sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Diamantina abre licitação para terceirizar o Carnaval 2016

O tradicional Carnaval de Diamantina, um dos mais famosos do interior de Minas Gerais, será terceirizado a partir de 2016. A prefeitura abriu, pela primeira vez, uma licitação na modalidade pregão presencial para que o carnaval seja financiado por empresas que queiram explorar comercialmente a folia pelo período de quatro anos.

A licitação está marcada para o dia 1º de dezembro, às 13h, no Centro Administrativo da Prefeitura Municipal de Diamantina, localizado na rua da Glória, nº 394.
De acordo com o edital, publicado no dia 18 de novembro, a título de contrapartida pela permissão de utilização do espaço público, o lance mínimo para participar da licitação será de R$ 500 mil.
A empresa vencedora será a que oferecer o maior lance e o pagamento ao Município de Diamantina deve ser feito da seguinte maneira: 70% da remuneração deve ser pago, até cinco dias consecutivos após regularmente convocado o licitante vencedor para a assinatura do termo de contrato ou instrumento equivalente e o restante (30%) até a data determinada por decreto para o início do período de Carnaval do ano de 2017, sendo que a empresa vencedora deverá apresentar seguro garantia deste valor, no mesmo prazo determinado.
Em troca, a empresa vencedora vai lucrar com a exploração do camarote no Mercado Velho que poderá conter bares e espaço gourmet, da área vip, localizada na área externa do Mercado, que também poderá conter bares e com a comercialização das praças de alimentação na Praça Correa Rabelo e na Rua do Bonfim.
A iniciativa de terceirizar o carnaval decorre da crise econômica que os municípios vêm enfrentando que está provocando ando uma queda crescente das receitas municipais.
De acordo com o Prefeito Paulo Célio, sem o patrocínio, a Prefeitura teria dificuldade financeira para organizar o Carnaval deste ano. “A Prefeitura não pretende lucrar com a licitação do Carnaval. O valor arrecadado com a contrapartida servirá para pagar as bandas que animam o carnaval: Bartucada, Bat Caverna e mais duas bandas de renome nacional a serem definidas, além de custear as outras despesas decorrentes da festa como limpeza urbana, saúde e segurança.”
Fonte: Ascom da Prefeitura de Diamantina

Todos estão perdendo nesta briga


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quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Câmara de Capelinha engaveta projeto que reduz salários de vereadores, prefeito e secretários

O texto foi engavetado por seis votos a favor, três contra e duas abstenções.

Foto: arquivoCâmara de Capelinha engaveta projeto que reduz salários de vereadores, prefeito e secretários
Prédio da Câmara dos Vereadores, na praça do Povo
O projeto de lei 043/2015, de autoria do vereador Luciano do Mundo Animal (PROS), que reduz o salário de vereadores, prefeito, vice-prefeito e secretários municipais de Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, não chegou a ser colocado em votação na Câmara.

Na sessão do último dia 6 de outubro, o texto foi engavetado por seis votos a favor, três contra e duas abstenções.

A Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final, tendo como alegação a orientação da Assessoria Jurídica da Casa, apresentou um “parecer de inconstitucionalidade”.

No parecer da Assessoria Jurídica, consta que o artigo 5º do projeto fere a Constituição Federal ao sugerir que a população seja consultada a cada projeto de aumento de salário da classe política.

os assessores jurídicos apontam que o projeto tem condições de ser votado na Câmara desde que saia do texto a parte que o torna inconstitucional.

Na sessão do dia 6 de outubro, os vereadores que compõem a Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final decidiram, através de parecer, que o projeto não deveria ser colocado em votação justamente por causa da parte que destoa da Constituição Federal.

