segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Lula deve aceitar sem pestanejar qualquer liberdade.

"Minha esperança é vê-lo descer na Estação Paulista e que a mesma se torne na nossa Estação Finlândia. Espero vê-lo livremente dizer que está ali - em carne e osso - na defesa do povo, da nossa soberania e contra essa camarilha fascista que tomou conta do país... algo que na cadeia é impossível de se fazer...", diz o colunista Carlos d'Incao

Lula venceu os indignos
Lula venceu os indignos
Aqueles que possuem um pouco de conhecimento sobre a grande Revolução de Outubro já ouviu falar sobre a importância da chegada de Lênin em abril de 1917 na Rússia, na famosa “Estação Finlândia”. Poucos sabem, porém, que as circunstâncias para que Lênin chegasse até ali não foram apenas difíceis... foram dramáticas e extremamente arriscadas.
Lênin estava vivendo no exílio há anos. Acompanhava as condições da Europa e da Rússia com atenção, diligência e sagacidade. Onde quer que estava residindo era vigiado pela polícia e por espiões. Vivia com as “tornozeleiras eletrônicas” da época. Quando saiu de Zurique rumo a Petrogrado não o fez sem negociar diversas garantias - algumas delas que o reduziam à humilhante condição de um delinquente comum - para chegar em seu destino final.
Seria muito fácil para Lênin ficar no exílio da neutra e pacata Zurique e dizer que apenas retornaria para a Rússia com sua “liberdade plena”, uma parada militar para recebê-lo e com os juízes que o condenaram na cadeia ou no exílio.
Afinal, Lênin já era internacionalmente reconhecido como grande intelectual e revolucionário marxista... e a História bem sabe que ele não era culpado de nenhuma das acusações feitas pelo czarismo e muito menos pelo governo provisório (das acusações mais vulgares estava a de que ele era um espião alemão que conspirava contra a Rússia na primeira guerra).
Mas Lênin sabia da gravidade política da Rússia e seu retorno estava muito além de seus desejos pessoais. Tratava-se de seu dever revolucionário. Quando conseguiu finalmente descer na Estação Finlândia se apressou em organizar forte resistência ao governo provisório e organizou o processo revolucionário que, sem o qual, hoje inexistiria a estrela vermelha do PT, o próprio Lula, o PC do B, o PCB, o PSOL e toda a esquerda como a concebemos.
Na Rússia, Lênin continuou com sua “tornozeleira eletrônica”, tendo diversos espiões no seu encalço, até ser informado de que sua prisão estava decretada novamente... mas ele não se entregou... foi para a clandestinidade e ali permaneceu até a vitória da Revolução.
É importante frisar: Lênin percebeu que em determinados momentos da História cabe a 1 ou poucos indivíduos representarem interesses de suma importância para toda uma coletividade. Ao ter essa percepção assumiu o enorme fardo de abrir mão de sua vida como indivíduo para abraçar uma nova vida como liderança política, onde seria o protagonista central de um período de guerra e revolução.
Na primeira vida (como indivíduo) o que ele fez ou deixou de fazer cabia a apenas a ele; na segunda é o dever histórico que dominou a sua vida.
Da “Estação Finlândia” caminhemos agora para a “Estação Paulista”, avenida que é o palco central dos grandes protestos nacionais - sejam da esquerda ou da direita. Nessa Estação vivemos a necessidade da presença de uma liderança que, por circunstâncias históricas determinadas, se tornou em um símbolo de resistência a um projeto neoliberal que está trucidando a esperança de toda uma nação e que ameaça não apenas a soberania nacional, mas a soberania de toda a América Latina.
Essa liderança é o Lula.
Lula não foi preso como indivíduo, mas por ser justamente essa liderança política. Sua vida como indivíduo nada representa no mundo jurídico. Apenas sua pessoa política, o seu símbolo, o seu significado... apenas isso é o que importa.
Circunstâncias muito particulares abriram a possibilidade de ele ser libertado da prisão em breve. Em regime com vigília e talvez tornozeleira eletrônica. Pouco importa. Tenho a certeza de que Lênin não pensaria duas vezes em aceitar a liberdade e que em seu primeiro discurso quebraria essa tornozeleira e diria: “Nunca mais nenhum bandido fascista me colocará na cadeia!”
Há um jogo nebuloso que envolve essa questão de regime semi-aberto que não interessa à esquerda. Há aqueles que acham que existe uma armadilha para o Lula, que se ele aceitar o semi-aberto de alguma forma aceita sua culpa...
São especulações...
Pode ser que a armadilha seja o reverso, ou seja, tudo está armado para que Lula não aceite o semi-aberto e, desta forma, a justiça poderá desacelerar a análise de sua liberdade plena e julgá-la só sabe quando... afinal o seu gesto pode ser interpretado como soberba...
Mais uma vez: especulações...
Estou certo de que Lula deveria aceitar sem pestanejar qualquer liberdade. Afinal, se está tão “magoado” como indivíduo por ser vítima de uma injustiça, poderia ter se rebelado antes e não se entregado à polícia... ou poderia ter pedido asilo político... Mas ele não é mais um indivíduo. Ele é um símbolo do qual o Brasil e a América Latina necessita.
Espero apenas que o espírito do grande Lênin inspire Lula a fazer o que é certo. Minha esperança é vê-lo descer na Estação Paulista e que a mesma se torne na nossa Estação Finlândia. Espero vê-lo livremente dizer que está ali - em carne e osso - na defesa do povo, da nossa soberania e contra essa camarilha fascista que tomou conta do país... algo que na cadeia é impossível de se fazer...

