passaram a receber de 900 euros a 1,3 mil euros por mês. O nome do programa holandês é sugestivo: Weten Wat Werkt (“Saber o que funciona”). Funcionaria para o Brasil, tenho certeza.

O modelo encontrou acolhida até nos Estados Unidos. Desde a década de 80, o Alasca paga a cada um de seus 700 mil habitantes um rendimento mínimo chamado Alaska Permanent Fund Dividend. Os recursos vêm de um fundo de investimento lastreado nos royalties do petróleo.

É bom que se diga que dois dos fundamentalistas do liberalismo, os economistas F. A. Hayek e Milton Friedman, eram defensores da renda básica e até disputavam a primazia pela paternidade da ideia. Friedman dizia que a medida substituiria outras ações assistencialistas dispersas.

No Brasil, o debate sobre a renda básica prima pela sua circularidade. O Bolsa-Família foi uma proxy de uma construção que não avançou. Segundo o FMI, a distribuição de 4,6% do PIB reduziria a pobreza brasileira em espetaculares 11%.

Essa é uma ideia que precisa ser resgatada, uma bandeira à espera de uma mão. Entre os candidatos à presidência, só consigo enxergar o Lula como alguém identificado com a proposta. Se bem que a coisa está tão ruim que, mesmo que ele possa se candidatar e seja eleito, teria enorme dificuldade de emplacar projetos realmente transformadores. O PT não tem força o suficiente; os outros partidos de esquerda não reagem.

Lula sempre foi um grande conciliador. Mas um conciliador perde o seu maior poder quando não há conflitos. E uma das raízes da nossa pasmaceira, desta letargia, é justamente a ausência de conflitos, de contrapontos. Não tem nada para conciliar. Mais do que conflitiva, a sociedade está anestesiada, quase em coma induzido. O que faz um pacificador quando não há o que pacificar?

(*Publicado originalmente na revista Insight Inteligência
* Economista, ex-professora da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e professora-emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ).
Maria da Conceição de Almeida Tavares (Anadia24 de abril de 1930) é uma economista portuguesa naturalizada brasileiraNascida em Anadia, cresceu em Lisboa. Sua mãe era católica, e seu pai, um anarquista, que abrigou refugiados da Guerra Civil Espanhola, em plena era Salazar. Graduada em matemática, chegou ao Brasil em fevereiro de 1954
Trabalhou na elaboração do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek. Naturalizou-se brasileira em 1957. No mesmo ano, decidiu estudar economia, influenciada por três clássicos do pensamento econômico brasileiro: Celso Furtado (1920-2004), Caio Prado Jr. (1907-1990) e Ignácio Rangel (1908-1994), que a despertou para as questões relacionadas ao capital financeiro.
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi aluna de Octávio Gouvêa de Bulhões (1906-1990) e Roberto Campos (1917-2001). Trabalhou como analista matemática no BNDES.
Escreveu centenas de artigos e vários livros, destacando-se o clássico "Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil – Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro", de 1972. O texto foi escrito no fim dos anos 1960, quando chefiava o escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil.
Entre 1968 e 1972, durante a ditadura militar, autoexilou-se no Chile, onde trabalhou no Ministério da Economia, durante o governo de Salvador Allende.
Em 2016, se manifestou contra a aprovação da PEC do Teto dos Gastos Públicos.
Ao longo de 60 anos, formou gerações de economistas e líderes políticos brasileiros, entre eles José SerraCarlos LessaEdward AmadeoAloísio TeixeiraLuciano CoutinhoLuís Gonzaga Beluzzo e João Manuel Cardoso de Melo

