QUARTO E QUINTO DIAS
Andanças por Araçuaí, no Médio Jequitinhonha.
Após uma breve pausa nos ‘trabalhos’ da Expedição em virtude do feriado de 1o de janeiro, estamos de volta ao Blog e à estrada para exaltar as maravilhas de Araçuaí.
K-iau é uma cidade mágica. Possivelmente o melhor
local para servir de exemplo na contraposição ao estigma de “Vale da
miséria”… Apesar do sol escaldante, da seca recorrente e dos problemas
sociais, as pessoas criam suas resistências culturais, sociais e
profissionais e seguem adiante, com determinação, trabalho e arte. Sim,
muita arte!
São tantas opções que nem sabíamos por onde começar.
Tem as artesãs Zefa, Lira e muitas outras, o grupo de teatro Ícaros do
Vale, os corais Araras Grandes e Trovadores do Vale, o Centro Cultural
Luz da Lua, o Centro de Referência Afro-Indígena (Quingem), os grupos de
folias de reis, os multiartistas Meninos de Araçuaí e muitas outras
manifestações e expressões autênticas da cultura regional e popular.
São crianças, jovens, adultos e idosos que se
expressam através da música, dança, pintura, cinema e artesanato,
mantendo vivas as tradições dos seus antepassados, valorizando a
produção cultural local e se formando de maneira mais humana, solidária,
coletiva e sensível.
Ainda na noite do dia 1o conversamos com Luciano
Silveira, ator, cantor e produtor cultural, que nos deu um panorama
geral da riquíssima cultura da cidade, contando da infinidade de
apresentações realizadas constantemente em Araçuaí e em várias outras
localidades, envolvendo centenas de pessoas que acabam por encontrar na
arte uma forma saudável de aprendizado, sociabilidade e oportunidade.
Crianças artistas e artistas crianças
E essa profusão de produção artística foi observada
por nós na prática com outro grupo na manhã do dia 2. Os famosos Meninos
de Araçuaí além de cantar e dançar também fazem e exibem cinema, e são,
na verdade, parte de um projeto mais amplo. E quem nos mostrou um pouco
de tudo foi Yuri Miranda, um alegre e inteligente educador que foi um
dos primeiros jovens a participar do pequeno projeto de Tião Rocha que
deu origem a tudo isso, e depois de crescido e de ter estudado música
fora, optou por voltar para Araçuaí para ajudar na condução dessa
revolucionária iniciativa.
Os Meninos de Araçuaí fazem parte do Centro Popular
de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), instituição idealizada pelo
educador Tião Rocha – e que tem atuação em várias outras cidades – para
contribuir com um aprendizado infantil mais criativo, humano e feliz.
Além dos Meninos – que são um grupo de teatro e de coral e ainda uma
produtora e exibidora de cinema, cuja sede se localiza propositalmente
no degradado centro histórico da cidade -, o CPCD tem ainda em Araçuaí,
vinculados ao ARASEMPRE, projetos como o Ser Criança – que na verdade é a
base da proposta e envolve dezenas e dezenas de crianças que exercitam o
“ser criança” de maneira diferente do convencional -, as Fabriquetas de
produção de tecnologias populares - de softwares, de reciclagem
artística de ferro, de pintura com tinta de terra, de marcenaria, de
produção audiovisual e de turismo comunitário – e os trabalhos
ambientais, com, por exemplo, permacultura e proteção de nascentes.
Ficamos
encantados não só com a quantidade de jovens envolvidos e com a
qualidade dos trabalhos, mas com a lógica aberta, participativa e
saudável em que se desenvolvem os projetos, e com a visão amplificada,
de pensar, por exemplo, uma cidade sustentável, que plante árvores e que
eduque a cidade para o bem coletivo.
Ficamos
positivamente incomodados com o que conseguiram fazer e onde
conseguiram chegar partindo de muito pouco. Por que não há iniciativas
semelhantes nas outras cidades do Vale e do Norte de Minas, que aliás
muitas vezes possuem muito mais estrutura e oportunidade do que Araçuaí?
Lá na Venda do Seu Lidirico
Já tínhamos tomado uma cerveja na Venda do Seu
Lidirico quando chegamos, mas como o bar estava muito cheio, tivemos que
voltar em um dia de menos movimento para escutar as histórias do
simpático e famoso casal Seu Lidirico e Dona Iaiá. A famosidade é
sobretudo em virtude da música composta por Miltinho Edilberto, que
canta os diversificados produtos que se encontrava naquela vendinha.
Clique aqui para escutar.
Mas a Venda impressiona não só pela quantidade de
produtos – que aliás não é mais tanto assim, conforme inclusive admitido
pelo dono. Chama a atenção a antiguidade do local - aberto desde 1948,
ou seja, há quase 70 anos, que aliás é quase o mesmo tempo que Lidirico e
Iaiá estão casados -, a força dos dois para continuar diariamente
abrindo o comércio, repondo as mercadorias e atendendo os clientes e o
charme e aconchego do local.
Seu Lidirico ficou super entusiasmado com nossa
Expedição e contou várias histórias sobre cidades da região que ele
conhecia, sem é claro deixar de falar da vida dos 15 filhos, dezenas de
netos e bisnetos e um encomendado tataraneto.
Seguindo trecho, entramos um pouco em Itaobim e em
Jequitinhonha, passando por uma estrada que incomoda por tanto buraco
mas a todo momento margeia o Rio Jequitinhonha, nesta altura já
caudaloso.
Também
há de interessante no caminho os artesanatos de barro de Pasmado,
comercializados na beira da BR 367, pertinho de Itinga e Itaobm. Já há muita
produção industrializada, mas grande parte é feita pelas próprias
famílias do povoado, muitas das quais tem naquelas vendas seu sustento.
Compramos cinco panelas de barro pelo baixo preço de R$ 65,00.
Estamos agora em Almenara, e vamos atrás das famosas lavadeiras.
Fonte: OTEMPO / Blog Expedição Vale do Jequitinhonha
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