Em meio a rompantes de choro, Lula se defende da denúncia contra ele e se reafirma perseguido
Foto: Sebastião Moreira (EFE)
Lula durante pronunciamento em um hotel em São Paulo
Cercado pelos principais nomes do Partidos dos Trabalhadores e por lideranças de movimentos sociais, mas sem presença expressiva de apoiadores na rua, Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento nesta quinta-feira (15) em um hotel de São Paulo um dia depois de ser acusado de ser o "comandante máximo" do esquema de corrupção da Petrobras por procuradores da Operação Lava Jato.
Em um discurso que durou pouco mais de uma hora, chorou por duas vezes ao destacar a sua trajetória pessoal e política e desafiou os integrantes da força-tarefa a provarem qualquer ato irregular que ele tenha cometido. "Provem uma corrupção minha que eu irei a pé [até a delegacia] ser preso."
Lula classificou a ação dos procuradores chefiados por Deltan Dallagnol de "show de pirotecnia", mesma expressão utilizada por ele e por membros de seu partido quando foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento na sede da Polícia Federal, em março deste ano. E resumiu a ação como uma tentativa de prejudicá-lo politicamente. "A custa do que esse espetáculo? É para desgastar a minha imagem?", questionou. "Como você convoca uma coletiva num hotel, gastando dinheiro público, para apresentar a prova de um crime e diz: 'não tenho prova, mas tenho convicção?", disse, citando, no último trecho, frase que viralizou nas redes, mas, segundo o G1, não foi dita tal qual pelos procuradores da operação. "Eles construíram uma mentira como se fosse o enredo de uma novela e está chegando o fim do prazo. Vamos agora dar o fecho: acabar com a vida política do Lula", destacou, para ressaltar que acabar com ele não fará com que as ideias defendidas por ele desaparecerão do cenário político.
Lula insistiu que não há provas consistentes contra ele. A apresentação da Lava Jato foi alvo de críticas por ter se estendido na tese de que o petista coordenava um esquema criminoso, sem no entanto, apresentar denúncia específica de formação de quadrilha, mas de corrupção passiva e ativa e lavagem de dinheiro. Seus advogados afirmaram, também nesta quinta-feira, que comunicaram ao Conselho Nacional do Ministério Público que os procuradores cometeram "grave desvio funcional" ao "utilizarem o cargo para macular a honra de um cidadão".
Assim como todas as últimas vezes que teve de vir a público se defender de acusações de corrupção, o ex-presidente, um dos políticos mais populares da história do país, fez um discurso emotivo, em que se mostrou revoltado, classificando-se como um "cidadão indignado". "Tenho a consciência tranquila. Me conheço: sei de onde vim, para onde vou, quem me ajudou, quem quer que eu saia e quem quer que eu volte." Mas fez questão de destacar que "não estava abatido", como vinha se mostrando em público nos últimos meses, em que além das acusações contra ele teve de enfrentar o processo de destituição de sua afilhada política, Dilma Rousseff.
Fez piadas e apelou para que, caso queira, o Ministério Público Federal leve embora seu acervo -um dos objetos da denúncia contra ele- para colocar em "espaços vazios" do prédio do órgão.
Também como das vezes anteriores, Lula fez questão de destacar sua trajetória pessoal, de menino pobre que não tinha "um prato de feijão" a presidente da República. "A única coisa de que tenho orgulho é que eu conquistei o direito de andar de cabeça erguida", ressaltou, antes de chorar. E também destacou seus feitos como presidente para embasar o argumento de que está sendo perseguido por pessoas que querem evitar que ele volte para a vida política. "Governo de verdade é aquele que diz que pobre tem direito a andar de avião, de ser médico e até procurador", alfinetou.
Lula flerta com a ideia de ser candidato ao Planalto em 2018 e as pesquisas mostram que, ainda neste ano, ele liderava todos os cenários na disputa, embora amargue o mais alto índice de rejeição _46%, segundo o Datafolha. Se for condenado em primeira e em segunda instância na Justiça, no entanto, o ex-sindicalista ficaria proibido de concorrer.
Campanha eleitoral
Ao final da fala, Lula saiu até a rua para saudar os manifestantes que o aguardavam -uma quantidade muito menor do que a apoiou no dia da prisão coercitiva. Estava ao lado do prefeito Fernando Haddad, que tenta a reeleição. Haddad, que estava em agenda eleitoral, chegou ao final da fala do ex-presidente, mas almoçou com ele depois.
Vista como a vitória mais necessária do Partido dos Trabalhadores nestas eleições municipais, a campanha à reeleição de Haddad conta com Lula nos palanques e poderá ser uma das principais prejudicadas pela denúncia contra ele.
Fonte: El país
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