sábado, 28 de setembro de 2019

Vales do Jequitinhonha e Mucuri perdem mais de R$ 1 bilhão e 40 mil empregos com a saída de rochas ornamentais da região.

Granito, mármore, pedra-sabão e quartzito são as rochas mais extraídas na região, quase toda beneficiada por indústrias do Espírito Santo.

Maiores jazidas estão nos municípios de Datas, Diamantina, Itinga, Medina e São Gonçalo do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha, e Franciscópolis, no Vale do Mucuri.




Foto: Gazeta de AraçuaiVale do Jequitinhonha perde bilhões com a saída de granito bruto da região
Carretas transportam granito extraído em Coronel Murta. Pedreiras geram poucos empregos no município.
Nem só de minério de ferro são feitas as montanhas de Minas Gerais. Entre granito, mármore, pedra-sabão, quartzito e vários outros tipos, o Estado é o segundo maior produtor de rochas ornamentais do país.
Das 9 milhões de toneladas extraídas nacionalmente em 2018, Minas produziu 21%, mas ficou com apenas 10% do faturamento das exportações brasileiras. É que, apesar da grande quantidade de jazidas – concentradas na região Norte e nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, de onde saem os blocos brutos –, o Estado não beneficia a matéria prima.
Essa etapa industrial, que agrega valor, é feita pelo Espírito Santo. O vizinho produz cerca de 60% a mais, mas tem ganhos 555% maiores com a exportação.
Isso acontece porque, embora tenha a maior diversidade de rochas do Brasil, Minas praticamente não tem indústrias. São aproximadamente dez plantas, contra 1.600 no Espírito Santo, que recebe as rochas mineiras em estado bruto, beneficia e exporta.
É o caso do Avocatus, um quartzito esverdeado abundante em São Gonçalo do Rio Preto, na região do Alto Jequitinhonha, onde a capixaba Magban tem uma pedreira. De lá, os blocos são retirados e seguem de caminhão, por cerca de 400 km, até Cachoeiro do Itapemirim, no Sul do Espírito Santo, onde fica a planta de beneficiamento da empresa.
A Magban transforma esse material bruto em chapas que, a partir do porto de Tubarão, em Vitória, são colocadas em navios com destino a países como Estados Unidos, China, Itália e Emirados Árabes. Os preços das rochas variam de acordo com o tipo do material, mas, segundo estimativas feitas por empresários do setor, entre a forma bruta e o produto acabado, o valor pode subir de 50% a 400%.
Extração de granito gera impactos ambientais que nem sempre são compensados pelas empresas.
Extração de granito gera impactos ambientais que nem sempre são compensados pelas empresas.