Procurados, os vereadores que compõem a Comissão de Legislação, Justiça e Redação Final afirmam que todos os seus atos em relação aos projetos da Casa “são realizados com base no parecer da assessoria jurídica da Câmara” e que, “especificamente sobre este caso, o projeto apresenta inconstitucionalidade em seu artigo 5º e seus parágrafos”.
Fonte: Jornal Local

Indiozinhos choram às margens do Rio Doce


Desde que a barragem da Samarco se rompeu, em 5 de novembro, é comum ver indiozinhos chorando às margens do Uatu Nek. Dependendo da idade das crianças, os pais precisam agarrá-las à força para que não entrem no leito poluído. “É muito triste”, conta Lúcia, mãe de um menino de 3 anos. “A gente precisa segurar, porque ele gosta de tomar banho no Uatu.”
Índios Krenak  lamentam morte do Rio Doce – Foto: Marcelo Carnaval / O Globo

O tsunami de lama que mudou a rotina de banhos, consumo de água, alimentação e até atividades culturais dos krenak levou tristeza aos pequenos. “É nessa idade (3 anos) que as crianças aprendem a nadar. Elas não entendem o perigo para a saúde. A gente tem de ficar de olho a toda hora, porque, do contrário, eles correm e entram na água”, conta o professor krenak Itamar.

Meninos e meninas mais velhos já entendem os riscos. Alessandro, de 8, explica à sua gente que o melhor é ficar longe do Uatu: “A lama trouxe veneno. Se a pessoa tiver contato com a água, pode adoecer”. Mas os anciãos da aldeia, às vezes, agem como as crianças e se banham na água com minério.

Índios condenam desastre e dizem que Rio Doce está morto
A pequena Alice, de 3 anos, não disfarça a tristeza quando fala do “Uatu Nek”, o rio em que ela diariamente tomava banho enquanto o pai, Itamar, tratava de garantir o pescado para ser servido no almoço e no jantar. “Não entro mais na água. A lama venenosa matou tudo”, diz a garotinha, da tribo Krenak, que desde antes da chegada de Pedro Álvares Cabral ao continente vive às margens do Rio Doce, como os brancos batizaram o curso d’água que agora fazem agonizar.

“Nossa relação com o rio é bem mais antiga. Sempre estivemos aqui. Hoje somos 450 pessoas e não usamos o leito apenas para o banho, para retirar o alimento do dia a dia. Há questões culturais e religiosas. E agora? Os krenak estão tristes, porque o Uatu Nek morreu”, desabafa Itamar. Ele e sua gente ocupam uma área de 4,9 mil hectares quadrados em Resplendor, no Leste de Minas, a 500 quilômetros de Belo Horizonte.

Itamar é professor e diretor da escola que funciona na tribo. Na última semana, deu uma tarefa aos alunos: fazer um desenho ou uma redação sobre o Uatu. Alice, a filha, usou vários lápis coloridos para traçar o largo leito, o paredão de pedras próximo ao rio e algumas espécies de animais e plantas que vivem no curso d’água. “Antes da lama, tinha muito bok (peixe), rokrok (garça), rimbom (capivara), pomba (pato)… Tinha bicho que ia beber água. Ia gundhum (tatu), ia gran (cobra)”, conta a menina.

A lama de minério que devastou a vida aquática no Uatu mudou a rotina dos krenak. “Nossa alimentação vai ter de mudar, porque nosso principal prato é o peixe. Agora temos medo de comer até animais que vivem na terra, como tatu, pois não sabemos se beberam da água com minério”, justifica Adauto, um dos caciques da tribo.
Até a rotina da confecção das armas usadas na caça deixou de ser a mesma. O material do arco e da flecha é retirado de uma espécie de árvore que, na aldeia, só é achada nas ilhas do Doce. “Não estamos indo lá, porque temos medo do contato com a água suja”, explica Itamar. Os rejeitos despejados nas margens também mataram plantas medicinais usadas pelos índios. “Não encontramos mais ervas-cidreiras, usadas para febres”, reclama o cacique, enquanto percorre uma das margens.

