quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Vale do Jequitinhonha produzirá 85% do lítio no Brasil.

Projeto em Itinga produzirá 440 mil toneladas até 2022, gerando 500 empregos diretos e 3.500 indiretos.
Municípios de Itinga e Araçuaí podem arrecadar R$ 11,7 milhões por ano.

População faz muitas perguntas: a empresa apresenta um plano de recuperação ambiental e segurança da população? Haverá barragens de rejeitos como as que provocaram as tragédias de Mariana e Brumadinho?
Por RAFAELA MANSUR
11/09/19 - 03h00, no Jornal OTEMPO

A produção de concentrado de lítio da Sigma Mineração, no Vale do Jequitinhonha, que deve chegar a 440 mil toneladas por ano, vai corresponder a cerca de 85% do mercado nacional.
A China será o principal consumidor da planta, que começará a ser construída no primeiro trimestre do próximo ano, em Itinga, já com planos de verticalização: o objetivo é produzir, no futuro, carbonato ou hidróxido de lítio, a primeira fase da fabricação de baterias.
A estimativa de investimento é de R$ 500 milhões no projeto.
Na primeira etapa, após a inauguração, em meados de 2021, serão produzidas 220 mil toneladas de concentrado de lítio por ano, o equivalente a 70% da produção nacional, segundo o diretor de sustentabilidade da Sigma, Itamar Resende.
“Logo que concluirmos a primeira fase, com o processo já estabilizado e o mercado sendo atendido, havendo espaço para expansão, vamos imediatamente trabalhar para 440 mil toneladas por ano. Calculamos que em um ano, no máximo, vamos iniciar a segunda fase”, afirmou, em entrevista concedida durante a Exposibram, no Expominas, na capital mineira. “Dessa forma, a empresa se posiciona como uma das principais fornecedoras de concentrado de lítio do mercado mundial”, disse Resende.
A Sigma já obteve as licenças prévia e de instalação e, atualmente, está executando a parte de engenharia detalhada e buscando financiamento. 
A companhia firmou um acordo com a japonesa Mitsui, que vai ficar com um terço da produção anual e aportou US$ 30 milhões, que permitem o início da implantação do projeto. “Para complementar, estamos trabalhando em outras frentes de financiamento, estimamos US$ 90 milhões na primeira fase”, disse Resende.
Trabalho
Cerca de 500 empregos diretos devem ser gerados na etapa inicial, e, na segunda, mais 250, aproximadamente. Segundo o diretor, a mão de obra local será priorizada. Estimativas de mercado apontam que os recursos aplicados na planta devem alcançar R$ 1 bilhão, considerando os aportes previstos de terceirizadas. “Uma empresa como a nossa sempre atrai um grande número de atividades indiretas. Estimamos que, a cada funcionário direto, teremos pelo menos sete indiretos. Isso significa uma mudança muito grande no Jequitinhonha”, diz.
Segundo ele, a verticalização da produção é um objetivo da Sigma. “O grande sonho não só da nossa empresa, mas de todos os produtores de concentrado de lítio no Brasil, é chegar pelo menos na primeira fase do processo da fabricação da bateria, que é a produção do carbonato ou hidróxido de lítio, mas o próximo passo é ter uma mina bem-feita, capaz de produzir quantidade e qualidade com longevidade e competitividade”, afirma. Ele diz que as reservas que a Sigma possui atualmente, em Itinga e Araçuaí, são suficientes para cerca de 20 anos, mas novas reservas serão pesquisadas.
O mercado chinês, abastecido especialmente pela Austrália, será o principal destino da produção, devido aos incentivos dados aos veículos elétricos. Segundo Resende, a China tem 176 produtores do modelo.

‘Ferro é de milhões de toneladas, novos mercados são de quilos’
O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) lançou, durante a Exposibram, um guia de boas práticas de gestão de barragens e estruturas de disposição de rejeitos. Segundo o diretor de meio ambiente do instituto, Rinaldo Mancin, o rompimento do barramento da Vale, em Brumadinho, na região metropolitana, mudou a forma como as mineradoras trabalham.
“Há um movimento global de um novo padrão de segurança. Sem dúvida, vamos ter um ambiente mais seguro”, diz.
Segundo ele, apesar da tragédia, o setor está reagindo. Nesta terça-feira, houve um painel sobre tendências da mineração, com participação da Sigma. “Estamos acostumados com milhões de toneladas de minério de ferro. Esses novos mercados são de quilos, um valor muito pequeno, mas é uma belíssima oportunidade para Minas”, afirmou, sobre o lítio no Jequitinhonha.
Concorrência
Mercado. Além da Sigma, a AMG Mineração tem o Projeto Lítio, no complexo industrial da mina de Volta Grande, na Zona da Mata, e uma fábrica em São João del Rei.
Fonte: Jornal OTEMPO