“Um bloco bruto de quartzito branco, por exemplo, custa US$ 26,4 mil. Ele é transformado em 56 chapas, somando US$ 60 mil. Tirando o gasto com frete e a parte da industrialização, que inclui serrar, resinar e polir, o valor agregado é de 30% a 50%. Esse é o dinheiro que Minas deixa de ganhar porque, como não tem indústria, manda as rochas para o Espírito Santo”, explica o vice-presidente do Sindicato Intermunicipal das Indústrias de Beneficiamento de Mármores, Granitos e Rochas Ornamentais do Estado de Minas Gerais (Sinrochas-MG), Eduardo Félix.
Já o empresário Evandro Sena, da cidade de Medina, no Médio Jequitinhonha,  calcula que, em média, cada metro quadrado bruto de rocha ornamental custa US$ 30. Depois de beneficiado, o metro quadrado da chapa custa de US$ 100 a US$ 150.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas), o país exportou US$ 992 milhões em 2018. Desse total, US$ 791 milhões (80%) são do Espírito Santo.
Ao todo, Minas exporta US$ 121 milhões, sendo metade de rochas como ardósia, que já saem na forma de chapas, pois o processo industrial é mais simples. Já granito e feldspato, que são pedras mais duras e precisam de teares de diamante para o processamento, foram praticamente todos exportados como matéria prima.
“Considerando os blocos, Minas exportou US$ 60 milhões. Se fossem produtos acabados, poderia exportar US$ 140 milhões”, afirma o geólogo Cid Chiodi, consultor da Abirochas.
Mas o potencial de ganho é ainda maior. “Dos US$ 791 milhões exportados pelo Espírito Santo, US$ 205 milhões são proporcionados por rochas que Minas manda para serem beneficiadas pelas indústrias capixabas.
Se exportasse os produtos acabados e tivesse indústria capaz de beneficiar tudo que o Estado manda para o Espírito Santo, o faturamento (considerando blocos e chapas processadas) praticamente triplicaria, chegando a US$ 345 milhões”, acrescenta Chiodi.
Ou seja, nessa conta, só em blocos que poderiam ser processados aqui, dos US$ 60 milhões para os US$ 345 milhões, são US$ 285 milhões que ficam pelo caminho – aproximadamente R$ 1,1 bilhão.
Espírito Santo concentra maioria das industrias de beneficiamento. Rochas são exportadas para os Estados Unidos, China, Itália e Emirados Árabes
Espírito Santo concentra maioria das industrias de beneficiamento. Rochas são exportadas para os Estados Unidos, China, Itália e Emirados Árabes

Falta de incentivo gera fuga de indústrias
O Espírito Santo é o maior exportador de rochas ornamentais do Brasil, mas cerca de um terço do que é vendido de lá para outros países sai das jazidas mineiras.
“No geral, 30% das rochas beneficiadas no Espírito Santo são fornecidas por Minas. Se formos considerar só os materiais mais exóticos, sobe para 50%”, explica o presidente do sindicato do setor (Sinrochas-MG), José Balbino.
Se Minas Gerais tem tanta matéria prima, por que não tem indústrias? “Para mim, isso é uma interrogação. Talvez não tenha respostas. Minas é o segundo maior produtor de rochas, é uma economia potente e tem uma infraestrutura logística que muitos Estados invejam. O que falta é estratégia e diálogo entre o poder público e o setor produtivo”, responde o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria das Rochas Ornamentais (Abirochas), Reinaldo Sampaio.
Segundo Balbino, não há uma política pública eficiente por aqui. “Minas perdeu o timing da industrialização do setor. Há 40 anos, o governo perdeu a oportunidade de incentivar as empresas que estavam extraindo. Essa falta de incentivo significou a ida das indústrias para o Espírito Santo e fez com que elas crescessem na parte do beneficiamento. Tudo isso, junto da falta de apoio em relação à agilidade nos licenciamentos ambientais, à falta de incentivos tributários e de linhas de financiamento em Minas, acabou com a possibilidade de crescimento da indústria no Estado”, avalia Balbino.
Segundo o representante do setor, a combinação de falhas também tirou do Norte de Minas, do Vale do Jequitinhonha e Mucuri a chance de diversificar a economia da região. Hoje, só de granito, das 91 cidades que têm lavras registradas na Agência Nacional de Mineração (ANM), 34 ficam nessas regiões.
Fonte: OTEMPO
Comentário do Blog
O setor de beneficiamento de rochas ornamentais do Espírito Santo gera em torno de 135 mil empregos. Considerando que Minas contribui com 30% da matéria prima para o setor, o beneficiamento realizado em Minas e a posterior exportação poderia gerar cerca de 40 mil empregos diretos e indiretos no Estado.
E toda essa produção estadual poderia contribuir com o desenvolvimento dos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e norte de Minas, regiões de maior incidência da produção natural desses minerais.

