segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Sociopata: Psicologia analisa Bolsonaro

 

Psicologia tem uma palavra para 

descrever Jair Bolsonaro: sociopata

Crise do coronavírus deixa bem caracterizada a hipótese diagnóstica 

de que o presidente tem transtorno de personalidade antissocial

Jair Bolsonaro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

JAIR BOLSONARO (FOTO: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL)


Quer entender Jair Bolsonaro diante do coronavírus? Achille

Mbembe, filósofo camaronês de 62 anos, é um bom guia. 

Um governante, diz ele, tem o poder de “definir quem importa 

e quem não importa, quem é ‘descartável’ e quem não é”, “quem 

pode viver e quem deve morrer”. Mbembe chama esse poder de “necropolítica”.

Ao defender em cadeia nacional de rádio e tevê que o País funcione

numa boa apesar da pandemia, o presidente manda ao corredor 

da morte idosos e pessoas com doenças preexistentes, grupos mais

vulneráveis ao vírus, e os pobres que moram amontoados em 

favelas e podem contagiar mais facilmente parentes e vizinhos.

 Necropolítica contra 20 milhões de pessoas acima de 65 anos e 

13 milhões de moradores de favelas.

Na saída do Palácio do Alvorada no dia seguinte ao pronunciamento,

Bolsonaro deu elementos para corroborar uma outra hipótese 

diagnóstica, esta de autoria de um profissional que já viveu o dia 

a dia do Conselho Federal de Psicologia. O presidente seria um 

“sociopata”, segundo esse analista, cujo nome será preservado.

“Você quer que eu faça o quê? Que eu tenha o poder de pegar 

cada idoso lá e levar: ‘fica aí, tem uma pessoa para te tratar’? 

É a família que tem de cuidar dele em primeiro lugar, rapaz. 

O povo tem que deixar de deixar tudo nas costas do poder 

público”, disse Bolsonaro, ao responder sobre o perigo que o 

fim da quarentena representaria a idosos enquanto o coronavírus 

estiver à solta. “Se não tiver ninguém, aí tem um asilo, tem o 

Estado, seja quem for.”

O ex-capitão, comenta o psicólogo, expressa insensibilidade 

em relação a outras pessoas, busca sempre o conflito, é extremamente

egocêntrico e nunca demonstra sentir culpa, arrependimento ou 

remorso. Sintomas de Transtorno de Personalidade Antissocial, 

ou sociopatia, alguns bem caracterizados na entrevista na porta 

do Alvorada em 25 de março.

BOLSONARO NA ÍNDIA (FOTO: ALAN SANTOS/PR)

“Boa parte das suas justificativas quando questionado apresenta 

uma alta insensibilidade em relação ao outro, uma quase total 

ausência de preocupação pelos sentimentos ou problemas dos 

outros, como faz sempre em relação às questões de gênero, 

orientação sexual, condição econômica e também como fez ontem

no caso da gravidade do coronavírus para os idosos”, diz nosso 

analista.

Ele traça sua hipótese diagnóstica com base no comportamento 

público do presidente e em contatos pessoais tidos no passado 

com o então deputado Jair Bolsonaro. E explica: sua análise tem 

como fonte técnica o Manual Diagnóstico e Estatístico de 

Transtornos Mentais (DSM-V), da Associação Americana 

Psiquiátrica, largamente utilizado no mundo pela psiquiatria 

e a psicologia clínica.

O presidente “age sem demonstrar culpa e/ou remorso quanto 

aos efeitos negativos ou prejudiciais deste seu comportamento 

sobre as outras pessoas, posto que ele agride e aparentemente 

gosta dos resultados (a psicanálise lacaniana chamaria de gozo),

demonstrando toda a sua agressividade e sadismo”, observa o 

analista.

Desde o início do coronavírus, Bolsonaro encara o a pandemia 

como “histeria” e “gripezinha”. Até 27 de março, ao menos 

77 brasileiros tinham morrido e mais de 3 mil estavam infectados.

Até ali, o ex-capitão tinha sido incapaz de mostrar-se solidário 

com as vítimas. “A população está assustada, e o presidente não 

diz uma palavra para tranquilizá-la”, afirmou a líder do PCdoB 

na Câmara, Perpétua Almeida (AC)..

De falar bem de si no meio da crise, foi capaz, em uma entrevista 

coletiva em 18 de março. “Nosso time está ganhado de goleada. 

Duvido que quem vier me suceder um dia (acho muito difícil) 

consiga montar um equipe como eu montei. E tive a coragem de 

não aceitar pressões de quem quer que seja. Então, se o time está 

ganhando, vamos fazer justiça, vamos elogiar seu técnico, e o 

seu técnico chama-se Jair Bolsonaro.”

“O presidente apresenta uma característica bem forte de 

egocentrismo, buscando a todo momento passar a imagem 

e a crença de ser melhor do que as outras pessoas, justificando 

a todo instante ter este direito por ser grandioso, por merecer 

ser admirado, e dessa forma busca incessantemente atrair e 

tornar-se o centro das atenções. Note: não é um projeto, é ele”, 

explica o psicólogo.

Ele prossegue: Bolsonaro “faz uso, e neste caso se é consciente ou 

não fica difícil de saber, pois não temos acesso direto a ele, 

frequente de subterfúgios para influenciar ou controlar os 

outros, e sempre busca as insinuações para atingir seus fins. 

Também não apresenta, pelo menos de modo aparente, 

arrependimento por agir com base em representações 

deturpadas de si mesmo, como por exemplo fazer o papel de 

alguém que pratica esporte, que valoriza ser atleta fazendo 

flexões de braço que estão longe de ser uma forma correta de 

se fazer, inventando relatos de acontecimentos e fatos se estes 

venham lhe trazer algum benefício”.

