Tropas de Minas
Conta-se que, em certa época de chuva de invernada, faltou pinga em Diamantina. E quando se anunciou que a tropa do Coronel Quincas Pedro, dono da fazenda do Areião em Gororós, chegava carregada de cachaça, sinos bateram e a Banda de Música foi para a entrada da cidade recebê-la. A chegada de uma tropa era, assim, uma festa. [...]
A tropa, que ia e vinha com produtos para comercializar, lá ou cá, fazia também as vezes do nosso mais moderno "e-mail " ... Os tropeiros e seus burros eram o único meio de chegarem até nós as notícias e as novidades de outros povos e mundos; de terras européias, de onde também provinham os produtos trazidos do litoral para o povo das montanhas, comumente chamados "produtos de baixo": fossem biscoitos, louças, perfumes, tecidos, utensílios ...
" Você aceita um biscoito" , se perguntava. " É um biscoito de baixo ..." - acrescentava, com orgulho, aquele que oferecia. [...]
A tropa era formada por dez burros e um cavalo-de-madrinha que, juntos formavam o lote. Para cada lote iam um arrieiro e dois tropeiros.
O arrieiro era o responsável pela tropa. Em geral, era um dos filhos do fazendeiro. Cabia a ele vender seus produtos, comprar as mercadorias necessárias e saber fazer boas barganhas ou trocas. Os seus companheiros de viagem eram os tropeiros.
A tropa viajava uma média de quatro léguas por dia, que representavam vinte e quatro quilômetros. Iam e vinham, puxavam o milho da roça, transportavam cachaças, sementes, o precioso e raro sal; toucinho, rapadura, arroz, vasilhames; tudo, enfim, que se necessitasse levar e trazer para comercializar. [...
A cozinha volante era condicionada em bruacas ou bolsas de couro. Os alimentos tinham que ser duráveis e secos. As carnes eram salgadas ou já feitas e guardadas em recipientes com gordura para conservarem. Usava-se também o que se encontrava pelos caminhos, como brotos e caças. Os caldeirões de ferro eram dependurados sobre fogueiras e fazia-se a refeição. A farinha e a cachaça eram acompanhamentos certos para uma gostosa prosa.
[...] Durante o período de preparação da comida, se banhavam no rio. Em seguida, serviam-se tira-gosto e pinga. Proseando, colocavam a vida em dia. Após a refeição, afinavam as violas e cantavam modinhas até o sono chegar. Ao amanhecer, os tropeiros arreavam de novo a tropa e iniciava-se outra longa jornada até um novo pouso. Os pontos de parada eram sempre os mesmos e calculados dentro da capacidade dos animais e das pessoas que acompanhavam o lote.
Chegando a um dos pontos de parada - em geral, um comércio bom onde se podia barganhar, vender ou comprar -, aí sim, descarregavam a mercadoria. Faziam seus negócios. Essa parada era a mais demorada, dando tempo para o pessoal descansar, passear, arranjar distração e fazer amizade para facilitar a volta da tropa. Daí levavam sementes, roupas, remédios, vasilhames, entre outras coisas. Comprando a prazo, faziam questão de manter o nome: davam como documento de garantia o fio do bigode apenas. O dinheiro das vendas era carregado em goiacas ou bolsas que eram abotoadas na cintura. De um lado ficava o dinheiro resultante das negociações feitas, do outro, a garrucha.[...]
NUNES, Maria Lúcia Clementino. História da arte da cozinha mineira por Dona Lucinha. Belo Horizonte: [s.n], 2001.p.135-137. Adaptação.
Blog da Anabela Jardim, a partir do Passadiço Virtual
Conta-se que, em certa época de chuva de invernada, faltou pinga em Diamantina. E quando se anunciou que a tropa do Coronel Quincas Pedro, dono da fazenda do Areião em Gororós, chegava carregada de cachaça, sinos bateram e a Banda de Música foi para a entrada da cidade recebê-la. A chegada de uma tropa era, assim, uma festa. [...]
A tropa, que ia e vinha com produtos para comercializar, lá ou cá, fazia também as vezes do nosso mais moderno "e-mail " ... Os tropeiros e seus burros eram o único meio de chegarem até nós as notícias e as novidades de outros povos e mundos; de terras européias, de onde também provinham os produtos trazidos do litoral para o povo das montanhas, comumente chamados "produtos de baixo": fossem biscoitos, louças, perfumes, tecidos, utensílios ...
" Você aceita um biscoito" , se perguntava. " É um biscoito de baixo ..." - acrescentava, com orgulho, aquele que oferecia. [...]
A tropa era formada por dez burros e um cavalo-de-madrinha que, juntos formavam o lote. Para cada lote iam um arrieiro e dois tropeiros.
O arrieiro era o responsável pela tropa. Em geral, era um dos filhos do fazendeiro. Cabia a ele vender seus produtos, comprar as mercadorias necessárias e saber fazer boas barganhas ou trocas. Os seus companheiros de viagem eram os tropeiros.
A tropa viajava uma média de quatro léguas por dia, que representavam vinte e quatro quilômetros. Iam e vinham, puxavam o milho da roça, transportavam cachaças, sementes, o precioso e raro sal; toucinho, rapadura, arroz, vasilhames; tudo, enfim, que se necessitasse levar e trazer para comercializar. [...
A cozinha volante era condicionada em bruacas ou bolsas de couro. Os alimentos tinham que ser duráveis e secos. As carnes eram salgadas ou já feitas e guardadas em recipientes com gordura para conservarem. Usava-se também o que se encontrava pelos caminhos, como brotos e caças. Os caldeirões de ferro eram dependurados sobre fogueiras e fazia-se a refeição. A farinha e a cachaça eram acompanhamentos certos para uma gostosa prosa.
[...] Durante o período de preparação da comida, se banhavam no rio. Em seguida, serviam-se tira-gosto e pinga. Proseando, colocavam a vida em dia. Após a refeição, afinavam as violas e cantavam modinhas até o sono chegar. Ao amanhecer, os tropeiros arreavam de novo a tropa e iniciava-se outra longa jornada até um novo pouso. Os pontos de parada eram sempre os mesmos e calculados dentro da capacidade dos animais e das pessoas que acompanhavam o lote.
Chegando a um dos pontos de parada - em geral, um comércio bom onde se podia barganhar, vender ou comprar -, aí sim, descarregavam a mercadoria. Faziam seus negócios. Essa parada era a mais demorada, dando tempo para o pessoal descansar, passear, arranjar distração e fazer amizade para facilitar a volta da tropa. Daí levavam sementes, roupas, remédios, vasilhames, entre outras coisas. Comprando a prazo, faziam questão de manter o nome: davam como documento de garantia o fio do bigode apenas. O dinheiro das vendas era carregado em goiacas ou bolsas que eram abotoadas na cintura. De um lado ficava o dinheiro resultante das negociações feitas, do outro, a garrucha.[...]
NUNES, Maria Lúcia Clementino. História da arte da cozinha mineira por Dona Lucinha. Belo Horizonte: [s.n], 2001.p.135-137. Adaptação.
Blog da Anabela Jardim, a partir do Passadiço Virtual
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