As principais jazidas de rochas ornamentais estão em municípios como Coronel Murta, Datas, Diamantina, Itinga, Medina, Serro e São Gonçalo do Rio Preto, no Vale do Jequitinhonha e Franciscópolis, no Vale do Mucuri.  

Escândalo em Minas Novas: Câmara Municipal apura desvio de R$ 400 mil


Reunião de Vereadores de Minas Novas. Foto-divulgação.
Um escândalo caiu como uma bomba na Câmara Municipal de Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, nordeste de Minas. Há indícios que tenha sido desviado recursos da Câmara. Suspeita-se de um sumiço de cerca de R$ 400 mil com o envolvimento de uma funcionária.
Nas redes sociais, diversos cidadãos cobravam dos vereadores o esclarecimento de tal boato. Confira algumas mensagens:
“ ENTÃO SRS VEREADORES SERÁ PRECISO ADD O MINISTÉRIO PÚBLICO?
CADÊ O DINHEIRO QIE ESTAVA AQUI?”
.....................
“ATENÇÃO SR PRESIDENTE GUSTAVO.
ESTAMOS AGUARDANDO SUA PALAVRA MANO.
O POVO QUER SABER SE REALMENTE SUMIU MAIS 400 MIL REAIS DOS COFRES DA CÂMARA.
SE FOR VERDADE, CADÊ O LADRÃO?
JÁ ESTÁ NA CADEIA?”
...........................
“Boa noite Jairo! acredito que a mesa diretora tem que responder sobre esse assunto! A cidade toda está me perguntando também?eu também quero saber?”
“Boa noite vereador Leandro.
Parabéns por dar sua palavra, mostra que vc realmente tem compromissos sérios com nosso município.
Realmente todos querem saber.
Absurdo caso esse rombo gigantesco tenha acontecido, se for verdade, o ladrão tem que ser preso pô.
Que que isso, casa da mãe Joana pô”.
.............................
“ATENÇÃO SR MOACIR, PESSOA SÉRIA E CORRETA. AGUARDAMOS SUA PALAVRA TAMBÉM, MUITO IMPORTANTE OK.”
......................
Alguns vereadores vieram a público, declarando-se fora de qualquer esquema de desvios de recursos da Câmara. Willer Durval disse não ter nada com o caso. Merquim também disse não ter nada com o caso, destacando que faz parte da Comissão de Sindicância para apurar os fatos. 
A funcionária Alice Coelho, contratada desde 2016, que atuava na área administrativa, foi demitida por ser uma das suspeitas com o caso. Alice é nora da ex-presidente da Câmara, Fátima de Lourdes Martins Almeida.
Na terça-feira, 24.09, o presidente da Câmara Municipal de Minas Novas, Gustavo Luiz Coelho Rodrigues (PV), teria informado aos colegas sobre a possibilidade de desvios das contas do Legislativo. Não há valores oficiais, mas pelo menos uma funcionária já foi exonerada, suspeita de ter participado do esquema.
No site da Câmara Municipal, no dia 25.09, foi publicado um Comunicado oficial, informando que foi formada uma Comissão de Sindicância com 3 vereadores para apurar os possíveis desvios.