Na caminhada, Adauto avista, do outro lado do leito, os trilhos por onde as locomotivas da Vale puxam, todos os dias, centenas de vagões abarrotados com minério de ferro. Na semana em que houve o rompimento da barragem da Samarco, empresa que tem a Vale como uma das controladoras, os krenak fecharam a ferrovia por três dias.

A estrada de ferro corta a terra indígena entre o leito e o paredão desenhado por Alice. Na parte externa da rocha, há pinturas rupestres. Na interna, imensas cavernas. “Quem causou essa tragédia tem que resolver o problema. A vida precisa voltar ao longo do Uatu. Temos esperança de tê-lo de volta, como era antes”, deseja Itamar.

Combate
A ligação dos krenak com o Uatu começou antes da chegada das caravelas comandadas por Cabral. Por séculos, eles ocuparam parte do que hoje é Minas Gerais e o Espírito Santo. Foram combatidos por europeus e bandeirantes.

Nem mesmo o governo deu trégua. No fim da década de 1970, por exemplo, o regime militar expulsou os índios da área e construiu uma prisão a cerca de 500 metros do rio. “Quando o povo voltava, o governo expulsava novamente. Até que em 1979 houve uma grande enchente. A força d’água derrubou parte (dos imóveis) que construíram aqui. Os militares desistiram. Foi assim que nós voltamos. O rio nos trouxe de volta. Agora, queremos trazer a vida de volta no Uatu”, planeja Itamar.

Fonte: Jornal Estado de Minas / Repórter: Paulo Henrique Lobato

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Desastre ambiental em Minas é mais uma herança maldita do PSDB', diz deputado

Em 12 anos, outras quatro barragens romperam. A informação só não se espalhou porque Aécio Neves sempre manteve tudo em segredo, com apoio da mídia.


Najla Passos
reprodução
A privatização da Companhia Vale do Rio Doce - operada pelo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997 - não apenas entregou à iniciativa privada um dos mais rentáveis patrimônios do país, como deixou a exploração do minério brasileiro totalmente à mercê do capital internacional.

Quem afirma é o deputado Rogério Correia (PT-MG), relator da Comissão Extraordinária de Barragens da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (AL-MG), criada para apurar as responsabilidades pelo desastre ambiental de Mariana (MG). “É mais uma herança maldita que o PSDB nos deixou”, disse.

“A privatização da Vale deixou o país sem nenhuma estratégia nacional de exploração mineral”, avalia. Segundo ele, nas mãos da iniciativa privada, com o capital internacional operando a seu bel prazer, o setor não desenvolveu tecnologia própria e sequer importou. “A mineração brasileira é feita com base em tecnologia primária, da forma mais arcaica possível, como no século passado”, denuncia.

Conforme o deputado, enquanto quase todos os países do mundo desenvolvem tecnologias de mineração à seco ou com filtros - na qual a água utilizada é pouca e tratada de imediato -, no Brasil ainda impera a preferência pela utilização de barragens e minerodutos. A própria Samarco leva seu minério até o litoral por minerodutos movidos à água, pilhando também esse outro patrimônio dos brasileiros. “Isso não deveria sequer ser permitido”, reclama o deputado.

Correia atribui também a esta falta de planejamento estratégico o fato do país não ter alavancado a indústria nacional com o minério produzido no país. “As multinacionais vêm, retiram montanhas de minério e levam tudo embora”, afirma. Em 2014, o município de Mariana recebeu menos de 1% do lucro obtido pela Samarco (mais precisamente 0,72%), enquanto os acionistas lucraram 65%, conforme relatórios da própria empresa.

Vale X Petrobrás 

No momento em que a Petrobrás sofre ataques recorrentes em função da corrupção constatada na administração do órgão, o deputado a usa como exemplo para demonstrar que, apesar de todos problemas, o controle estatal faz a maior diferença para o desenvolvimento do país.

