A julgar pelo que se lê na imprensa tradicional, Pessoa é o "chefe do clube" das empreiteiras. A alcunha lhe foi dada por um delator: o executivo Augusto Mendonça, da Toyo Setal, que, coincidência ou não, é um concorrente da UTC que, ao acusar seu rival, conquistou a liberdade.
Provas, para que provas? "Chefe do clube" foi um apelido que serviu à tese da criação do cartel, como se uma empreiteira de porte médio pudesse chefiar empresas muito maiores, como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
Outro detalhe "irrelevante": ao contrário do que muitos imaginam, a UTC nem sequer participa das obras da polêmica Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ou seja: o "chefe do clube" não entrou na maior obra da Petrobras nos últimos anos.
Pela mídia, Ricardo Pessoa já foi condenado e está sendo submetido à mais torpe das torturas. Desumanizado, ele representa a esperança de setores da oposição para que se alcance aquele que parece ser o objetivo político da Operação Lava Jato: recolher elementos para subsidiar um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff e inviabilizar a volta do ex-presidente Lula, em 2018.
O jogo se tornou explícito neste fim de semana, com a capa de Veja. Na chamada, onde se lê "O que Ricardo Pessoa, da UTC, preso em Curitiba, quer contar sobre a Lava-Jato", deveria estar escrita outra mensagem: "O que nós, da Editora Abril e da oposição, queremos ouvir em sua delação premiada".
O que se busca nessa eventual delação é muito simples: a confissão de um empreiteiro, que diga que as doações legais foram "propina". Assim, o que hoje a lei permite, seria transformado em crime. É uma armação tão escancarada, que mereceu uma nota de repúdio do tesoureiro da campanha presidencial de Dilma em 2014, deputado Edinho Silva (PT-SP).
"O deputado denuncia e repudia a tentativa da revista Veja de, a qualquer custo, vincular a campanha da presidenta Dilma às investigações efetuadas na Petrobras, chegando à tentativa de criminalizar doações legais. Sem qualquer fundamento coloca em suspeição as contas de campanha já auditadas e aprovadas pelo órgão máximo da Justiça Eleitoral desse país", diz ele.
Numa reportagem deste domingo da Folha de S. Paulo, relata-se a rotina dos presos em Curitiba. Estão em celas escuras, com uma única latrina e sem privacidade, onde quatro pessoas dividem o espaço. Comem com a mão. E só recentemente conseguiram autorização para ler jornais e revistas. Antes que se esqueça, nenhum deles foi condenado. Todos, embora tenham bons antecedentes criminais, estão presos preventivamente. Perderam a presunção de inocência e o direito de responder em liberdade – que, se ainda não tiverem sido revogadas pela Lava Jato, são cláusulas pétreas da Constituição Brasileira.
Na semana passada, Ricardo Pessoa teve sua prisão preventiva prorrogada pelo juiz Sergio Moro. O motivo foi a suposta tentativa de interferência política no processo, decorrente do encontro entre o ministro da Justiça e o advogado Sergio Renault, sócio de um escritório de advocacia que atua para a UTC. Na prática, Pessoa foi punido pela interpretação da conduta que se fez de um advogado quem nem sequer lhe representa – seu advogado, no mesmo escritório, é Ramiro Tojal.
Tratado como bandido de alta periculosidade, ele conseguiu feitos notáveis para sua empresa nos últimos anos. No fim do ano passado, a UTC foi eleita, pelo Valor Econômico, como a melhor empresa na gestão de pessoas, pelo oitavo ano consecutivo, na categoria de 8 mil a 16 mil funcionários.
No Ranking da Engenharia Brasileira, foi apontada como a melhor empresa do País em "Construção Mecânica e Elétrica". Além disso, concessionário do Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), Pessoa conduziu o processo de duplicação do terminal, que foi apontado pelos passageiros como o melhor do Brasil. Outra conquista recente foi a compra da Constran, que pertenceu ao lendário empreiteiro Olacyr de Moraes.
Encarcerado em Curitiba, Pessoa é hoje um homem fragilizado. Sob tortura, vê tudo o que construiu nos últimos anos sob ameaça de desmoronamento. Na semana passada, na primeira denúncia do Ministério Público contra as empreiteiras investigadas na Lava Jato, em que se pede uma indenização de R$ 4,47 bilhões, a UTC Engenharia, justamente a empresa do "chefe do clube", ficou de fora. Talvez, num sinal para que Pessoa se renda e faça a tão ansiada delação premiada – olha só o que pode fizemos com seus amigos...
Se Pessoa irá se render ou não às pressões da força-tarefa da Lava Jato ou da revista Veja, que o ameaça antecipando uma sentença de prisão de 180 anos, só o tempo dirá. Como qualquer indivíduo, o "chefe do clube" é um ser humano, com seus medos e fraquezas, que vem sendo testado ao extremo.
Suas doações de campanha foram feitas dentro da legalidade, seu crescimento empresarial é reconhecido por publicações especializadas, e até mesmo a acusação que pesa contra ele é frágil. Pessoa, ao contrário do que muitos imaginam, não deu recursos ao doleiro Alberto Youssef. Ele recebeu dinheiro do doleiro, que pretendia, em parceria com o empreiteiro, construir empreendimentos legais. Foi assim, por exemplo, que Pessoa construiu um hotel em parceria com Youssef na Bahia.
Se isso é crime, do mesmo delito também se deve acusar a empresária Chieko Aoki, do Blue Tree, e a própria CNBB. Sim, a igreja católica fez um hotel em parceria com Youssef na cidade de Aparecida, em São Paulo.
Ao contrário do que diz a mídia, que não revela sua espúria agenda política, Ricardo Pessoa não é um homem-bomba. É um ser humano, que está prestes a explodir porque está sendo torturado e ameaçado de ver tudo o que construiu nos últimos anos ser destruído pela Judiciário e por setores da imprensa. Apenas isso.
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