ou
"Falo tudo o que sinto, e sinto muito o que falo, pois morro
sempre que calo" .
Affonso Romano de Sant'Antanna.
"Engole o choro. Engole sapo. Cala a boca. Cala o peito. Mas o corpo fala, e como fala. Fala a ponta dos dedos batendo na mesa. Falam os pés inquietos na cama. Fala a dor de cabeça. Fala a gastrite, o refluxo, a ansiedade. Fala o nó na garganta atravessado. Fala a angústia, fala a ruga na testa. Fala a insônia, o sono demasiado. Você se cala, mas o falatório interno começa.
As
pessoas adoecem porque cultivam e guardam as coisas não digeridas
dentro de seus corações. O normal do ser humano seria a comunicação
e conseguir dizer o que está sentindo. Mas nem todos se habilitam
para esse difícil exercício. Nem sempre digerimos bem aquelas
pequenas coisas, como mensagens mal respondidas, as palavras que
machucam...
Você
finge que não ouviu, engole e tudo isso vai se acumulando até que
um dia enche. Esses pequenos fatos indigestos percorrem a garganta,
entram no estômago, invadem o peito, e se deixarmos, calará nossa
boca e nossa paz. O importante é não deixar acumular ou achar que
simplesmente vai aliviar com o passar dos dias.
O
tempo até tem um papel importante, mas não resolve tudo. Tentar
mostrar que tudo sempre está bem requer muita energia, o desgaste
emocional é grande. Não dá pra engolir tudo e dizer amém! Eu sei.
Também não dá pra cometer sincericídios por aí e sair vomitando
as coisas entaladas na sua garganta. Mas dá para se expressar. Tem
hora que o sentimento pede pra ser dito, entendido, descodificado,
traduzido. Tudo que ele quer é ser exorcizado pela palavra ou pela
via que lhe cabe melhor. Expressar tranquiliza a dor.
Dor
não é pra sentir pra sempre. Dor é vírgula. Então faz uma carta,
um poema, um livro. Canta uma música. Pega as sapatilhas, sapateia.
Faz uma aquarela. Faz uma vida. Faz piada, faz texto, faz quadro, faz
encontro com amigos. Faz corrida no parque. Fala pro seu analista,
fala para Deus, para o universo... se pinta de artista.
Conversa
sozinho, papeia com seu cachorro, solta um grito pro céu, mas não
se cale. Pois “se você engolir tudo que sente, no final você se
afoga”."
Por Marina de Luca.
Por Marina de Luca.
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