Com mais de mil verbetes, o dicionário não se limita a dar o significado da palavra; ele contempla também todas as informações importantes à compreensão de cada verbete:
Foto: divulgação
O Dicionário do dialeto rural no Vale do Jequitinhonha terá duas sessões de lançamento.
“Bom sem base é poder encontrar os amigos para um dedo de prosa. O candeeiro, o fifó ou a lamparina poderão alumiar e lhe mostrar o caminho.” Essa frase, composta de expressões comuns na cultura do Nordeste de Minas, exemplifica a variante linguística apresentada no Dicionário do dialeto rural no Vale do Jequitinhonha, que será lançado este mês no Centro de Memória da Faculdade de Letras da UFMG.
A obra é resultado de estudo do vocabulário da língua falada na zona rural de municípios do Vale do Jequitinhonha, desenvolvido a partir da coleta de dados feita no período entre 1980 e 2000, sob a coordenação de Carolina Antunes, professora aposentada da Fale-Faculdade de Letras da UFMG.
Alguns verbetes foram recolhidos em conversas com a população rural, em mercados e feiras; outros, extraídos de estudos sobre o Vale.
Na tentativa de equilibrar a presença de todas as regiões do Jequitinhonha, foram necessários mais de dez anos para chegar ao produto final.
De acordo com Carolina Antunes, a pesquisa considerou também dicionários da língua portuguesa, um conjunto de glossários de outras regiões do país, além de pesquisas afins.
Com mais de mil verbetes, o dicionário não se limita a dar o significado da palavra; ele contempla também todas as informações importantes à compreensão de cada verbete: traz o léxico, apresenta em negrito a forma como é pronunciada no Vale do Jequitinhonha, informa se está ou não dicionarizado, se é datado e se há informação quanto à etimologia.
Outros sentidos
Segundo Carolina Antunes, nem sempre o sentido conferido ao verbete nas comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha coincide com o registrado pelos dicionários da Língua Portuguesa, sem contar que também há muitos verbetes inéditos.
Em razão disso, para auxiliar na compreensão, todos os termos trazem algum exemplo concreto de uso, a partir das situações em que tais palavras e expressões foram empregadas nas comunidades.
“À preocupação de se registrar o uso efetivo do sistema linguístico nesse período e naquele local determinados subjaz o que se faz não só por gosto pessoal e interesse pela apreensão de saberes veiculados nas histórias locais e regionais, mas também, e principalmente, por acreditar na necessidade de que seja ampliada a visão de informações linguísticas e culturais da/na Língua Portuguesa com base na análise de uma variante linguística pouco considerada”, destaca a professora na apresentação da obra.
Cultura oral
O projeto está ligado às raízes e à trajetória acadêmica da autora, que saiu de Turmalina, cumpriu parte dos seus estudos em Diamantina e recebeu incentivo da Faculdade de Letras da UFMG – tanto durante a formação como na docência no ensino superior – para trabalhar com sua região de origem.
Na avaliação da professora, a obra interessa aos especialistas em linguagem, mas também a qualquer pessoa leiga, uma vez que se destina à leitura, à divulgação e ao diálogo. “Projetos como esse promovem a cultura oral do Vale do Jequitinhonha e valorizam os saberes verbais”, justifica Carolina Antunes.
Lançamento
O Dicionário do dialeto rural no Vale do Jequitinhonha terá duas sessões de lançamento. A primeira, no dia 30 de abril, às 17h, em Belo Horizonte, no Centro de Memória da Faculdade de Letras (2º andar, ao lado da biblioteca), no campus Pampulha.
O segundo evento está marcado para 8 de junho, também às 17h, em Diamantina, no Anfiteatro da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, campus I.
Texto de Samuel Quintero, aluno do Curso de Comunicação da Fafich e bolsista do Suporte de Comunicação do Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha
Nenhum comentário:
Postar um comentário