Municípios devem receber 11,7 milhões por ano de impostos
As atividades de exploração do lítio nos municípios de Itinga e Araçuaí devem gerar, durante 14 anos, R$ 265 milhões de CFEM - Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais que é uma contraprestação paga à União pelo aproveitamento econômico de recursos minerais.
Os recursos recolhidos de CFEM são distribuídos aos Estados, Distrito Federal, Municípios e órgãos da administração da União, sempre relacionados ao local onde é realizada a exploração do minério. 
A distribuição desses recursos é realizada da seguinte maneira:
  • 12% - Destinados a União e distribuídas entre o DNPM/ANM, Ibama e MCT/FNDCT;
  • 23% - Repassados ao Estado de origem da extração;
  • 65% - Destinados ao município onde ocorre a extração.
  • Portanto, do total previsto de R$ 265 milhões arrecadados de CFEM, em 14 anos, daria uma média de R$ 18 milhões/ano. Os municípios de Itinga e Araçuaí teriam direito a cerca de R$ 11 milhões/ano.
  • Esses recursos podem ser aplicados em projetos que revertam em benefícios da comunidade local, seja em melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde ou educação.
  • Fonte de consulta: Instituto Minere, de Belo Horizonte.
População faz muitas perguntas sobre o grande projeto do lítio
É de grande impacto sócio-econômico o projeto de exploração do lítio no Médio Jequitinhonha, em Itinga e Araçuaí, no nordeste de Minas. 
Torcemos para que tal projeto provoque uma melhoria na qualidade de vida do povo que busca oportunidades de trabalho e diminui a migração sazonal, uma  característica regional.
Muitos grandes projetos de desenvolvimento foram implantados no Vale do Jequitinhonha, nos últimos 50 anos. Todos apontam soluções para implantar o "progresso" na região. Foi assim com a chegada das empresas reflorestadoras do eucalipto, com a construção da Barragem de Irapé, com a cafeicultura na região de Capelinha... Recentemente, vem rompendo a frente de exploração do minério de ferro, na região de Grão Mogol e Salinas, com a proposta de construção de um mineroduto. 
Nem tudo são flores quando se trata de empreendimentos minerários. Os indicadores de impactos sócio-econômico-ambientais deverão ser levantados e debatidos com a população de forma transparente.
Algumas perguntas já rondam os corações e mentes da população: 
Quais os impactos no meio ambiente de tal empreendimento?  
Os garimpeiros que hoje têm suas lavras em vários locais de pesquisa do lítio serão atingidos? 
Como os proprietários das terras de acesso ao subsolo para extração do lítio serão indenizados? 
Quais as contrapartidas da empresa exploradora do lítio para os serviços públicos de saúde, educação, social, infra-estrutura e segurança pública?  
Quais os impactos na saúde pública de doenças derivadas da exploração minerária do lítio? 
Os municípios de Itinga e Araçuaí têm acesso a todo o projeto de exploração do lítio e já realizaram estudos técnicos que possam liberar licenças ambientais obrigatórias?
Quais as condições de trabalho, de segurança e garantia de vida aos trabalhadores  e moradores nas imediações de exploração do lítio?
Serão construídas barragens de rejeitos como as que causaram as tragédias de Mariana e Brumadinho?
Quais são as atividades de prevenção e recuperação do meio ambiente, considerando  que a atividade minerária é violentamente predatória?
O projeto a ser implantado leva em consideração apenas as demandas da empresa? Como serão atendidas as demandas da população?
A extração e produção do lítio serão realizadas em Itinga e Araçuaí. Há projetos de aproveitamento da matéria prima para a produção de bens como baterias, pilhas, remédios, graxas, ligas de alumínio, etc?  
Quais seriam os incentivos dos Governos Estadual e Federal para que a região não continue como exportadora de fornecimento de matérias primas como o carvão vegetal, café, banana, granito, fedspato, etc , além de expulsão da mão de obra? 
Estas e outras questões rondam as cabeças e preocupações dos cidadãos e das famílias da região.

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