Desfile foi organizado pelas escolas do município. Cada cidade do Vale foi lembrada pela suas histórias de fundação e povoamento
Foto: Marconi e Gilson Fotógrafo
Araçuai completou 145 anos de emancipação.
O desfile em comemoração ao aniversário dos 145 anos de emancipação de Araçuai, no Vale do Jequitinhonha, reuniu pelo menos 3 mill pessoas, na manhã desta quarta-feira (21), no centro da cidade, entre o público que acompanhou o evento, segundo estimativa feita pelos organizadores.
O ato cívico ocorreu das 8h30 às 11h, no trecho que compreende a rua Dom Serafim; que corta o coração da cidade, até a praça do Fórum, onde foram encerradas as festividades.
O tema deste ano foi a história do Vale do Jequitinhonha e seus municípios, desenvolvido pelos alunos das escolas estaduais, municipais, particulares e entidades que atuam em Araçuai. Alunos dos Instituto Federal Norte de Minas Gerais (IFNMG), única escola federal do município, também marcou presença.
“ Foi lindo, maravilhoso. Gostei de tudo. Dos índios aos bandeirantes, dos canoeiros, garimpeiros, lavadeiras, artesãos, a história de Chica da Silva, e todo o enredo do desfile.Todos os anos saio de Belo Horizonte, nesta época, para assistir ao desfile. Falam que o Vale é da pobreza, mas isso aqui é de uma riqueza que poucos conhecem”, destacou Angélica Onnis Chiesa, 72 anos, filha do construtor e imigrante italiano, Francisco Onnis, responsável por importantes construções de prédios históricos do Vale do Jequitinhonha, a exemplo do Colégio Nazareth e igreja Matriz em Araçuai,
Fanfarras das cidades de Araçuaí, Francisco Badaró, Jequitinhonha, Virgem da Lapa e Itinga, deram o tom da marcha.
O desfile foi aberto por um grupo de adolescentes, representando as araras, que símbolizam Araçuai.
Toda a arte, cultura, turismo,desenvolvimento econômico, religiosidade, tradição e magia do Vale do Jequitinhonha foram expostos pelos estudantes.
A dona de casa Rosilene da Silva Carvalho, de 30 anos, levou o sobrinho de 5 meses para apreciar o desfile. “ Lindo!.”, disse ela.
“ Foi o desfile mais bonito em comemoração ao aniversário de Araçuai, que já assisti. Fiquei emocionado com as músicas antigas dos anos 40, 50, tocadas pelas bandas, que lembram o tempo do meu pai”, destacou o médico e professor de cirurgia da UFMG, Jansen Tanure, filho do lugar.
Apenas os prefeitos de Diamantina, Francisco Badaró, Virgem da Lapa, Jenipapo de Minas, e o anfitrião, de Araçuai, marcaram presença no ato.
Araçuai terra de contrastes
Pelas ruas de Araçuai, cidade do Médio Jequitinhonha, no nordeste de Minas, com os mais baixos indicadores sociais de Minas Gerais, os contrastes são facilmente identificados.
Do solo do município são retiradas pedras preciosas, como grafita, feldspato, lítio, mica, neóbio, tântalo, quartzo, entre outros.
Com pouco mais de 37 mil habitantes e convivendo com a mineração desde o século 18, o município enfrenta desafios como a falta de capacitação para a mão de obra local, falta de saneamento básico e enfrentamento ao crescimento da violência, desemprego, prostituição e tráfico de drogas.
A escalada da criminalidade tem deixado Araçuai assustada Somente nos primeiros quatro meses de 2015, 56 crimes violentos foram cometidos o que representa 57% do que foi registrado em todo ano de 2014, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais
Coronel Murta relembrou os Festivais Ecológicos da década de 80, homenageando artistas como Gonzaga Medeiros, Carlos Farias Maxacali, Rubinho do Vale, o poeta Celso Freire e a dupla ganhadora dos festivais Dalton e Vânia.
Mesmo com uma atividade econômica ativa, Araçuai depende de convênios e repasses dos governos federal e estadual.
Itaobim foi lembrada como a Terra da Manga e de manifestações culturais como o Boi de Janeiro e Nega Maluca.
O mau estado de conservação de ruas, estradas, esgotos a céu aberto e falta de políticas públicas voltadas para a infância e juventude também joga contra o desenvolvimento da cidade.
O crescimento desordenado, aumentou a demanda por serviços públicos. Bairros foram criados sem rede de esgoto e pavimentação de ruas.
