O Dia das Mães e as feridas abertas da maternidade
O melhor presente que vocês podem dar a elas é refletir sobre a paternidade
Recentemente uma amiga me mostrou uma entrevista que foi realizada com crianças espanholas de 7 anos sobre o que elas pensam sobre as suas mães. As respostas não são nada surpreendentes. Perguntas do tipo “como Deus fez as mães?” tiveram respostas diretas: “com mágica, superpoderes e misturou tudo”.
Outra resposta que me chamou atenção foi a dada para a seguinte questão: “qual a diferença entre as mamães e os papais? As respostas foram: "as mamães trabalham no trabalho e em casa, os papais só vão aos trabalhos". E, por fim, a pergunta "O que suas mães fazem no tempo livre delas" teve uma resposta certeira: "mães não tem tempo livre".
Sempre que leio esse tipo de coisa me dá um incômodo. Essas respostas estão em consonância com todo nosso imaginário social e coletivo sobre o que é ser “mãe” e quais as suas características.
As propagandas de televisão nessa época do Dia das Mães refletem bem essa imagem da mulher mãe. Aquela mulher abnegada, por vezes descabelada dando de mamar pro bebê enquanto esquenta a sua comida, entre tantos outros exemplos.
O esforço e superação demonstrados são bonitos, mas também tristes. A sociedade machista e patriarcal que nós vivemos conseguiu transformar em elogio – e positivar – uma coisa que é um problema!
Se tornou um elogio atualmente para as mulheres – especialmente as mães – expressões como “você é uma guerreira! Trabalha fora e ainda dá um duro no trabalho de casa”.
Em síntese, somos elogiadas – basicamente – menos pelo o que somos e mais pelo que os homens costumam não ser quando são pais.
Não, não é bonito nos desdobrar em milhões para dar conta do cuidado dos filhos, da casa e do trabalho extradoméstico. É triste e é injusto!
Essa percepção da mulher/mãe guerreira e a invisibilização do papel dos homens na paternidade vai gerando uma pressão de que precisamos nos desdobrar muito mais para corresponder a essa expectativa social do que é ser uma mulher e/ou uma mãe “forte”. Jamais abordamos as dificuldades de ser mães, nossos cansaços a dureza da maternidade, até porque isso seria um absurdo, afinal, nascemos para ser mães e só a maternidade nos completa.
A não ser que alguém me comprove que existe “instinto materno”, até onde eu sei, essa idéia de que as mães são mais apegadas aos filhos não é natural, é construído socialmente e serve ao modelo de divisão sexual do trabalho que engendra nossas relações de gênero e também o capitalismo.
Nesse Dia das Mães o melhor presente que vocês podem dar a elas é refletir sobre que papel os homens têm desempenhado na paternidade, e também pensar que os filhos e a casa são atribuições dos dois e devem ser realizados com equidade!
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