Caravana de Lula atravessa Sul do País entre aplausos e o ódio

por Murilo Matias — publicado na Carta Capital , em 24/03/2018 , às 11h28 h

Ao contrário da viagem pelo Nordeste, o ex-presidente teve de lidar com grupos extremistas em uma região tradicionalmente polarizada.
Ricardo Stuckert
Caravana de Lula
Lula discursa em São Borja, terra de Jango e Getúlio Vargas.
Assim como no Nordeste, a caravanado ex-presidente Lula pelo sul do Brasil tem se deparado com bloqueios durante os trajetos da viagem. Se na parte de cima do país o motivo das paradas era o clamor popular e sentimento de gratidão pela passagem do líder petista, na parte debaixo do mapa nacional a terra que se orgulha da polarização constrange pela violência.
Grupos conservadores têm desafiado a comitiva que, depois do Rio Grande do Sul, ainda passará por Santa Catarina e Paraná, uma programação de dez dias por mais de vinte cidades da região. 
Enquanto de um lado grupos tentam impedir as atividades, movimentos sociais, militância e apoiadores não recuam diante da agressividade e garantem a Lula sua energia vital, o contato com o povo. Foi assim que desde segunda-feira, dia 19, o ex-presidente visitou universidades, ocupações, institutos federais e locais históricos do estado, como São Borja e Santana do Livramento.
Na Universidade Federal de Santa Maria, que teve o orçamento ampliado nas gestões de esquerda com planos de reestruturação, políticas de cotas e aumento da assistência e das bolsas estudantis, grupos formados essencialmente por homens brancos contrastavam com a valentia de jovens estudantes, boa parte de mulheres e negras na visita do ex-presidente à instituição.
"Quando entrei nessa universidade em 1969 havia dois negros, voltei em 2009 para fazer mestrado em Ciências Sociais. Ali começava uma representação interessante de negros, que hoje chegam a 30%, além da presença de indígenas, deficientes e pobres", compara Maria Dutra, aluna de 70 anos que cursa doutorado sobre o tema das cotas.
"Isso cria clima de estranhamento, pois a educação era para a classe dominante e agora estamos ocupando nossos espaços e lutando junto de Lula para ele colher tudo o que semeou pelo bem do povo, da inclusão social, da igualdade racial. Isso desagrada aos conservadores, infelizmente."
A oposição a Lula se manifestou já no primeiro dia. Aproximadamente 50 tratores de latifundiários colocados perto da fronteira com o Uruguai buscavam intimidar com suas máquinas, muitas compradas através da abertura de linhas de crédito em bancos públicos pelos governos do PT.
As tentativas de bloqueio foram intensificadas em alguns pontos do deslocamento com o arremesso de ovos e pedras nos ônibus. Os episódios foram denunciados pela presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, que cobrou do poder público a garantia de segurança à comitiva. Ela reúne ainda a ex-presidenta Dilma Rousseff, deputados estaduais, federais e equipes de trabalho.  
Em um dos estados mais alinhados ao governo de Michel Temer, o crescimento do Movimento Brasil Livre (MBL), financiado por grandes empresas, dá cara ao ódio suscitado por meios de comunicação e pela perseguição judicial a Lula e aos lutadores sociais, bem sintetizado nos gritos de "não vai terra", dirigido ao Movimento dos Sem Terra (MST).
Em nota, a bancada do PT na Assembleia Legislativo do Rio Grande do Sul chamou os extremistas que perseguem a caravana desde Bajé de "bandidos" por terem atentado "contra a integridade física da militância e da população que participa das atividades". O partido afirmou que as militantes Ieda Alves e Daniele Mendes foram agredidas. "Arrancaram a bandeira da Daniele e queimaram. Ieda foi derrubada no chão e só não foi espancada porque a Brigada chegou e agiu." Segundo o partido, elas fizeram boletim de Ocorrência.
Já Suzana Machado Ritter, diz a legenda, foi atacada quando estava indo para  a manifestação.  Ela também teve uma bandeira arrancada de sua mão. Segundo Suzana, sua maior dor foi ver destruída a flâmula petista que tinha desde 1989, autografada pelo ex-presidente. De acordo com o partido, ela foi espancada e teve de ser hospitalizada.
"Temos preocupação com a integridade. O fascismo passou da fase da agressão verbal para a ação física tentando intimidar a caravana, mas seguiremos até o final", destaca o deputado federal Henrique Fontana (PT-RS).