De acordo com ele, enquanto o setor petrolífero brasileiro é um dos mais modernos do mundo, justamente porque a Petrobrás continuou nas mãos do estado e desenvolveu tecnologia de ponta até para explorar o pré-sal, o setor de mineração, com a Vale totalmente entregue ao capital, se utiliza das formas mais predatórias não só de exploração do minério, mas também de relações de trabalho.

A Vale é a maior mineradora do Brasil, segunda do mundo. Em 2012, foi eleita a pior empresa do mundo em uma votação organizada por organizações não governamentais. No Brasil, no entanto, ainda é vista como a menina dos olhos da privataria tucana, recordista em distribuição de lucro aos seus acionistas. É ela que controla a Samarco, a empresa responsável pelas barragens que se romperam em Mariana, em parceria com a anglo-australiana BHP Billiton, a maior empresa de mineração do mundo.

Números do atraso

Dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o órgão do governo federal responsável pela fiscalização do setor, atestam a preferência das empresas de mineração que atuam no país pelos sistemas de barragens de dejetos de alto risco. Conforme seu último relatório, o Brasil possui hoje 663 barragens de dejeto, sendo que 180 delas – ou 27,1% - oferecem alto risco às populações do entorno e ao meio ambiente.

As fragilidades da fiscalização, porém, podem esconder números ainda mais alarmantes. Por falta de infraestrutura e pessoal, o DNPM baseia o relatório de classificação do chamado Dano Potencial Associado (DPA) em informações prestadas pelas próprias mineradoras, e não em fiscalizações in loco por agentes públicos treinados e capacitados para tal função.

Outra questão crítica é que, além de fiscalizar pouco e mal, o Brasil quase não pune os crimes ambientais. E quando pune, é somente por meios de multas, que raramente são pagas. Levantamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU) no final do ano passado demostra que, de cada R$ 100 em multas cobradas, o órgãos recebe menos de R$ 3.

Entre as razões, está o excesso de instâncias recursais para as empresas contestarem as multas. Só no Ibama, no plano administrativo, são duas. Apenas sete funcionários são responsáveis por julgar os 14 mil recursos que entram a cada ano. Por lá, a prescrição tem sido quase regra. E ainda há todas as etapas judiciais previstas.

Para agravar, os valores das multas são quase risíveis, com teto de R$ 50 milhões previsto pela legislação. A Samarco foi multada em R$ 250 milhões por cinco crimes. Quase um trocado se comparado aos R$ 20,7 bilhões pagos pela multinacional British Petroleum, responsável pelo ao vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010.

Herança maldita

Correia afirma que, em Minas Gerais, o modelo de exploração predatória é ainda mais crítico que a média nacional porque os sucessivos governos estaduais tucanos deram amplo trânsito às multinacionais. “Nesses anos de governo tucano em Minas Gerais, foram expedidos alvarás para mineração sem nenhum controle, sem nenhum compromisso. E essas empresas trabalham no limite da irresponsabilidade”, denuncia.

Segundo ele, o desastre em Mariana foi o mais grave e o que trouxe maiores prejuízos sociais e ambientais para o estado. Mas não foi o único. “Esta é quinta barragem que se rompe em Minas Gerais. Nos 12 anos de administração tucana, foram mais quatro, nos municípios de Itabirito, Cataguases, Espera Feliz e Miraí. A informação só não se espalhou porque o ex-governador Aécio Neves sempre manteve tudo em segredo, com o apoio da mídia”, esclarece.

O deputado ressalta ainda que a privatização da Vale repassou à iniciativa privada grande parte da estrutura logística do estado, como é o caso da malha ferroviária. “O único vagão de passageiros que temos hoje no Estado é o que faz a linha Belo Horizonte – Vitória, que a Vale manteve como uma espécie de símbolo do que o estado poderia ter sido”, critica.

Correia destaca também que, embora o laudo do desastre ainda esteja em fase de elaboração, tudo leva a crer que a causa do problema em Mariana foi a sanha desenfreada da Samarco por lucro acima de qualquer coisa. “Só no ano passado, a mineradora aumentou a produção da barragem em 32%”, denuncia. E isso em um contexto onde o risco de desastre já era anunciado.

