segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Vale do Jequitinhonha: Moradores da zona rual perdem lavouras com a seca


Caminhão pipa tenta atender toda a população.

Os moradores do Vale do Jequitinhonha não dizem mais que os rios secaram. Dizem que os rios morreram. Nem toda vida brota inteira, e firme, sem água. O seu Fidelsino Vieira até plantou laranja na zona rural de Ponto dos Volantes. A terra branca parecia fértil. Mas sem chuva, o pé não produziu direito. O feijão também não. E o sistema de irrigação não funciona, é só enfeite. Um jeito de ter esperança.

O córrego, que passava pela propriedade do seu Fidelsino, sumiu faz alguns anos. Com o sertanejo, ficou a vontade de viver de fartura outra vez. É difícil aceitar uma rotina dessas, de água de poço, pra quem diz que já pescou peixes onde hoje se vê pedra e areia. O seu Fidelsino nasceu e foi criado aqui. Tem 54 anos.


50 famílias, hoje, são vizinhas do seu Fidelsino. Moram em Córrego Novo, no município de Ponto dos Volantes. As plantações da maior parte dos sítios se perderam, o gado está magro. Dá mesmo pra resistir num lugar que tem cara de deserto? A disposição e a coragem do seu Fidelsino não é todo mundo que tem.

De vez em quando, às margens da estrada, a gente encontra um imóvel abandonado. O dono desistiu de cuidar do terreno. Deixou, de lembrança, uma casa típica da região, feita só de barro e madeira. A famosa casa de pau à pique.

É a moradia de centenas de pessoas da redondeza, quase do vale inteirinho, com cerca de 85 mil quilômetros quadrados de extensão. Um milhão de habitantes. 75% estão no campo, numa das regiões mais pobres do Brasil.

As prefeituras, das mais de 50 municípios do Vale do Jequitinhonha, amenizam o sofrimento dos moradores com os caminhões pipa. Só assim, a Meire Oliveira vai aguentar um tempinho a mais sem pegar água no Rio Jequitinhonha.

O Rio Jequitinhonha, já raso e assoreado, foi um dos poucos que restaram no Vale e corta a cidade de Itaobim. A margem fica, a mais ou menos, uns três quilômetros da casa da Meire. Mesma distância da terrinha onde vive a dona Maria Ivone dos Santos, no povoado de Inhaúma. Sem saber que o caminhão pipa iria, ela buscou água no lombo de um jegue. Teve medo de passar fome com os filhos e netos. 

Ainda bem que o pipa foi e encheu todos os reservatórios da dona Maria e do seu José Pereira também. Com 97 anos, se for necessário, ele já não consegue mais andar muito, nem fazer força com os baldes estrada afora. Está operado. A saúde não anda tão boa. 

O seu Alberico Luiz da Silva, da comunidade de Jenipapo, descobriu uma maneira de aliviar o problema, só que antes dele aparecer. É aproveitando o período das águas pra enfrentar, depois, a falta de chuva.

O seu Alberico fez um sistema em volta do telhado dele. Colocou uma calha pra enfrentar esse período de seca. Ela armazena a água da chuva, que vai até uma quina. Justamente na quina, a água cai em uma caixa embaixo. Quando a caixa fica cheia, o seu Alberico tampa o cano e a água segue para outro lugar. 

O outro lugar é no quintal da casa. A água vai para um poço e dá pra, praticamente, um ano.

Mas só porque o seu Alberico busca água pra beber na cidade mais próxima e economiza muito, não chove na região há mais de três meses.

A mangueira no chão também é um outro truque do seu Alberico pra driblar o tempo ruim. São três mil metros que vão até o topo da montanha. Lá existe uma nascente. É dela que vem a água que escorre fraca e ajuda a manter um outro reservatório. Pelo menos um final feliz pra alguém.

Como nem todos os vilarejos desenvolveram ideias parecidas, ainda é preciso depender da boa vontade das prefeituras. Dividir água até com os animais. Não tem jeito. Todo ano a mesma história: o sertão não vira mar. E no cerrado, o que cresce sem chuva, não alimenta todos os moradores. E pior, eles sabem que não vai terminar tão cedo.

Fonte: Intertv  

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