O jornal OTEMPO, de Belo Horizonte, divulgou o fato na página 2, de Política, A.Parte, dessa sexta-feira, 27.09.
Ouça o áudio de uma reportagem do Jornal::


Movimentos e rebeldias: O que há por trás de Greta Thunberg

Como se articulou a Greve Climática Global – em que milhões questionaram corporações e governos. Por que a garota sueca tornou-se símbolo. A progressiva politização: da esperança ao desencanto e protestos. O que esperar agora.

27/9, Milhares nas ruas em Valencia (Espanha). No encerramento da semana de Greve Global pelo Clima, multidões foram às ruas em centenas de cidades
Por Nick Engelfried, no CTXT | Tradução: Antonio Martins
MAIS:
Calcula-se que 6 milhões de pessoas — a grande maioria muito jovens — tenham participado da Greve Global pelo Clima. Veja aqui nossa cobertura e imagens da primeira jornada (20/9) do grande protesto.
Começou com um chamado à ação de um grupo de jovens ativistas espalhados pelo mundo, e logo tornou-se o que está se configurando como o maior protesto em favor do clima já visto, em escala planetária. A Greve Global pelo Clima, que terminou nesta sexta-feira (27/9) não foi a primeira ocasião em que pessoas de todo o mundo foram às ruas num único dia contra a destruição da natureza. Mas talvez seja um ponto de virada na resistência de base aos combustíveis fósseis.
“As greves estão ocorrendo em quase todos os lugares em que você pode pensar”, diz Jamie Margolin, uma estudante de ensino médio de Seattle, EUA, que jogou um papel na deflagração deste movimento global. “As pessoas estão participando em literalmente todas as partes do mundo”.
Buenos Aires, 27/9
Entre os dias 20 e 27, milhões de pessoas participaram de ações que exigiram dos governos agir diante da crise climática. De estudantes muito jovens organizando manifestações a ativistas experientes planejando corte de vias em grandes cidades, as pessoas chamaram atenção para a urgência moral da mudança climática ao interromper a banalidade da vida cotidiana.
“É um instante de galvanização do movimento pelo clima, que está perdendo a batalha até agora”, diz Jake Woodier, da Rede Norte-Americana de Estudantes pelo Clima, que organizou-se para a greve em Londres e outras cidades do Reino Unido. “De repente, há toda uma nova geração de ativistas desafiando todo mundo, não importa quem seja, por não fazer o suficiente – e isso está despertando as pessoas”.
Roma, 27/9. Os protestos ocorreram em dezenas de cidades italianas, e reuniram 1,3 milhão de pessoas
Como quase sempre, no caso de grandes movimentos sociais, o impulso para a Greve do Clima partiu de muitas iniciativas distintas, em diferentes pontos. Mas se as origens podem ser ligadas a um evento específico, foi provavelmente uma marcha em 2018, organizada pela organização juvenil Hora Zero (Zero Hour), que Margolin ajudou a fundar um ano antes, com um pequeno grupo de outros ativistas jovens – principalmente estudantes não brancos.
A marcha juvenil pelo clima do Hora Zero ocorreu em 21 de junho do ano passado, em Washington e foi precedida, dois dias antes, por um dia de pressão sobre os deputados norte-americanos, além de outros eventos nos Estados Unidos. Centenas de jovens aderiram, apesar da chuva, o que atraiu considerável atenção da mídia e jogou os holofotes em como a chamada Geração Z é atingida de modo desproporcional pela crise climática. Mas o que quase ninguém poderia ter imaginado é que, nos bastidores, o Hora Zero havia colocado em movimento uma série de processos que iria levar a uma mobilização ainda maior, e em escala global.
Guayaquil, Equador, 27/9
No outro lado do Atlântico, a garota sueca Greta Thunberg, então com 15 anos, havia lido notícias sobre o Hora Zero e fora inspirada pela visão de seus líderes a respeito de um movimento claramente liderado por jovens. Ela começou a seguir organizadores como Margolin nas mídias sociais. Em pouco tempo, garotas e garotos de distintos continentes comunicavam-se sobre ativismo climático pela internet. Em 20 de agosto, Thunberg realizou sua primeira “greve climática”, faltando à escola pra exigir ação, nas escadarias do Parlamento sueco. No mês seguinte, ela lançou as “Sextas-feiras pelo Futuro” (“Fridays for Future”), convidando outros estudantes para somar-se a ela em seus protestos semanais.
“As ações de Greta Thunberg deflagraram o movimento”, diz Woodier. “Num mundo em que somos levados quase sempre a nos individualizar e atomizar, e a crer que somos pequenos e não podemos fazer diferença, ela foi uma enorme inspiração para muitas pessoas jovens”.