Providências imediatas

O deputado fez parte da comitiva de autoridades mineiras que, nesta segunda (23), visitou Governador Valadares (MG), um município de cerca de 277 mil habitantes que teve o abastecimento de água interrompido quando a lama tóxica proveniente do rompimento das barragens de Mariana chegou por lá, via Rio Doce.

Na semana passada, o deputado integrou a comitiva da AL-MG que se deslocou à Mariana para vistoriar a área, prestar solidariedade aos atingidos e participar da audiência pública que discutiu o socorro às vítimas. “É muito triste o que a gente vê. Nesta primeira etapa, estamos priorizando a fiscalização do socorro às vítimas”, explicou.

O rompimento das barragens em Mariana matou 11 pessoas. Outras 12 continuam desaparecidas. A lama tóxica que desceu o rio São Francisco levando destruição por onde passou já atingiu o estado do Espírito Santo e a expectativa dos técnicos que atuam na área é que o prejuízo envolva uma área muito maior do que a prevista inicialmente. Os danos sociais, ambientais e econômicos ainda são imensuráveis.
Fonte: cartamaior

Direitos minerários x direitos sociais: que as mineradoras paguem o justo

    O presente artigo trata das benesses tributárias concedidas ao setor minerário que tanto explora 
24/11/2015
Por Eulália Alvarenga*

Minas Gerais, mais que qualquer outro estado brasileiro, sofre o efeito colonizador desde que o Brasil foi “descoberto”. O Estado Brasileiro antecedeu à formação da sociedade, tornando-se um instrumento de colonização e dominação. No Brasil, as camadas dominantes jamais renunciaram a seus privilégios, suprimindo desde cedo qualquer levante popular por mais direitos sociais. Tais elites atuam no sistema legal, político e econômico visando manter esses privilégios. Em teoria, o Estado existe para prover a seus cidadãos uma boa qualidade de vida, como disse Aristóteles, mas no entanto, o Estado Brasileiro serve a um seleto grupo de privilegiados.
Minas respondeu por aproximadamente 50% da arrecadação minerária do Brasil [1] em 2013. No entanto, essa arrecadação deveria ser maior, posto que o Brasil é um dos países que cobra os menores royalties sobre a mineração no mundo [2].
Para resolver essa defasagem na arrecadação, é necessário que o Congresso Nacional elabore e aprove o novo marco regulatório para o setor, com respeito a sociedade e ao meio ambiente, e não atendendo aos interesses daqueles que financiam campanhas eleitorais [4]. Também é necessária uma mudança na legislação tributária para que sejam revistas as benesses tributárias para este setor e a implantação de uma fiscalização eficiente. Em MG, um estado com grande atividade minerária o órgão fiscalizador Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPMpossui somente 4 funcionários.
De acordo com relatório do TCU (2011)  [5], de cada quatro áreas onde há extração de minério no País, apenas uma faz o devido recolhimento do royalty de mineração, a chamada Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais –CFEM. O mesmo relatório aponta a quase inexistência de fiscalização desta contribuição pelo DNPM. Presume-se que quem pratica a sonegação de royalties, o faça também com relação a outros tributos, sobretudo imposto de renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
A falta de fiscalização é um grande facilitador para estas práticas. Em MG, onde somente a extração de ferro atingiu o volume declarado de 265,7 milhões de toneladas em 2013 [6], é impossível acreditar que,com o número de fiscais que o DNPM possui, seja capaz de efetuar a fiscalização do setor minerário de todo o Estado de MG.
Diversas organizações internacionais têm feito denúncias a respeito de supostas irregularidades (sonegação fiscal decorrente de subfaturamento e/ou preços de transferências com recebimento das diferenças em paraísos fiscais) na exportação dos minérios do Estado de MG e do restante do Brasil (nióbio, ouro, minério de ferro e outros).
Quando se fala em pagamento justo, a proposta vai além do simples pagamento de tributos. Pressupõe-se uma base tributária que proporcione a implementação políticas públicas que assegurem os direitos das pessoas e consiga reverter as desigualdades [7]. Se os recursos minerais são propriedade do Estado, é legítimo exigir que os benefícios da
exploração destes recursos, cujos impactos negativos podem ganhar a dimensão de catástrofes em muitos casos, 
sejam revertidos a favor da sociedade. É necessário que a sociedade, que é a razão de ser do Estado e não o 
contrário, tenha sua contrapartida em função da exploração de recursos minerais.
Minas Gerais: 10 maiores empresas  em relação a Lucro Líquido / 
Recolhimento de Tributo  – Exercício 2014
 
