Ação inédita integra a Estratégia de Enfrentamento da Pobreza no Campo
do Governo de Minas Gerais e mobiliza estudantes, servidores e agricultores em
Juvenília
Juvenília, localizada na divisa de Minas Gerais com Bahia, no norte de Minas, concentra 5.708 habitantes (fonte IBGE/2010) na zona rural mineira.
Nesse território, o Governo de Minas Gerais implantou o campo de sementes crioulas na fazenda Cantinho, da Fundação Educacional Caio Martins (Fucam), beneficiando 100 famílias agricultoras.
A ação, lançada em junho de 2018, para implantar o campo e banco de sementes e realizar capacitações no curso técnico em Agropecuária ao longo do segundo semestre deste ano, oferecido pela Fucam em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SEE), envolveu 65 pessoas na região, entre estudantes, agricultores e servidores do Estado.
Os alunos puderam conhecer mais a fundo a importância das sementes crioulas para produção de alimentos mais saudáveis e participaram de debates com os temas Agroecologia, Organização do Trabalho Coletivo, Mobilização Social e Importância da Organização do Trabalho.
Neta de agricultores e envolvida no programa, Laisnara Fernandes, vê com bons olhos o resgate às antigas técnicas de cultivo no campo.
“O projeto foi muito importante para aumentar o meu conhecimento e também passar para os pequenos agricultores a importância das sementes crioulas. Aprendi a valorizar as técnicas antigas", explica a estudante.
Já para Julivan Alves, que sempre viveu no campo e dependeu da atividade agropecuária para sobreviver, o conhecimento adquirido com este trabalho vai possibilitar a abertura de portas para ele que pretende seguir carreira na área.
“Nasci em fazenda, trabalhei em roças e agora sou formado em Agropecuária. Minha dedicação à agricultura será o meu destino”, relata.
Renda e conhecimento
Com a implantação do banco de sementes, a comunidade começou a demonstrar interesse pelo projeto, buscando obter mais conhecimentos e instruções para a produção orgânica, seleção e armazenamento das sementes, o que demonstra que a ação, além da finalidade de geração de renda, transformou-se em ferramenta pedagógica na região.
Segundo José Claudemiro Pereira, vice-coordenador do Centro Educacional do Carinhanha da Fucam, em Juvenília, a população que está inserida no meio rural e tira o seu próprio sustento no sistema de produção convencional, ou seja, fazendo todos os tratos nas plantações com o uso de agrotóxicos, não imaginava que seria possível produzir de forma orgânica.
“Com as capacitações ofertadas, os produtores e estudantes do curso técnico em Agropecuária perceberam que é possível produzir com qualidade, sem o uso de agrotóxicos, e com boa aceitação comercial”, diz Pereira.
Uma outra conquista, além do número de beneficiados do projeto, é o custo-benefício. De acordo com a Secretaria de Estado de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese), a implantação do campo e banco de sementes em Juvenília teve o investimento total de R$ 18.868,00 no orçamento do Governo de Minas Gerais.
O valor inclui a aquisição do fosfato, das sementes de milho, do moto cultivador e da carreta agrícola, o que se caracteriza como um baixo valor diante dos resultados já obtidos e em comparação com outros projetos desenvolvidos pelo Estado.
Entrega de certificados aos participantes do curso oferecido pela Fucam, Emater-MG e Sedese (Crédito: Divulgação/Fucam)
Banco e campo de sementes
Desenvolvidas, adaptadas ou produzidas por agricultoras familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas ou indígenas, as sementes crioulas preservam o material genético sem o uso de agrotóxico, que se adaptam melhor à região onde a semente é cultivada.
O objetivo da implantação do banco e campo desse tipo de semente é ampliar a distribuição e permitir aos beneficiários a segurança alimentar e geração de renda a partir de material de qualidade nutricional elevada e sem modificações genéticas.
O programa inclui não só a implantação do campo e banco, mas também a formação no curso de “Concepções e Estratégias de Mobilização do Projeto de Implantação de Campo de Sementes Crioulas”, oferecida pela Sedese em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) e a Fucam.
Além do banco e campo de sementes em Juvenília, outro município que recebeu o benefício foi Leme do Prado, na fazenda da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). A Emater-MG é a responsável pelo acompanhamento técnico e pela capacitação dos envolvidos na implantação do campo e do banco.