A página do Facebook #NasRuas, por exemplo, postou uma foto de um militante sendo chicoteado por um extremista e comemorou a agressão. "Petistas levam surra de chicote dos gaúchos em Santa Maria! Será que o Lula levou uma chibatada no lombo também?"
Petistas levam surra de chicote dos gaúchos em Santa Maria!
Será que o Lula levou uma chibatada no lombo também?
As ameaças exigem que contingentes da polícia sejam constantemente deslocadas e estejam atentas a possibilidade de confrontos, contrariando uma das máximas dos liberais, dado o gasto que representa a presença das autoridades. Membros do MST, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e os profissionais da segurança do ex-presidente monitoram as táticas e provocações que partem dos extremistas de direita.      
Encontro com o legado e com a história
Embora em ano de eleição, o ex-presidente Lula não coloca a questão eleitoral como a mais importante para a caravana. A visita a áreas de baixa densidade demográfica comprova que o maior objetivo é o encontro com as transformações realizadas a partir dos 13 anos de administração petistas - Ronda Alta, São Vicente do Sul e São Miguel das Missões, todos municípios com menos de dez mil habitantes, estavam no roteiro.
Nesses e em outros locais, pequenos agricultores em Cruz Alta, indígenas da etnia Guarani e Kaigang na área missioneira, participantes de coletivos por moradia em Santa Maria e pela terra em Palmeira das Missões, além de informais e assalariados relembraram programas sociais como Luz para Todos, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Mais Médicos e a valorização do salário mínimo, que seguem como referência para a classe trabalhadora.
"Lula está no nosso coração e queremos ele como presidente pelo Bolsa Família, pelo "Minha Casa, Minha Vida", por estar ao lado dos trabalhadores. Acredito que ele vai fazer ainda mais e melhor por nós e nossos filhos", afirma a pescadora Ana dos Santos, em São Borja. Com a praça lotada o ex-presidente ressaltou o protagonismo de líderes como os ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart, nascidos na cidade, onde também está enterrado o ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, ícones das forças progressistas.
"Getúlio brigou pela soberania nacional e criou a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), Jango tentou promover reformas de base, incluindo a agrária e urbana e Lula foi o presidente que acabou com a fome e diminuiu a desigualdade social. É esse país que queremos pra nós e nossos vizinhos sulamericanos", declarou Maria Seixas, professora aposentada.
A ênfase à relação com a América Latina foi outro ponto alto dos encontros e uma novidade com relação às outras caravanas. Uma agenda em Santana do Livramento reuniu além dos mandatários brasileiros, o ex-presidentes do Uruguai, Pepe Mujica e do Equador, Rafael Correa, ambos denunciaram a perseguição judicial empreendida contra os que ousam atuar pela integração do subcontinente e desenvolvimento de políticas para os mais necessitados. 
Em Foz do Iguaçu, no limite entre Paraguai e Brasil, novo evento terá a presenças dos senadores Cristina Kirchner e Fernando Lugo, ex-chefes de estado da Argentina e do Paraguai.
Para além das histórias de transformação, o futuro nacional foi pauta ao tratar-se de assuntos como a proposta de uma constituinte e a realização de referendo revogatória para derrubar as recém aprovadas reformas trabalhistas e a PEC de congelamento dos gastos públicos. A federalização do ensino médio e a democratização da mídia também foram destacadas no caminho da caravana, que embora tenha encontrado obstáculos, consolidou-se como um marco de cidadania em meio à situação de golpe e restrição de direitos vivenciadas pelo país.
"Vocês sabem o que fizemos em 12 anos de governo. Enquanto para eles que falam em corrupção sobra dinheiro para nos seguir e soltar foguetes, nós temos a verdade do nosso lado. Eu procuro a razão para o ódio deles a mim e ao PT e a única explicação é que eles não desejam que o trabalhador seja respeitado. Eu sempre digo, não se preocupem comigo, sofrendo mais do que eu existem 14 milhões de brasileiros desempregados. Se eu voltar vou fazer o povo sorrir novamente e sonhar do tamanho do Brasil", declarou o ex-presidente Lula.
Publicado na Carta Capital, em 23.03.201
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