  
Analisando os dados da tabela acima, constata-se que a Samarco Mineração S/A, empresa responsável pelo 
maior desastre ambiental do Brasil ocorrido em Mariana/MG em 05-11-2105 [8], teve, em 2014, lucro líquido 
de mais de R$ 2,8 bilhões, ano em que pagou cerca de R$ 614 milhões em tributos (impostos, taxas e contribuições), 
para os três níveis de governo, gerando apenas2.969 empregos diretos. A Samarco está também na segunda 
colocação no Estado em EBTIDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações), com cerca de 
R$ 3,7 bilhões [9].
É evidente que as mineradoras brasileiras contam com vantagens significativas, posto que conseguem obter 
rentabilidades extremamente altas com relação a outras atividades industriais, ao mesmo tempo que provocam 
impactos ambientais profundos nas áreas onde a atividade minerária é exercida. O Estado de MG, por ser o 
maior produtor de minérios do Brasil, é o mais prejudicado por tais atividades, sobretudo porque quando os 
recursos escassearem ou perderem valor de mercado em função de redução da demanda, não tem sido 
beneficiado na medida justa em função da exploração dos seus recursos minerais.
O cenário ainda pode piorar em breve, caso seja aprovado o projeto em tramitação no Congresso brasileiro 
do novo código de mineração (Projeto de Lei 5.807/2013 [10]), que tem sido debatido sem considerar as vozes 
da sociedade (movimentos sociais e comunidades envolvidas com a exploração mineral). Há outros agravantes,
como estabelecer que caberá à Agência Nacional de Mineração a autorização de qualquer atividade que cause 
impedimento de atividades minerárias (unidades de conservação, terras indígenas e quilombolas). 
Vale ressaltar que o relator do Projeto de Lei (deputado eleito em MG) recebeu R$ 380 mil das empresas do setor 
minerário na sua campanha eleitoral o mesmo ocorrendo com a maioria dos 31 parlamentares que compõem 
a comissão especial [11].
A sociedade mineira tem, urgentemente, que discutir os rumos do Estado, revendo sua condição eterna de 
colônia, exportadora de minérios brutos sem nenhum valor agregado e exigir que a sua participação seja efetiva 
na discussão do novo Marco Regulatório da Mineração. Exigir que as mineradoras paguem o justo e, o justo vai 
muito além de tributos [12]
Que a atividade minerária possa devolver a sociedade tudo que lhe foi tirado. Que as riquezas do Brasil e de Minas 
sejam para o seu povo!
*Eulália Alvarenga é auditora fiscal de tributos municipais (aposentada), especialista em direito tributário e 
economista; com a colaboração de Rafael Machado,  Geógrafo, Engenheiro Ambiental e Urbano, Auditoria 
Cidadã da Dívida – Núcleo São Paulo. 
Artigo originalmente publicado na página da Auditoria Cidadã da Dívida.
Fonte: Brasil de Fato

domingo, 22 de novembro de 2015

Roterio turístico de quilombolas em Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas.



Roteiro permite vivenciar cotidiano de quilombolas em MG.

Assista:



Para ter acesso a reportagem, clique aqui.