Bangalore, Índia, 27/9
No final de 2018, Greta passou a assistir encontros intergovernamentais sobre o clima na Europa – entre eles, um evento da ONU na Polônia. Ela não foi a primeira pessoa muito jovem a aparecer nas Nações Unidos e exortar governantes a agir, mas havia algo único em sua abordagem.
Greta era decisivamente mais focada que seus antecessores em denunciar a inação dos governantes. “Vocês só pensam em continuar com as mesmas ideias más que nos colocaram nesta crise. Vocês não são suficientemente maduros para dar às coisas seus nomes”, disse ela na Polônia. Para milhares de pessoas em todo o mundo que estavam saturadas de décadas de inércia governamental, seu tom marcou uma mudança indispensável.
Madrid, 27/9
Diversos fatores convergentes contribuíram para que o ativismo de Greta chegasse no momento perfeito. Ao longo da última década, movimento pelo clima foi aos poucos tornando-se mais capaz de organizar ações coordenadas entre os continentes, o que tornou possível a rápida difusão de novas táticas. Ao mesmo tempo, nos EUA, a Marcha por Nossas Vidas, contra a violência por armas de fogo, mostrou como poderia um movimento de massas formado por muito jovens. Finalmente, com a multiplicação de fenômenos climáticos extremos em quase todas as partes do mundo, mais pessoas estão despertando para a urgência da crise, o que as torna receptivas à mensagem de Greta. Como integrante articulada de uma geração que terá de suportar os custos da mudança climática mais do que as anteriores, ela tornou-se a porta-voz perfeita para aproveitar a oportunidade criada por estes eventos. Rapidamente suas falas aos governantes do mundo tornaram-se virais no YouTube.
Enquanto isso, o movimento das Sextas pelo Futuro crescia – especialmente na Europa, onde até então era mais influente. Em julho, a chanceler alemã Angela Merkel apontou a pressão dos jovens ativistas como uma das razões pelas quais seu governo planeja reduzir mais agressivamente as emissões de carbono. Em boa parte da Europa o movimento pela greve ajudou a colocar a mudança climática num patamar mais alto da agenda política dos governantes e dos eleitores. Um forte avanço dos Partidos Verdes nas eleições para o Parlamento Europeu, em maio, é possivelmente o sinal mais concreto até agora do impacto do movimento. Mas as greves rapidamente se espalharam além da Europa.
Milão, 27/9
No início de 2019, houve manifestações estudantis em países como os EUA, Brasil, Índia e Austrália. Nos meses seguintes, surgiram apelos para um novo avanço do movimento – agora, liderado por jovens, mas com participação de gente de todas as idades. A ideia era de uma greve mundial em que as pessoas deixassem a escola, o trabalho ou outras atividades diárias para somar-se aos protestos por ação climática.
A data escolhida para iniciar a greve global coincidia com a convocação de uma cúpula climática de emergência, feita pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e que começaria em Nova York em 23/9. Muitos veem este encontro – concebido como uma oportunidade para que os países reforcem seus objetivos sob o Acordo de Paris pelo clima – como sendo reação direta às pressões de base que os governos estão sentindo.
Wellington, Nova Zelândia, 27/9
“Este encontro de ação climática foi convocado em resposta ao agravamento da crise e à pressão do movimento da greve, diz Woodier. “É o contrário do passado, quando os organizadores da sociedade civil organizavam manifestações em resposta aos encontros oficiais marcados muito tempo antes”.
Greta foi convidada a falar no encontro da ONU, e uma cúpula especial da juventude reuniu jovens de todo o mundo, entre eles Margolin. Em 28/8, Greta chegou a Nova York depois de cruzar o Atlântico em um barco que não emite carbono. Mal havia posto os pés em solo norte-americano, já se somava a um protesto climático liderado por jovens, do lado de fora da sede da ONU. Enquanto isso, a Greve Climática Global era apoiada por centenas ou milhares de organizações no mundo.
Lisboa, 27/9
Embora as maiores manifestações tenham ocorrido em grandes cidades, a greve também provocou ondas em localidades menores, menos nos países produtores de combustíveis fósseis. Segundo o grupo internacional sobre o clima 350.org, houve milhares de ações em 117 países do mundo.
