Uma pesquisa feita pelo Observatório de Saúde Urbana de BH, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), revela que um em cada quatro jovens da capital já sofreu bullying. São agressões verbais, intimidações e brincadeiras humilhantes cometidas em um momento específico da vida, mas que não saem mais da memória de quem as sofreu. O trabalho “Bullying entre adolescentes de um centro urbano: estudo Saúde em Beagá”, fruto de dissertação de mestrado da psicóloga Michelle Ralil da Costa, também pesquisadora do observatório, aponta ainda a Escola como o cenário mais frequente, por ser onde o adolescente passa a maior parte do tempo. Foram identificados, por exemplo, comportamentos comuns entre as vítimas, como se envolver em brigas, sentirem-se sozinhas ou excluídas em festas e não poder conversar com os pais.
De acordo com Michelle, dos 26% de jovens entre 14 e 17 anos que afirmaram ter sido agredidos verbalmente, cerca de 65% disseram que o episódio ocorreu na Escola ou no percurso casa/Escola. “Também tivemos adolescentes que apontaram a casa, eventos sociais ou o ambiente de trabalho como locais. O bullying é uma violência sofrida entre os pares. Tomamos como base que os jovens foram agredidos entre amigos, no ciclo de convivência, e a Escola é onde eles estão inseridos por mais tempo”, afirmou a especialista.
O resultado da pesquisa, que será publicado em breve, serve como um alerta para a família. Segundo Michelle, baseando-se na literatura, a violência, quando sofrida na infância, adolescência e início da fase adulta, tende a ser repetida mais tarde. “Trabalhamos com a perspectiva da vítima, mas estudos internacionais apontam que é muito difícil separar vítima de agressor. Normalmente, a agressão é uma forma de poder, de uma pessoa mais forte, ou grupo, contra a mais fraca. E, para se proteger, alguns jovens passam de vítimas a agressores, se unindo a um grupo para ter maior sensação de poder”, explicou.
A vítima, segundo a pesquisadora, pode ser uma pessoa tímida, retraída, o que pode ser reflexo de uma desestrutura familiar. “Serve como um alerta para que os pais escutem os filhos, pois essa atenção é muito importante nesse período. Seja para ouvir o que está acontecendo na vida do jovem, seja para prestar atenção também se seu filho está praticando o bullying. Vemos diariamente notícias da violência levada ao extremo. Estudos já apontam para desencadeamento de problemas mentais e emocionais mais graves, como tentativa de suicídio”, afirmou.
FAMÍLIA
A pesquisa é parte de um inquérito de base populacional conduzido em 2008 e 2009 pelo Observatório de Saúde Urbana na capital, denominado Saúde em Beagá. Para o estudo foram entrevistados 598 adolescentes das regiões Oeste e Barreiro. A autora explica que eles pertencem a classes sociais diferentes e a Escolas públicas e particulares. “São lugares que têm uma população heterogênea, o que nos permite, de certa forma, obter uma perspectiva do que acontece na capital.” Segundo ela, também foi relacionado no estudo o fato de os jovens conversarem pouco com os pais, relatarem brigas na família e passarem pouco tempo em família.
Os jovens não foram questionados se sofreram violência física, apenas verbal, e sem utilização do termo bullying. “Isso evitava qualquer confusão ou supernotificação pelo fato de ser uma expressão em evidência atualmente. Com esse cuidado, o foco da pesquisa se manteve no relato do comportamento”, afirmou Michelle.
Agora, o passo seguinte é entender como os fatores influenciam no comportamento dos adolescentes. “Temos que investigar se a associação das vítimas com a desestrutura familiar e o fato de não conseguirem conversar com os pais é resultado de uma influência forte na personalidade delas, que as impede de se socializar adequadamente e as predispõe como alvos de bullying.”
Fonte: Estado de Minas (MG)
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