Coluna Interfaces
*Juliana Lemes
Com
todas as falhas, a educação pública brasileira continua sendo uma das únicas
alternativas que os mais empobrecidos têm, de transformar suas vidas. A
história nos mostra que o acesso à educação no Brasil era limitado às pessoas de
posses, especialmente aos homens. No período da colonização, os portugueses nunca
permitiram que no Brasil fossem instaladas universidades, como ocorreu nas colônias
espanholas (Peru, Venezuela e Chile). A alfabetização feita pelos padres jesuítas
também teve muita resistência. O resultado foi um Brasil independente em 1822,
mas cheio de analfabetos.
Quase
duzentos anos depois, o país parece retomar o curso da história, quando ameaça deixar
de priorizar um dos instrumentos mais efetivos que um país em desenvolvimento
pode ter. A educação dispõe da extraordinária capacidade de libertar os
indivíduos da ignorância, permitindo que ele tenha acesso aos “porquês” da
vida, que amplie sua visão, que compreenda que as “verdades” sempre podem ser
contestadas e principalmente, permite que construa um entendimento próprio
sobre as coisas, ou seja, a crítica sobre o mundo que ele passou a enxergar de
forma diferente. O incentivo a esse “olhar diferente” é a missão da educação,
que, desde a pré-escola às universidades, por meio de um ensino público ou
privado, prepara as novas gerações para a vida em comunidade, embora enfrente
tantas dificuldades impostas pela sociedade moderna, da tecnologia e da
(des)informação.
A
educação pública sofre ataques enfurecidos tanto dos que seriam os grandes beneficiados
com sua desconstrução, quanto daqueles que ainda não conseguiram enxergar que o
sistema foi programado para que não enxerguemos as injustiças sociais. Alguns
indivíduos, imaginando compreender o que ocorre, produzem discursos e compram
“brigas” em redes sociais contra si próprios. Confusos com a avalanche de
informação, optam por ajudar a atacar a educação pública, mas com argumentos
descontextualizados, falaciosos e com pouco ou nenhum sentido.
Em
um país desigual como é o Brasil, não é possível pensar uma educação que não
seja pública. Seria cruel demais ou no mínimo, falta de noção. Retomaríamos a
época em que era negado à maioria das pessoas o acesso à alfabetização. E isso
não foi à toa, e continua não sendo à toa. Muita gente, que pode pagar, ganha
com a educação pública, especialmente, a de nível superior, pois oferece ensino
de qualidade, apesar da atual e insistente tentativa de fazer parecer o
contrário.
A
educação formal é uma das pontes entre o indivíduo e o conhecimento, que o
liberta da escuridão da ignorância. A educação informal é outra, que liga indivíduos
ao conhecimento de mundo e ao aprendizado da vida em comunidade. Juntas, transformam
e mudam direções.
Quem
contesta a validade da educação pública, desconhece que ela já mudou e continua
mudando a vida de muitos jovens, que, dentro das escolas, mesmo com professores
mal remunerados e ambientes precarizados, desenvolveram habilidades que foram negadas
aos seus pais e avós. Isso porque, o ciclo de restrição à educação foi
alimentado pelas elites do país durante gerações de brasileiros.
Apoiar
qualquer passo atrás na educação pública significa retroceder e comprometer o
futuro de jovens que um dia sonharam em ter uma vida diferente da que tiveram
seus pais, alterando a rota educacional do Brasil rumo a um sentido integrador
e menos desigual
(Imagem:
Charge do Amâncio).
Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br
Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br
O Blog do Banu publica, todos os domingos, a coluna Interfaces, que foi pensada para oportunizar aos leitores a aproximação de assuntos contemporâneos ou atuais que influenciam seu cotidiano e que, geralmente, não são problematizados. Tem por objetivo contribuir com análises e provocar reflexões sobre temáticas relevantes à realidade local, por meio do diálogo entre as distintas áreas do saber, de forma clara e breve.
Essa coluna é publicada também no jornal Diário Tribuna, de Teófilo Otoni.
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