350.org tem vasta experiência com este tipo de mobilização climática internacional. A organização começou com a primeira jornada de ação em larga escala especificamente voltada conta a mudança climática, em outubro de 2009. Ocorreu nos preparativos para as negociações climáticas da ONU, realizadas naquele ano em Copenhague. Visava pressionar os delegados a adotar um tratado climático internacional forte e de cumprimento obrigatório. A ideia de que tal objetivo poderia ser alcançado naquele momento pode soar ingênua em perspectiva, mas naquele momento não parecia irrealizável. Os EUA havia elegido fazia pouco Barack Obama para a presidência, e mesmo muitos ativistas climáticos não compreendiam quão profundamente o dinheiro dos combustíveis fósseis está incrustado nos salões de governo.
Barcelona, 27/9
O Dia de Ação Global de 2009 foi em grande medida um evento festivo, celebratório. Grupos de pessoas posaram para fotos com cartazes diante de glaciares alpinos em derretimento e outras paisagens afetadas pela mudança climáticas. Havia muitas obras artísticas e relativamente poucas marchas realmente grandes. Fazia sentido para um movimento global que acabava de se colocar em pé – num momento em que de fato parecia que os governantes do mundo poderiam ser gentilmente empurrados a fazer a coisa certa. Mas com a medidas internacionais contra a mudança climática praticamente bloqueadas, atividade legislativa quase nula na maior parte dos países e o ascenso de políticos de extrema direita como Donald Trump, o ânimo do movimento pelo clima mudou dramaticamente.
“As pessoas que acompanham a Ciência sabem que estamos agora na fase de fuga da catástrofe climática”, diz Nadine Bloch, organizadora do #ShutDownDC, que organizou ações em Washington. “A urgência de estar em chamas foi finalmente compreendida por gente de fora das comunidades de ativistas”. A Greve Climática Global ocorreu apenas dez anos depois da mobilização de 2009 e teve manifestações muito maiores e mais importantes. Sua mensagem – a de que a mudança climática tem precedência, diante da escola e do trabalho – reflete esta urgência ampliada.
Palestina, 27/9
Porém, embora a palavra “Greve” conote um tipo de ação mais militante do que sessões fotográficas, nem todo mundo compartilha a mesma visão sobre o que ela significa. “Nos EUA, muita gente nem sabe o que é uma greve”, diz Nadine. “Ainda se fala em obter permissões para protestos, o que não é uma greve de fato”. O #ShutDownDC quer algo mais disruptivo, ainda que não violento. “Devemos interromper os negócios na sede do poder governamental cujos integrantes recusam-se a reconhecer a crise climática ou a assumir responsabilidade”.
Os ativistas também pensam em como levar o impulso da greve a outros movimentos de jovens. “A frustração diante da inação dos governos levou as pessoas a se envolver nas greves climáticas”, diz Gracie Brett, do Divest Ed, que promove campanhas de desinvestimento em combustíveis fósseis em mais de 70 universidades norte-americanas. “A mesma urgência permitiu que o movimento tivesse um novo impulso, há pouco. Oferecemos uma oportunidade de agir além dos dias de greve”.
Helsinki, 27/9
Jamie Margolin também vê a greve como maneira de atrair um número maior de pessoas jovens para o movimento pelo clima. “Muita gente não parece, no início, interessada pelas tarefas de organização, que tomam a maior parte do tempo de ativismo”, diz ela. “Mas se você propõe a estas pessoas: ‘Ei, quer aderir a esta ação?’ – a fala atrai quase todo mundo. Ações como a greve são uma porta de entrada para o movimento mais amplo”.
Jamie, que originalmente ajudou a inspirar o ativismo de Greta Thunberg, agora segue seu chamado, deixando regularmente de comparecer à escola. Ela tem parentes na Colômbia e é motivada pela consciência de como a mudança climática pode afetar tanto sua casa atual quanto o lugar de origem de sua família. Nesse sentido, ela tem muito em comum com outras pessoas jovens, num movimento climático cada vez mais diverso e internacional – em que jovens adultos e adolescentes usam a internet para coordenar ações através de continentes e oceanos.
Montrea, 27/9. Greta é mais uma, em meio à marcha
“Duas coisas me motivam: aquilo que desejo e aquilo que rejeito”, diz Jamie. “Estou lutando para proteger o belo Noroeste do Oceano Pacífico onde vivo agora e a pujança da Floresta Amazônica, de onde vem minha família. Mas também estou lutando contra o punhado de executivos, num punhado de corporações que estão literalmente destruindo a vida na Terra, contra sete bilhões de pessoas”.
Fonte: outraspalavras.net 