No pronunciamento à nação em 24 de março sobre o coronavírus,

o presidente tinha dito: “No meu caso particular, pelo meu 

histórico de atleta, caso fosse contaminado com o vírus, não 

precisaria me preocupar. Nada sentiria ou seria, quando muito, 

acometido de uma gripezinha”.

O tipo de transtorno de personalidade antissocial do ex-capitão, 

ressalta nosso psicólogo, “não pode ser tratado como loucura, 

como um distanciamento da realidade, como aqueles que vivem 

em um mundo à parte. Não é este o caso dele”. Bolsonaro, 

conclui ele, pertence “ao grupo das perversões”.

domingo, 20 de dezembro de 2020

Pandemia: Festas e aglomerações de adolescentes e jovens adultos aumentam a contaminação de seus familiares

 Covid-19 também pode ser devastadora para quem não chegou aos 30 anos

Cansada de ficar em casa, a população brasileira 

decretou por conta própria o fim da epidemia


Aglomeração em bares e restaurantes de Belo Horizonte.(foto: Marcos Vieira/EM/D.A.Press)

Menosprezar o perigo é um equívoco frequente na adolescência. É provável

que esse fenômeno aconteça porque os circuitos de neurônios das áreas

cerebrais responsáveis pelo controle das emoções organizam a arquitetura 

de suas sinapses anos antes do que o fazem os do lobo frontal, região 

que coordena o planejamento racional e a tomada de decisões. 

Como consequência, o adolescente experimenta emoções de adulto, 

enquanto mantém reações imaturas diante de ameaças à própria vida e 

à dos outros.

No caso da atual epidemia, esse descompasso neuro-anatômico se manifesta 

com clareza. A crença na imortalidade e no risco mais baixo de apresentar 

sintomas graves talvez explique a irracionalidade de adolescentes e adultos

jovens que se aglomeram em bares e nas festas, alheios à realidade 

de que esse comportamento os põe em risco, expõe seus familiares, 

a comunidade e dissemina a epidemia.

Apesar da maior gravidade nas pessoas mais velhas, a Covid-19 pode ser 

devastadora em quem não chegou aos 30 anos, haja vista as sequelas deixadas 

pela infecção e as mortes ocasionais nessa faixa etária.

Em setembro, um grupo do Brigham and Women’s Hospital, de Boston, 

publicou o estudo “Evolução Clínica de Jovens com Covid-19, nos Estados 

Unidos”, na revista JAMA Internal Medicine. Nele, foram avaliados o perfil 

clínico e a evolução de 3.222 mulheres e homens de 18 a 34 anos internados 

em hospitais americanos, por causa da doença. As gestantes foram excluídas.

Os participantes tinham em média 28,3 anos; 57,6% eram homens; 57% eram 

pretos ou latino-americanos. As prevalências das principais comorbidades que 

afetam a evolução foram: obesidade 36,8% (IMC acima de 30), diabetes 18,2% 

e hipertensão arterial 16,1%.

No decorrer da internação, 694 pacientes (21%) foram transferidos para 

unidades de terapia intensiva e 331 (10%) necessitaram de intubação e 

ventilação mecânica. A média de permanência na UTI foi de quatro dias.

Entre os 3.222 participantes, 88 morreram. Esse índice de mortalidade (2,7%) 

é o dobro daquele provocado por infarto do miocárdio em jovens da mesma 

faixa etária.

O risco de morte ou de precisar de ventilação mecânica foi 50% mais alto 

entre os homens; 2,3 vezes maior entre os obesos graves (IMC 40 ou mais); 

2,36 vezes maior entre os hipertensos e 1,4 vez nos casos de diabetes.

Naqueles com mais de uma das três condições citadas (obesidade, hipertensão, 

diabetes) o risco foi comparável ao observado em adultos mais velhos, sem 

nenhuma delas. Obesidade grave esteve presente em 41% dos pacientes que 

morreram ou precisaram de intubação e ventilação mecânica.

O estudo não permite calcular quantos adultos infectados entre os 18 e os 

34 anos apresentam sintomatologia que justifique hospitalização, mas é 

perturbador saber que dos internados 21% vão parar na UTI, 10% dependerão 

de intubação e ventiladores para sobreviver e 2,7% irão a óbito, apesar da idade.

Estamos num momento em que, cansada de ficar em casa, a população 

brasileira decretou por conta própria o fim da epidemia. As imagens de 

jovens aglomerados nos bares e as multidões nas ruas em que se concentra 

o comércio popular, as festas e o verão que se aproxima prenunciam um ano 

novo sinistro.

Crer que a vacina resolverá nossos problemas nos próximos meses é sonhar 

acordado. Primeiro, porque o descaso, a incompetência e a demagogia 

irresponsável do governo federal nos pôs em desvantagem para adquiri-la 

no mercado internacional. Depois, porque fica difícil acreditar que o atual 

Ministério da Saúde esteja preparado para coordenar o esforço exigido para 

adquirir vacinas suficientes para imunizar dezenas de milhões de pessoas 

pelo Brasil inteiro, em tempo hábil para reduzir as mortes, já no início do ano.

Neste momento, tínhamos que nos concentrar na obtenção imediata de vacinas, 

em convencer os brasileiros da segurança e da necessidade delas e, sobretudo, 

da importância de usar máscara, lavar as mãos e guardar distância dos outros, 

medidas exatamente opostas às defendidas pelo presidente da República e 

muitos de seus seguidores, desde o início da tragédia que se abateu sobre nós.

Feliz Natal, caríssimos leitores. Tomem cuidado. Não deixem que a reunião 

da família lhes traga tristeza e sofrimento.

Drauzio Varella

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”.