O Blog do Banu publica, a partir de hoje e em todos os domingos, a coluna Interfaces, da Juliana Lemes, doutoranda em Política Social na UFF e pesquisadora da UFVJM - campus Mucuri.
Hoje, ela aborda os meios de comunicação e a participação das mulheres como comunicadoras.
A coluna Interfaces foi pensada para oportunizar aos leitores a aproximação de assuntos contemporâneos ou atuais que influenciam seu cotidiano e que geralmente, não são problematizados. Tem por objetivo contribuir com análises e provocar reflexões sobre temáticas relevantes à realidade local, por meio do diálogo entre as distintas áreas do saber, de forma clara e breve.
Essa coluna é publicada também no jornal Diário Tribuna, de Teófilo Otoni.
Imagem: Meraldo Zisman.
A influência social dos meios de comunicação para as mulheres
*Juliana Lemes
Nos noticiários, as mulheres representam tímidos 18% do universo de apresentadores. Apesar delas serem formadoras de opinião, não estão nos espaços considerados “sérios” pelos meios de comunicação, e dificilmente se vê uma mulher ser apresentada publicamente como “especialista”.
O que parece repercutir sobre as mulheres comunicadoras é o padrão estético de beleza: discretas curvas, pele clara, jovem e de cabelos lisos. Esta realidade revela o desprezo à diversidade. Não apenas isso, mas também, a seletividade das informações conferidas a elas para divulgação. Mulheres são relegadas às coberturas jornalísticas leves, sem peso social e menos sérias. Assuntos capazes de alterar estruturas de poder, como política, são conduzidos por homens.
Não é por acaso que os assuntos que interferem na audiência da TV ou rádio não sejam noticiados por elas. É proposital. Notícias que envolvam “violência”, por exemplo, demandam certa espetacularização, focando no trágico desfecho. A transmissão é feita por um homem com entonação de voz “compatível” com a gravidade da notícia. Ele precisa ser um destemido, capaz de utilizar daquele espaço para pressionar instituições, chefiadas por outros homens. Estariam, deste modo, em pé de igualdade e legitimados pelo grande público.
Afinal, homens são racionais, diretos, líderes natos! Algo parecido acontece se o assunto é a negociação política. Tratando-se de uma mulher, o descrédito e a informalidade induzida,
são a tônica da conversa.
Os avanços tecnológicos da última década colaboraram para o desenvolvimento da rede de
comunicação em todo o mundo, e com isso, mais mulheres passaram a ocupar o setor.
No entanto, sem expressividade que permita influenciar as decisões sobre a política de
comunicação social do país. Assim como em outros setores, as mulheres deparam na sua
trajetória profissional com o fenômeno do “teto de vidro”, ou seja, inúmeros fatores impedem
que elas alcancem postos de direção nas organizações que atuam e nenhum deles refere-se ao
grau de competência delas.
O conjunto de elementos embutidos na sociedade, desde à família até às instituições públicas e privadas, invisibilizam as mulheres, as descredibilizando e condenando-as à importância
secundária.
O acesso delas em certos espaços está condicionado à transmissão de mensagens de outrem ou, à redação “silenciosa” da ata de reunião. Nesses espaços, o reflexo da discriminação de gênero revela exclusão e violência. Exclusão porque a mulher ainda é deixada à margem nas tomadas de decisão e do recebimento dos “louros” pelos processos que ajudou a formular.
Violência, porque não lhe é dado direito de fala, é submetida a constrangimentos e tem sua competência questionada por homens que a assediam sexualmente ou por mulheres, que assumem, inconscientemente, uma relação de competição umas com as outras.
O espaço da comunicação social representa poder. E por assim ser, um espaço de disputa
majoritariamente masculino. Seja entre grupos com ideologias opostas, seja entre aqueles com
ideias afins, as opressões às mulheres acontecem. A imagem (re) produzida sobre a mulher na
mídia tem estreita relação com a condição de trabalho das mulheres comunicadoras.
Por conta disso, o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, gerido pela Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal (SPM), teria absorvido as demandas dos movimentos de mulheres, mas, não chegou a alcançar avanços significativos enquanto esteve ativo. Com a dissolução da SPM no início do governo vigente, nada além de retrocessos a registrar sobre a luta das mulheres por políticas com foco na igualdade de gênero.
A visibilidade da condição feminina importa, uma vez que os meios de comunicação representam, para grande parcela da população, a única ou principal fonte de informação. Além de formar opinião, eles contribuem para a construção da subjetividade de homens, mulheres e crianças,
projetando imagens que reproduzem papéis sociais e orientam o desejo das pessoas. O avanço da
tecnologia encurtou distâncias, ao mesmo tempo que promoveu a dependência eletrônica. Como no
meio virtual tudo é simples e rápido, o processo do pensar sobre o que se faz, tem sido,
voluntariamente, atrofiado. Assim, como avançar, se para mudar visões, normas e leis não bastam?
Como formar formadores de opinião que reconheçam as desigualdades entre gêneros, se estamos
imersos nessa realidade que violenta socialmente as mulheres?
Como mobilizar comunicadoras para que saiam dos bastidores e assumam os palcos?
O desafio é proporcional aos impactos dos meios de comunicação na vida das pessoas e é por conta disso, que as mulheres vêm assumindo o protagonismo em diferentes espaços, com a clareza da importância da participação, das disputas por poder, e da necessidade de mobilização de outras mulheres para a mudança da realidade excludente que tanto lhes incomoda.
Referência: A imagem da mulher na mídia, de Rachel Moreno, 2017.
Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br
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