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Virgem da Lapa: Coral de comunidade quilombola se apresenta no FIC 2019


Este ano, o FIC- Festival Internacional de Corais- faz homenagem aos povos negros.

Foto: DivulgaçãoCoral de comunidade quilombola de Virgem da Lapa se apresenta no FIC 2019
Coral de crianças e adolescentes de comunidade quilombola tem apoio da prefeitura municipal de Virgem da Lapa.
O Grupo Banzo, coral de crianças e adolescentes da Comunidade Quilombola do Pega, em Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha (MG,  está entre os corais convidados para se apresentar no Festival Internacional de Corais (FIC)- edição 2019 que acontece em Belo Horizonte  desde o dia 13 de setembro, e segue até 5 de outubro.


A primeira apresentação do Banzo será nesta quinta-feira (26) a partir das 20 horas na Igreja Padre Eustáquio e a última no domingo (29) a partir do meio-dia, na Igreja da Boa Viagem, no coração de BH.

Este ano, o FIC homenageia os povos negros. De acordo com a organização do festival, as apresentações vão ocorrer em aldeias indígenas, centros culturais, asilos, igrejas, hospitais, parques, praças, quilombos e teatros.


Última apresentação do Coral Banzo será no domingo (29) na suntuosa igreja da Boa Viagem, no coração de BH.
Última apresentação do Coral Banzo será no domingo (29) na suntuosa igreja da Boa Viagem, no coração de BH.

Confira os locais de apresentação do Coral Banzo

26/09 (Quinta- Feira) 20h00min = Igreja Padre Eustáquio -

27/09 (Sexta- Feira) 20h00min = Igreja São José

28/09 (Sábado) de manhã = Mercado Central.

28/09(Sábado)19h00min = Capela de Nossa Senhora do Rosário (Rua São Paulo, esquina com a Rua Tamoios e Avenida Amazonas)

29/09 (Domingo) 12h00min = Igreja da Boa Viagem –

O Coral Banzo tem apoio da prefeitura municipal de Virgem da Lapa, através da Secretaria Municipal de Assistência Social.

Sérgio Vasconcelos
Repórter, na Gazeta de Araçuaí