"As sementes crioulas garantem uma autonomia no sistema produtivo camponês, já que ele pode guardar suas próprias sementes para os anos seguintes sem necessitar de adquiri-las a cada safra”, diz José Luiz Guimarães, cordenador técnico estadual de Agroecologia da Emater-MG.
“São as sementes ditas de paiol, ou seja, são sementes que foram e são melhoradas pelos agricultores em seu campo de produção. Dessa forma, ela vai se adaptando às intempéries climáticas que estamos sofrendo”, arremata o técnico.
Resgate de uma cultura
Responsável pela assessoria de programas especiais da Sedese, Rogéria Freire, que acompanhou em campo o desenvolvimento da ação, acredita que há três elementos muito importantes que são frutos da implantação destes campos.
O primeiro é o resgate da cultura das sementes crioulas agroecológicas e de seus guardiões; o segundo é o envolvimento dos agricultores das regiões onde os campos foram implantados; e o terceiro a ocupação desses territórios, que muitas vezes estavam subutilizados, com implantação nas fazendas de um projeto ecologicamente correto, envolvendo a agricultura familiar e as instituições locais.
"Junto com a Emater-MG, estamos mobilizando vários agricultores familiares para utilizarem também as sementes crioulas. São eles que ajudaram a plantar, eles que estão ajudando a cuidar e são eles também os beneficiados diretos, o que resulta na contemplação de 100 famílias só no território de Juvenília. Tudo isso é muito rico para o Governo mineiro, e é muito rico principalmente para esses territórios em que estamos atuando.", explica Rogéria.
De acordo com a Emater-MG, o campo da fazenda Cantinho, em Juvenília, e o campo da Epamig, em Leme do Prado, são os primeiros a produzir sementes crioulas em Minas Gerais dentro da proposta totalmente agroecológica, o que resultará em material de alta qualidade. A primeira colheita está prevista para fevereiro de 2019.
Campo de sementes crioulas na fazenda Cantinho, da Fucam (Crédito: Divulgação/Fucam)
Estratégia de Enfrentamento da Pobreza no Campo
O campo e banco de sementes crioulas integram a agenda de atividades do projeto Sementes Presentes - Alimento e Trabalho no Campo, que faz parte do Eixo de Inclusão Produtiva no Campo da Estratégia Novos Encontros de Enfrentamento a Pobreza do Campo, coordenado pela Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese).
Com uma perspectiva intersetorial de ações integradas, o projeto por um lado tem a linha de atuação para geração de renda, pois inclui o incentivo conectado ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnai).
"A gente estabeleceu uma metodologia que foi capaz de fazer com que as escolas se organizarem para poder fazer as compras da agricultura familiar, ampliando a comercialização das famílias agricultoras, organizadas em cooperativas e associações”, explica Matheus Fernandes Nascimento, diretor de Programas de Enfrentamento da Pobreza no Campo da Sedese. “Esse lado do projeto foi capaz de estabelecer um mercado que antes era uma dificuldade muito grande para esses pequenos produtores", conclui.
Por outro lado, o Sementes Presentes também atua na segurança alimentar, por meio do campo e banco de sementes crioulas. "Conseguimos estabelecer uma lógica de metodologia muito interessante também utilizando o Cadastro Único (CadÚnico), em que podemos priorizar o público, focalizando os mais pobres, os mais vulneráveis", relata Nascimento.
O CadÚnico é um instrumento criado pelo Governo Federal para identificar famílias de baixa renda do Brasil. Através desse sistema é possível direcionar melhor os benefícios dos governos federal, estadual e municipal, com base na renda per capita familiar declarada. O cadastro no sistema é feito no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) mais próximo do local de moradia da família.
Uma das últimas conquistas para a Sedese foi a aprovação do Plano Estadual de Enfrentamento da Pobreza no Campo (Projeto de Lei - 4.736/17), pela Assembleia Legistativa de Minas Gerais (ALMG), no dia 12 de dezembro, o que torna a estratégia instituída.
"Para nós é uma conquista muito grande, uma vez que temos agora uma determinação legal para que a população do campo tenha prioridade, e esse é um grande ponto de partida em termos de resultado e continuidade", afirma Matheus Nascimento.
Fonte: Agência MinasClique aqui para conferir o material preparado pela Sedese, Fucam e Emater-MG, entregue aos participantes neste mês de dezembro. O documento reúne informações técnicas sobre a estratégia de enfrentamento à pobreza no campo.
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