A jornalista Denise Assis pontua: Luiz Henrique Mandetta passou boa parte de sua carreira política tentando destruir o SUS; agora, "está tocando a bola direitinho, auxiliado por um sistema que encontrou pronto, mas longe de ser o super-herói que a mídia quer fazer crer". Publicado no www.brasil247.com, em 5 de abril de 2020, 16:29 h Por Denise Assis*, para o Jornalistas pela Democracia - Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. A saber. No sábado, dia seguinte à publicação da pesquisa que colocava Jair com 33% de aprovação, distante dos 76% do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o ministro sumiu da bancada da coletiva diária que tem concedido à imprensa para divulgar números e resoluções sobre a pandemia de Covid-19, que jogou o planeta em desassossego.
A explicação dada pelo secretário-executivo João Gabbardo dos Reis, indicado pelo ministro para o cargo que hoje ocupa, foi a de que Mandetta estaria “cansado”. Normal, para quem tem estado na linha de frente do combate ao coronavírus. Estranho, para os que têm como função olhar a política sempre descerrando a cortina dos fatos, para ver além, o que acontece nos bastidores.
Numa entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro não negou que tem considerado o comportamento do seu ministro “pouco humilde” e que andou se “bicando” com ele. O nome disto é inveja. Vamos combinar. Mas o que é preciso combinar também é que toda esta exposição diária na mídia a expor conhecimentos técnicos para a população, ajuda, e muito, a colocar o ministro numa condição confortável de “salvador da pátria”. Ressalte-se que causa surpresa o fato de Jair ainda ter 33% de apoio, mesmo depois de tentar um assassinato em massa da população, indo contra as orientações da OMS, para que todos permanecessem em suas casas. Mas Mandetta também não é os 76% de aprovação que detém nas pesquisas.
A esta altura, precisamos esclarecer alguns pontos, sob pena do ministro da Saúde sair do outro lado desta crise - sabe-se lá, quando –, com um perfil de herói a custa de uma máquina que ele fez de tudo para desmontar. Ou melhor, convém vasculhar a sua vida antes dos holofotes do cargo.
Luiz Henrique Mandetta nasceu em Campo Grande (MS), tem 54 anos e é médico ortopedista formado pela Universidade Gama Filho. (Aqui, vale lembrar que a universidade de onde saiu Mandetta, foi descredenciada pelo MEC em 13/01/2014, por motivos baixa qualidade acadêmica, grave comprometimento da situação econômico-financeira, além da crescente precarização da oferta da educação superior). A escolha profissional se deu por influência do pai, ex-secretário de Saúde de Campo Grande.
O ministro tem especialização em Ortopedia pelo serviço de Ortopedia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), e subespecialização em Ortopedia Infantil pelo Scottish Rite Hospital for Children, em Atlanta (EUA). Atuou como médico militar tenente, no Hospital Geral do Exército e trabalhou ainda na Santa Casa de Campo Grande de 1993 a 1995.
Ingressou na política em 2005, quando foi nomeado secretário de saúde de Campo Grande, secretaria que comandou de 2005 a 2010. Filiado ao MDB, ele migrou para o DEM para concorrer a deputado federal em 2010. Foi eleito com 78,7 mil votos e reeleito, quatro anos depois, com 57,3 mil votos.
Foi investigado em 2015 por crimes relacionados à aquisição e instalação do Gerenciamento de Informações Integradas da Saúde (Gisa). O sistema de informática foi comprado quando o parlamentar era secretário municipal de Saúde em Campo Grande e aguarda decisão da Justiça Federal. Por matéria publicada no site G1 em 20/11/2018, fica-se sabendo que “a investigação foi proposta pela Procuradoria Geral da República, em Brasília, supervisionada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e realizada pela Polícia Federal (PF). O Gisa custou aos cofres públicos quase R$ 10 milhões entre recursos federais e municipais. Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou um prejuízo de cerca de R$ 6 milhões em pagamentos indevidos por serviços não executados,” consta da reportagem.
Depois de cumprir dois mandatos como deputado federal (DEM-MS), o atual ministro decidiu não concorrer de novo ao cargo. Para quê? Já havia feito “história, esticando um cartaz no dia da votação do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, com os dizeres: “Tchau querida”. É bom destacar que foram os planos de saúde os financiadores de suas campanhas.
Sem mandato, foi indicado por quadros próximos ao presidente, para o cargo de ministro da Saúde. E, como primeira providência, mandou de volta para Cuba 10 mil profissionais do vitorioso programa criado pelos governos petistas: o “Mais Médicos”. O mesmo que agora lamenta não estar operando. Outra de suas “medidas”, foi desinstalar de cargos vários médicos que articulavam a máquina do Sistema Único de Saúde (SUS), com competência, mas com data de entronização coincidente com as posses de Lula e Dilma. Ato contínuo, passou a prometer a privatização do sistema de Saúde, esta monumental rede que atende aos desassistidos do país inteiro. Seria o seu retorno aos patrocinadores?
Hoje, só fala para a mídia a bordo de um colete do SUS e colhe sucesso no combate à pandemia, graças à eficiente máquina montada durante os governos petistas que ele tanto criticou. Luiz Henrique Mandetta está tocando a bola direitinho, auxiliado por um sistema que encontrou pronto, mas longe de ser o super-herói que a mídia quer fazer crer.
Denise Assis
Jornalista há quatro décadas, passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora-pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada", membro do Jornalistas pela Democracia
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