Na Educação, a cidade abriga a sede da Superintendencia Regional de Ensino, que atende a 21 municípios da região. A prefeitura possui três escolas urbanas e 18 escolas rurais, seis escolas estaduais de ensino médio e cinco de educação básica, além do campus do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) e da Universidade Aberta do Brasil (UAB) e aguarda a implantação de um campus da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
A prática esportiva e o lazer em Araçuai, ocorrem em um campo de futebol, dois ginásios poliesportivos ( um particular e outro público) quatro quadras polesportivas, uma pista de caminhada e duas academias de saúde instaladas em praça pública.
A cidade conta com dois clubes, uma barragem (do Calhauzinho), e é cortada pelo Rio Araçuai, além dos córregos do Calhauzinho e Gravatá que proporcionam lazer por meio do turismo rural e cultural.
Com uma área de 2.326 km 2 e cerca de 70 comunidades rurais, aos 145 anos, Araçuaí apresenta problemas que se estendem há anos. A falta de um plano diretor, favorece desigualdades e desordenamento urbano e um crescimento sem lei.
História do Vale
O Vale do Jequitinhonha é uma das doze mesorregiões do estado brasileiro de Minas Gerais. É formada pela união de 75 municípios agrupados em cinco microrregiões.
Está situado no nordeste do estado. É uma região amplamente conhecida devido aos seus baixos indicadores sociais e também ao norte é conhecida por ter características do sertão nordestino. Por outro lado, é detentora de exuberante beleza natural e de riqueza cultural, com traços sobreviventes da cultura indígena e da cultura negra.
A região, que inicialmente pertenceu à Bahia (até o final do século XVIII), foi incorporada ao estado de Minas Gerais, após a descoberta de diamantes no tijuco ( hoje região de Diamantina).
Minas Novas, a cidade-mãe de todas do Vale do Jequitinhonha, foi registrada com banner do Sobradão, das igrejas coloniais e da Festa do Rosário.
Virtualmente, é subdivida em três regiões:
Baixo Jequitinhonha (região que compreende a área mais próxima à Bahia).
Médio Jequitinhonha (região situada na parte média do Vale).
A cidade de Rubim teve a sua homenagem no violeiro e compositor Rubinho do Vale, que orgulhosamente carrega no nome artístico a sua terra natal.
Alto Jequitinhonha (região mais próxima da Metropolitana de Belo Horizonte, apresentando os melhores indicadores humanos e econômicos do Vale).
Itamarandiba, a terra do eucalipto, no Alto Jequitinhonha.
Nos últimos anos, a região do Alto Jequitinhonha vem se desenhando por ser uma região com bons indicadores humanos e econômicos, sendo projetados, para os próximos anos, indicadores sociais melhores que a média de Minas Gerais e do Brasil.
Almenara, cujo topônimo, vindo da língua árabe, significa “farol”, do Baixo Jequitinhonha, também foi homenageada.
Vale do Jequitinhonha em dados
Banhado pelo Rio Jequitinhonha, o Vale do Jequitinhonha ocupa uma área de 79.552 km2, com uma população de aproximadamente 1 milhão de habitantes onde mais de dois terços dela, vive na zona rural.
É composto, hoje, por 75 municípios, dos quais 52 estão organizados nas microrregiões Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha, e 23 estão integrados à antiga área mineira da. Vários diagnósticos convergem em assinalar que as restrições hídricas e as secas periódicas são fatores cruciais para o baixo desempenho da agropecuária, que mesmo assim ainda responde por 30% do PIB regional.
Como realmente é
O que não se imagina é que, por outro lado, o Vale do Jequitinhonha é detentor de grande e exuberante potencial natural e vasta riqueza cultural, com traços sobreviventes da cultura indígena e da cultura negra.
Sob uma ótica mais justa, a área não apresenta o grau de extrema pobreza que normalmente é divulgado: segundo o Diagnóstico Ambiental da Bacia do Rio Jequitinhonha desenvolvido pelo IBGE, os solos da região são profundos, com boa textura e com condições de mecanização, a infraestrutura viária é regular, e apesar da carência de investimentos em saúde e saneamento, existem centros de saúde em todos os municípios.
O Vale do Jequitinhonha é uma região marcada pelo contraste. Por um lado, grande parte de sua população vive em extrema pobreza e seu meio ambiente vem sistematicamente sendo agredido pelas atividade mineradoras, de carvoaria e pelo uso indiscriminado do fogo pela agricultura familiar. Por outro lado, são notórias as riquezas do sub-solo, promissor em recursos minerais, de seu patrimônio histórico-cultural, referência para Minas Gerais e para o Brasil, de seu artesanato diversificado e de seus atrativos turísticos.
Fonte: Gazeta de Araçuaí, com fotos de Gilson Fotógrafo, Sérgio Vasconcelos e Deyse Magalhães.
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