Giovanni Bello - ENVIADO ESPECIAL AO VALE DO JEQUITINHONHA (MG)

Mas, de perto, a realidade é outra. A paisagem na verdade é rica e o clima, favorável para muitas espécies. Seu Hermínio, morador de Berilo, garante: "Aqui dá de tudo que plantar... Mas se estiver chovendo, né?"


O Vale do Jequitinhonha, no nordeste de Minas Gerais, é uma das regiões mais pobres e com indicadores sociais mais baixos do país. Ao falar na região, vêm à mente imagens de clima semiárido, poeira, plantas secas, raros animais, pouca comida e quase nenhuma água.

A cultura é viva nas comunidades. E as danças e músicas que corriam o risco de desaparecer ganham novo fôlego com o engajamento dos jovens e a perspectiva trazida pelo novo projeto turístico na região: a Rota dos Quilombos (comunidades originalmente formadas por africanos escravizados no Brasil). Inaugurado no mês passado, o projeto tem o objetivo de gerar renda para esses locais.

O programa é coordenado pela historiadora Agda Moreira e pela turismóloga Luciana Priscila do Carmo, por meio do Cedefes (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva), ONG que trabalha com questões quilombolas e indígenas de Minas.

O tour abrange as cidades de Berilo, Chapada do Norte e Minas Novas, no médio Jequitinhonha. Delas, parte-se para as comunidades quilombolas próximas, todas rurais.
O valor para o passeio de nove horas nas comunidades fica entre R$ 260 e R$ 300 por pessoa, para grupos de até seis visitantes, incluindo alimentação e monitor local.

Nas visitas aos moradores, a hospitalidade interiorana brasileira se mostra inteira –quase exageradamente. Em todos os lugares que visitamos, nós, turistas, tínhamos que comer primeiro, enquanto todo mundo esperava.

A culinária local é variada, saborosa e farta. Os lanchinhos do passeio, chamados "quitandas", incluem: biscoito de polvilho frito, de fubá, brevidade (espécie de bolo de polvilho), pães caseiros, rapadura, pé de moleque... Sempre acompanhadas de café e contação de causos.

Para os almoços, feijão tropeiro, feijoada, galinha caipira, angu, canjiquinha, quiabo e alguma boa cachaça das redondezas. Quase tudo tirado dali mesmo, no quintal das famílias que recebem os turistas.

RIQUEZA CULTURAL
Na cultura, destacam-se as danças e músicas, marcadas pelo sincretismo religioso. Os tambozeiros de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos fazem uma apresentação enérgica, com forte influência do candomblé –em uma igreja de interior pomposo, de arquitetura barroca, em Chapada do Norte.
A mistura se repete na comunidade quilombola de Caititu do Meio. Dentro da igreja pequenina reza-se o terço inteiro, cantado. Do lado de fora, ouve-se batuque.

As tecelãs de Roça Grande misturam as atividades do tear com músicas que falam de trabalho e da realidade do semiárido: "Me ajuda companheiro / Deixa de tanta vergonha / Que aqui não é cidade / Aqui é mata medonha!", seguida do refrão: "Ô bananeira, bananeira chora / Chora bananeira / Adeus, que eu vou embora!". O algodão é tratado com a batida de varas compridas, que marca o ritmo das canções.

Não é um turismo de massa, as organizadoras reconhecem, mas tem potencial para atrair muita gente interessada na troca de experiências.

"Nossa intenção é que quem vem de fora vivencie o cotidiano de uma comunidade quilombola. O público que a gente busca não é o que vai visitar o Corcovado, o Cristo Redentor. É um turista que quer fazer uma troca de experiências e que vai querer deixar algo", diz Moreira.

Então, nada de "cheguei, clique, próxima!". Claro, há paisagens lindas, danças fotogênicas e comidas que ficarão ótimas no Instagram. Mas a melhor parte depende da disposição para contar e ouvir histórias.

Fonte: Folha de S. Paulo